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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 09, 2012

Na contramão do Brasil e a serviço dos bancos, O Globo fabrica crise entre Febraban e governo. Pior para os bancos

 

Reprodução de capa de O Globo com suposta reação de bancos a Dilma
Mantendo sua tradicional postura a favor do mercado e contra qualquer política de governo em favor dos mais pobres, O Globo ontem lançou manchete tentando criar uma crise entre governo e bancos. Sua manchete, reproduzida ao lado, foi "Bancos reagem a Dilma e não garantem crédito maior".

Houve alguma declaração da Febraban ou dos bancos ou mesmo de algum banco nesse sentido? Não. A reportagem do jornal feita a partir da manchete retrata isso. Tudo se baseou num relatório produzido pelo economista-chefe da federação:


Intitulado "Informativo Semanal de Economia Bancária", o relatório é o resultado de uma consulta feita pela própria Febraban junto aos bancos sobre as principais estimativas dos bancos. No texto divulgado ontem, não há menção sobre a pressão do governo. O texto de Sardenberg diz que "a mudança nas regras da poupança funcionou como estímulo adicional para o mercado trabalhar com a expectativa de novos cortes na Selic". Mas, em seguida, pondera que a "questão que se coloca agora é até que ponto essas reduções (de juros e da remuneração da poupança) vão estimular a ampliação da oferta de crédito". Para a Febraban, o país vive hoje um paradoxo econômico, que funciona como obstáculo para os objetivos do Planalto. "A piora dos indicadores, especialmente os externos, abre espaço para quedas adicionais dos juros básicos, mas ao mesmo tempo parece impor uma cautela adicional aos agentes econômicos" [íntegra aqui].


Como se vê, não há reação alguma feita pelos bancos. Tudo ficaria por aí se O Globo não tivesse puxado o relatório para sua capa com uma manchete agressiva, dizendo que os bancos estavam reagindo ao governo.

Pior para os bancos. A presidenta, segundo contam, não teria ficado nem um pouco satisfeita e exigiu uma retratação da Febraban. E que fosse feita por escrito. A Febraban concordou e a nota foi emitida na tarde de ontem. Trecho (o destaque em negrito é meu):


A Diretoria de Economia da FEBRABAN produz o Informativo Semanal de Economia Bancária-Iseb há quatro anos. A edição de nº 140, divulgada na segunda-feira dia 7 de maio, trouxe uma análise da conjuntura do mercado de crédito baseada em dados e estatísticas públicos e na pesquisa sobre expectativas e projeções e opiniões dos analistas, que não podem ser interpretados como um posicionamento oficial da entidade ou de seus associados. [íntegra aqui]

Reprodução de capa de O Globo, com retratação da Febraban
Hoje, com o rabo entre as pernas, olha onde foi parar a manchete de ontem. Num cantinho envergonhado, com a retratação dos bancos, que, na verdade, deveria ser a retração de O Globo, que, na ânsia de agradar seus patrocinadores, quis ser mais realista que o rei e quebrou a cara.

O Brasil segue em frente, apesar das cascas de banana das Organizações Globo.

Polícias Civil do Rio e Federal pedem à Globo fitas do Fantástico com denúncias de corrupção. Globo diz que apagou

Lembra aquela reportagem do Fantástico do mês passado em que funcionários e até donos de empresas eram pegos numa pegadinha do repórter que se fazia passar por diretor de hospital fazendo licitação?

Lembra que a reportagem mostrava como eram corruptos e acenavam com comissões para o diretor-repórter?

Pois as Polícias Civil do Rio e Federal pediram à emissora o material bruto (todas as fitas com a íntegra das gravações) da reportagem, e não apenas o material editado que foi ao ar, e a Rede Globo disse que não mantém em arquivo as fitas brutas das imagens, mas apenas o que vai ao ar.

Ou seja, tudo aquilo pode ter sido uma grande farsa montada pela emissora. Vou mostrar como, simulando Repórter (R) e emissário de empresa (E).

Se a íntegra do diálogo entre os dois foi assim:

R -  Mas vocês não têm assim um esquema, um agrado, uma comissão para o comprador?
E - Não.
R - Mas sabe que existem pessoas que agem assim, não sabe?
E - Sei.
R - Cá entre nós, como isso é feito?
E - Não sei. A gente ouve falar.
R - Seria como? Na mão grande, a pessoa oferece?
E - É... Eles dizem assim "olha, nós podemos fazer o preço de acordo com sua comissão. Pode ser 15, 20%"...
R - Chega a ser tanto assim?
E - Em algumas concorrências, sim.
R - Mas, como é que falariam pra mim. Vamos supor, você...
E - "Olha, a gente pode trabalhar com a sua faixa... Se quer 20% a gente dá. O importante é o cliente ficar satisfeito"...

Etc, etc...

Agora, vamos para a edição: o que seria cortado do diálogo e o que iria ao ar. Vou usar aqui as frases do Emissário (que poderia ser você, leitor, você, leitora), que estão em negrito acima:

E - Olha, nós podemos fazer o preço de acordo com sua comissão. Pode ser 15, 20%.  Se quer 20% a gente dá. O importante é o cliente ficar satisfeito.

A diferença entre o que aconteceu e o que foi ao ar é gritante. O que o suposto Repórter e o suposto Emissário conversaram foi uma coisa. O Emissário da empresa disse que NÃO pagava propinas. Mas, estimulado pelo Repórter, disse que sabia do esquema feito por algumas pessoas, e o reproduziu, fazendo-se passar por um dos corruptores.

O que teria ido ao ar nesse exemplo que criei, incrimina o Emissário, mostra-o como se estivesse oferecendo comissão, o que ele não fez e disse que não fazia.

Voltando ao nosso mundo real, e  saindo do mundo Fantástico, suponha que você tenha sido o Emissário, a Emissária atingido(a) pela reportagem. O Brasil inteiro, a partir daquele domingo, o (a) viu como um(a) corrupto(a) fdp.

E o que você alegaria em sua defesa? Que não disse aquilo, que suas palavras foram truncadas, editadas.

Mas, como provar? Pedindo o material bruto, não editado pela Globo, à emissora...

Pois eles dizem que apagam. Divulgam (ou difamam) sua imagem, e depois alegam, com a maior cara de pau, que não mantêm em arquivo o material bruto.

Processo neles, pessoal.
*BlogdoMello

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