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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 15, 2012

Governo paulista continua proibido de privatizar leitos do SUS 

 

Desembargadores do Tribunal de Justiça mantêm liminar que impede o estado de reservar 25% dos leitos do SUS para a iniciativa privada
Publicado em 15/05/2012, 19:26
Última atualização às 19:26
São Paulo – Por unanimidade, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu na tarde de hoje (15) manter a liminar que proíbe o governo estadual de reservar 25% dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes particulares ou beneficiários de planos de saúde em hospitais públicos geridos por Organizações Sociais (OS). Em agosto do ano passado, o juiz Marcos de Lima Porta, da 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital, concedeu liminar pedida pelo Ministério Público Estadual, que impede o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de assinar, alterar ou aditar contratos de gestão com OS. Além disso, suspende os efeitos do Decreto Estadual 57.108, de 2011, do governador, que regulamenta a Lei Estadual 1.131, promulgada no final de dezembro de 2010 pelo também tucano Alberto Goldman. 
Com a decisão dos desembargadores, até que seja julgado o mérito da Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público o estado não poderá entrar com nenhuma outra medida jurídica, em qualquer instância, para obter autorização para a reserva nos hospitais. “Enquanto isso, todos os leitos desses hospitais estaduais ficam 100% à disposição dos pacientes do SUS”, comemora o promotor Arthur Pinto Filho, da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos e Saúde Pública. Ele e o promotor Luiz Roberto Cicogna Faggioni são autores da Ação Civil Pública ainda sem data para julgamento. 
Na ação, os promotores argumentam que tanto o decreto de Alckmin como a lei de Goldman agridem frontalmente inúmeras normas constitucionais e infraconstitucionais. E que, se implementada, a medida “criará uma situação aflitiva na saúde pública do Estado, uma vez que os dependentes do SUS perderão 25% dos leitos públicos dos hospitais estaduais de alta complexidade, que já são, notoriamente, insuficientes para o atendimento da demanda de nossa população”.
Renato Azevedo Júnior, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), também comemora. “A decisão é bem-vinda e justa porque essa lei estadual contraria o conceito de sistema público de saúde gratuito e igualitário e cria privilégios. Ao permitir a criação de duas filas, a do sistema público, muito maior, e a dos pacientes que podem pagar plano de saúde ou mesmo o atendimento particular, é claro que uma fila vai andar mais rápido que a outra”, diz. 
Para Hélcio Marcelino, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde), o TJ confirma o que está escrito na lei. "O sistema público, que é universal e equitativo, não pode fazer diferenciações entre os seus usuários. Os desembargadores demonstraram respeitar a Constituição e a lei do SUS”. No entanto, o dirigente acredita que o governo paulista continuará buscando estratégias para privatizar também a saúde pública.
*RedeBrasilAtual

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