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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 09, 2012

Caros Amigos lança edição especial sobre a Comissão da Verdade

Prezados (as),
Saudações.
Até hoje a sociedade brasileira não tem informações precisas sobre o que aconteceu com centenas de perseguidos políticos durante a Ditadura Militar (1964-1985), mortos sob tortura e desaparecidos depois de capturados pelos órgãos da repressão vinculados à Segurança Pública e às Forças Armadas.
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Há muitos anos – desde antes da Lei da Anistia de 1979 – que ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos, entidades de direitos humanos e movimentos sociais diversos exigem o esclarecimento da verdade, que se conheçam os nomes dos carcereiros e torturadores e que se possam localizar os restos mortais dos brasileiros assassinados sob a tutela do Estado.
Sem a elucidação de tais crimes, sem a identificação e a punição dos autores, o Brasil seguirá com a mácula de um país sem memória, com passado nebuloso, com lacunas históricas, sem compromisso com os valores da Verdade e da Justiça. Pior: um país que não enfrenta suas mazelas tende a reproduzi-las eternamente – como acontece com a tortura e demais violências praticadas sistematicamente por funcionários públicos.
Seria ingênuo imaginar que o Estado brasileiro, depois de mais de vinte anos desde o fim dos governos militares e da Constituição de 1988, tenha sofrido mudanças tão profundas a ponto de levar a julgamento e condenar todos os que praticaram crimes de lesa-humanidade, que promoveram a barbárie sob o pretexto de combater o “inimigo interno”.
Mesmo porque as classes que derrubaram o presidente constitucional João Goulart, em 1964, e deram sustentação ao terrorismo de Estado, são as mesmas que respaldam o atual estado democrático de direito, que promovem a exclusão social e que aprovam a contínua violação dos direitos humanos no campo e na cidade. Resta, portanto, aos que não pactuam com o esquecimento e a impunidade, lutar o tempo todo – sem trégua – para que a Verdade e a Justiça venham a prevalecer.
É com esse espírito que a revista Caros Amigos, empenhada em fazer o jornalismo independente e crítico, oferece esta edição especial sobre a Comissão da Verdade, na expectativa de que a pressão da sociedade seja forte o suficiente para exigir o mais amplo e completo resgate histórico de tudo o que aconteceu nos porões da Ditadura.
Você vai encontrar matérias sobre quem esconde os mortos do Araguaia, os rastros da Operação Condor no Brasil, os herdeiros do Esquadrão da Morte, as empresas que financiaram a tortura, os torturadores que continuam impunes, onde estão os arquivos da ditadura, por que o Judiciário impede a realização da Justiça, a cumplicidade da imprensa empresarial, as 50 testemunhas que precisam ser ouvidas pela Comissão da Verdade, além de outras reportagens.
Uma edição histórica e imperdível.
Procure nas bancas: Caros Amigos.
Abraços.
Hamilton Octavio de Souza
Editor.
Participaram: Ana Carolina Andrade, Cecília Luedemann, Débora Prado, Flávia Piovesan, Gabriela Moncau, Gilberto de Breyne, Hamilton Octavio de Souza, Jesus Carlos, Julio Delmanto, Leonardo Dalla Valle, Luciana Araújo, Marcelo Zelic, Otávio Nagoya, Paula Sacchetta, Paula Salati, Paula Sambo, Pedro Ribeiro Nogueira, Rodrigo Cruz, Tatiana Merlino.
*GilsonSampaio

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