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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 23, 2012

O PIG é o verdadeiro chapa-branca 

 

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Leio no blog do Eduardo Guimarães que foi discutido, numa reunião do Barão de Itararé, instituição que representa a blogosfera progressista, o ódio crescente, nas redações, aos blogueiros. Então imagino que este humilde escriba também deva ser alvo de hostilidade em alguns ambientes da grande imprensa. Pelo que tenho observado nos próprios jornais, a constatação é autêntica. 
Na sexta-feira passada, Nelson Motta publicou um texto que flerta com o nazismo. Sim, nazismo. Ele faz chacota de todo o universo popular. Ele zomba da própria democracia. Movimentos sociais, partidos de esquerda, sindicatos e, claro, blogueiros progressistas, ele junta tudo num balaio de sarcasmo vulgar. Acho interessante aliás que a figura do blogueiro progressista (com esse nome estranho, progressista, que muita gente caçoou, mas que acabou pegando bem) entrou de vez no imaginário do conservadorismo autoritário. Sim, conservadorismo autoritário, porque é uma turma que simplesmente não aceita que haja setores sociais que discordam das opiniões da grande mídia.

Não consigo entender Nelson Motta: o cara podia estar de bem com a vida; escreve sua biografias; ganha bem na Globo; de onde vem seu ódio contra Dirceu, contra a esquerda, contra os movimentos sociais. É o mensalão? Ora, mesmo que se aceite a tese esquizofrênica do mensalão, pela qual o Professor Luizinho, deputado pelo PT é chamado de “mensaleiro” porque um assessor sacou 20 mil reais para pagar dívidas de campanha, mesmo assim, é tudo muito ridículo. Ora, mensalão pra valer foi o processo da reeleição de FHC, um chavismo sem consulta popular e por isso ditatorial. De maneira que se Motta e seus colegas realmente acham que o mensalão foi um terrível e imperdoável crime contra a democracia, por uma questão de coerência deveriam ter mais ódio ainda de FHC e do PSDB.

A imprensa não quer fazer um debate político transparente sobre o mensalão. O que foi o mensalão? O governo subornava deputados para que estes votassem com ele? Ora, a teoria tem muitos furos. Em primeiro lugar, são 513 deputados. Não é comprando meia dúzia que se muda uma votação. Segundo, o voto é secreto, justamente para proteger o parlamentar desse tipo de pressão. O voto secreto permite que o deputado trapaceie o corruptor, no caso o governo. Ele pega o dinheiro do mensalão, e vota contra o governo. Quem vai saber? Em terceiro lugar, a mídia jamais discutiu que leis ou reformas foram votadas naqueles dois primeiros anos de governo que eram tão importantes a ponto de levar o PT a comprar “consciências”. 
Para se tipificar um crime, é preciso saber o motivo do crime. Qualquer leitor iniciante de Agatha Christie sabe disso. No caso de FHC, é fácil: a emenda da reeleição, que significava, como significou, ampliação de poder do Executivo e do grupo que o dominava. No caso do mensalão, não houve nenhuma “lei” ou “reforma” revolucionária. E, sobretudo, nada que ampliasse o poder do Executivo. Houve caixa 2, isso sim. É grave, é, mas sejamos minimamente precisos: foi caixa 2 de campanha, cujas sobras são distribuídas durante os meses que sucedem o pleito.

Caixa 2 é um crime menor? É. É considerado uma infração eleitoral, mas não é tipificado como crime. No entanto, o caixa 2 costuma acontecer, por razões óbvias, conjuntamente a crimes de lavagem de dinheiro. Se esses crimes forem detectados, com provas cabais, que os réus sejam condenados. O que não compreendo é esse ódio seletivo. Será que é prerrogativa para escrever no jornal Globo demonstrar ódio ao PT? Acho que sim.

Mas ainda assim não entendo. O PT é um partido cheio de problemas, mas é uma legenda que abandonou há tempos – se é que teve algum dia – qualquer prurido de violência institucional. Tudo bem não concordar, não gostar, mas sentir ódio?

Quanto à teoria do chapa-branquismo da blogosfera, isso é uma cachorrada sem tamanho. A blogosfera ainda vive as dores de seu próprio nascimento. Não tem financiamento, não tem dinheiro, não tem nada. A mídia, portanto, quer sufocá-la desde o berço, pois é evidente que um setor de comunicação ligado a ideologias de esquerda terá enorme dificuldade de entrar no ambiente publicitário altamente monopolista e conservador das grandes agências que operam as contas das empresas privadas. Aliás, hoje, o setor é dominado por agências norte-americanas, cujas ideologias neoliberais a gente conhece muito bem.

O próprio discurso desqualificador da grande mídia dificulta ainda mais o acesso da blogosfera às contas privadas. E aí eles também não querem que sequer tenhamos banners das empresas estatais? Por quê, se eles por décadas ganharam milhões e milhões e milhões de verbas publicitárias das agências estatais? A própria fundação das empresas de mídia no Brasil se deu através de empréstimos milionários que esses grupos conseguiram junto aos bancos públicos. 
Lembro que estudando a campanha do jornais lacerdistas contra Getúlio Vargas, topei com historiadores que observavam a ironia. Eles (os jornalões) acusavam Vargas de corromper a opinião pública (era quase igual a história do mensalão) através de empréstimos ao Último Hora, que era varguista. No entanto, esses mesmos jornalões haviam obtido financiamentos igualmente polpudos junto aos bancos públicos, em governos anteriores. Ou seja, o lacerdismo era hipócrita.

No caso dos jornalões que chamam a blogosfera de chapa-branca, a acusação assume ares de uma tenebrosa farsa, porque essas mesmas empresas consolidaram-se como grandes grupos de mídia através não apenas de empréstimos do governo militar – elas também se beneficiaram enormemente do esmagamento dos jornais mais “independentes”. Quando a ditadura chegou ao fim, o Globo imperava solitário no Rio de Janeiro. A ditadura o ajudara a derrotar seus concorrentes. E por quê? Porque o Globo era chapa-branca, os outros o eram menos. Mesmo nos governos democráticos, eles continuaram recebendo milhões, até mesmo bilhões, em empréstimos públicos. É público e notório o empréstimo de 1 bilhão de reais que os tucanos deram ao Globo no apagar das luzes de seu reinado. Veja, Estadão, Folha, todos chapa-brancas da ditadura, primeiro, e mais tarde do governo mensaleiro e protochavista de FHC.

Quem é chapa-branca? Quem recebeu mais dinheiro do governo?

Quer dizer que ser amigo de ditador pode, receber dinheiro de ditadura pode, mas apoiar governo democrático e receber publicidade de um governo popular, aí não pode? Que palhaçada é essa?

Eu não vou cair nessa armadilha moralista da grande mídia. Para mim, o Estado tem sim de ampliar cada vez mais a destinação de verba à blogosfera (ainda não dá praticamente nada), de maneira a promover a desconcentração da mídia e a pluralidade das ideias. A grande mídia sempre continuará recebendo a maior parte das verbas, por razões lógicas: ela atinge um grande público. O Estado brasileiro é democrático e, portanto, tem legitimidade ética e republicana para escolher em quais blogs ele vai anunciar. Os governos tucanos não compram milhares de assinaturas da Veja, não doam horários nobres para Folha e Estadão terem programa em canais públicos? Agora somente Globo, Estadão, Abril e Folha, só eles podem receber verbas do governo?

A estratégia deles é simples: eles querem evitar a todo custo uma evolução profissional da blogosfera. Se o Estado fizesse anúncios de maior vulto na blogosfera, permitiria que esta se profissionalizasse, ganhasse qualidade e status, abrindo caminho para os anunciantes privados. Isso é muito claro para mim. Se o Estado ajudasse os blogueiros a dar um pontapé inicial, poderia haver a criação de uma rede de blogs profissionais.

Claro, nem todo mundo quer ser profissional. O lado mais forte da blogosfera é seu amadorismo jovial, engajado, libertário. Os blogueiros fazem um trabalho excepcional sem precisar de nenhum financiamento, e muitos jamais precisarão. O problema é que essa realidade acabou por envelhecer o movimento. Há encontros de blogueiros em que a presença da juventude é absolutamente minoritária. E por quê? Porque os jovens não podem se dar ao luxo de trabalhar de graça por muito tempo. Eles montam blogs, mas a sua vida profissional ainda está começando, eles precisam abraçar cargas de trabalho e estudo extremamente pesadas, e as perspectivas financeiras de um jovem intelectual no Brasil são sempre algo sinistras mesmo que ele não seja “de esquerda”. Se for de esquerda, então, o bicho pega mais ainda, em função do preconceito ideológico que a nossa própria mídia vem inoculando na sociedade desde muito tempo, desde o golpe de 1964. Então ele vai ser professor, advogado, engenheiro, jornalista em grande empresa, qualquer coisa que lhes dê estabilidade financeira. Só os malucos como eu decidem ser blogueiros.

Outro erro grave da mídia e de seus lacaios é subestimar a autenticidade da blogosfera enquanto movimento social, como se fosse possível ao governo ou ao PT controlar algo que é monstruosamente livre e anárquico por natureza. As razões políticas que levam muitos blogueiros a apoiar o PT e o governo federal deve ser procurada nas pesquisas de popularidade. Ou a mídia não acha que seria bizarro que uma presidenta gozasse de popularidade recorde, olímpica, e não houvesse quem a defendesse nas redes sociais e na blogosfera?

Toda a teoria política da mídia é falha, débil, absurda. Seu ódio demonstra medo, insegurança, fraqueza, covardia. A mídia corporativa é um poder político. Ela sabe disso. São empresas que possuem enormes interesses financeiros e por isso lutam para eleger seus aliados. Agora vimos que não hesitam sequer em se valer do auxílio espúrio do mais perigoso mafioso já aparecido nas últimas décadas. Carlinhos Cachoeira deixou PC Farias no chinelo. PC Farias não tinha ligações com vários governadores, não tinha senador, deputados, prefeitos, jornalistas da Veja, comendo em sua mão.

As pessoas não são trouxas. A blogosfera não nasceu de uma estratégia do PT para aniquilar a “imprensa independente”. Surgiu naturalmente, como evolução necessária da consciência política da sociedade. Eu frequentei eventos de blogueiros desde início. Blogueiros e comentaristas de blogs são pessoas pacatas, generosas, democráticas, atentas, bem informadas, cultas, curiosas. Não são bestas feras querendo destruir a “imprensa livre” como idiotas como Merval tentam fazer crer.

São brasileiros cuja opinião política merecia ser mais respeitada pelas grandes empresas de mídia, já que elas se arvoram em “paladinas” da liberdade de expressão.

É incrível. O Globo amordaça seus empregados, ninguém pode falar de política em rede social (leia-se: não pode falar bem do PT, claro; falar mal pode). O Estadão demitiu sumariamente a Maria Rita Kehl porque ela ousou publicar um artigo em que, embora muito sutilmente, defendia Lula. Os mesmos colunistas ocupam vários jornalões. Gaspari, Jabor, Nelson Motta, os caras estão em todas. Alguns parecem que são legião, não indivíduo, como é o caso da Miriam Leitão, do Jabor e do Merval Pereira. Estão no jornal impresso, na TV, no rádio, na internet. Só falta surgirem embaixo da nossa cama, gritando mensalão.

Ou seja, eles conseguiram – nos últimos anos – criar um verdadeiro conglomerado ideológico, uma frente de batalha unida, coesa e poderosa. Tudo bem. O que eu acho incrivelmente autoritário da parte deles é que, além de não darem liberdade a seus jornalistas, criando um ambiente opressivo e totalitário, eles querem, com sua campanha de desqualificação, tolher a liberdade dos blogueiros independentes?

Quer dizer que ninguém no Brasil pode mais pensar com sua própria cabeça? Todo mundo tem que comer na mão do pensamento da grande mídia?

Ora, os blogueiros não querem destruir a “imprensa livre”. Eles querem um espaço ao sol para mostrar à sociedade brasileira que esta imprensa não é livre coisa nenhuma, e em alguns momentos duvidamos se pode ser chamada de imprensa. A liberdade não tem dono! Meia dúzia de mafiosos não podem se apropriar da liberdade de expressão! Ela é de todos!

É uma imprensa corporativa, que tem suas qualidades e tem seus vícios. O brasileiro tem que ser informado de que a imprensa tem vícios, porque se o leitor/espectador dotar-se de senso crítico, ele estará vacinado, e aí poderá se informar sem ser manipulado. Poderá assistir quantos Jornais Nacionais quiser, ler os jornais, e arriscar-se até mesmo a uma olhadinha no último escândalo da Veja, mas saberá separar o joio do trigo. A imprensa corporativa tem recursos para levar adiante reportagens investigativas de longo alcance. Ela tem força, de fato, para derrubar ministros corruptos. Mas também tem para derrubar ministros não-corruptos, sobretudo se este for inimigo de seus amiguinhos mafiosos de Goiás… Fomentar uma consciência crítica na sociedade, essa é uma missão nobre, histórica, da blogosfera!

A imprensa corporativa tem estrutura para enviar repórteres ao exterior e entrevistar chefes de Estado. Talvez, no futuro, a blogosfera política também tenha esse status. A blogosfera de moda, por exemplo, já é bastante capitalizada e independente. Por enquanto, porém, a mídia corporativa ainda é um enorme Golias, insuportavelmente arrogante, que ataca verbalmente seus adversários, denotando um desprezo monumental e aristocrático, visando humilhar sobretudo o jovem e frazino David, que é a blogosfera, um movimento sem recursos financeiros, sem poder político e inclusive sem nenhuma base sindical ou partidária. Chega ser engraçado que a mídia, com seus milhões, seus milhares de empregados, seus poderosos lobbies em Brasília, sinta-se ameaçada por um grupo tão singelo.

A importância da blogosfera se torna evidente em momentos como este, em que temos a grande imprensa distorcendo diariamente as informações e notícias acerca da CPI do Cachoeira. Em outros momentos, os parlamentares eram heróis, mesmo acusando sem provas. Demóstenes era um mosqueteiro da ética. Hoje, a mídia bate nos parlamentares porque eles têm provas e setores da imprensa estão envolvidos. A imprensalona jamais irá admitir que seus membros se envolveram com bandidos. A estratégia de tratar jornalistas e donos da mídia como deuses intocáveis é, todavia, um vício antidemocrático. Numa democracia, todo mundo é igual. Acabou-se o tempo em que os amigos do Rei (leia-se Roberto Marinho) não podiam ser interrogados.

No domingo, por exemplo, Merval Pereira escreveu em sua coluna uma sucessão de mentiras e ilações. É preciso haver blogueiros que o contestem!

Vamos à análise de seu texto. O de Merval segue em negrito, o meu em fonte normal.

*****

Tiro no pé

Merval, um dos porta-vozes da imprensa corporativa, continua apostando na técnica de chantagem e amedrontamento. A CPI foi um erro porque vai respingar no governo. Ora, Merval se trai com essa tese. Se a CPI respingar no governo e derrubar corruptos do PT, então será ótimo para o Brasil e para a população, não?

Por MERVAL PEREIRA, no Globo

20.05.2012 12h08m

O flagrante da mensagem do deputado petista Candido Vacarezza garantindo imunidade ao governador do Rio Sérgio Cabral é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoeira está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder.


O tropeço de um petista era o que a mídia queria para melar a CPI. O Noblat também dedica sua coluna desta segunda-feira ao SMS de Vacarezza. Ora, é um recado baixo nível de um petista aloprado, mas não indica crime algum, nem sequer menciona blindagem. Ao contrário, a mensagem tem um tom até meio ameaçador.

“A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)”

Ora, quantas toneladas de ilações será possível fazer com uma mensagem assim? Vacarezza não fala precisamente em blindar, embora seja possível interpretar assim, mas sim que PT continuará sendo aliado de Cabral mesmo se a relação entre os dois partidos azedarem.

Convocada estranhamente pela maioria governista, a CPI tinha objetivos definidos pelo ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu: apanhar a oposição com a boca na botija nas figuras do senador Demóstenes Torres e do governador de Goiás Marconi Perillo, e desestabilizar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, responsáve lpela acusação dos mensaleiros no julgamento do Supremo Tribunal Federal.

De passagem, queriam certos petistas criminalizar a revista Veja para criar um clima político que favorecesse a aprovação de uma legislação de controle da mídia, como vêm tentando sem sucesso desde o início do governo Lula.


Convocada “estranhamente”? Que tipo de análise é essa? Merval omite um ponto fundamental. A CPI do Cachoeira foi a que recebeu o maior número de adesões da história da república. Vamos dar esse pequeno crédito ao parlamento brasileiro, por favor. Lula pode ter incentivado, mas Lula não é deputado. Quem instalou a CPI foi o povo brasileiro, através de seus representantes políticos. Os motivos que os levaram a criar a CPI são vários; certamente cada parlamentar poderá apresentar um motivo, uma interpretação pessoal. Mas estamos lidando com um fato de extrema gravidade. 
Um mafioso possuía lacaios na esfera mais alta da república: um senador da república, um governador, vários parlamentares, prefeitos, policiais federais; a revista de maior tiragem no país manteve relações íntimas com esse mafioso, publicando matérias de seu interesse. Enfim, era um esquema grandioso, e os parlamentares tem obrigação de esclarecer esse imbróglio para o país. Como o caso envolve altos nomes da política, não pode ser um trabalho exclusivamente técnico da Polícia Federal. É preciso fazer uma investigação e um debate em termos políticos também. O delegado da PF não tem condições intelectuais ou políticas de saber que Policarpo Júnior, por exemplo, ou o editor da Veja, cometeu crimes ao se relacionar de maneira tão espúria com Carlinhos Cachoeira. Isso é uma conclusão que somente uma CPI pode apontar.

Merval podia ler o próprio jornal. Avançando um pouco as páginas, encontraria artigo de Elio Gaspari, que senta o pau no procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Gaspari, colunista do Globo, também estaria mancomunado ao PT?

Por enquanto está dando tudo errado. A tentativa de constranger os ministros do Supremo resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência.

É prematuro falar que “está dando tudo errado”. Não houve tentativa nenhuma de constranger ministros do Supremo. Aliás, de que diabos Merval está falando? Ele está maluco? Quem tentou constranger ministros do Supremo?

A vontade de procrastinar o julgamento, quem sabe deixando-o para o próximo ano, quando dois novos ministros estarão no plenário para substituir Cezar Peluso e Ayres Britto, ficou tão explícita que o revisor do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ainda no primeiro semestre, permitindo que o julgamento comece logo em seguida.

Os imbróglios do mensalão dizem respeito aos vinte e pouco réus, o Brasil tem 200 milhões de habitantes, 99,99% dos quais não está nem aí para eles. O mensalão é um processo acabado. Será votado e ponto final. A CPI do Cachoeira é uma investigação que acabou de começar. Há pontos de interseção entre os crimes de Cachoeira e o mensalão, alguns importantes, mas em essência eles tratam de duas coisas completamente distintas.

Até mesmo uma frase banal, que queria dizer outra coisa, teve o efeito de levantar suspeitas. Quando Lewandowski disse que o julgamento ocorreria “ainda este ano” sabe-se agora que não estava pensando em outubro ou novembro, mas a partir de junho, como fez questão de esclarecer.

Paranóia besta de direitistas doidos. Só meia dúzia de alucinados fica vendo mensaleiro dentro do armário do quarto, embaixo da cama, no elevador. A maioria do povo, inclusive a maioria que deseja a CPI quer que os mensaleiros se explodam. A direita trata o tema como se o PT ou o governo fossem acabar se os réus forem condenados. Ora, mesmo que fossem todos condenados à prisão perpétua, em que isso afetaria o governo? Nem a Dilma nem nenhum de seus ministros não tem relação nenhuma com mensalão. O “mervismo pigal”, para usar a divertida expressão de PHA, atingiu o clímax da insanidade conspiratória.

Com relação à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o “laranja” da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando, na definição de Vacarezza, por que o PMDB não está disposto a embarcar nessa aventura petista de tolher a liberdade de imprensa.

Que mané tramóia petista, Merval! O PT está sendo puxado à fórceps para dentro desse debate. Se fôssemos depender do PT, não haveria nem CPI! A sociedade brasileira é que está por trás da pressão para investigar a imprensa, e não toda a imprensa, mas setores mafiosos, ou setores que mantinham relações com máfias políticas. Pára de choramingar, Merval! Nos EUA, na Europa, jornalista apanha que nem adulto quando faz merda. Não perdoaram nem o bilionário Rupert Murdoch. A troco de que os jornalistas do Brasil devem ser tratados como representantes sagrados da “imprensa livre”? Quer dizer que não existe jornalista safado, jornalista bandido? O vice do Agnelo pagava 100 mil reais por mês ao Mino Pedrosa para ele plantar matérias que derrubassem ou enfraquecessem o governador, tudo mancomunado com o esquema Cachoeira. Há gravações que revelam que Claudio Humberto também levava grana do esquema. E Cachoeira plantava o que queria na Veja. Tem que investigar sim, Merval. Não é tramóia petista. É vontade soberana do povo. A ditadura acabou, meu filho. Numa democracia, todo mundo é igual. Todo mundo pode ser preso. Jornalista ou não.

Por fim, a blindagem explícita do governador do Rio pode se transformar em uma facade dois gumes, tornando inevitável sua convocação.

Que blindagem explícita? A mídia é muito esperta. Não há uma só gravação envolvendo Sérgio Cabral no esquema Cachoeira, e olha que são milhões de telefonemas sobre Deus e o mundo. A Delta tinha contrato com o governo do Rio assim como tinha com o governo de São Paulo. Se chamar Cabral então tem que chamar o Alckmin, o Serra e o Kassab. Ora, a CPI tem que investigar os nomes que aparecem nas investigações, e não virar palco para salafrários como Garotinho fazerem proselitismo partidário. Festejar em Paris pode parecer uma coisa terrível para a classe média lacerdista, mas felizmente ainda não foi tipificado como crime. Melhor festejar em Paris do que nas ilhas Cayman, como Serra e os tucanos fizeram, conforme se pode comprovar lendo o livro Privataria Tucana.

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