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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 16, 2012

Haddad deve defender Chalita


A candidatura Serra representa uma unidade forçada e forçosa do campo da direita política em seu principal reduto, São Paulo. Se no Estado as coisas vão bem por enquanto para esse segmento do espectro político, na maior cidade do País, no entanto, não se pode dizer o mesmo.

Como ocorria na velha esquerda do tempo das organizações clandestinas que devam combate ao regime militar, os partidos conservadores baixaram o centralismo “democrático” – coesão obrigatória em torno de um único líder – para evitar que suas forças se dispersassem naquela que seria a primeira das batalhas políticas visando o controle do palácio dos Bandeirantes em São Paulo e, com ela, um posicionamento minimamente viável para os enfrentamentos nas eleições presidenciais de 2014.

Reunir forças passou a ser, portanto, palavra de ordem emergencial de demistas, pessedistas e tucanos para responder à situação inusitada de um Lula revigorado pela exposição afetiva de um tratamento contra o câncer e uma Dilma transformada – pelos próprios adversários – em paladina da moralidade pública.

È nesse sentido que a candidatura Chalita pelo PMDB á prefeitura de São Paulo representa um acorde dissonante do campo conservador paras as eleições que se aproximam. Reforçaria as forças aliadas ao governo federal em detrimento daquelas aglutinadas ao redor do governo estadual.

Mais que isso, representaria um polo de aglutinação alternativa para amplos setores do eleitorado que não vota no PT, mas está desacreditado de Serra, considerando-o preso na mesma armadilha que sufocou Maluf como liderança conservadora.

O alarido mal abafado pela mídia sobre suas relações com o banqueiro mafioso Daniel Dantas, durante a operação Satiagraha da polícia federa,l e seu estilo provecto de fazer política já não se coadunam com a necessidade de apresentar à sociedade um candidato viril, pronto a sustentar as bandeiras caras ao conservadorismo sob um ângulo inovador.

O potencial da candidatura Chalita de desarrumar as bases do conservadorismo é tão maior quanto sua penetração nos setores políticos que dão sustentação à candidatura Serra, egresso que é dos quadros do PSDB e vinculado pessoalmente ao governador Alckmin.

A permanência de Chalita na disputa transferiria, por essa razão, lenta e silenciosamente toda a energia que se esperava aquecer a campanha de Serra para um PMDB repaginado pela chegada à vice-presidência da República e aerado depois da morte do caudilho interiorano Quércia.

Rifar Chalita no jogo de bastidores com os amigos do judiciário é questão de vida ou morte para a estratégia que o campo conservador armou paras as eleições de outubro. Daí a representação da conhecida colaboradora no Ministério Público Federal que pleiteia o cancelamento do registro da candidatura dissidente por infidelidade partidária.

Tudo indica que a manobra judicial fracassará. E por uma única razão: qume é infiel é infiel a alguém. E esse alguém é a legenda que Chalita abandonou ai dar ingresso no partido pelo qual se lançou à prefeitura de São Paulo, o Partido Socialista Brasileiro – PSB de Eduardo Campos.

A manifestação do partido, corroborando a não assimilação do candidato cristão à doutrina socializante do PSB deverá ser o bastante para fazer ruir o juízo moral do que é o ou não infidelidade partidária pela ótica da procuradora federal.

Evidente que nesse processo não cabe a candidato do PT cruzar os braços, pensando que possa ser beneficiário da cassação de Chalita. Poderá se dar o contrário. Cabe neste momento ao PT defender por todos os meios o direito democrático do candidato Chalita de manter-se na disputa até a abertura das urnas em 15 de outubro, condenando e repudiando a manobra torpe de impedir que os católicos tenham seu candidato às eleições paulistanas.  
*Brasilquevai

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