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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 20, 2012

Caos no transporte aperta Serra e acende Haddad

 

Acidente no Metrô esta semana despertou candidato do PT; "PSDB promoveu o apagão dos transportes", atacou; ex-governador tucano classificou crítica como "exploração eleitoral"; governador Alckmin e senadora Marta entraram na briga; situação é como se vê acima
A campanha eleitoral para prefeito de São Paulo, em razão, literalmente, de um acidente de percurso, começou a pegar fogo. O choque de trens ocorrido na linha 3 do Metrô, na quarta-feira 16, teve o poder de desalinhar os discursos e colocar frente a frente, com posições diametralmente opostas, os candidatos Fernando Haddad, do PT, e José Serra, do PSDB.
Desta vez, Haddad teve reflexo político e foi o primeiro a contextualizar o acidente que não deixou vítimas fatais, mas provocou pânico e levou cerca de 100 pessoas aos hospitais da região Leste. "Tem havido cortes nos recursos de manutenção, segurança e atualização de equipamentos", disse o ex-ministro, que relacionou o choque entre uma composição e um vagão parado com o desmoronamento, em 2007, das obras da estação Pinheiros. Aquele acidente provocou a morte de sete pessoas. Em artigo ao 247, a senadora Marta Suplicy se somou às críticas do candidato. "Desde 2007, foram quase 100 panes nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da CTPM", contabilizou. "A verdade pura e simples é que a situação do transporte público em São Paulo é de caos completo", completou (leia artigo aqui).
De pronto, Serra, bem ao seu feitio, não quis enfrentar frontalmente a questão e procurou adequá-la ao seu discurso de superioridade. "Não faremos comentários, pois consideramos que acidentes não se prestam à exploração eleitoral". A manifestação soou como algo do tipo 'não contem comigo para debater agora as causas do ocorrido', em razão da falta de compromisso em tratar de um fato, sem dúvida, importante para a cidade. Num momento anterior, Serra, ainda timidamente, tocou de modo transverso na questão dos investimentos públicos em Transportes. "Na Cidade do México, quem faz o metrô é o governo federal. Aqui é o Estado e a Prefeitura", disse, reclamando. Haddad não ficou calado: "Lula e Dilma nunca se recusaram a atender nenhum pedido de Serra e Alckmin. É que eles não querem o governo federal em São Paulo, porque têm mentalidade tacanha".
Nas contas divulgadas pelos petistas, as últimas administrações tucanas, incluidas as de Serra no governo e na Prefeitura, entregaram 25 quilômetros de linhas. Segundo informa o jornal Folha de S. Paulo, a campanha de Serra determinou a distribuição de tabelinhas com valores de investimentos feitos pelos tucanos no Metrô e na Companhias Metropolitana de Trens Urbanos como munição para rebater os ataques petistas.
Nessa briga, o governador Geraldo Alckmin resolveu entrar de sola. "O PT não colocou nenhum centavo no sistema de transportes de São Paulo. Nenhum centavo", repetiu. "O PT só tem crítica e aleivosias como essa". Ele adotou a seguinte linha de argumentação: "Lamento que a política venha para essa baixeja eleitoral. [É uma tentativa] de tirar casquinha de quem não contribui com nada para o sistema metroferroviário", disse. (A mentira de Alckmin está aqui.)
A guerra de números, de adjetivos e de propostas promete ser um dos temas dominantes da campanha, talvez o principal.
No 247
*comtextolivre

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