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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 27, 2012

Campanha Veta Dilma! ganha força nas ruas e redes sociai Por Redação - de Brasília e Rio

 

A resposta à votação na Câmara, realizada na noite passada, que aprovou o Código Florestal de acordo com o que exigiam os ruralistas, em flagrante desacordo com o sentimento público da maioria dos brasileiros, ganha força na campanha Veta Dilma!, que ganha cada vez mais espaços públicos seja nas manifestações previstas para este fim de semana, seja nas redes sociais. Ambientalistas e entidades de mobilização da sociedade civil apoiam a campanha contra a manobra de fazendeiros e empresários ligados ao agronegócio e, na última sexta-feira, comemorado como o Dia da Terra, foi também lançada o “Dia Nacional do Veta, Dilma!”.
O resultado da votação na Câmara “condena o Brasil ao atraso na gestão de suas riquezas naturais, ganha força a mobilização nacional contra o texto forjado por setores atrasados do agronegócio e da política”, afirma, em nota, a seção brasileira da organização não governamental (ONG) World Wildlife Foundation (WWF-Brasil). Na capital federal, um novo balão da WWF-Brasil tem ilustrado as manifestações.
O projeto de lei aprovado nesta quarta-feira, “consolida desmatamentos em áreas sensíveis e estratégicas, como margens de rios e topos de morro, anistia desmatadores, abre espaço para mais derrubada de florestas nativas e para a especulação fundiária e reforça uma cultura de impunidade, de desrespeito à legislação e desvalorização do patrimônio natural”, acrescenta a WWF
A questão é maior do que apenas uma questão nacional e “pode colocar em xeque o cumprimento pelo país de metas assumidas internacionalmente ligadas à conservação da biodiversidade e mudanças climáticas, por exemplo. O mundo inteiro está atento a como o Brasil vai tratar o futuro de suas florestas e se conseguirá manter sua liderança global em desenvolvimento sustentável, conquistada nas últimas décadas”, ressalta a instituição.
Os reflexos de uma desastrosa aprovação a toque de caixa da reforma do Código Florestal, sem debate real com a sociedade, pode ter reflexos negativos na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que acontece em junho, no Rio, onde 100 chefes de Estado estão confirmados para discursar na plenária principal, conforme o Itamaraty.
Ainda no início, campanha “Veta, Dilma!” já repercute em todo o Brasil e no exterior. Vários países demonstraram seu apoio, como Alemanha, Colômbia, Canadá, Espanha, México, Portugal, Suíça, Estados Unidos e Inglaterra. “Todavia, o parlamento não ouve a Ciência, não ouve os juristas e deu às costas para a sociedade. A presidente Dilma Rousseff precisa ouvir o clamor dos brasileiros”, acrescenta a ONG.
Impacto da destruição
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em nota, também criticou a aprovação do Código Florestal nos termos que agradaram apenas aos latifundiários. Segundo a instituição, responsável pela luta em favor da Reforma Agrária no Brasil, “os impactos da destruição do meio ambiente são sentidos em toda parte, não apenas nas regiões diretamente destruídas. Exemplo recente é a morte de mais de 200 trabalhadores e trabalhadoras das regiões mais pobres do Rio de Janeiro, devidos às fortes chuvas que assolaram o estado no começo de abril. As principais vítimas foram famílias que vivem em morros, pela falta de um programa habitacional que atenda às necessidades do conjunto da população. As consequências dos desequilíbrios ambientais recaem principalmente sobre os mais pobres”.
Os deputados que votaram “sim” pediram a manutenção do texto aprovado pelo Senado, apoiado pelo governo e que garantia faixas mínimas de proteção e recomposição florestal. Os deputados que votaram “não” votaram pelo relatório do deputado Paulo Piau, que anulou essas obrigações. Ganharam por 90 votos. Assim sendo, a Câmara aprovou ontem, com o texto de Paulo Piau, a reforma na principal lei florestal brasileira. Acompanhe a lista:
Conheça aqui o voto de cada parlamentar
Resultado da votação
Sim: 184
Não: 274
Abstenção: 2
Total da Votação: 460
Art. 17: 1
Total Quorum: 461
Orientação
PT: Sim
PMDB: Não
PSDB: Não
PSD: Não
PrPtdob
PrpPhs
PtcPsl
Prtb
: Não
Psb
Pcdob
: Liberado
PP: Liberado
DEM: Não
PDT: Não
PvPps: Sim
PTB: Não
PSC: Não
PRB: Sim
PSOL: Sim
Minoria: Liberado
GOV.: Sim
Parlamentar UF Voto



DEM

Abelardo LupionPRNão
Alexandre LeiteSPNão
ACMagalhães NetoBANão
Augusto CoutinhoPENão
Claudio CajadoBANão
Davi AlcolumbreAPNão
Efraim FilhoPBNão
Eli Correa FilhoSPNão
Fábio SoutoBANão
Felipe MaiaRNNão
Jairo AtaideMGNão
João BittarMGNão
Jorge T. MudalenSPNão
Júlio CamposMTNão
Lira MaiaPANão
Luiz Carlos SetimPRNão
MandettaMSNão
Mendonça FilhoPENão
Mendonça PradoSESim
Onyx LorenzoniRSNão
Pauderney AvelinoAMNão
Paulo C. QuartieroRRNão
Profª. D. RezendeTONão
Rodrigo MaiaRJSim
Ronaldo CaiadoGONão
Vitor PenidoMGNão
Total DEM: 26




PCdoB

Alice PortugalBASim
Assis MeloRSNão
Chico LopesCENão
Daniel AlmeidaBASim
Del. ProtógenesSPSim
Evandro MilhomenAPNão

...*correiodoBrasil

 

quinta-feira, abril 26, 2012

Poeta, Ayres Britto inclui versos em seus votos 


STF 10 x 0 Globo/Kamel. Cotas raciais são aprovadas


"A partir dessa decisão, o Brasil tem mais um motivo para olhar no espelho da história e não se corar de vergonha". Ayres Brito


Por Saul Tourinho Leal




O Supremo Tribunal Federal tem como presidente o ministro Carlos Ayres Britto. Presidir a Corte propicia muitas atribuições, dentre elas, montar a pauta de julgamento do Tribunal. Quase sempre esse poder é exercido à imagem e semelhança do presidente. Dentro desse feixe de idéias é que surge o atual presidente do STF, ministro Ayres Britto.
Poeta, Britto insere em seus votos as marcas da sua caminhada, seja pela poesia, seja pela sonoridade das frases construídas, seja pelas menções filosóficas ou, até mesmo, pela sua espirituosidade. O ministro tem a alma nordestina refletida em cada degrau da sua vida pública. Na envolvência do ritmo das orações que constrói, escandalizou os duros de coração e arrebatou a sensibilidade daqueles que não amordaçaram a boca da alma.
Nem bem iniciava suas atividades no STF, citou Luís de Camões. O então presidente da Corte, Nelson Jobim, reagiu: “Até onde sei, Camões não era jurista!” – disse. “Mas era sábio” – respondeu Britto, sem sair da linha.
Seria possível estabelecer conexões entre a poesia do ministro Ayres Britto e as decisões proferidas por ele no STF?
Fazendo uma leitura atenta dos versos do poeta-jurista, conseguimos identificar sua índole, sua intimidade, o ethos que o conduz e a sua maneira de ver o mundo. Muitas vezes ele extrai dos versos as respostas para os mais intrigantes casos submetidos à sua apreciação.
A poesia de Britto é ele mesmo retratado em versos. Não é o Ministro quem as escreve. Ela é que o convida a servir de instrumento para a imortalidade conseguida com o registro no papel. Navegando pelo mar poético de Britto – um mar ora calmo, ora revolto – é possível perceber os eixos que ligam a sua arte aos seus votos.
Na obra Varal das Borboletras, ele inicia com a citação de T.S. Eliot:
Eu disse à minha alma, fica tranquila e espera...
Até que as trevas sejam luz,
e a quietude seja dança[1].
O ministro leu esse trecho quando estava ao lado da Presidente da República, Dilma Roussef, na solenidade de posse como Presidente do STF. Seus escritos já indicavam a ligação existente entre o poeta-jurista e o poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês nascido nos Estados Unidos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1948.
O ministro passará pouco tempo na presidência do STF. São somente sete meses. O número é cabalístico. A Grécia tinha sete sábios e a idade média cristã tinha sete artes livres (gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, música, astronomia). O que pensar da atuação de Britto na presidência do STF? Ele próprio responde num de seus versos: “Ninguém veio ao mundo para ser figurante, mas fulgurante”[2].
Durante esses sete meses, o STF será desafiado a apreciar questões que envolvem o Direito Econômico, o patrimônio nacional e a dinâmica dos mercados. Não raramente a pauta da Corte é contemplada com temas de forte apelo econômico que evidencia duelos entre as forças do capital e o estatismo Nacional. Olhando retrospectivamente, percebe-se que a poesia de Ayres Britto anunciava qual seria sua posição no julgamento do caso apreciado pelo STF que discutia a manutenção, ou não, do monopólio dos Correios brasileiro.
No poema ‘Neoliberalismo’, Britto antecipou sua visão do universo econômico. Segundo ele:
A onda neoliberal
É uma outra visão:
Pra cada regra moral
Há um monte de exceção[3].
O poema acima mostra a reticência para com o modelo neoliberal. Para ele, o modelo excepciona demasiadamente regras morais. É como se o modelo desvirtuasse o próprio homem. A visão do presidente sobre o poder do mercado foi antecipada mais uma vez em outro dos seus versos:
O pior do Mercado é que ele já passou de
motor a mentor da História[4].
Mais adiante, no poema ‘Wall Street’, Carlos Britto registrou sua opinião sobre esse importante centro financeiro:
Coração das finanças do mundo.
Coração de pedra.
Coronárias de chacal.
O anticoração[5].
Vejam que os mercados e o neoliberalismo aparecem conectados com uma visão de alerta, de necessária reconstrução do que está posto. Ter essa percepção é de fundamental importância para entendermos a lógica que conduz o ministro quando desafiado a pensar conflitos judicializados que envolvem a dinâmica do capitalismo, a lógica dos mercados e a força do dinheiro. Como ele votaria, por exemplo, acerca da possibilidade de pessoas jurídicas realizarem doações de campanha? Essa indagação está posta no STF por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Conselho Federal da OAB.
O sentimento existente em relação aos Estados Unidos é externalizado em dois de seus poemas. Em “De Roma aos States”, ele diz:
Não é por falar mal,
Mas o mal de todo império
É que ele se torna o império do mal[6].
Há outro poema que revela algo além da sua visão sobre os Estados Unidos. No verso abaixo, é possível realizar um exercício visando identificar qual a visão que Britto terá caso tenha de proferir voto no julgamento da ação que questiona o decreto que regulamentou o dispositivo constitucional que reconheceu a propriedade definitiva dos ocupantes das terras tidas como antigos quilombos. O poema “Dois pesos, duas medidas”, deve ser lido com sensibilidade. Vejamos:
Os Sem-terra se apossam de fazendas alheias
E são postos a correr pela Polícia.
Os Estados Unidos se apossam de pátrias alheias
E eles mesmos são a Polícia
Os Estados Unidos se proclamam
O xerife do mundo
E o mundo se pergunta,
Acabrunhado:
E quem pediu para ser xerifado?[7]
Em junho de 2011 o STF apreciava a constitucionalidade da chamada Marcha da Maconha. Ao chegar o momento da votação, o Ministro utilizou um dos versos imortalizado na obra Varal das Borboletras: “a liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade”[8]. O voto foi pela constitucionalidade da Marcha dentro de uma linha de raciocínio empregada em outras oportunidades nas quais o que surgiu em discussão foi a liberdade de expressão. Basta recordar o voto favorável à não-recepção da Lei de Imprensa pela Constituição Federal.
Ao votar a respeito da possibilidade de um decreto do governador do Distrito Federal impedir a manifestação de populares da Praça dos Três Poderes, o ministro Britto afirmou que o direito de reunião chega a ser sacrossanto. Em um dos seus poemas o ministro fez registro que deixa evidente a coerência do seu pensamento poético com a decisão proferida nesse caso:
O silêncio das bocas unidas
Costuma ser inventivo.
É um silêncio quente.
Altivo.
- Um silêncio eloqüente[9].
Na temática tributária, os versos são proféticos. Quando o ministro apreciou o caso que discutia se a imunidade tributária prevista pela Constituição Federal para templos religiosos poderia se aplicar aos cemitérios, ele registrou: “Eu tendo a reagir a ideia de que a longa manus tributária do Poder Público alcança a última morada do indivíduo. Quer dizer, nem a última morada do indivíduo é subtraída à longa manus fiscal”. O ministro votou pela aplicação da imunidade aos cemitérios. A postura de defesa dos contribuintes pessoas físicas foi anunciada em um verso do ministro:
O governo confunde FISCO com confisco.
Até o pôr-do-sol por trás dos prédios incrementa o IPTU[10].
No discurso de posse como presidente do STF, o ministro afirmou: “Todos nós magistrados, quando vamos nos recolher à noite, para o merecido sono, dizemos mentalmente ou inconscientemente, ‘Senhor, não nos deixeis cair em tanta ação’”. A expressão foi retirada de um dos poemas do seu livro Varal das Borboletras, no qual o poeta-jurista deixou consignado:
Santa Maria do desestresse,
Não nos deixeis cair em tanta ação[11].
No STF, chamado a decidir acerca da continuidade, ou não, da ação penal contra um caseiro que furtou cinco galinhas do seu patrão, O ministro aplicou o chamado princípio da insignificância, extinguindo a ação penal. Para ele, a conduta do caseiro foi devida “muito mais a extrema carência material do paciente do que indícios de um estilo de vida em franca aproximação da delituosidade”. A posição poderia ter sido antevista da leitura de um dos seus poemas:
Três meninos-de-rua a furtar cenouras numa hortaliça
E as cenouras a se dar a eles com um sumarento gosto de justiça[12].
Quanto ao emblemático caso do Mensalão, o ministro Ayres Britto tem se manifestado na imprensa qualificando o caso como o mais importante julgamento da história do Supremo. Inúmeros observadores tentam decifrar qual seria o seu voto. Os poemas de Britto anunciam sua posição:
Que danosa persistência:
A influência do tráfico e o tráfico de influência[13].
Ao proferir voto mantendo preso o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, Britto tornou célebre uma frase: “Há quem chegue às maiores altura, só para cometer as maiores baixezas”. A postura foi coerente com o que ficou registrado em um dos seus versos na obra Varal das Borboletras: “Tenho visto canetas caríssimas em mãos que não valem nada”[14].
Quanto às comissões parlamentares de inquérito promovidas pelo Congresso Nacional, outro verso expõe sua opinião a respeito dos trabalhos investigativos realizados no âmbito do Parlamento. Ele diz: “CPI que não dá em nada é minha pizza despreferida”[15].
Outra posição do ministro antecipada em seus poemas foi a manifestada no julgamento, pelo STF, da ação movida pelo Conselho Federal da OAB pleiteando a revisão da Lei de Anistia. Na oportunidade, o Ministro entendeu que crimes hediondos e equiparados a estes, como tortura e estupro, não foram anistiados pela lei de 1979. A posição do Ministro guarda sintonia com a poesia-protesto trazida na obra A Pele no Ar. No poema “Pinochet em Londres” o ministro estampou a sua opinião sobre torturadores:
Prenderam Pinochet.
Que bela oportunidade!
O animal cometeu crimes
Contra a humanidade[16].
Enquanto o país aguardava a decisão do STF acerca do reconhecimento jurídico das uniões homoafetivas, a posição do ministro Carlos Ayres Britto estava contida no seu poema Experiência:
Há 45 anos atrás
Eu tinha treze anos.
Poucas idéias na cachola,
É verdade.
Mas sonhos em profusão
E uma experiência enorme
No soltar as amarras desse navio
De nome coração[17].
Ao proferir o voto, Britto registrou: “É a perene postura de reação conservadora aos que, nos insondáveis domínios do afeto, soltam por inteiro as amarras desse navio chamado coração”. Percebam que esse último trecho - “amarras desse navio de nome coração” - é o trecho final do poema acima.
A desigualdade é outra problemática que afeta a trajetória poética de Ayres Britto, deixando-o visivelmente machucado. No poema “Doença Braba”, o poeta denuncia a chaga da ‘injustiça social” da seguinte forma:
O mundo padece de uma doença antiga,
Dolorosa,
uma doença que debilita o mundo
e o torna feio,
E que avança tanto pelas entranhas do mundo
que eu temo que ela se torne incurável.
Essa doença braba que rói as entranhas do mundo
como se fosse motor-serra a derrubar florestas
é a doença que atende pelo nome espectral,
o odiento nome de
INJUSTIÇA SOCIAL[18].
Quando à eficácia dos direitos sociais, a preocupação do ministro com a temática moradia é retratada no poema abaixo:
Tenho que há moradores de rua em Brasília.
- Tantos, que já vão pra lá de mil...
Tenho que esfregar essa vergonha na cara do Brasil[19].
Confirmando a sensibilidade anunciada nos versos acima, o ministro Ayres Britto votou no STF pela impenhorabilidade do imóvel que constituir bem de família. Para o ministro, o direito à moradia, constante na Constituição Federal, é irrenunciável, não podendo ser mitigado por um contrato de fiação.
O Presidente do STF não parece deslumbrado com o cargo. Sua humildade permanece. No poema “Indiozinho”, ele revela o que sente quando o chamam de “ministro”:
Hoje me chamam de ministro
E eu decido sob respeitável toga.
Meu coração, porém, não mudou nada.
Continuo um romântico indiozinho
a remar sua piroga
e a cismar por entre as árvores, à noitinha,
Vendo em cada pirilampo e em cada estrela
Os faiscantes olhos da namoradinha[20].
Ao proferir o voto sobre a recepção, ou não, da Lei de Imprensa, o ministro uniu a liberdade de expressão à democracia. Isso, ele já tinha feito no seu poema “Primeiro botão”, no qual registrou:
O que quer que seja
pode ser dito por quem quer que seja.
- Esse primeiro botão que eu trançaria
No colar de flores da Democracia[21].
Outro poema do ministro anuncia sua visão contrária às interpretações originalistas que remetem ao ideal constituinte a identificação dos enunciados constitucionais. No poema “Passado”, o ministro Ayres Britto torna público o seu pensamento acerca da possibilidade do passado governar o futuro. Ele diz:
Que o passado esteja diante de nós,
Vá lá...
Mas o passado adiante de nós,
Sai pra lá...[22]
O ideal de igualdade, eixo temático a nortear inúmeras decisões do STF, é alvo da atenção do poeta. Ele diz no poema “Isonomia”:
Deus é o rei
E a Terra a sua rainha.
Dessa união só podem nascer príncipes.
Não súditos e muito menos escravos,
Porque tudo é uma só realeza.
- Devíamos nos tratar por “alteza”[23].
Por fim, saudando o ministro Britto por ocasião da sua posse na Presidência do STF, o ministro Celso de Mello afirmou que o novo Presidente teve significativa participação na construção de uma expressiva “jurisprudência das liberdades”. A liberdade, sem sombra de dúvida, é um dos valores de maior destaque na construção poética de Britto. Tanto assim o é que um dos seus mais belos poemas é registrado a ela. Vejamos os trechos do poema “Silogismo”:
A Autoridade não tem autoridade
Pra dizer qual parte do seu corpo a imolar
Em favor da Liberdade.
A Liberdade é que tem autoridade
Sobre o tanto a cortar da sua carne
Em favor da Autoridade.
Logo,
O princípio de maior autoridade
Não é o princípio da Autoridade.
- É o da Liberdade[24].
Eis a trajetória poética do novo presidente do STF, Carlos Ayres Britto. Por meio desse passeio na arte do homem é possível antever o raciocínio do ministro no momento de decidir dilemas da vida que lhe são entregues em razão do ofício que desempenha como julgador da Suprema Corte.
Seus versos refletem o que a alma não consegue sufocar. Suas decisões não estão afastadas desse fenômeno.
*Mariadapenhaneles

PARA ALÉM DE CACHOEIRA, É PRECISO DE UMA CPI DO PÉSSIMO JORNALISMO OU DO JORNALISMO SEM CARÁTER

Impressionante o comentário no blog do Nassif sobre o péssimo jornalismo praticado pela revista Veja. Para além de uma CPI que apure as relações da Veja com o crime organizado, no caso da CPI do Carlinhos Cachoeira, é necessário uma CPI sobre a ética no jornalismo.

Mais que isso: o jornalismo pode até atentar contra a inteligência, mas não pode atentar contra a saúde pública. Uma coisa é errar, e todos nós estamos sujeitos. Outra é colocar a vida das pessoas em risco de forma possivelmente deliberada e travestida de jornalismo.

O comentário abaixo poderia ser um bom motivo para uma séria investigação da Polícia Federal.

As capas médicas de Veja e os laboratórios

Enviado por luisnassif, qui, 26/04/2012 – 14:22

Por Pedro Saraiva

Comentário do post “ A pseudociencia de Veja

Concordo com tudo que foi escrito no texto, porém como médico, tenho uma visão um pouco diferente sobre a matéria. Também compartilho da opinião de que a Veja seja um veículo conservador ao extremo e, como tal, elitista, preconceituoso e com discurso que beira o fascismo. Todavia, não consigo ter a visão inocente de que matérias como esta da última edição sejam apenas fruto de mentes burguesas reacionárias. Acho que o buraco é mais embaixo. Acho que podem existir outras forças por trás desta reportagem.

Para explicar meu ponto de vista é preciso retornar a Setembro de 2011. Todos devem se lembrar de outra polêmica matéria, também sobre aparência e aceitação social, onde a revista faz uma descarada propaganda para a droga Liraglutida, comercializada pela empresa farmacêutica Novo Nordisk, sob o nome comercial Victoza® (http://i1.r7.com/data/files/2C95/948E/3287/486D/0132/8CF7/A977/57AB/veja…). Esta medicação aprovada mundialmente apenas para uso no diabetes foi tratada como milagrosa no combate à obesidade, em uma das reportagens mais irresponsáveis que já vi a nossa imprensa publicar. Na época, houve grande repercussão no meio médico e inúmeros especialistas e entidades médicas criticaram abertamente a revista. Até a ANVISA solicitou uma nota de esclarecimento à Veja.

*Educaçãopolítica

Angola, Cuba e o fim do apartheid


por Jocka N'dinje
Fonte: BLOGDANGOLA
AINDA A CONTRIBUIÇÃO DE CUBA NO DESMANTELAMENTO DO APARTHEID
"Fidel havia encarregado o general Cintra Frias, veterano guerrilheiro de Sierra Maestra, do comando destas operações em território angolano. Na oportunidade, Castro teria confessado ao líder do Partido Comunista da África do Sul, o branquelão Joe Slovo, que a estratégia seria como a de um boxeador: "Enquanto seguramos o inimigo com a mão esquerda (Cuito Cuanavale) , vamos atacando com o punho direito". A situação militar se inverte graças a esta massiva e preparada intervenção cubana, país que chegou a enviar a Angola, ao longo anos, cerca de 350 mil homens e mulheres internacionalistas, garantindo de fato a verdadeira independência na jovem nação africana.
Não suportando os golpes recebidos, em especial uma grande surra promovida pela atuação dos pilotos cubanos nos MIG-23, a Batalha decisiva ocorre no dia 23 de março de 1987, uma derrota fundamental das tropas da África do Sul que Nelson Mandela assim descreveria: " Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid!"

PAC 2 trará transporte urbano fluvial a Recife


Com recursos do PAC 2 da Mobilidade Urbana, Recife terá transporte urbano fluvial 
Iniciativa é inédita no país. Prefeito João da Costa (PT/PE) participou do anúncio de investimentos do Programa
O rio Capibaribe, que corta a cidade de Recife, terá 10 km de vias navegáveis. O uso de vias fluviais para o transporte urbano é uma novidade no Brasil. A obra faz parte do PAC 2 da Mobilidade Urbana para Grandes Cidades, com investimentos de R$ 32 bilhões em recursos do governo federal, estados e municípios.
*Luis Nassif

Justiça nega pedido de indenização de gari contra apresentador Boris Casoy

Mais uma decisão digna de fazer Lalau ficar corado.Juiz nega pedido de gari contra Boris Casoy, o boca de cu.Segundo a irretocável decisão do merdetissimo juiz o gari sofreu apenas um dissabor quando Casoy disse que a profissão de gari é a mais baixa na escala de trabalho..Dissabor é a sociedade conviver com esse tipo de decisão esdrúxula.

A Justiça da Paraíba negou o pedido de indenização feito pelo gari, Gilson Silva Sousa contra o apresentador e jornalista Boris Casoy, da TV Bandeirante. O desembargador José Ricardo Porto do TJ (Tribunal de Justiça), relator do processo, afirmou que o autor sofreu apenas um "dissabor".
Sem saber que estava sendo filmado, o apresentador fez um comentário ao término de uma reportagem de natal sobre os garis. “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. O mais baixo na escala de trabalho”, dizia no áudio.
De acordo com o pedido, o jornalista teria denegrido a imagem dos garis, como uma classe. Para o apelante, essa frase denigre a classe dos trabalhadores na limpeza urbana. Alegou que sentiu-se discriminado pelas palavras do repórter, um dos mais conhecidos do país.
Mas, o relator entendeu que não procedem os argumentos do impetrante. “Na verdade, o episódio provoca dissabor e não dano moral indenizável. O nome do autor jamais foi mensionado e as expressões enfatizadas são genéricas”, disse o magistrado ao acompanhar o entendimento a decisão de 1ª instância.
Número do processo: 001.2010.004607-5/001
Fonte;Última Instância
*Oterrordonordeste