As relações entre o Brasil de Xuxa e o do jovem humilhado por repórter na TV
Como advogado de banqueiro não defende desdentado, ninguém intercederá pelo jovem negro e pobre nas páginas de jornais ou tribunas do Congresso pelo direito de não ser exposto nem antes nem depois do julgamento. Azar o dele, sorte da repórter
Matheus Pichonelli
Sobre Meninos e Lobos
Corre na internet um vídeo produzido pela TV Bandeirantes da Bahia em
que uma repórter bonita e bem humorada entrevista um jovem acusado de
estupro (assista aqui).
Chega a ser educativo – ao menos para quem achava que, a essa altura do
campeonato, era impossível superar as pirotecnias de programas com o
Latininho, o chupa-cabra, os testes ao vivo de DNA, a banheira do Gugu e
as sessões de descarrego.
O mais completo tratado das relações de poder não chegaria tão longe:
o jovem, cuja pobreza pode ser exposta pela sequência de dentes
quebrados, está algemado diante das câmeras. Como advogado de banqueiro
não defende desdentado, ninguém intercederá por ele nas páginas de
jornais ou tribunas do Congresso pelo direito de não ser exposto nem
antes nem depois do julgamento. Azar o dele, sorte da repórter – que
usou o microfone e o canal direto com a direção do programa para
chicotear o sujeito que se acreditava alforriado. Abaixo da tela a produção destaca o “chororô”, com direito a intervenções de efeitos sonoros
(o choro de um bebê) a ofuscar a fala do suspeito. Acuado e com um
hematoma no rosto, o jovem passa a dar a lista de familiares que
poderiam testemunhar em seu favor. Às lágrimas, jura que jamais
“estrupou” alguém.
*Pragmatismopolítico
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