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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 22, 2012

Bento 16, prepotente e arrogante


Autocrata medieval

O Papa B16, um autocrata medieval, não se limita a ser cordial nas relações e sensato nas mensagens, comporta-se como chefe do ex-Santo Ofício e trata os países como protetorados.
Na mensagem que dirigiu a François Hollande, depois de tomar posse como presidente da França, o Papa, lembrado da promessa eleitoral do destinatário, “ser escrupuloso na exigência da laicidade”, faz votos para que o presidente francês possa, com a ajuda de Deus e “no respeito pelas nobres tradições espirituais e morais do país, alcançar com coragem os objetivos de edificação de uma sociedade sempre mais justa e fraterna, aberta ao mundo e solidária para com as nações mais pobres”, sendo estas últimas palavras absolutamente inócuas.
Na referida mensagem, já tinha feito uma ingerência na política francesa ao referir o «respeito pela vida e pela dignidade de todas as pessoas», palavras que, no jargão do Vaticano, condenam as leis da família em vigor, especialmente a interrupção voluntária da gravidez e a prometida legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Sendo o presidente francês agnóstico ou ateu, vivendo em união de facto com a mulher, situação que provoca a cólera divina, e tendo a Igreja católica francesa manifestado preferência pelo candidato derrotado, é de enorme insolência de B16 oferecer o seu deus para o ajudar.
Não satisfeito com a atitude prosélita, num país que deve à laicidade o fim das guerras religiosas, B16 conclui a mensagem concedendo a sua Bênção apostólica ao Presidente Hollande e a todos os franceses.  Quem lha encomendou? Não lhe passará pela cabeça que a bênção a «Hollande e todos os franceses», embora se trate de um placebo para os não católicos, pode ofender os destinatários? Sendo uma provocação aos crentes da concorrência, aos agnósticos, racionalistas, ateus e a todos os livres-pensadores, a bênção com que pretendeu fustigar todos os franceses revela a sua vocação totalitária.
Mais comedida, a bruxa da Lousã só costumava abençoar as peças de vestuário que os crentes lhe apresentavam.
*DiarioAteista

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