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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 09, 2012

Para analistas, novo líder pode aproximar França do Brasil

A eleição do socialista François Hollande à presidência da França pode aproximar as relações do país com o Brasil, sem que haja, no entanto, mudanças em relação a temas polêmicos, como a agricultura, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Para o cientista político Stéphane Montclaire, da Universidade Sorbonne, Hollande deverá buscar apoio de grandes emergentes, como o Brasil, para tentar convencer a Alemanha a revisar o pacto fiscal europeu e incluir medidas de estímulo ao crescimento econômico.

'As críticas da presidente Dilma Roussef e de Hollande sobre as políticas de austeridade na Europa para superar a crise são muito semelhantes', diz Montclaire.

A presidente brasileira declarou várias vezes que 'simples medidas de austeridade e consolidação fiscal não permitirão superar a crise na zona do euro' e que também são necessárias políticas de expansão dos investimentos no continente.

Esse é exatamente o mesmo argumento de Hollande. Em seu primeiro discurso no domingo, o presidente eleito afirmou que 'a austeridade não pode mais ser uma fatalidade na Europa'.

'Hollande vai precisar demonstrar que as propostas da França também têm apoio fora da União Europeia por parte de países com peso no cenário econômico internacional', diz ele.

'O Brasil também precisa de uma Europa forte para exportar seus produtos. Poderá haver nessa questão um ponto de convergência entre os dois países', diz o cientista político.

Segundo Montclaire, a aproximação maior entre o Brasil e a França será por razões estratégicas e irá facilitar relações que já são 'muito boas'.

O presidente Nicolas Sarkozy, que ficará no cargo até 15 de maio, havia firmado com o Brasil, no final de 2008, uma parceria estratégica que prevê cooperações em várias áreas, sendo a mais importante a da Defesa.

Conhecimento

O pesquisador Jean-Jacques Kourliandsky, especialista em América Latina do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas da França, diz que Hollande conheceria melhor o Brasil do que Sarkozy e também possui vários interlocutores no país, o que é um fator positivo.
'Hollande deverá ter uma compreensão mais rápida dos dossiês envolvendo o Brasil. O contato com autoridades brasileiras poderá ser mais fácil', diz ele, lembrando que o socialista participou de edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e já se encontrou com o ex-presidente Lula.

Ele ressalta que essa maior proximidade nas relações entre a França e o Brasil não estão ligadas a questões ideológicas, pelo fato de Hollande ser socialista, e que posições assumidas pelo Estado francês não deverão mudar.

'Hollande deverá apoiar a candidatura do Brasil a uma vaga de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU porque isso é uma posição já assumida internacionalmente pela França', diz Kourliandsky.

Da mesma forma, diz o especialista, não deverá haver mudanças na posição francesa em relação às reivindicações do Brasil para obter maior acesso aos seus produtos agrícolas nos mercados europeus.

'Isso é uma posição do Estado francês em relação aos seus agricultores e não irá mudar', afirma.

México

Para o analista, a principal mudança em termos de relações internacionais na gestão de Hollande poderá ser na relação com o México.
Os laços entre os dois países ficaram profundamente abaladas depois que Sarkozy começou a fazer pressão pela libertação de uma cidadã francesa, Florence Cassez, condenada no México a 60 anos de prisão por sequestro.
Florence Cassez
A pressão provocou um imbróglio diplomático entre os dois países, que acabou levando ao cancelamento do Ano do México na França.

Segundo o especialista, ao França estaria tendo atualmente dificuldades para discutir com autoridades mexicanas a reunião do G20 - grupo de países desenvolvidos e grandes emergentes - que ocorre no México em junho.

Ele afirma que Hollande, prevendo sua vitória, já teria enviado colaboradores ao México para tentar resolver a crise com o país.
MSN Notícias
*MilitânciaViva

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