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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

Aécio Neves contratou prima de Cachoeira a pedido de Demóstenes


Escutas telefônicas da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM/GO) intercedeu diretamente junto a seu colega, Aécio Neves (PSDB/MG), e arrumou emprego comissionado no governo de Minas para uma prima do contraventor [bicheiro] Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mônica Beatriz Silva Vieira, a prima de Carlinhos Cachoeira, assumiu em 25 de maio de 2011 o cargo de diretora regional da Secretaria de Estado de Assistência Social em Uberaba.

Do pedido de Cachoeira a Demóstenes até a nomeação de Mônica bastaram apenas 12 dias e sete telefonemas. São citados nos grampos o deputado federal Marcos Montes (PSD), ex-prefeito de Uberaba, e Danilo de Castro, articulador político de Aécio em seu Estado e secretário de Governo da gestão Antônio Anastasia (PSDB), governador de Minas. Eles negam envolvimento na nomeação.

A PF monitorou Cachoeira, a prima dele e Demóstenes na Operação Monte Carlo, que desmantelou esquema de contravenção, fez ruir a aura de paladino do senador goiano e expôs métodos supostamente ilícitos da Delta Construções para atingir a supremacia em sua área.

Professor e doutor
Aécio não caiu no grampo porque não é alvo da investigação. Mas ele é mencionado por Demóstenes e Cachoeira. Nos diálogos, o contraventor [bicheiro] chama Demóstenes de ‘doutor’ e o senador lhe confere o título de ‘professor’.

O grampo que mostra a ascensão profissional da prima de Cachoeira está sob guarda do Supremo Tribunal Federal (STF), nos autos que tratam exclusivamente do conluio de Demóstenes com o contraventor.

Em 13 de maio de 2011, Aécio é citado. Cachoeira pede a Demóstenes para “não esquecer” o pedido. “É importantíssimo pra mim. Você consegue pôr ela lá com o Aécio... em Uberaba, pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe.” Demóstenes: “Tranquilo. Deixa eu só ligar pro rapaz lá. Deixa eu ligar pra ele.”

A PF avalia que o caso pode caracterizar tráfico de influência. “Seguem ligações telefônicas, divididas por investigado, em ordem cronológica, que contêm indícios de possível cometimento de infração penal por parte de seus interlocutores ou pessoas referidas.”

Na síntese que faz da ligação de Cachoeira a Mônica, a 26 de maio – o contato durou 3 minutos e 47 segundos –, a PF assinala: “Falam sobre a nomeação de Mônica para a Sedese/MG, conseguida por Cachoeira junto ao senador Aécio Neves por intermédio do senador Demóstenes Torres e de Danilo de Castro.”
 

Serra cobra cachê para fazer campanha presidencial em Ribeirão Preto

Auditório vazio na palestra de Serra na Acirp.
Cachê cobrado por ele gera indignação.
O derrotadíssimo José Serra, candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, abandonou seus afazeres na capital para iniciar campanha presidencial para 2014 em Ribeirão Preto (SP). Detalhe: mesmo tendo entrada franca, o auditório do evento ficou vazio.

Na segunda-feira, dia 23, o candidato tucano a prefeito de São Paulo José Serra abandonou a paulicéia novamente e foi fazer campanha presidencial em outra cidade a 313 quilômetros da capital. Ele foi fazer uma palestra na Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), cujo tema foi política nacional – que será abordado na campanha presidencial de 2014 – e não temas municipais.

Mas a campanha presidencial extemporânea na cidade foi um fiasco. No auditório, a maioria das cadeiras estava vazia (foto), apesar de a entrada ser gratuita. Apenas quatro políticos foram vistos na palestra “O desenvolvimento recente do Brasil e seus principais problemas”, o que mostra um abandono de Serra pelo próprio partido: o vice-prefeito Marinho Sampaio (PMDB), os vereadores Silvana Resende (PSDB) e Nicanor Lopes (PSDB) e o deputado estadual Rafael Silva (PDT) [clique aqui para ver a galeria de fotos].

Como se isso não bastasse, a presença de Serra causou mal-estar para a Acirp, principalmente depois de saber que ele cobrou cachê pela palestra. Já causava celeuma o excessivo aparelhamento e apoio da associação aos tucanos, com articulações junto ao tucanato local e com o governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP), percebidas em reunião na semana passada. O convite à Serra acentuou essa percepção.

Mas o que causa maior indignação aos comerciantes e lojistas associados é quando veio ao conhecimento público que José Serra cobrou cachê pela palestra.

Afinal, além do tucano ganhar palanque para fazer divulgação política, ficou o sentimento de que suas contribuições financeiras para manter a associação estavam virando uma espécie de “mensalinho” para o candidato tucano.


Tem louco para tudo...

A Folha informa que o ex-governador José Serra, que agora jura que quer ser prefeito de São Paulo, dedica parte de seu tempo a fazer palestras para empresários. Outro dia desses esteve em Ribeirão Preto, a convite da associação comercial de lá. Segundo disse, fez dezenas de palestras neste ano. Não revelou quanto cobra por elas, mas garante que algumas são de graça.
Palestras para empresários do interior do Estado não são exatamente prioridade para quem está em plena campanha para a prefeitura paulistana. Assim sendo, tudo indica que Serra está preparando o caminho para voos mais altos, já que parece fora de propósito que os tais empresários paguem para ouví-lo contar sobre seus planos de governo para a capital - se é que ele tem algum.
De qualquer forma, como Serra é dono de seu nariz, ele dá palestras para quem quiser - ou para quem se dispõe a pagar por elas.
O interessante nessa história é o fato de ainda haver no Brasil algum empresário que deseje ouvir o que Serra tem a dizer sobre qualquer coisa - e a gente sabe que certos temas se tornaram uma obsessão para ele.
No momento em que o país parece estar se acertando cada vez mais, em que a economia resiste bravamente a uma seríssima crise mundial, em que o mercado interno floresce, é incrível que ainda haja gente que pague para receber lições de um político tão tacanho, tão démodé quanto ele, que como gestor se mostrou um desastre - olha aí o apagão viário paulistano! -, como economista é um zero - a receita que deu para livrar o país dos efeitos da crise econômica mundial é desastrosa -, e como líderança partidária é nada mais, nada menos, que um desagregador.
Cada um é livre para pensar do jeito que quiser e para fazer o que lhe dê na telha, mas é difícil  entender a cabeça de um empresário que se dispõe a seguir os "ensinamentos" de um sujeito que, se for eleito para qualquer cargo, vai, em primeiro lugar, destruir tudo de bom que a sociedade brasileira construiu nesses últimos anos.
Não consigo compreender o que leva um empresário, que deveria ser, em nome de sua própria prosperidade, uma pessoa pragmática, apoiar Serra e toda a ideologia excludente, preconceituosa e injusta que ele e seu grupo político disseminam.
A única explicação para que isso ocorra, para que um empresário abra mão dos bons ventos que têm impulsionado seus negócios, é ele ter uma identificação tão grande com o que pensa essa gente que quer levar o Brasil de volta ao passado que isso compromete a sua razão, seu discernimento, até mesmo o ato de raciocinar.
Parece loucura, eu sei. Mas quem paga para ouvir Serra e sua oratória ressentida, derrotista e ultrapassada não deve mesmo ser bom da cabeça.
* O Esquerdopata

Se até Murdoch depõe, por que Civita não deveria?

 


Se até Murdoch depõe, por que Civita não deveria?

NESTA TERÇA, JAMES MURDOCH SE EXPLICA NO PARLAMENTO INGLÊS PELA PRÁTICA DE GRAMPOS ILEGAIS; “SE EU SOUBESSE, TERIA CORTADO O CÂNCER”, DECLAROU; NO BRASIL, ROBERTO CIVITA, DA ABRIL, MOBILIZA UM EXÉRCITO PARA NÃO SER CONVOCADO; MAS ELE DEU AZAR: A INGLATERRA AINDA É UM FAROL DA LIBERDADE
247 – Se ainda faltavam argumentos para aprovar a convocação do empresário Roberto Civita, dono da Editora Abril, na CPI sobre Carlos Cachoeira, que iniciará suas atividades nesta quarta-feira, eles caíram por terra na manhã de hoje. Em Londres, o empresário James Murdoch, filho do magnata australiano Rupert Murdoch, dono da NewsCorp, maior grupo de mídia do mundo, tenta se explicar sobre as atividades do jornal “News of the World”, um tabloide centenário que foi obrigado a fechar quando se descobriu que seus jornalistas publicavam grampos ilegais.
Como se sabe, a Inglaterra não é um país que restringe a liberdade de imprensa. Ao contrário, é um dos países mais liberais do mundo, onde todos os assuntos podem ser discutidos abertamente – inclusive, a própria imprensa.
Sobre os grampos do “News of the World”, Murdoch filho disse que não tinha ideia alguma do que se passava no jornal. E afirmou que, se soubesse, “o câncer teria sido cortado imediatamente”. Graças ao depoimento, transmitido ao vivo por várias televisões e websites, Murdoch passou a constar nos Trending Topics do Twitter, como um dos assuntos mais comentados do dia. Assim como ocorreu dias atrás com a hashtag #vejabandida.
Civita e Policarpo?
Nos últimos dias, a Editora Abril tem feito um intenso trabalho de bastidores para evitar que Roberto Civita seja convocado. O pedido será apresentado pelo deputado Fernando Ferro (PT/PE). O ex-presidente Lula, que participa ativamente da articulação da CPI, considera a convocação de Civita como um ponto de honra. Fabio Barbosa, presidente-executivo da Abril e ex-presidente da Febraban, já foi a Brasília para fazer lobby contra a convocação do chefe. Na Brasil, tem-se a certeza de que Civita sairá humilhado do Congresso.
Neste sentido, a editora responsável pela revista Veja negocia uma saída honrosa, que seria entregar de bandeja a cabeça do diretor da sucursal brasiliense, Policarpo Júnior. Numa reflexão recente sobre métodos de apuração e ética jornalística, o diretor de Veja, Eurípedes Alcântara, praticamente rifou Policarpo, ao não citar o nome do jornalista e dizer que jornalistas correm riscos quando publicam grampos ilegais.
A voz mais estridente da Abril, que é a do blogueiro Reinaldo Azevedo, tem publicado artigos sobre um atentado contra a liberdade de imprensa no Brasil, que seria perpetrado na CPI de Carlos Cachoeira.
No entanto, Civita, Eurípedes, Policarpo e Reinaldo perderam.
Tiveram um tremendo azar.
A Inglaterra ainda é um país livre. Ou melhor: é um farol da liberdade.
*Cappacete

Serra contrata editor de Veja para coordenação da campanha



Por Altamiro Borges –
Sem maior estardalhaço – talvez para não apimentar ainda mais a CPI do Cachoeira, que poderá desnudar as promíscuas relações da mídia no país –, a Folha noticiou nesta semana que o editor de Brasil da Veja, Fábio Portela, deixou o seu régio cargo para integrar o comando de campanha de José Serra à prefeitura paulistana. Ele assumirá a coordenação de imprensa do candidato tucano.
De forma “indireta”, a revista já estava em plena campanha. Ela fez o que pode para esconder o best-seller A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro, que apresenta farta documentação sobre o desvio de dinheiro das privatizações por parte da filha, do genro e do ex-tesoureiro de José Serra. Bob Civita, capo da publicação, sempre blindou o ex-governador e amigo íntimo.
Bob Civita está acuado
Agora, um ex-editor da Veja assume de forma “direta” a campanha do tucano – o que indica que ela deverá ser tão ou mais suja do que a disputa presidencial de 2010. Civita fará de tudo para garantir a sobrevida da oposição demotucana no país e a eleição da prefeitura paulistana é decisiva neste sentido. A derrota eleitoral de Serra seria um desastre para a direita nativa.
Bob Civita está apavorado com o desenrolar dos acontecimentos políticos. A Operação Monte Carlo da Polícia Federal abateu mais um dos seus falsos moralistas, o ex-demo Demóstenes Torres, e revelou as mais de 200 telefonemas do seu editor-chefe para o mafioso Carlinhos Cachoeira. O capo da Veja pode até ser convocado para depor na CPI pelos vínculos da revista com o crime organizado.
mais:
*Ajusticeiradeesquerda

Globo e Itaú não
querem cortar os juros

Saiu no jornal nacional:

Redução de juros provoca maior movimento nas agências bancárias

O corte dos juros resulta inútil, conclui o espectador do jn (quem manda ?).

O cliente tenta, tenta, e não consegue.

Na véspera, na pág. 17 do Globo, “’Pegadinha’ nos juros bancários – para obter as taxas que as instituições divulgam, cliente deve cumprir uma série de obrigações”.

“Os clientes que foram ontem (segunda-feira) aos bancos para ter informações sobre as novas taxas de juros saíram decepcionados”.

Na pág. B5 do Estadão desta quarta-feira, “calote em alta limita nova queda dos juros, diz Itaú”.
Navalha
O Itaú é patrocinador do futebol (medíocre) da Globo.
A Globo quer entrar na Classe “C”.
Enquanto isso, a Caixa abre as portas mais cedo para dar informações aos clientes sobre a dupla redução dos juros.
Nesta quarta-feira, a Caixa anuncia outros cortes no financiamento da casa própria.
O Governo Dilma peitou os bancos com o corte dos juros na Caixa, no BB e no BNDES.
O que teria sido impossível no sombrio governo do Cerra e do Farol de Alexandria, porque eles prometeram ao FMI vender a Caixa, o BB e ainda ia transformar o BNDES em agência do Morgan Stanley.




Paulo Henrique Amorim

O jogo da desinformação na CPI Cachoeira

 

Mais que uma disputa política, a CPI de Cachoeira será uma guerra de informações - como já se nota. Todos os expedientes de manipulação da informação serão utilizados: o ocultamento de informações que não interessam a um dos lados; a escandalização de informações irrelevantes; as conclusões impossíveis em cima de diálogos neutros etc.
É importante que não se entre nesse jogo, seja para defender amigos ou atingir adversários. Fazer esse jogo significará entrar no campo da desinformação tão pretendido por quem não quer esclarecer, apenas confundir.
Alguns exemplos:
1. Foram flagradas conversas de Protógenes com Dadá. Ora, é público que Dadá colaborou da Operação Satiagraha. Portanto, conversa em si não significa nada. O que significa é seu conteúdo. Até agora não apareceu nada que mostrasse vinculação de Protógenes com Cachoeira.
2. O emprego dado por Aécio a uma sobrinha de Cachoeira. Ora, o pedido foi feito por Demóstenes Torres, senador, o herói da mídia, o cavaleiro sem jaça. Demóstenes não anunciou que era prima de Cachoeira, chefe de quadrilha, seu financiador. Os problemas de Aécio estão fora da CPI: o caso das suas rádios em BH, por exemplo.
3. Conversas de representantes da Delta com autoridades em geral, seja em qualquer estado ou departamento for, a não ser que revelem claramente objetivos criminosos.
Em meu "O Jornalismo dos anos 90" publico um manual completo de expedientes manipulatórios da mídia. Um deles é justamente este: menciona um diálogo grampeado e tiram-se conclusões da conversa que nada têm a ver com seu conteúdo original.
O fato de Aécio ter virado alvo não é sinal nenhum de isenção da velha mídia. Fosse isenta estaria analisando os fatores que levaram Cachoeira a optar, em 1999, a esquentar seu dinheiro em laboratórios de genéricos em Anápolis, assim como as críticas dos especialistas à Lei dos Genéricos: todos apoiaram seus princípios mas não entenderam a pressa com quem foi implementada, prejudicando em muito sua eficácia.
Vamos tentar transformar esse pedaço, o Blog, em um local de filtragem técnica das notícias e de montagem de quebra-cabeças mais sofisticados do que esse mero exercício de tirar conclusões taxativas de diálogos inócuos.
Luis Nassif
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Charge do Dia

Ao invés de pontes Israel não para de construir muros e mais muros: “Uma doença mental nacional”

 

Franklin Lamb (de Beirute), Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Os pesquisadores terão talvez de examinar nada menos que 14 séculos, do século 3 AC até o início do século 17, para encontrar outro regime que construa muros e barreiras em tal frenesi, na tentativa desesperada de conseguir manter-se sobre terras roubadas, semelhante ao que nós logo veremos também aqui, no sul do Líbano, na fronteira com Israel. No ano 221 AC, para proteger a China contra a invasão do povo Xiongnu da Mongólia – e a tribo Xiongnu era, então, o principal inimigo da China, e lutava para reconquistar terras que acusava os chineses de terem roubado –, o imperador Qin Shi Huang ordenou que se construísse um muro, para preservar as conquistas territoriais chinesas.
Ao longo da história, construíram-se muitos muros, para proteger terras ocupadas. Os romanos construíram o Muro de Adriano na Grã-Bretanha, para manter os pictos do lado de fora; e os alemães do leste construíram o Muro de Berlin, para manter do lado de dentro quem quisesse sair dali. Mas nenhum regime na história construiu, em 60 anos, a quantidade de muros que foram e continuam a ser erguidos pelo paranoico governo de Telavive. Agora, planejam outros cinco novos muros, chamados “barreiras de proteção antiterroristas”, entre os quais um, cuja construção deve ser iniciada em breve, sobre a fronteira entre Líbano e Palestina, na cidade libanesa de Kfar Kila. E esse muro pode vir a criar problemas ainda mais graves que outros.
A decisão de erguer um muro “para substituir a barreira técnica israelense existente” ao longo da Linha Azul, junto à cidade de Kfar Kila, foi anunciada por Telavive na semana passada. O anúncio aconteceu depois de uma reunião entre militares israelenses e a UNIFIL [orig. United Nations Interim Force In Lebanon, Força Provisória da ONU no Líbano] e os dois lados continuam estranhamente silenciosos sobre esse novo muro; mas o porta-voz da UNIFIL, Neeraj Singh, deixou escapar, em conversa comigo, que a primeira parte do muro terá cerca de 500m comprimento e cerca de 5m de altura.
Moradores do sul do Líbano opõem-se fortemente à construção da muralha, dentre outras razões, porque bloqueará a visão das belas paisagens da Palestina que se veem dali. Outros tem rido das razões apresentadas pelo lobby EUA-Israel, que pedirá ajuda aos contribuintes norte-americanos para as despesas de construção do muro.
David Schenker, conhecido militante pró-Israel (até quando ser pró-Israel implica ser contra os EUA; em ing. Israel firster), ligado ao Institute for Near East Policy, em Washington, associado ao AIPAC, disse em audiência no Congresso, recentemente:
“O sul do Líbano é área obviamente muito sensível [para Israel], muito próxima de Metula e via pela qual o Hezbollah e palestinos podem infiltrar-se. A preocupação de Israel é legítima. O governo israelense crê que o muro, naquele ponto, impedirá que terroristas lancem ataques diretos com foguetes e morteiros. Impedirá também que turistas que visitam a região lancem pedradas contra Israel, o que muitos fazem e já se tornou praticamente um hábito”.
Observadores locais, oficiais da UNIFIL e especialistas como Timor Goksel, que trabalhou por 24 anos como porta-voz da UNIFIL na área da Linha Azul, têm-se mostrado surpresos e intrigados por Israel andar falando tanto de Kfar Kila como região particularmente perigosa, que necessitaria de muros.
Nada, de fato, jamais aconteceu ali; aquela área nunca foi perigosa nem “sensível”, sequer quando a OLP controlava a região, nos anos 1970s. Goksel explicou:
“Nos meus 24 anos de experiência, jamais houve ataques nesse ponto, porque é muito próximo de uma cidade libanesa; ataques nesse ponto criariam dificuldades, sobretudo, para os libaneses que vivem ali. Que eu saiba, ninguém jamais pensou em atacar ali. Além do mais, mesmo que alguém invada o território israelense por Kifa Kula, é preciso andar muito até encontrar o primeiro posto israelense. Não faz sentido algum atacar aqui. Atacariam quem, nesse local?”
Moradores locais comentam que o verdadeiro motivo para Israel querer erguer um muro em Kfar Kila é impedir que soldados israelenses troquem ali armas e informações, por drogas; como todos sabem na região, o problema do consumo de drogas entre soldados de Israel no “Comando Norte” aumentou muito, desde a campanha mal-sucedida de Israel, naquela região, na guerra contra o Líbano, em julho de 2006.
O mais novo muro da vergonha em Israel seguirá o traçado de outro muro, que está já em construção, ao longo dos 700 km de fronteira entre os desertos do Sinai e do Negev. Esse muro deverá estar construído até o final de 2012. Então, se se somar o muro de Kfar Kila, Israel estará quase completamente cercada por aço, arame farpado e concreto; com uma única abertura, na fronteira com a Jordânia, entre o Mar Morto e o Mar Vermelho, onde não há barreira física. Mas logo também haverá um muro nesse ponto, segundo informação de Shenker; explicou que o muro é necessário também ali, porque há “incerteza” na Jordânia e o reino mostra-se cada vez mais vacilante.
Há mais muro, a cerca de 11km do Mediterrâneo, ao longo da fronteira sul, que se encontra com a jaula que Israel já construiu em torno de Gaza. Esse muro estende-se por 51km e é protegido por uma faixa de terra fortemente minada; os palestinos não podem andar ali, e o muro invade cerca de 1km da estreita Faixa de Gaza; por causa desse muro, os palestinos proprietários não conseguem chegar às suas melhores terras para a agricultura. Esse “muro de segurança” mantém os palestinos enjaulados dentro de Gaza, mas não impediu que o soldado Gilad Shalit, do exército de Israel, fosse capturado, bem ali, em 2006.
Depois que Israel foi expulsa do Líbano, em 2000, depois de 22 anos de ocupação, a barreira ao longo da fronteira Palestina-Líbano foi reconstruída. Essa barreira não impediu que o Hezbollah, em 2006, invadisse território israelense e capturasse dois soldados israelenses, que adiante foram usados numa troca, para libertar militantes que Israel mantinha prisioneiros. Também não impediu que o Hezbollah disparasse seus muitos mísseis, em guerra de retaliação que durou 33 dias, depois que Israel bombardeou e destruiu vastas áreas no sul do Líbano.
Apesar disso, os “muros de proteção” continuam a brotar do chão, como cogumelos depois da chuva.
Mais para o leste do Líbano, está sendo erguido outro muro, sobre a linha do cessar-fogo traçada ao final da guerra de 1973, do Yom Kippur; passa entre as colinas do Golan – que Israel ocupa ilegalmente há cerca de 45 anos – e a Síria. Exatamente por aí centenas de manifestantes pró-palestinos entraram em território palestino ocupado, em maio passado, pelo Golan e ao longo da fronteira libanesa. Mais de dez manifestantes foram mortos, e muitos foram feridos, quando o exército sionista abriu fogo contra manifestantes civis desarmados.
Um posto de passagem em Quneitra, atualmente operado pela ONU, permite alguma mobilidade ao pessoal da ONU, dá passagem a alguns caminhões carregados de maçãs, a uns poucos estudantes drusos e a uma ou outra esporádica noiva síria de véu e grinalda [1].
Poucos quilômetros ao norte de Quneitra está a Colina dos Gritos [orig. Shouting Hill], onde famílias drusas do Golan gritam, de um lado de uma faixa de terra minada, para serem ouvidos pelos parentes e amigos que vivem na Síria, do outro lado da faixa minada de território sírio ocupado por Israel [2].
Rumo ao sul, por campos e colinas pesadamente minados, a linha do cessar-fogo de 1973 é semeada de bases militares e zonas militares vedadas, restos de tanques que sobraram de outros combates, até que se conecta com a fronteira com a Jordânia. Ali se une a um dos primeiros muros construídos por Israel, ainda no final dos anos 1960s, e que hoje se estende quase desde o Mar da Galileia, pelo Vale do Jordão, até o Mar Morto. A maior parte dessa linha não é fronteira de Israel; é, simplesmente, mais um muro, para separar a Jordânia, de um lado; e, de outro a Cisjordânia ocupada por Israel.
A cerca de dois terços do caminho, a barreira liga-se ao sempre infame muro de aço e concreto da Cisjordânia. Esse muro acompanha a linha do armistício de 1949, engolindo, na passagem, muitas áreas plantáveis de terras palestinas, rasgando ao meio vilas e comunidades e separando sitiantes e agricultores de suas plantações de oliveiras.
Como sobre outros 18 muros e barreiras, o regime sionista diz que se trata de simples medida de segurança. Mas, para muitos, o muro marca o limite de um futuro estado palestino, e já consumiu mais 12% do território da Cisjordânia. Cerca de dois terços dos quase 748km de muro já estão prontos, quase todo ele uma barreira de aço, com largas faixas de exclusão dos dois lados. Segundo o traçado atual, 8,5% do território da Cisjordânia e 27.520 palestinos vivem do lado ‘israelense’ da barreira. Outros 3,4% da área (com 247.800 habitantes) está completamente ou parcialmente já cercada pelo muro.
Duas outras barreiras semelhantes – a que separa Israel e a Faixa de Gaza; e o muro que Israel construiu, 7-9m, que separa Gaza do Egito (que foi temporariamente derrubado dia 23/1/2008), atualmente sob controle dos egípcios –, também têm sido amplamente criticadas pela comunidade internacional.
De volta ao tema do novo projeto de novo muro, cada vez mais o regime sionista dedica-se a impedir discussões, audiências, visitas, expressões de solidariedade com os palestinos; agora já tenta impedir, até, que, do sul do Líbano, se aviste o estado sionista militar. O movimento de impedir que se veja e reveja uma paisagem que há milênios fascina os viajantes é mais um passo na direção do autoisolamento de Israel, cada vez mais xenófobo.
Depois da reunião conjunta em Kfar Kila, o major-general Serra, da UNIFIL, disse:
“A reunião foi convocada para ajudar Israel a implantar medidas adicionais de segurança ao longo da Linha Azul, na área de Kfar Kila, para minimizar as causas de tensões esporádicas ou de desentendimentos que poderiam levar a uma escalada da situação”.
O mais provável, de fato, é que o muro em Kfar Kila provoque efeito exatamente oposto.
Em recente visita ao campo palestino de Ahmad Jibril no vale do Bekaa, e em conversa com grupos salafistas em Saida, pude ver bem claramente que o muro logo virará alvo para prática de tiro; o que só dificultará o trabalho da UNIFIL e do Hezbollah, que tanto se esforçam para manter calma a região de fronteira.
Em comentário sarcástico, recentemente publicado em Yedioth Ahronoth, o jornal de maior circulação em Israel, Alex Fishman, conhecido analista da Defesa, escreveu:
“[Israel] Nos tornamos uma nação que se autoaprisiona atrás de muros e cercas, que se encolhe aterrorizada por trás de escudos de defesa”.
Já é, disse Fishman, “uma doença mental nacional.”
Notas dos tradutores
[1] Referência ao filme “A Noiva Síria” (dir. Eran Riklis, 2004).
[2] Sobre a Colina dos Gritos ver 23/2/2009, “Families Shout Their Love Across Minefields in Golan Heights” [Famílias gritam seu amor, sobre a fronteira minada de território sírio ocupado por Israel, no Golan]
*GilsonSampaio

Militantes do movimento Occupy nos EUA fazem ação em solidariedade ao MST


occ
Estados Unidos - MST -
Moradores do município de Albany (Baía de São Francisco, na Califórnia, EUA), agricultores, estudantes, pesquisadores e ativistas ocuparam nesse domingo (22) uma área pública conhecida como Lote Gill, administrada pela Universidade da Califórnia.
A ação batizada de Occupy the Farm (Ocupar a Fazenda), foi realizada no mês de abril em solidariedade à Via Campesina e ao MST, já que nesse período são feitas diversas ações na luta pela terra para relembrar a morte de 21 Sem Terra no município de Eldorado dos Carajás, no Pará. A operação conduzida pela Polícia Militar em 1996 ficou conhecida como o Massacre de Eldorado dos Carajás.
O Lote Gill é um dos últimos remanescentes de 10 hectares de solo agrícola Classe I (ideal para agricultura) na área urbana de Albany, Baía de São Francisco, Califórnia. O Lote Gill é terra pública administrada pela Universidade da Califórnia, que no entanto, está a venda para construtores privados.
Durante décadas, a Universidade da Califórnia tem frustrado as tentativas da comunidade de transformar o local para agricultura urbana sustentável e educação participativa. Com desrespeito deliberado pelo interesse público, os administradores da Universidade planejam pavimentar esse privilegiado solo agrícola para uso comercial de um supermercado, WholeFoods, e um estacionamento.
"Durante dez anos, as pessoas de Albany tentaram transformar o Lote Gill em uma Fazenda Urbana e um espaço mais aberto para a comunidade. As pessoas na área da Baía merecem usar este tesouro da terra para agricultura urbana que possa ajudar a proteger o futuro da nossas crianças ", explica Jackie Hermes-Fletcher, uma moradora de Albany e professora de escola pública por 38 anos.
Ocupar a Fazenda procura resolver os problemas estruturais de saúde e desigualdade na Califórnia que decorrem da falta de acesso a alimentos e à terra. A ação de hoje recupera o Lote Gill para demonstrar e exercer o direito dos povos a utilizar o espaço público para o bem público. Esta fazenda irá servir como núcleo para agricultura urbana, uma fonte de alimento saudável e acessível para os residentes da área e um centro educacional.
"Cada pedaço de terra urbana não contaminada precisa ser cultivada para que possamos recuperar o controle sobre a forma como o alimento é cultivado, de onde vem, e para quem vai", diz Anya Kamenskaya, ex-aluna da Universidade da Califórnia e educadora de agricultura urbana. "Nós podemos cultivar espaços subutilizados como estes para criar alternativas para o controle empresarial do nosso sistema alimentar."
A Universidade da Califórnia decidiu privatizar este recurso público singularpara espaço comercial e, ironicamente, uma mercearia de alto-padrão. Este é apenas o último de uma série de esquemas de privatização. Ao longo das últimas décadas, a universidade tem deslocado cada vez mais o uso do Lote Gill da agricultura sustentável para a biotecnologia, com financiamento de empresas como a Novartis e BP.
Frustradas que o diálogo tradicional tem caído em ouvidos surdos, muitos moradores locais, estudantes e professores se uniram como movimento social "OccupytheFarm", Ocupar a Fazenda, para tomar de volta o Lote Gill. Este grupo está trabalhando para capacitar as comunidades para controlar seus próprios sistemas alimentares para um futuro resiliente, estável e justo - um conceito e prática conhecido comosoberania alimentar.
O Lote Gill está localizado entre as cidades de Berkeley e Albany, na intersecção da Avenida San Pablo e Avenida Marin.
A quem está na região, o movimento esta pedindo apoio e solidariedade pessoal:
• Junte-se: Venha vestida para trabalhar! Precisamos de pessoas para ajudar a lavrar a terra, plantar mudas, lecionar oficinas em agricultura urbana, e muito mais.
• Doação / Empréstimo: Precisamos de pás, ancinhos, picaretas, moto-cultivadores, fita de irrigação por gotejamento, luvas, chapéus, alimentos e qualquer outra coisa relacionada a agricultura!
• As doações em dinheiro podem ser enviadas através do nosso site em http://www.takebackthetract.com
A quem está no Brasil, o movimento esta pedindo apoio e solidariedade internacionalista:
•Divulguem informação sobre nossa luta! Precisamos de apoio político em todos os níveis, e quanto maior for a exposição pública de nossa luta, maior serão nossas chances de resistir repressão!
*Gilsonsampaio