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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 24, 2012

Gabriel O Pensador responde sobre a polêmica na Feira do Livro de Bento Gonçalves




Foto: Facebook do Gabriel O Pensador
Depois da polêmica sobre cobrar um cachê de R$170 mil para participar da Feira do Livro de Bento GonçalvesGabriel O Pensador responde a respeito, através de seu Facebook oficial:
"Ja dei umas entrevistas hoje sobre a feira do livro de Bento Goncalves, mas vou falar disso aqui tambem, pra quem quiser entender. To escrevendo em um teclado que nao sei usar direito e estou muito cansado pra aprender(!), entao vai assim, sem acento e mal escrito mesmo. A Prefeitura programou para o ano de 2012, fora da feira do livro, um investimento em educacao com a aquisicao de mil livros do Diario Noturno e mil de Um garoto chamado Rorbeto, a serem doados em kits para todas as escolas da rede municipal. Total 2.000 x 35,00 = 70.000,00 reais mais impostos. Programou tambem um show meu, que a principio ocorreria no segundo semestre, com todos os custos incluidos, cache, equipe, banda, passagens, hospedagem, alimentacao, transporte de pessoal e equipamento. O total destes dois investimentos, em educacao e cultura, chega a quase 170.000 reais, ja incluindo impostos.
Este valor, de uma grande venda de livros e de um grande show somados, ainda fica abaixo de muitos caches liquidos (livres de custos e impostos) de bandas sertanejas ou mesmo pop rock, que rodam pelo pais fazendo shows para prefeituras o tempo inteiro. Show de graca pro povo, mas sempre custa dinheiro, e nao eh pouco, pra alugar som, luz, midia, palco, seguranca, pagar caches, ECAD, etc, etc.Dinheiro publico, como neste caso de Bento Goncalves,uma cidade que tem muitos recursos e realiza grandes eventos e feiras anualmente, e que pretende sediar uma selecao na Copa do mundo, motivo para dar mais enfase a tudo que possa atrair turistas e movimentar a vida do municipio. Isso fez com que a prefeitura antecipasse o meu show, para incrementar a programacao da feira do livro, na noite do seu encerramento. Eles tambem resolveram anunciar a minha presenca como patrono da feira, junto com a adocao dos livros, junto com o show, publicando o valor total, sem imaginar nenhuma reacao negativa, ja que sao valores de mercado, e sem o cuidado de explicar com mais detalhes como tinham chegado a esse valor. Ao anunciarem meu nome como patrono e a realizacao do show, me mandaram mensagens dizendo que a populacao tinha adorado a noticia, que estavam muito felizes com a reacao de todos. Tambem fiquei feliz, pois tenho tambem muito carinho pelo povo de la, e do RS como um todo. Os escritores convidados, porem ao lerem no Diario Oficial o valor do contrato (la eh tudo publicado abertamente), se revoltaram, comparando-o com o que eles ganhariam (caches simbolicos ou ate mil reais) por palestra, por acharem que o Gabriel autor receberia aquele valor para ser patrono! E alguns tambem por questoes filosoficas, de achar que uma feira do livro nao deve ter show musical.Eu discordo e acho otimo que se misture educacao e cultura, usando a musica pra atrair mais leitores e mais divulgacao para eventos literarios. poderia dar exemplos de outros trabalhos que fiz, como por exemplo quando a uma secretaria de educacao comprou cinco mil exemplares do Diario Noturno e criou eventos mistos dentro de escolas, aliando literatura, musica e teatro. Eu so palestrei, mas outros cantaram e isso ajudou a manter os alunos ligados durante dias inteiros de atividade. Questoes filosoficas a parte, o grosso das reclamacoes era sobre a disparidade entre o investimento no show e nos meus livros (supondo que era um simples cache) e o pagamento aos autores locais. Os que mais reclamaram o fizeram sem saber que os recursos nao sairam da mesma Secretaria (da Cultura) que controla a verba da feira, e sem saber que eu nao estou cobrando para ser patrono, nem pra realizar as duas palestras e mais outras atividades, como visita em escolas. O meu pagamento, alem da honra de ser escolhido patrono da feira, seria estritamente a receita liquida da venda de livros pela editora (tirando impressao e transporte de livros e outros custos) mais o cache liquido do show, a ser fatiado com empresaria, banda e equipe.Eh ate ridiculo eu escrever tudo isso aqui, mas acho que vale detalhar bem para os leigos. E pra quem quiser ter uma nocao melhor, o cache do meu show hoje esta em 60.000,00 (podendo subir de cotacao a qualquer momento, nao custa nada deixar avisado!). Nao tem nenhum segredo nessa historia e, pra quem nao sabe, o prefeito eh um cara muito respeitado por la. Em nenhum momento questionaram sua honestidade, e a conversa passou longe disso, so acharam que ele errou ao misturar a feira com o show, ao pagar pouco pros autores de um lado e fechar um negocio mais alto com um artista que tambem eh autor... Mas a intencao dele era agitar ao maximo a populacao em torno do acontecimento da feira do livro, que deveria ser a maior da historia da cidade. Ele estava super empolgado, mas agora esta enfrentando essa reacao dos escritores, com autores ameacando boicotar a feira, uma situacao ainda bem confusa, e eu dei o azar de "cair de para-quedas no meio de uma briga de gauchos", como me disse hoje, por telefone, uma das autoras convidadas, que tambem reclamou, mas nao cancelou sua palestra e vai se apresentar na feira, por um cache de cerca de 600,00 reais, um por cento do cache do meu show. Da pra entender a reacao de todos. A minha foi de surpresa. E um pouco de decepcao com as pessoas que falaram antes de se informar melhor, ou que nao mediram tanto o impacto das palavras, como reclamei por telefone com o proprio Carpinejar, que me explicou que seu protesto nao era contra o meu custo, mas contra a prefeitura por nao terem investido mais no cache dos autores locais.Antes nao tivessem concentrado todas as minhas atividades no periodo da Feira. Assim eu teria motivos para voltar mais vezes a Bento, uma cidade linda que sempre me recebeu tao bem. E poderia trabalhar em paz, me preocupando apenas em fazer o que eu gosto: interagir com as pessoas, declamar e incentivar a garotada a ler e a escrever. E subir com a minha banda no palco e me entregar de corpo e alma pra cantar minhas musicas, como eu sempre fiz (com ou sem cache)." Gabriel O Pensador
Respondendo a outros usuários do Facebook, desabafou:
"Galera, nem vou olhar agora pra tentar dormi (os comentários dos usuários em sua página oficial do Facebook), to sendo bem sincero, essa historia me fez mal, me sinto injusticado com cada piadinhha, o que rolou foi um acerto de venda de livros e um show, e depois um convite pra feira, fui pego de surpresa, to desabafando aqui, podem cancelar tudo, nao me importo com a grana, mas isso me faz mal. eu tava orgulhoso, feliz mesmo, por poder fazer esse trabalho com os livros ai, pelo show, tudo como eu escrevi agora ha pouco, nao vi nada de errado em ser contratado pra tocar e vender livros, nao descarreguem sua insatisfacao politica ou vontade de crucificar alguem em mim. estaomviajando." Gabriel O Pensador



No LeitoraViciada 
*Mariadapenhaneles

Espanha – Bispos reconhecem desprezo pela religião

 


 


Os bispos espanhóis estão reunidos esta semana em assembleia plenária à procura da melhor maneira de evangelizar Espanha, convertida agora em terra de missão.
*DiarioAteista

Como preparar uma crise institucional


No dia 1o de setembro de 2008, os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto saíram da sede do STF (Supremo Tribunal Federal) atravessaram a Esplanada dos Ministérios e entraram no Palácio do Planalto para uma reunião com o presidente da República, Luiz Ignácio Lula da Silva.
Foi uma reunião tensa, a respeito da suposta conversa grampeada entre Gilmar e o senador Demóstenes Torres. Os três Ministros chegaram sem nenhuma prova concreta sobre a autoria ou mesmo a existência do tal grampo. Mas atribuíam-no irresponsavelmente à ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e exigiam de Lula providências concretas.
No auge da reunião, Gilmar blasonou: “Não queremos apenas apuração, mas punição”.
Bastaria Lula ter perdido a paciência e endurecido o jogo para criar uma crise institucional sem precedentes, entre o Supremo e o Executivo. Sua habilidade afastou o risco concreto de uma crise institucional, à custa do sacrifício do diretor-geral da ABIN, delegado Paulo Lacerda, afastado enquanto durassem as investigações.

Tanto no Palácio como na Polícia Federal e no Ministério Público Federal sabia-se que o grampo, se existiu, não havia partido da ABIN nem da Operação Satiagraha, já que nenhum dos dois – Demóstenes e Gilmar – eram alvo de investigação.
Foi aberto um inquérito na PF que concluiu pela não existência de qualquer indício, por mínimo que fosse, de que o grampo tivesse existido.
O país esteve à beira da mais grave crise institucional pós-redemocratização  devido a uma conspiração envolvendo Demóstenes Torres-Carlinhos Cachoeira, a revista Veja e, direta ou indiretamente, o Ministro Gilmar Mendes.
Pouco antes do episódio, o assessor da presidência, Gilberto Carvalho, foi procurado por repórteres da revista com a informação de que ele também havia sido grampeado. Descreviam diálogos que teria tido com interlocutores.
A intenção era criar um clima de terror, passar ao governo a impressão de que a ABIN e a Satiagraha haviam saído de controle e estavam espionando as próprias autoridades. E, com isso, obter a anulação da operação que ameaçava o banqueiro Daniel Dantas.
É bem possível que os tais diálogos de Gilberto tenham sido gravados pelo mesmo esquema Veja-Cachoeira que forjou um sem-número de dossiês, muitos deles obtidos de forma criminosa e destinados ou a vender revista, impor o medo nos adversários, ou a consolidar o império do crime do bicheiro.
Durante anos e anos foi um festival de assassinatos de reputação, de jogadas pseudo-moralistas visando beneficiar o parceiro Cachoeira.
A revista tentou se justificar, comparando essas jogadas ao instituto da “delação premiada” – pelo qual promotores propõem redução de pena a criminosos dispostos a colaborar com a Justiça. No caso de Cachoeira, suas denúncias serviam apenas para desalojar inimigos e reforçar seu poder e o poder da revista.
Esses episódios mostram o poder devastador do crime, quando associado a veículos de grande penetração.
É um episódio grave demais para ser varrido para baixo do tapete.
*BrasilMobilizado

O roubo de R$ 7 bi nas contas de luz

Por Altamiro Borges
Nesta terça-feira (24), com a hashtag #erronacontadeluz, os internautas brasileiros protestarão contra um descarado roubo cometido pelas empresas de energia elétrica. O movimento é organizado pela Frente de Defesa dos Consumidores de Energia Elétrica, composto pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Fundação Procon SP, a ONG Proteste e pela Federação Nacional dos Engenheiros.

TV Globo defende lucro dos bancos

Por Antônio Mello, em seu blog:
Enquanto o país inteiro se alegra com a redução nas taxas de juros, o Jornal Nacional toma as dores dos únicos que lamentam essa queda, bancos e seus acionistas, especialmente o Bradesco, principal anunciante do telejornal da Globo.

Torturadores, tremei!

 

 Por Maurício Dias

Há poucos dias, em decisão inédita, o juiz Guilherme Dezem, de São Paulo, determinou que no atestado de óbito de João Batista Drummond, dirigente do PCdoB, morto em 1976, conste que ele morreu em decorrência de “torturas físicas” e não de “traumatismo craniano encefálico” como consta hoje.

Esse é o mais recente indício de que a Lei da Anistia brasileira não resistirá ao ambiente democrático.

“A revisão dessa lei é só uma questão de tempo”, sustenta o advogado Roberto Caldas, indicado pelo governo brasileiro para disputar, na Assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA), a vaga de juiz titular da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em San José da Costa Rica.

Além da criação da Comissão da Verdade, a indicação de Caldas é mais um sólido sinal de intolerância do governo Dilma à Lei da Anistia.

Talvez não haja ninguém no País mais versado sobre o tema do que ele. Profissional sóbrio e sem paixões partidárias, Caldas participa das decisões da CIDH desde 2008 e, como juiz ad hoc, já votou por três vezes pela condenação do Estado brasileiro. A mais recente delas foi a decisão sobre a Guerrilha do Araguaia.

O julgamento ocorreu em 2010, com base na Convenção Americana de Direitos Humanos, que, segundo Caldas, “declarou nula, de pleno direito, a Lei da Anistia brasileira quanto aos crimes cometidos por agentes do Estado”.

A razão é simples. As regras jurídicas não admitem uma lei de autoanistia. Ela é inexistente, inválida, para a Corte e para os tribunais internacionais.

Caldas não tem dúvidas sobre a -necessidade de o Brasil se submeter às decisões impostas por tratados internacionais que assinou: “A ordem jurídica internacional está atenta para não permitir que os detentores do poder político legislem em causa própria, com o objetivo de encobrir crimes graves contra direitos humanos. Mais uma razão somou-se a isso: os crimes de lesa-humanidade não podem ser objeto de anistia nem de prescrição”.

Ele interpreta assim o sentido dessa decisão: “É a condenação de um crime muito mais agressivo do que o assassinato. Funciona como pressão contra um tipo de pensamento que afeta toda a sociedade e não só os que sofreram”.

Um exemplo disso é o medo presente na sociedade brasileira quanto a uma possível retaliação dos militares à apuração de crimes cometidos na ditadura.

Embora lento por tradição cultural, Caldas acredita que o Judiciário brasileiro começará a recepcionar as decisões tomadas pelas cortes internacionais. Talvez um pouco mais tarde do que seria preciso, mas certamente antes do que muitos gostariam.
Ao declarar a Lei da Anistia constitucional, o STF, no entanto, não a blindou definitivamente?

Roberto Caldas diz que não, e explica: “A decisão do tribunal ateve-se à análise da constitucionalidade da lei. Não há qualquer equiparação com decisões tomadas no âmbito do direito internacional vigente à época. É anterior ao julgamento do caso da Guerrilha do Araguaia pela Corte Interamericana, que interpreta e aplica a Convenção Americana, uma espécie de Constituição continental sobre Direitos Humanos”.

Isso significa, por exemplo, que “é perfeitamente cabível”, segundo ele, “a análise dos crimes continuados, por parte de agentes do Estado”.

A Lei da Anistia não é o nó cego pensado pelos articuladores dela: a proteção permanente das ações desumanas, imposta aos presos políticos na ditadura, está com os dias contados. Portanto, torturadores, tremei!
Fonte : site da revista Carta Capital



*Observadoressociais

Moradores do Pinheirinho passam até fome, após 3 meses da invasão da PM

BRAZIL/O nível de vida das famílias que viviam na ocupação Pinheirinho antes de serem expulsas pela Tropa de Choque da PM, em 22 de janeiro, caiu drasticamente. Muitas se amontoam em cômodos apertados, e há quem viva dentro de um carro com a família. Elas também não conseguiram comprar novos móveis, novas roupas, perderam a roça do quintal e agora passam até fome. Na última sexta-feira, 20, elas protestaram em frente à prefeitura de São José dos Campos, para cobrar do prefeito Eduardo Cury, a construção das moradias prometidas.

  
    
    
    
    
    
    

  

  

    

    
      
    

    

    

  
  
    
    
      
 
*Ocarcará 

O CORAÇÃO DAS TREVAS FRANCÊS

Claude Hollande: que concessões ele fará para ganhar voto? 
Há um dado que salta aos olhos nas eleições da França: a força crescente da extrema direita xenófoba no país que foi o berço do Iluminismo e da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Marine Le Pen, candidata do Front National, teve 18% dos votos; o socialista François Hollande, 28,63%, e o presidente Nicolas Sarkozy, 27,17%. Em 2002, o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, com uma votação menor do que a filha (16,86%), desbancou o socialista Lionel Jospin, ficando apenas três pontos percentuais atrás do gaullista Jacques Chirac. 

No segundo turno, o temor da extrema direita deu uma vitória esmagadora a Chirac, que venceu com 82% - porcentagem maior do que a de Luís Bonaparte.


Marine Le Pen, candidata da extrema direita
Sarkozy foi o primeiro presidente da V República a receber menos votos do que um candidato da oposição no primeiro turno. Alguns analistas apressados dizem que ele é rejeitado pelos franceses por ser o primeiro estadista francês do pós-guerra a se assumir abertamente uma postura de direita, num país onde se dá de barato que a esquerda há décadas venceu o debate intelectual. Ora, isso está longe de ser verdade, como mostra a influência no debate eleitoral de temas caros aos herdeiros de Vichy – como a “islamização” da França e a “ameaça” representada pelos imigrantes.    

A França, na verdade, sempre foi uma nação ideologicamente fraturada. Depois das revoluções de 1789, 1830, 1848 e 1871, um episódio menor – a falsa acusação de traição contra um oficial judeu do Exército, Alfred Dreyfus, em 1894 –, teve o condão de mergulhar o país em outra luta política fratricida, que opôs antissemitas, clericais, militaristas e monarquistas a anticlericais, democratas, socialistas e radicais republicanos. Durante a Segunda Guerra Mundial, repetiu-se a divisão, com grande parte da França apoiando o governo colaboracionista do marechal Pétain e uma minoria apoiando a resistência antinazista comandada pelo general Charles De Gaulle.

O general De Gaulle conclama os franceses à resistir ao nazismo...
Mas a grande mudança no imaginário francês aconteceu depois da guerra - deixo de lado as causas econômicas e sociais desse fenômeno. De Gaulle acreditava na grandeur francesa e, para livrar a cara de seus compatriotas, forjou o mito de que todos os franceses tinham sido da Resistência contra o regime de Vichy. Ele resgatou o orgulho nacional francês, mas, com isso a França deixou de viver a catarse dos pecados da extrema direita – a xenofobia e a violência – como a Alemanha. Resultado: na Argélia, o Exército colonial francês cometeu as maiores barbaridades como se fosse a coisa mais natural do mundo. A extrema-direita voltou a crescer na França a partir dos anos 1980. E até hoje, quando se toca o dedo na ferida do colaboracionismo, a França mergulha num profundo mal-estar civilizatório.
...mas muitos de seus compatriotas apoiaram Pétain 
Significativamente, os herdeiros de Hitler e Mussolini também cresceram na Áustria, mas não na Alemanha – país que foi militarmente arrasado e que teve que fazer mea culpa do nazismo. Por isso, a extrema direita e os neonazistas quase nunca tiveram representação do Bundenstag (Parlamento alemão) e as manifestações de violência xenófoba sempre foram abertamente repudiadas pela opinião pública.             
          
Resta saber que concessões Hollande fará para conquistar os corações e mentes do eleitorado de Marine Le Pen...




O modelo latinoamericano


O que melhor caracteriza o cenário mundial é a recessão no centro do capitalismo e a capacidade de manter níveis de expansão de suas economias, acompanhadas de distribuição de renda, no Sul do mundo. 
Claro que o crescimento de tres décadas seguidas da economia chinesa é alavanca essencial desse fenômeno. Mas ele é parte integrante do cenário, que revela a reiteração do modelo neoliberal no centro e modalidades de expansão com extensão dos mercados internos de consumo popular no Sul.

Antes do ciclo de crises atual, uma recessão no centro era devastadora para o sistema no seu conjunto, com efeitos ainda mais agudos na periferia, pela dependência da demanda, dos investimentos e dos créditos. Desta vez nossas sociedades sofrem os efeitos dessa retração, baixam seu ritmo de crescimento, mas não entram em recessão. Já existe uma certa multipolaridade econômica no mundo, de forma que o que sucede no centro não se transfere mecanicamente para a periferia.

A América Latina pode assim exibir ao mundo um outro modelo, que não apenas mantem ritmos de desenvolvimento econômico, mas o faz simultaneamente com a distribuição de renda. Tem portanto não apenas uma superioridade econômica, mas política, social e moral. Como uma de suas consequências, enquanto na Europa todos os governos que se submetem a processos eleitorais - de esquerda ou de direita – são derrotados, porque responsabilizados por politicas recessivas e devastadoras socialmente, os governos que colocam o modelo alternativo em prática na América Latina, tem sido eleitos, reeleitos e tem conseguido eleger seus sucessores.


Enquanto na Europa se produz um processo sistemático de empobrecimento da população, aqui tem diminuído sistematicamente a pobreza e a miséria. Os países europeus, que tinham recebido grande quantidade de trabalhadores imigrantes, veem agora uma parte destes retornar a seus países, enquanto nacionais passam a buscar trabalho em outros países e continentes.

A maior disputa política hoje no mundo se dá entre o modelo neoliberal mantido no centro do capitalismo e o modelo latinoamericano.


Postado por Emir Sader
*MilitânciaViva

Por que Buenos Aires enlouquece a mídia


Fracassarão novamente os que preveem derrota da nacionalização do petróleo. Há nove anos, a Argentina avança – exatamente por desprezar o neoliberalismo
Por Mark Weisbrot, no The Guardian | Tradução: Antonio Martins
A decisão do governo argentino, de re-nacionalizar a YPF, antiga empresa estatal de petróleo e gás, foi recebida na mídia internacional com brados de ultraje, ameaças, presságios de tormenta e ruína e até xingamentos.
Já vimos este filme antes. Quando o governo argentino entrou em moratória da dívida externa, no final de 2001, e desvalorizou sua moeda algumas semanas depois, choveram lamentos e condenações na imprensa. A medida provocaria inflação descontrolada, fecharia o crédito internacional à Argentina e provocaria ao final escassez de divisas. A economia iria mergulhar numa espiral de recessão.
Nove anos depois, o PIB de Argentina cresceu cerca de 90%, o índice mais alto no hemisfério. Os índices de desemprego estão no patamar mais baixo de todos os tempos; tanto a pobreza quando a “pobreza extrema” foram reduzidas em dois terços. Os investimentos sociais, já corrigidos pela inflação, quase triplicaram. Provavelmente por isso, Cristina Kirchner foi reeleita em outubro, numa vitória arrassadora.
Esta história de sucesso raramente é contada, em especial porque implicou reverter muitas das políticas neoliberais fracassadas que – apoiadas por Washington e pelo FMI – conduziram o país a sua pior recessão, entre 1998 e 2002. Agora, o governo está revertendo outra política neoliberal dos anos 1990: a privatização do setor de petróleo e gás, que jamais deveria ter ocorrido.

No Brasil, adivinhe quem deseja mais intensamente o "abismo" de Cristina Kircher?
Há razões de sobra para esta atitude, e é muito provável que ela se demonstre, também neste caso, acertada. A Repsol, companhia espanhola que controlava 57% da YPF argentina, deixou de produzir o suficiente para abastecer uma economia em crescimento acelerado. Entre 2004 e 2011, a extração de petróleo declinou quase 20%; e a de gás, 13%. A YPF foi a principal responsável pelo recuo. E as reservas comprovadas de petróleo e gás da companhia também caíram substancialmente, nos últimos anos.
O declínio da produção não é um problema relacionado apenas ao consumo das pessoas e empresas, mas, ao mesmo tempo, um tema macroeconômico de grande importância.
O déficit de petróleo e gás levou a uma rápida alta das importações. Em 2011, elas dobraram, em relação aos 9,4 bilhões de dólares do ano anterior, absorvendo boa parte do superávit comercial argentino. Obter um resultado positivo é muito importante para a Argentina desde a moratória de 2011. Como o governo tem pouco acesso aos mercados financeiros internacionais, ele precisa acautelar-se e acumular um volume importante de divisas, para evitar uma crise no balanço de pagamentos. É por isso que não pode dar-se ao luxo de deixar nas mãos do setor privado a produção e distribuição de energia.
Por que, então, o ultraje contra a decisão de Buenos Aires de assumir – por meio de uma troca forçada – o controle de uma empresa que, durante a maior parte de sua história, foi a companhia nacional de petróleo? O México nacionalizou seu setor petrolífero em 1938 e – como diversos países da OPEP – sequer permite investimento estrangeiro na extração. A maior parte dos países produtores – da Arábia Saudita à Noruega – tem estatais petrolíferas. A privatização do óleo e do gás nos anos 1990 foi uma aberração de neoliberalismo selvagem. Mesmo quando o Brasil privatizou empresas estatais avaliadas em U$ 100 bilhões, nos anos 1990, o governo de então manteve-se como acionista majoritário da Petrobrás.
O controle soberano sobre os recursos energéticos tem sido uma parte importante da recuperação econômica da América Latina, vista por muitos como sua “segunda independência”. A Bolívia renacionalizou sua indústria de hidrocarbonetos em 2006, e elevou a receita advinda de suas fontes energéticas de 10% do PIB para 20%. No governo de Rafael Correa, o Equador ampliou progressivamente o controle sobre seu petróleo e sobre as empresas privadas que atuam no setor.
A Argentina, portanto, está se alinhando aos vizinhos e revertendo antigos erros no setor de energia. Já seus detratores estão em posição frágil para atirar pedras. As agências de avaliação de risco estão ameaçando rebaixar a Argentina. Seria o caso de levá-las a sério, depois de elas terem atribuído notas AAA para as hipotecas baseadas em créditos podres, durante a bolha imobiliária; e de terem, mais tarde, fingido que o governo dos EUA poderia tornar-se insolvente? Já as ameaças da União Europeia e do governo de direita da Espanha partem de um continente que vive a segunda recessão em três anos e está a meio caminho de uma década perdida, com índices de desemprego que chegam a 24%, precisamente no estado espanhol.
É interessante notar que a Argentina alcançou seu notável sucesso dos últimos nove anos embora recebesse pouquíssimo investimento direto externo e de ter sido afastada, em grande medida, dos mercados financeiros internacionais. Segundo a maior parte dos jornais de negócios, estes são os dois agentes que qualquer governo mais precisa agradar, se quiser ser bem-sucedido. Porém, Buenos Aires tem outras prioridades. Talvez seja por isso que a Argentina recebe tantas críticas…

Mark Weisbrot  é co-diretor of the Centro para Pesquisa Econômica e Política (CEPR), em Washington. Também é co-autor de Ao Sul da Fronteira, documentário de Oliver Stone. Em 28 de março, a Folha de S.Paulo, que reproduzia a cada duas semanas alguns de seus textos, interrompeu a publicação, sem oferecer motivos aos leitores.

Serra: a plástica na imagem aos 70 anos



Em Poços de Caldas, na minha adolescência, tinha o salão de beleza do Darcy Cabeleireiro.
Certo dia entrou lá uma senhora, mulher do fiscal de renda, que tinha sido candidata a deputada estadual. Era extraordinariamente feia. Entroiu lampeira e solicitou ao seu Darcy:
- Me transforme em uma Marta Rocha.
E ele, na bucha:
- Minha senhora, isto aqui é um salão de beleza, não uma tenda de milagres.
70 anos, fim de carreira, sem ter conseguido ter uma ideia inovadora sequer nos cargos executivos que exerceu, Serra pretende ganhar a imagem de prefeito inovador.
O marqueteiro Luiz Gonzales deveria se espelhar no seu Darcy:
- Serra, isto aqui é uma empresa de marketing, não uma tenda de milagres.

Do Jornal da Tarde

+*AmoralNato