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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 23, 2012


Filme com Pitt retrata fim do sonho norte-americano



Brad Pitt
Brad Pitt em Cannes: ator veio divulgar "Killing Them Softly", onde também é produtor
Killing Them Softly (matando-os suavemente), novo filme estrelado porBrad Pitt, faz um retrato sombrio do sonho americano, misturando uma divertida e violenta história de mafiosos com uma crítica escancarada à incapacidade dos políticos em resolver a crise econômica.
O filme se passa em uma cidade norte-americana não-identificada, onde a crise econômica chegou com força. Há casas abandonadas, lojas fechadas e bandidos de todos os níveis tentando sobreviver.
Pitt é também coprodutor da obra, selecionada para a competição oficial do atual Festival de Cannes, onde foi exibido na terça-feira.
O ator interpreta o inclemente pistoleiro Jackie Cogan, chamado por uma quadrilha mafiosa para eliminar um grupo de bandidos que assaltou uma mesa de pôquer. O título (matando-os suavemente) se refere à insistência do personagem em evitar dores e sofrimentos desnecessários na hora das matanças.
A direção é de Andrew Dominik, neozelandês com quem Pitt já trabalhara em O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford. Ray Liotta e James Gandolfini, habitués em filmes sobre a máfia, também estão no elenco.
A mensagem política do filme é inescapável. Sempre há noticiários sendo vistos ou ouvidos em bares e carros, e o debate invariavelmente é sobre a crise financeira, o fracasso político, a ganância e o fim dos sonhos.
Barack Obama, John McCain e George W. Bush aparecem na campanha eleitoral de 2008 fazendo promessas de resgatar a economia e salvar os ideais que alicerçam a nação.
Já no final, Cogan dispara críticas a Thomas Jefferson, principal autor da Declaração de Independência dos EUA, a quem o personagem chama de mentiroso e hipócrita. “”Vivo na América e na América você está por sua conta”, declara Cogan. “A América não é um país, é só um negócio.”
Mas, numa entrevista coletiva após a sessão do filme para a imprensa, Pitt disse que não pretendia que o filme seja visto como um libelo anti-Obama. “Eu me inclino mais para a esquerda, e quero entender minha própria tendência, então não fico contra personagens que têm visões diferentes da minha própria. Na verdade, tenho (Jefferson) em altíssima conta.”
Pitt criticou a “tóxica” divisão política nos EUA, onde o debate “tem mais a ver com o partido vencer a discussão do que a respeito das questões propriamente ditas. É um problema sério”.
O ator não pareceu surpreso quando a entrevista se desviou para sua vida pessoal. Afastando os rumores de que apareceria com a mulher, Angelina Jolie, no tapete vermelho de Cannes, ele disse que a atriz nem está na cidade.
Também sobre os rumores de que iria em breve oficializar sua união com ela, ele afirmou que o casamento não tem data. ”Ainda espero que possamos resolver nossa igualdade de casamento nos Estados Unidos antes dessa data”, afirmou, numa alusão ao seu apoio ao casamento homossexual.
*CorreiodoBrasil

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