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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 20, 2012

Segundo os planos: a contagem regressiva

E acabamos a semana com as notícias divertidas da União Europeia.

As instituições do Velho Continente estão a apodrecer e estudar cenários para uma bancarrota na Grécia, segundo o comissário europeu do Comércio, Karel de Gutch, numa entrevista ao diário De Standaard:
Há um ano e meio, talvez houvesse o perigo de um efeito dominó, mas hoje em dia há, quer no Banco Central Europeu quer na Comissão Europeia, serviços que estudam os cenários de emergência ou para o caso de a Grécia não se aguentar
Tradução: há um ano e meio havia o perigo da Grécia sair do Euro, hoje as probabilidades aumentaram e muito.

Será por causa disso que os cidadãos do País helénico fazem a fila nos bancos para retirar o dinheiro das contas? E será por causa disso que o mesmo parece começar em Espanha também?

O Governo alemão já veio dizer estar preparado para todas as eventualidades
O Governo alemão é, naturalmente, responsável perante os seus cidadãos por estar preparado para qualquer eventualidade
Tradução: Sim, a Grécia vai sair. E nós que podemos fazer?

Angela Merkel, a chancelera alemã, ligou para Atenas e disse ao presidente grego Carolos Papoulias que a solução melhor seria formar um governo estável após as eleições legislativas.
Também acrescentou que as rosas florescem em Maio e que a água molha, pelo que Atenas agradeceu a entrega de tamanha sabedoria, ainda por cima sem juros.

Não satisfeita, a simpática Merkel sugeriu a possibilidade da Grécia realizar um referendo sobre a permanência na Zona NEuro, em paralelo com as legislativas do dia 17 de Junho.
Engraçado que no passado Outubro, a mesma Merkel reagiu de forma muito crítica à sugestão do então primeiro-ministro George Papandreou de realizar tal referendo.

Boa a observação de Alexis Tsipras, líder do partido Syriza:
Os dirigentes europeus e especialmente a senhora Merkel devem parar de brincar com a vida das pessoas.
Boa mas inútil: o jogo é demasiado importante.
Entretanto, um porta-voz da Comissão Europeia disse que não há qualquer planeamento:
A Comissão Europeia nega firmemente [que] esteja a trabalhar num cenário de saída da Grécia.
Tradução: Estamos a trabalhar num cenário de saída da Grécia, mas não digam isso, valha-me Deus.

Mas as declarações melhores são de Jean-Claude Trichet, ex presidente do Banco Central Europeu e membro do Grupo dos Trinta: o cromo sugere mesmo a perda de soberania económica para os Países que ponham em risco outras Nações da Zona NEuro devido à incapacidade de aplicar o Verbo das autoridades europeias.

Neste caso:
Julgo que deve ser activado excepcionalmente um governo federal.
Isso é: a perda da soberania, com um governo imposto por Bruxelas.

Fantástica a justificação desta medida: teria de ser aprovada pelo Parlamento Europeu para ter um suporte democrático e impedir um governo "tecnocrático ou anti-democrático".
O que significa: temos que destituir o governo democraticamente eleito pelos cidadãos e substitui-lo com o nosso para salvaguardar a democracia.

Perante raciocínios como estes eu dobro-me e admito a minha inferioridade: nunca conseguirei atingir um nível de contorcionismo cerebral tão elevado. Ao mesmo tempo, é nestas ocasiões que surge a maior dúvida: é um génio ou um pobre deficiente?

Obviamente Trichet reconhece que esta medida é "difícil" de aceitar, provavelmente porque sabe que em circulação há ainda pessoas normais, mas nada que não possa ser resolvido com um pouco de paciência e boa vontade.

Eu fico com as medidas que apresentei há uns meses e que acho estar na mesma linha de pensamento de Trichet.
  • Ocupação militarmente do País culpado
  • Venda integral do património estatal.
  • Escravização e venda dos cidadãos no mercado das commodities.
  • Leilão pela assinação do território do País culpado ao melhor oferente.
Fascismo? Não, democracia aplicada.

Seja como for, na Zona Neuro parece ter começado aquela que no Brasil chama "contagem regressiva".


Ipse dixit.
*InformaçãoIncorrecta

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