Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Garganta-profunda à solta no Vaticano e Santa Sé quer instauração de processos criminais

Papa e secretário vítimas de cartas furtadas e publicadas
A assessoria de imprensa da Santa Sé acaba de anunciar que acionará a Justiça para processar criminalmente, por furto, receptação e divulgação de documentos reservados, o jornalista Gianluigi Nuzzi, autor do livro intitulado “Sua Santidade”.
Nesse livro, – que é um lançamento da editora Chiarelettere –, estão publicados documentos classificados como sigilosos pela Santa Sé e, também, cartas recebidas pelo papa Bento XVI e o seu jovem secretário particular e grande tenista, monsenhor Georg Gaenswein.
Diante de recentes fugas de notícias, — incluída a informação de um alto prelado de que Ratzinger seria em breve assassinado –, o papa resolveu constituir uma comissão de investigação e designou o cardeal Julian Herranz para a sua presidência.
Essa Comissão dirigida por Herranz, pelo que se verifica dos documentos e cartas publicadas no livro de Gianluigi Nuzzi, está longe de descobrir o “Deep Troat” do Vaticano, ou seja, o “Garganta Profunda” que, na década de 1970, repassava inforções da Casa Branca, no caso Watergate. Também não inibiu as fugas de noticiais que circulam, secretamente, pelos gabinetes vaticanos.
Uma das cartas do livro diz respeito ao chamado “escândalo Buffo”, diretor da publicação denominada Avvenir, pertencente à Confederação dos Bispos de Roma.
Dino Boffo, jornalista e católico, era o diretor-responsável do diário Avvenire. Uma carta, vazada do Vaticano e publicada no jornal do então premier Berlusconi (à época sob ataque do Avvenire por suas orgias), apontava Boffo como homossexual envolvido com um homem casado e com protestos da esposa.
O Il Giornale, – do irmão-laranja de Berlusconi –, quis mostrar, com a publicação do “escândalo Boffo”, que a Igreja, pelo diretor do Avvenire, também tinha “teto de vidro” com relação a escândalos sexuais.
Boffo afirmou que se tratava de fato falso, demitiu-se da direção do Avvenire. A Conferência dos Bispos, pelo cardeal Bagnasco, aceitou a demissão com nota de confiar em Boffo e de sentir muito essa sua decisão pessoal e irrevogável  de deixar a direção do Avvenire.
O livro “Sua Santidade” já é um recordista de vendas e estão sendo preparadas edições em várias línguas.
A Santa Sé e o papa Ratzinger imaginavam um período de tranquilidade na mídia. Isso depois da exumação e remoção, da Basílica de  Santo Apolinário, do corpo de um dos “capi” da organização criminosa romana denominada Banda da Magliana ( a imprensa brasileira, erradamente, noticiou que se tratava de um mafioso).
O papa Ratzinger e a Santa Sé não esperavam o livro de Gianluigi Nuzzi, anunciado, com destaque especial, pelo jornal Corriere della Sera. Assim, a Santa Sé se viu obrigada, pela assessoria de imprensa, a contra-atacar e a; falar de furtos de documentos, receptações e quejandos.
Pano rápido. Que o Senhor se apiede de certas almas. E também das nossas, caro leitor.
Wálter Fanganiello Maierovitch
No Terra Magazine
*comtextolivre

Nenhum comentário:

Postar um comentário