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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 22, 2012

A ocupação da América do Sul

Laerte Braga
O aumento constante e expressivo da presença militar dos Estados Unidos em países da América do Sul coloca em risco a segurança e a independência desses países e significa uma real ameaça de futuros conflitos numa região que os norte-americanos consideram como quintal.
Existem indícios claros que se organiza um golpe contra o presidente Hugo Chávez na Venezuela, que por extensão, numa teoria que os EUA gostam desde os tempos de Kissinger e é chamada de efeito dominó, e se estenderia a Bolívia, ao Equador e a Argentina. Países onde os governos são considerados hostis.
Essa presença militar é ostensiva no Peru, no Chile, na província do Chaco na Argentina e total na Colômbia. Não exclui a ação política de agentes dos EUA, de Israel, da União Europeia – a Grã Bretanha movimentou submarinos nucleares e equipados com mísseis também nucleares para as ilhas Malvinas – e políticos ou grupos de direita e extrema direita, caso, entre outros, do ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso e do escritor peruano Vargas Llosa.
Os presidentes da Colômbia e Chile, Sebastian Piñera e Manuel Santos são alinhados incondicionais dos EUA e na prática não passam de "governadores" de províncias.
O controle da mídia de mercado, que se acentuou com a entrada de capital internacional em países como o Brasil, por exemplo, faz com que a percepção dessas políticas seja a menor possível e assim não desperte reações populares capazes de colocar em risco os dois pontos mais importantes da atual política dos EUA para a América do Sul. O Plano Grande Colômbia que inclui a região Amazônica inclusive a parte brasileira e o controle da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Uruguai).
No caso específico do Brasil o governo Dilma Rousseff dá sinais de ter abandonado a política de integração latino-americana e procura jogar as regras do jogo internacional, o mundo globalizado segundo a ótica e os interesses do capitalismo.
A Amazônia brasileira desde o governo FHC através do antigo projeto SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia – é controlada pelos norte-americanos. As imensas reservas de nióbio, outro exemplo, mineral estratégico e de fundamental importância para armas nucleares, estão em mãos de ingleses e mais de dois terços da produção e contrabandeada para países como a Grã Bretanha, os EUA, Bélgica e outros.
O controle da água e das imensas reservas de petróleo de países como o Brasil e a Venezuela é vital para os projetos norte-americanos. O não ter conseguido implementar políticas diretas para a instalação de bases militares no Brasil não significa que os EUA tenha deixado o país de lado, ou desconsiderado sua importância. A política externa brasileira de morde e sopra fez com que os norte-americanos passassem a considerar esse controle a partir da Colômbia, do SIVAM, do acorde de livre comércio firmado no governo Lula com Israel, que abriu as portas para a presença de empresas sionistas em setores estratégicos da economia e políticas de "colaboração" com o governo federal e governos estaduais na área de segurança pública.
E pela primeira vez, desde o fim do governo João Figueiredo, o último general da ditadura, um chefe militar – mesmo que na reserva – fala abertamente, em entrevista ao jornal ESTADO DE SÃO PAULO, em "poder moderador".
A constituição de 1988, por pressão dos militares, confere às forças armadas esse poder em caso de "graves" distúrbios políticos, econômicos ou sociais. O general Leônidas da Silva (ex-comandante do aparato repressivo no estado do Rio de Janeiro), ministro do Exército no governo Sarney, reagindo à Comissão da Verdade, que investiga os crimes da ditadura, foi claro ao afirmar que é necessária a "convocação do poder moderador".
Não importa que as circunstâncias sejam diversas, a conjuntura seja outra, mas claro está que a democracia em países da América do Sul é um ciclo consentido e sua efetiva transformação em realidade vai depender da reação de forças populares.
É uma luta que, em todos os países sul americanos, não vai ser travada dentro do mundo institucional limitado por essa espécie de camisa de força imposta por regimes totalitários – poder moderador –. A cumplicidade dos governos que se seguiram à ditadura no Brasil permitiu aos responsáveis pela repressão acumular forças para reagir agora à Comissão da Verdade. É um aspecto positivo do governo Dilma, ainda que não se saiba até que ponto a presidente terá forças para enfrentar a reação dos quartéis. A maioria dos militares brasileiros da ativa é leal a Washington e tem se deixado envolver pelos porões podres, mas ainda vivos, da ditadura militar.
Há uma ilusão nos países da América do Sul em relação aos governos dos EUA. Costuma-se acreditar que presidentes republicanos são diferentes de presidentes democratas na prática colonialista, o que é um equívoco. O que varia é a forma de agir. Republicanos chegam com areia e democratas com vaselina.
A derrubada de Chávez é quase uma obsessão em Washington e para isso a cumplicidade da direita venezuelana não vai se limitar a ações políticas. Se necessário for provocam um conflito social com o objetivo de cindir as forças armadas e criar condições para a intervenção internacional naquela conversa fiada de "ajuda humanitária" e "direitos humanos".
A doença do presidente abre espaços para especulações deliberadas na mídia de mercado, nas ações diplomáticas, no buscar criar confusão na opinião pública e no tentar impedir a permanência de Chaves, até agora imbatível nas urnas, fato que deverá se confirmar nas eleições de outubro deste ano.
Se o controle da América Central, a exceção de Cuba e Nicarágua se dá através de uma ostensiva presença militar, como se viu no golpe que derrubou Manoel Zelaya em Honduras, centro de uma escola militar de golpes dos EUA, o da América do Norte por governos dóceis no México e no Canadá (que os norte-americanos consideram um "México melhorado"), o da América do Sul começa a se tornar visível a olho nu na presença política, diplomática e militar e de governos controlados por Washington, no cerco a países considerados hostis.
Não é diferente do que fazem na África e a África, ou no Oriente Médio (por exemplo apoiar a junta militar egípcia, o governo da Jordânia e destruir Síria e Líbia), na Ásia no cerco militar (bases) da China, na dubiedade das políticas da Rússia de Putin, já que detêm o controle da União Europeia, a América do Sul, nessa visão totalitária dos EUA, não pode ser a exceção.
Tem que estar sob o tacão nazi/sionista de ISRAEL/EUA TERRORISMO HUMANITÁRIO S/A.
A reação não está no mundo institucional, mas nas forças populares. É o desafio.
*GilsonSampaio

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