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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 20, 2012

Por enquanto, CPMI sem cheiro de pizza

 

Nada indica, até agora, que a CPMI terminará em pizza.
Pelo contrário, a partir de sexta-feira parece que baixou a sabedoria nos seus integrantes e deixou-se de jogar para a torcida.
A CPMI exige investigação e, como tal, técnicas de análise. Na primeira fase – da apuração de dados e sua contextualização - não se pode jogar para a plateia. Há que se debruçar sobre os dados – e eles estão chegando -, analisá-los, confrontá-los com os fatos extra-CPMI e levantar o contexto, o relato.
Nesses momentos iniciais, não há muito a mostrar e isso provoca dois tipos de pressão. De um lado, militantes da blogosfera querendo resultados rápidos; de outro, atores oportunistas, recém-chegados ao jogo, loucos para se firmar com o sensacionalismo que o tema suscita e, para tanto, dispostos a embaralhar o jogo.
Se se for atender a essa febre por resultados imediatos, dá-se com a cara na parede. Será possível montar escândalos em cima de meras suspeitas – mesmo que bastante fundadas. Excesso de escândalo vazio agora apenas ajudará a diluir o impacto das denúncias baseadas em dados reais, que existem e chegarão à CPMI.
Cabe à blogosfera a pressão para que não termine em pizza mas, principalmente, a divulgação dos fatos que forem sendo apurados. Mas o ritmo tem que ser ditado pela CPMI, de modo profissional, à luz dos fatos que forem surgindo.
Daí a importância da CPMI retomar as rédeas do processo.
É um jogo complexo, que não comporta amadorismo.
Luis Nassif
No Advivo
~ o ~
Comentário de Alexandre Tambelli
A velha mídia e suas artimanhas de enganação do povo estão com seus dias contados. Eu vejo que a calma na apuração e a sabedoria de convocar o Policarpo, o Civita, o Cachoeira, o Demóstenes, o Perillo, o Leréia, etc. na hora certa é o caminho da vitória da CPMI do Cachoeira.
Os áudios do grupo do Cachoeira com o Policarpo ainda estão aparecendo, e as suas relações com reportagens da Veja, amplificadas no JN, na velha mídia impressa devem ser bem estudadas e então, ai sim! Convoca-se esses personagens para depor.
Nós precisamos primeiro desarmar a velha mídia e toda a oposição com investigações corretas, correlacionando áudios às reportagens, tudo bem detalhado; desnudando um pouco a cada dia este jogo entre o crime organizado e a velha mídia, capitaneado pela revista Veja e o JN.
Quando a situação ficar inustentável, ou seja, as provas forem irrefutáveis, a velha mídia e seus políticos não terão por onde correr. Quando o Senador Álvaro Dias e o Deputado Miro Teixeira não puderem mais defender o indefensável, por sobrevivência política, ai estaremos prontos para convocar esses personagens, golpistas e bandidos, para deporem. Será um desnudamento coletivo ao vivo para todo o Brasil assistir e um avanço para a democracia brasileira.
Tem que sangrar uma gota a cada dia. Sem pressa e sem revanchismo. Apenas aplicando a Lei e se fazendo a Justiça através dela. O importante é estar preparando o terreno para que, próximo do horário político das Eleições Municipais se tenha o ponto forte da CPMI. Não para se fazer vigança com os políticos ligados à velha mídia, mas para ajudar no clima mais ético, honesto e cordial do período eleitoral.
As esquerdas não agem por impulso. As esquerdas brasileiras, quase sempre, buscam o caminho da verdade e da apuração correta dos fatos. Comprovadamente, quem se beneficia de microfones da velha mídia para referendar denúncias sem provas são os políticos da direita.
Nós precisamos passar a limpo, de uma vez por todas, essas histórias envolvendo a velha mídia e o crime organizado. Destituí-las do convívio Jornalístico. Que isto aconteça com calma. E como bem sabemos, cuidemos de não levar a sério boa parte dos noticiários que brotam da velha mídia, eles nos levam a crer que quase todo político é corrupto, que todos os partidos são corruptos, etc e isto nos faz mal, porque desacreditamos na Democracia, na importância das instituições, no Judiciário, no Executivo, nos políticos, na importância do voto, nas eleições diretas, etc.
A velha mídia é ligada ao centro do Capitalismo! Desacreditando nas instituições podemos ajudar em muito na manutenção do Sistema, do mundo Capitalista. Para seus ideólogos e seus comandantes a alienação e o desacreditar nas instituições democráticas é excelente, facilitam na dominação do povo, dos poderes centrais dos países e no controle e apoderamento do capital e seus recursos para ampliá-lo e concentrá-lo ainda mais. Quem desacredita nas instituições, acredita que não tem mais jeito de se encontrar um mundo melhor para vivermos, mais facilmente se desanima e vive em um egoísmo particular e menos combativo para com as injustiças sociais e políticas.
Os noticiários da velha mídia tendem a nos fazer desacreditar na CPMI, a nos dizer que tudo caminha para uma grande "PIZZA". É tudo jogada para nos desanimar, nos tornar mais céticos e nos colocar contra políticos que estão do nosso lado.
Todo cuidado é pouco. Agora o FHC está favorável a uma Lei de regulação dos meios de comunicação? Como disse o Professor Venício Lima, e traduzindo para o popular, "Tem boi na linha". Ele sabiamente argumenta que a velha mídia quer se apoderar do discurso de regulação dos meios de comunicação, porque sabe que não tem como impedir a sua existência, em um tempo não muito distante. Então, aos poucos, se apodera do discurso, se engendra nas decisões e busca minimizar ao máximo seus malefícios para a sua hegemonia midiática continuar. A velha mídia finge-se de democrática, assume o papel de protagonista da discussão e no fundo no fundo pouca coisa muda.
Não esperemos da velha mídia nada de generoso ou mea culpa por seus erros. As pessoas que a comandam e seus Jornalistas são pessoas que vivem em um mundo que está prestes a ruir e eles jogam as últimas fichas, descontroladamente é certo, como o apostador que só tem uma jogada em mãos, tentando salvar-se da bancarrota, do nocaute. Quem sabe para perder por pontos e minimizar as condenações.
Quer ser informado e lúcido não assimile o discurso da velha mídia, não propague o seu discurso e não aceite como a verdade verdadeira as informações que eles veiculam. Tem sempre um outro lado a ser procurado, uma versão outra a ser descoberta, uma mentira a ser desvendada. 
*comtextolivre
 

“Assusta-me que FHC assuma a bandeira da regulação da mídia”

 

Em entrevista à Carta Maior, Venício Lima, pesquisador na área da Comunicação, analisa as recentes declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, favoráveis a regulação dos meios de comunicação. "Isso pode significar que algum tipo de costura de bastidores pode estar sendo feita para que haja alguma coisa que se apresente como regulação e que não chegue nem ao que já está na Constituição há 23 anos. Então, tenho medo disso", afirma.
Brasília - Durante o seminário “Meios de comunicação e democracia na América Latina”, realizado no último dia 15 pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (FHC), o ex-presidente defendeu a regulação da mídia como condição da democracia . O evento marcou também o lançamento de uma publicação conjunta do iFHC, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e da Plataforma Democrática apresentando reflexões e propostas para mudanças na legislação do setor.
As declarações aparentemente inusitadas de FHC - historicamente alinhado aos setores da mídia que abortam qualquer discussão sobre o tema taxando-o como tentativa de censura e ataque a liberdade de imprensa -, entretanto, não surpreendem o professor aposentado de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) Venício de Lima. O pesquisador aponta indícios de mudança na estratégia dos grandes grupos de mídia e teme que eles assumam a bandeira da regulação para fazê-la entre aspas: “Ou seja, muda para não mudar.”
Confira a entrevista.
O senhor se surpreendeu com a posição de Fernando Henrique Cardoso?
Não me surpreende, mas me preocupa. Tenho a impressão de que os setores historicamente avessos até ao debate sobre a questão da regulação estão se apropriando de um certo vocabulário de regulação da mídia, o que não necessariamente significa um avanço democrático. Há várias sinalizações disto.
Quais?
Em 2003, se não me engano, quando o Conselho de Comunicação Social [órgão auxiliar do Congresso previsto no artigo 224 da Constituição] ainda funcionava - porque desde dezembro de 2006 ele não funciona mais - criou-se uma subcomissão para discutir concentração da mídia no Brasil, por iniciativa do à época conselheiro Alberto Dines. Eu fui um dos convidados e apresentei um texto tratando da concentração histórica, não só, mas sobretudo, na radiodifusão do país. A última pessoa convidada foi um filósofo gaúcho chamado Denis Rosenfield, que não é da área, mas é um expoente do pensamento liberal conservador no Brasil. Sua participação foi sugerida e apoiada pelos grandes grupos de mídia que tem representação no Conselho. Ele criticou todas as apresentações anteriores, muito particularmente a minha, reafirmando todas as posições tradicionais dos grandes grupos de mídia, por exemplo, contrário a qualquer tipo de controle da propriedade cruzada dos meios e coisas desse tipo.
Recentemente, este ano, esse mesmo professor publicou um texto, destes que são publicados em vários jornais, defendendo a regulação do setor. Ele comete alguns erros bastante primários, mas pelo fato de ter publicado este texto e de ter defendido há menos de dez anos atrás posições totalmente opostas, passei a suspeitar de que os grandes proprietários da mídia começaram a se apropriar da necessidade de uma certa atualização da regulação, o que me preocupa porque isso pode significar que algum tipo de costura de bastidores pode estar sendo feita para que haja alguma coisa que se apresente como regulação e que não chegue nem ao que já está na Constituição há 23 anos. Então, tenho medo disso. Como acontece no Brasil, na maioria das vezes, as mudanças são para continuar onde estamos.
Há outras sinalizações?
Quando da aprovação da Lei 12.485, no final do ano passado, unificando a regulação da televisão paga, o jornal O Globo fez um editorial falando “precisamos mesmo atualizar a legislação da área e um bom exemplo do que precisa ser feito é essa lei, que foi feita sem contaminação ideológica, sem viés populista”, etc.
Além disso, o professor Bernardo Sorj, que é o representante do Centro Edelstein, que inclusive publica o livro lançado no seminário promovido pelo Instituto FHC, é o organizador de outro livro publicado há uns dois anos pela Paz e Terra, junto com a organização Plataforma Democrática. Esse livro não deixa qualquer dúvida sobre a posição desses centros de estudo sobre as questões que tem sido levantadas em relação aos marcos regulatórios que estão sendo implementados na América Latina. O próprio Bernardo Sorj, em outro texto, defende explicitamente a manutenção da propriedade cruzada dos meios, argumentado que a concentração talvez fosse uma forma de garantir a permanência dos veículos impressos, ameaçados pelas novas tecnologias. Então, fico com pé atrás, a menos que ele tenha mudado de posição.
Ou seja, a mídia tradicional prevê a regulação da comunicação como inevitável no Brasil e se movimenta para garantir uma regulação que lhe seja menos prejudicial?
Seria isso, como acontece com relação à bandeira da liberdade de expressão. Você vê setores que apoiaram o golpe de 1964, que patrocinaram a última expressão institucionalizada da censura no Brasil, assumindo indevidamente, de forma totalmente absurda, a bandeira da liberdade de expressão. Os mesmos grupos que apoiaram um governo que institucionalizou a censura e que, inclusive, afetou a eles próprios! O risco que se corre agora é que com esse movimento, certamente articulado com os próprios grandes grupos de mídia, eles assumam a bandeira da regulação e façam a regulação entre aspas. Ou seja, muda para não mudar.
Entre as propostas tiradas neste seminário, eles falam em combater a concentração da propriedade dos meios privados.
Eles precisam explicar melhor. Muita gente fala que combater a concentração é finalmente cumprir o que está naquele decreto 236, de 1967, da ditadura. Aquilo ali não tem nada a ver com propriedade cruzada. Limitam o número de concessões por região geográfica e um parágrafo poderia ser aplicado na formação de redes. Não há qualquer controle na formação de redes de rádio e televisão como a Globo. Do ponto de vista jurídico, inclusive da ação do Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] em relação a formação de cartéis e controle de oligopolização, esses grupos são aceitos como rede.
Mas eu ainda não vi a publicação lançada neste seminário e prefiro fazer um estudo do documento. Estou falando com base nas coisas que eu já vinha observando e sobre algumas já escrevi.
Seria importante ter um aliado como FHC nesta luta?
Ao contrário, me assusta que FHC e o grupo em torno dessa promoção assumam a bandeira da regulação, eu jamais diria que ele é aliado. Se fosse teria promovido a regulação nos anos que foi presidente da República ou, então, o PSDB estaria apoiando alguma coisa nesse sentido.
Vinicius Mansur
No Carta Maior

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