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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 05, 2012

Morre idoso espancado pela PM no Pinheirinho




Morre idoso hospitalizado após ação no Pinheirinho; polícia investiga agressão de PMs


  • Divulgação Foto do documento de identidade do aposentado e ex-morador do Pinheirinho Ivo Teles dos Santos, 70, morto no último dia 9; a Polícia Civil investiga se a morte tem relação com supostas agressões que ele teria sofrido de PMs durante a reintegraçãoFoto do documento de identidade do aposentado e ex-morador do Pinheirinho Ivo Teles dos Santos, 70, morto no último dia 9; a Polícia Civil investiga se a morte tem relação com supostas agressões que ele teria sofrido de PMs durante a reintegração
O aposentado e ex-morador do Pinheirinho, Ivo Teles dos Santos, 70, que ficou dois meses hospitalizado após a ação de reintegração de posse da comunidade de São José dos Campos (97 km de São Paulo), morreu no último dia 9, vítima de falência múltipla de órgãos.
Ele deu entrada no hospital municipal Dr. José Carvalho de Florence no dia 22 de janeiro, em São José, horas depois do despejo. Lá, ficou internado em coma até 22 de março, quando sua filha Ivanilda Jesus dos Santos, 34, chegou da Bahia para retirá-lo. Até a morte, diz Ivanilda, o aposentado permaneceu em estado vegetativo, sem se movimentar, nem responder a qualquer estímulo.
A causa da morte do aposentado está sendo investigada pela delegacia seccional de São José e é motivo de controvérsia: segundo o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), testemunhas afirmaram a conselheiros do órgão que Santos foi hospitalizado após ser agredido por policiais militares, com golpes de cassetetes na cabeça.
O defensor público Jairo Salvador diz que outras testemunhas relataram a mesma versão em depoimento à Polícia Civil. Já segundo a administração do hospital, Santos deu entrada na unidade com “quadro confusional” e “crise hipertensiva” após sofrer um AVC hemorrágico, diagnosticado após a realização de uma tomografia do crânio.
No dia da ação no Pinheirinho, o aposentado foi entrevistado por uma repórter do jornal “O Vale”, de São José dos Campos, e afirmou: “Eles vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater com o cassetete em mim. Olha só como estou agora? Não consigo nem andar.”
Santos morava sozinho em uma das áreas mais pobres do Pinheirinho, conhecida como Cracolândia. A única pessoa próxima do aposentado no município era a ex-mulher, Osorina Ferreira de Souza, também moradora da comunidade, com quem Santos viveu por 20 anos.
Depois da reintegração, Osorina saiu à procura do ex-marido. Encontrou-o apenas dias depois. Em 4 de fevereiro, acompanhada de deputados estaduais e conselheiros do Condepe, solicitou ao hospital o Boletim de Atendimento de Urgência (BAU), documento médico que atesta as condições em que o paciente deu entrada no hospital.

Muitas barricadas foram levantadas no local e a população espera a qualquer momento a chegada da tropa de choque para efetuar a reintegração de posse. Segundo a prefeitura, são pelo menos 1.600 famílias em situação irregular, que já foram avisadas para deixar a área invadida do bairro. A ordem da juíza da 6ª Vara Cível da cidade revoltou os moradores. O bairro existe desde 2004 e reúne 5.500 pessoas Mais Nilton Cardin/AE
A direção da unidade negou o documento, alegando que informações sobre o paciente são sigilosas e só podem ser repassadas a familiares. De acordo com o relatório do Condepe, integrantes do corpo de enfermagem do hospital teriam informado à Osorina que a causa primária de internação de seu ex-marido seriam as agressões que ele teria sofrido, e não o AVC.
A filha do aposentado afirma que, quando o retirou do hospital, ele estava com vários hematomas, cicatrizes e escoriações pelo corpo, além de pontos na cabeça. A ela o hospital entregou a tomografia do crânio de Santos e outros documentos, mas não forneceu o BAU. “Não me entregaram, mas estou disposta a viajar para retirar. Esse documento é fundamental”, afirma Ivanilda.
No dia 6 de fevereiro, segundo o Condepe, a versão do hospital e da Secretaria Municipal de Saúde sobre o motivo da entrada do aposentado na unidade foi registrada em boletim de ocorrência lavrado no 5º DP de São José.
A PM nega que tenham ocorrido as agressões. A filha de Santos diz que entregará todos os documentos médicos que recebeu para a defensoria.
O defensor público Jairo Salvador afirmou que, em posse dos documentos, irá pedir um laudo do Instituto de Medicina de São Paulo. A defensoria recebeu 586 ações individuais de moradores que sofreram violência física e psicológicas ou perderam bens na ação. “É incrível a simetria dos relatos. Ou houve uma histeria coletiva ou o que eles dizem realmente aconteceu”, afirma o defensor.
A reportagem do UOL não conseguiu localizar na seccional os responsáveis pela investigação.

História de Ivo Teles dos Santos

Após retirar o pai do hospital, Ivanilda ficou por uma semana na casa de uma irmã no Itaim Paulista, no extremo leste da capital paulista. De lá, foram para Ilhéus, no litoral sul baiano, onde ela trabalha como camareira e vive com dois filhos. Ela conta que teve de abandonar o emprego para cuidar do pai.
“Abandonei o trabalho para ficar em casa cuidando dele. Meu pai ficou sem uma peça de roupa sequer, só com o roupão do hospital. Tive que comprar. Ele usava fraldas, medicamentos… E não consegui retirar a aposentadoria dele. Foi tudo com o meu dinheiro.”
Segundo Ivanilda, seu pai deixou Ilhéus no início da década de 80, quando ela tinha apenas sete anos, para procurar emprego em São Paulo. Antes de se aposentar, Santos fez vários bicos, trabalhou em uma empresa que produzia antenas parabólicas e foi carpinteiro. Além de Ivanilda, o aposentado têm outro filho, de 49 anos, que não foi registrado como seu filho e mora no Rio de Janeiro.
A mãe de Santos ainda é viva. Ela tem 87 anos e também mora em Ilhéus. A família tentou esconder dela o estado de saúde do aposentado, mas foi inevitável. “Ela viu a situação que o filho ficou. Foi muito dolorido para ela e para a família toda.”

Morre morador do Pinheirinho espancado pela polícia durante despejo

PSTU
É a segunda morte causada diretamente pela ação da Polícia Militar durante desocupação em São José dos Campos (SP)

Da redação







O aposentado Ivo Teles dos Santos, morto no último dia 10
• Morreu no dia 10 de abril em Ilhéus (BA) o ex-morador do Pinheirinho, Ivo Teles dos Santos, de 70 anos, brutalmente espancado durante o despejo realizado pela Polícia Militar na ocupação de São José dos Campos (SP), no dia 22 de janeiro.
A agressão a Ivo, que era aposentado e morava sozinho em um barraco, foi testemunhada por vários moradores. A própria vítima chegou a denunciar o fato a um jornal local. “Eles vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater com o cacetete em mim, olha só como estou agora? Não consigo nem andar”declarou Ivo ao jornal Bom Dia São José.
Algumas horas depois da agressão, o aposentado sumiu e foi dado como desaparecido. Na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo chegou a emitir nota afirmando que ‘Santos está bem e já deu até entrevistas depois da desocupação”.
Descobriu-mais tarde que, no mesmo dia da desocupação, Ivo Teles foi hospitalizado. Após dias negando qualquer informação sobre o real estado do paciente, a UTI do Hospital Municipal divulgou um sucinto relatório afirmando que a razão da internação teria sido um “AVC”. Nada sobre os hematomas das agressões.
Ivo Teles permaneceu internado até o dia 22 de março. No dia 28, viajou a Ilheus, na Bahia, sua cidade natal, onde permaneceu sob os cuidados da filha. “A filha do senhor Ivo nos informou que lá em Ilheus ele já não falava, nem andava, e tinha dois grandes ferimentos na cabeça” , informa o advogado dos moradores, Toninho Ferreira. “No atestado de óbito consta apenas falência múltipla dos órgãos, mas não temos dúvida de que a real causa de sua morte foi o espancamento que ele sofreu da polícia“”, afirma
Segundo o advogado, essa foi a segunda morte causada diretamente pela ação da PM durante a desocupação. “No dia do despejo, Antonio Dutra foi atropelado por um carro que fugia do gás lacrimogêneo e os tiros de borracha disparados pela polícia”, explica.
Situação caótica
Apesar de todas as promessas realizadas pelo governo, tanto municipal quanto estadual ou Federal, os moradores do Pinheirinho continuam sobrevivendo em condições precárias. Dependendo do parco aluguel social da prefeitura, as famílias são obrigadas a se juntarem para conseguir pagar o aluguel de uma casa, e vivem amontoadas. O caso de uma família que vive em uma Brasília velha foi destaque recente na imprensa.
O movimento em defesa da moradia, porém, não terminou. Nesse dia 20 ocorre uma manifestação pública, às 9h em frente ao terreno do Pinheirinho. Às 11h, as famílias se deslocam para a prefeitura, para exigir o cumprimento das promessas, moradia e a desapropriação do terreno do especulador Naji Nahas.
*DARdesentorpecendoarazão

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