Agronegócio, agrotóxico e “agrocâncer”
Via Brasil de Fato
As
consequências desse modelo, que se tornou hegemônico nos últimos dez
anos, já apresentam resultados perversos para o meio ambiente, para a
economia e para a saúde dos brasileiros
Editorial da edição 482
As
três palavras acima não são mera propaganda. Nos últimos dez anos tomou
conta da forma de produzir na agricultura brasileira, o chamado
agronegócio. Ele é um modelo de produção de mercadorias agrícolas,
subordinado agora aos interesses do capital financeiro e das grandes
empresas transnacionais. Aliados aos fazendeiros brasileiros, que entram
com a natureza.
Nesse modelo, o capital
financeiro entra com o capital. Do valor bruto de produção agrícola ao
redor de 160 bilhões de reais, os bancos entram com aproximadamente 110
bilhões todos os anos, financiando a compra dos insumos e cobrando os
juros, sua parte na mais-valia agrícola. E as empresas transnacionais
fornecem os insumos agrícolas, máquinas, fertilizantes químicos e,
sobretudo, os venenos agrícolas. A produção agrícola depois se destina
ao mercado mundial, as chamadas commodities agrícolas.
Esse
modelo construiu então uma forma de produzir, uma matriz tecnológica
que combina grande propriedade, que vai aumentando a escala de produção a
cada ano, monocultivo, se especializando num só produto de exportação,
mecanização intensiva, pouco emprego de mão-de-obra direta e uso
intensivo de venenos agrícolas. As conseqüências desse modelo que se
tornou hegemônico nos últimos dez anos, e que atua independente de tudo,
já apresentam seus resultados perversos, para o meio ambiente, para a
economia brasileira, para o rendimento econômico dos próprios
fazendeiros e, sobretudo para a saúde dos brasileiros.
Em
termos econômicos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), esse padrão de exploração econômica levou a uma matriz básica
de custo de produção, em que os fazendeiros capitalistas brasileiros
gastam em média, 24% com fertilizantes químicos, quase todos importados,
15% de todo capital investido em venenos, e mais 6% em sementes
transgênicas. Pagam em média 2% de royalties para as empresas
de sementes, totalizando 47% de todo seu custo. E gastam apenas 4% com
mão-de-obra de trabalhadores rurais brasileiros e ficam, no final, com
13% de lucro. Ou seja, a conta é clara. Nossa agricultura está
totalmente subordinada aos interesses do capital financeiro e
estrangeiro e transfere a eles a maior parte do valor de produção.
Os
resultados no meio ambiente são catastróficos. Hoje 80% de todas as
terras cultivadas são utilizadas no monocultivo da soja/milho, cana de
açúcar, algodão e na pecuária extensiva. Isso tem gerado um
desequilíbrio da biodiversidade na natureza, que se agrava com aplicação
dos venenos agrícolas, que matam tudo.
Com essa
destruição da biodiversidade pelo monocultivo e pela aplicação dos
venenos se gera um desequilíbrio também no regime das chuvas e nas
condições climáticas de todo território brasileiro. Essa é a razão
fundamental da ocorrência mais freqüente de secas mais duras e de
enchentes mais torrenciais em todas as regiões do país.
Também
se percebe as conseqüências na saúde humana e animal. O Brasil se
transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Consumimos
sozinhos 20% de todos os venenos do mundo. As dez maiores empresas
mundiais produtoras de venenos, que começaram na primeira e segunda
guerra mundial produzindo bombas químicas, agora produzem venenos. São
elas: Sygenta, Bayer, Basf, Dow, Monsanto, Dupont, Makhteshim (de
Israel) Nufarm (Austrália) e Sumimoto e FMC (Japão). São todas empresas
transnacionais que controlam os venenos no mundo e aqui no Brasil. Os
fazendeiros gastaram 7,3 bilhões de dólares comprando venenos nessas
empresas.
Os venenos, por serem de origem
química, não se degradam na natureza. Eles matam os insetos, as
bactérias no solo, afetam a fertilidade, contaminam as águas
subterrâneas, contaminam as chuvas - muitos desses venenos secantes
evaporam e ficam na atmosfera e depois retornam com as chuvas. E
contaminam os alimentos que as pessoas consomem.
No
organismo das pessoas estes venenos geram todo tipo de distúrbio, vão
se acumulando, afetam órgãos específicos, até produzirem câncer com a
destruição das células.
O Instituto Nacional do Câncer tem denunciado e o Brasil de Fato repercutido
que no país devem ocorrer ao redor de um milhão de novos casos de
câncer por ano. A maior parte deles originários de alimentos com
agrotóxicos. Destes, se diagnosticados com tempo, os médicos podem
salvar 40%. Portanto, estamos diante da iminência de um verdadeiro
genocídio provocado pelos agrotóxicos: o “agrocâncer”. Inclusive o
câncer de mama, agora aparece entre mulheres de todas as idades e tem
entre suas causas principais os agrotóxicos!
Isso
e muito mais foi agora denunciado por um extenso e profundo relatório
produzido pela Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva
(Abrasco). O documento alerta para os riscos e conseqüências que o uso
generalizado de venenos agrícolas está provocando na saúde dos
brasileiros.
O Brasil de Fato publica
matérias – leia nas páginas 4, 5 e 6 – sobre estas graves questões que a
chamada grande imprensa, macomunada com os interesses do agronegócio e
das empresas de venenos, silenciou.
Somamo-nos,
assim, à Campanha Nacional Contra o uso de Agrotóxico e pela Vida que
reúne mais de 50 entidades nacionais da sociedade brasileira, em sua
missão permanente de conscientizar a população, os verdadeiros
agricultores, as entidades e os parlamentares para que se ponha um fim
ao uso de venenos em nosso país. E que, sobretudo, se penalize as
empresas transnacionais fabricantes. Essas empresas deveriam, inclusive,
serem obrigadas a pagar ao SUS o custo do tratamento do câncer e de
outras enfermidades comprovadamente originarias do uso de venenos em
nossa alimentação.
*GilsonSampaio
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