Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 02, 2013

Medicina como status social e negócio, medicina como política social e responsabilidade republicana de quem se fez médico numa universidade pública: sobre a importância da vinda dos médicos cubanos ao Brasil

*Opensadordaaldeia 

Nossa Idade Média: padre ensina como um casal cristão deve gozar



*Opensadordaaldeia

Poema ateu


O ATEÍSMO NADA TEM A ME OFERECER
por Anônimo


O ateísmo nada tem a me oferecer
ele não me trás conforto ou certeza
Nele não há nenhum ensinamento ou dever
nele não há ilusões de grandeza.

Jamais me disse como devo pensar
jamais me trouxe saber ou inspiração
Ele não me obriga a crer sem duvidar
não me ameaça com eterna punição.

Não torna minha vida mais contente
É indiferente quando imploro
Não promete a cura quando estou doente
e não me trás alento quando choro.

Nele não encontro nenhum conselho
nenhuma resposta nenhuma indagação
Ele não me pede pra cair de joelhos
ou passar a vida pedindo perdão.

Ele não me oferece a tola felicidade
de me achar um escolhido entre tanta gente
Ele não me induz a cometer maldades
para glória de um deus ausente.

O ateísmo não me ensina a odiar
ou discriminar os diferentes de mim
Não proíbe os iguais de amar
não me diz o que é bom o ruim.

Não me diz que a vida vale a pena.
O ateísmo nada me oferece é verdade
mas como a realidade me basta e só quero viver o que sou
Então o ateísmo me oferece tudo.


"Liberdade para os cinco! Prisão para o terrorista Posada Carriles!": manifestação em frente à Casa Branca exige do governo Obama a libertação dos cinco heróis cubanos mantidos como presos políticos nos EUA
 
A catimba e o recalque do homofóbico

Foi-se o tempo em que a homofobia só escutava eco e aplausos. Agora tem vaia
Foi-se o tempo em que a homofobia só escutava eco e aplausos. Agora tem vaia
Foto: internet

Por Miguel Rios

O que dói no homofóbico é a derrota que se amplia. De goleada. Dói é a torcida adversária comemorar mais alto, enquanto ele, defasado, sai de fininho do estádio. Sai de nariz em pé, mas de alma cabisbaixa. Resta-lhe passar recibos com aquele discurso de Facebook já desmascarado, embalado naqueles quadradinhos de diagramação tosca. Arde nele ver famílias LGBTTs cada vez mais aí, sem timidez, sem medo, com direitos, aceitas, felizes.
Dói no homofóbico é perceber que deu em nada empurrar um hipócrita oportunista na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Chateou o outro lado e aumentou a vontade e a perseverança de ir à luta. Protesto dia a dia.
Enche ele de ódio ver o Conselho Nacional de Justiça dar mais um passo à frente. Casamento civil aprovado. Aquela histeria de fim da família, de apocalipse antecipado, cansou, provou ser papo burro, de fanático. Vários países foram na mesma direção e nenhuma notícia de que a população enveadou, sapatizou, se acabou.
Previsões fracassadas, superadas. Tanto quanto as de que o divórcio destruiria a estrutura das pessoas, de que casamentos inter-raciais manchariam a integridade da nação. As pessoas se adaptaram, sobreviveram, miscigenaram, seguiram suas vidas. Descobriram novas formas de amar, de se relacionar.
Agride o homofóbico saber que uma transexual é diretora de escola infantil no Paraná, eleita pela comunidade, e vai, muito bem obrigada, no cargo. Que os alunos a enxergam como educadora e, tudo bem, trans.
Arde ainda mais ver que os amigos héteros dos gays continuam héteros. Os simpatizantes, os que ele julgava mal assumidos, são cada vez mais em número, em engajamento, sem interesse algum em troca-troca, somente brodagem, consciência. Dói no homofóbico notar que o isolamento é algo tão dele.
Amedronta um homofóbico que em breve deve surgir a campanha: Salve um homofóbico da própria heterofobia. É ele quem teme pelo fim de sua orientação.
Apenas ele a acha uma farsa, sem força para resistir à libertação das outras. Somente ele crê que a humanidade será extinta, que há uma apologia ao arco-íris, que um kit antipreconceito escolar é uma conspiração gay para hipnose coletiva das crianças brasileiras.
Tira o tapete enxergar que o jeito hétero de andar, de vestir, de falar, de se portar deixou de ser o correto e único. Se um cara usa saia, vai para a faculdade e é vítima de chacota,  outros caras, dos mais diversos, se unem e usam saia juntos para defendê-lo.
Dói no homofóbico surrar, quebrar lâmpadas na cara e presenciar socorro, testemunhas a favor da vítima, prisão e processo. Magoa saber que não é mais a última voz, que comunga com o pensamento geral, o vingador dos bons costumes.
Não é mais o superior e inquestionável. Tem revide. Tem cobrança. Tem gente, muita gente, falando contra do outro lado. Têm até grandes marcas abraçando a causa: American Express, Coca-Cola, Itaú, Smirnoff, Halls. Acabou a solidão e a conformação do homo oprimido de que “o mundo é assim mesmo, sou o errado, nada posso fazer”.
O homofóbico estrebucha diante dos LGBTTs que deixaram de ser domesticados, pacatos, submissos. Espanta-se por seu comportamento de tirano bonzinho não enganar mais.
Aquela frase “eu não sou preconceituoso, mas...” já está manjada, desacreditada. O “mas” denuncia. A maciez que vem antes é balela, mero escudo decorativo para esconder a face raivosa e fazer de conta que o que vem depois é sensatez, um conselho para a melhor convivência. O que vem depois? Coisa do tipo: “gays não deveriam expor as pessoas à sua conduta”, “tanta exibição só prejudica que as famílias compreendam os homossexuais”. Traduzindo: “se ajoelhe e me reconheça como o maioral”.
O homofóbico se coça por gays e lésbicas terem entendido que liberdade é conquista e não doação. Que se ficassem acomodados aos bons modos héteros, não sairiam do canto, seriam sempre os injustiçados e roubados, aqueles a quem se dá bom dia, que até se aperta a mão, mas que nunca se deixa perto das crianças por muito tempo. As migalhas de carinho e aceitação ganharam o real sentido do “Unhum! Me engana que eu gosto. Senta lá, Cláudia”.
A urticária homofóbica aumenta quando a teoria da ditadura gay é varrida para o lixo. Quem humilhou  primeiro? Quem ditou primeiro as regras? Não busca em uma criança sua orientação sexual. Determina-se: menino é macho, menina é fêmea. A ditadura do “meu filho nunca, prefiro morto”.
Atitude de menino boa é coçar o saco, falar de futebol e de mulher nua. Boa menina é virginal, meiga e louca para casar, comandar o lar







Quem segregou primeiro? Se o garoto dá pinta não é para os outros andarem com ele. Se há casal gay na novela não é para  assistir. Comercial bom é o que tem papai, mamãe e os filhinhos. Atitude de menino boa é coçar o saco, falar de futebol e de mulher nua. Boa menina é virginal, meiga e louca para casar, comandar o lar.
É uma trilha retilínea, férrea. E o trem, que atropelou por muito tempo, ainda atropela, ainda ofende, proíbe, espanca e mata. Não se é morto, expulso de casa, achincalhado na rua por ser hétero, já por ser homo... Ditadura de quem mesmo?
Mas o homofóbico quer inverter e falsear realidades, se fazer de vítima, de perseguido, de tolhido em sua expressão. Quem disse que ele não pode falar? Ele não pode é falar sozinho, ser a última palavra como quer e se acostumou a ser. Têm respostas. Respostas que lhe irritam os ouvidos.
Foi-se o tempo em que a homofobia só escutava eco e aplausos. Agora tem vaia. Tem frustração e gozação pelas fajutas tentativas de orgulho hétero, atos de nenhuma coragem, nenhuma contestação, de uma luta sem metas, sem valia, com beijaços  públicos também conhecidos como cotidiano.
O homofóbico se dói pelo descrédito que ele próprio fabrica. Ele se machuca por recalque, esse misto de ódio e paranoia, de placar contrário aos 45 do segundo tempo. Jogo perdido. A dorzinha dele é contusão boba, quando não fingida, para impressionar o juiz. Catimba. Cartão amarelo e Gelol resolvem.
 NE10
*Mariadapenhaneles

Por que um bloco feminista na Marcha da Maconha?

O prazer corporal para a mulher ainda é visto como proibido, como se ela não tivesse esse direito ou acesso, como se seu corpo não lhe pertencesse.

É curioso quando ouvimos a pergunta: “feminismo e antiproibicionismo, qual a relação?”. A primeira resposta que temos é que onde houver desigualdade de gênero, a luta feminista se faz necessária. Aqui, é importante notar, a desigualdade de gênero compreende questões como sexualidade, raça, classe, idade e suas intersecções.
A segunda resposta diz respeito às especificidades das lutas antiproibicionista e feminista. Ainda que tenhamos, enquanto mulheres, feito várias conquistas como o direito ao voto, ao estudo, ao trabalho (ainda que não tenhamos necessariamente alcançado equidade), é curioso notar que ainda acontece de uma mulher estar bebendo sozinha num bar, por exemplo, e ser vista com desconfiança, tida como estranha, louca, deprimida, disponível, prostituta, alcoólatra etc. São muitos os adjetivos utilizados para uma mulher sozinha num ambiente público, tradicionalmente masculino.
O prazer corporal para a mulher ainda é visto como proibido, como se ela não tivesse esse direito ou acesso, como se seu corpo não lhe pertencesse. E claro, a mulher nesse contexto está mais vulnerável a situações de constrangimento e violência. No caso das drogas ilegais, esses estereótipos são ainda mais reforçados. Parece haver uma ideia de que a mulher, destinada unicamente à maternidade e ao ambiente privado do lar, não pode ter esses hábitos, uma afronta à sua condição social de mulher, aos seus filhos, à moral.
Nesse sentido, as drogas que são mais aceitas para mulheres usarem são as medicamentosas, como os antidepressivos (as mulheres ainda formam o grupo para o qual esse remédio é mais prescrito), pílulas de emagrecimento, remédios para dormir, a lista é grande. Drogas que a mantenham no papel que lhe foi incumbido, não que a desviem dali.
Hoje temos no Brasil, de acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional, 36.039 mulheres atrás das grades. Entre elas, 47% (17.178) foram presas por venda de drogas. Algumas vezes por ser seu meio de sustento, outras por serem usuárias, mas outras, de maneira fortemente recorrente, por auxiliar seus companheiros, ao levar drogas a eles nas prisões, para ajudá-los no espaço do comércio ilegal, etc.
E nesse contexto, uma série de pesquisas anuncia que o estigma contra as mulheres presas é muito alto, por exemplo, como visto no número reduzido de visitas, nos maus tratos a que são submetidas, nas insalubres condições prisionais, na falta de atendimento médico específico como ginecologia, e na terrível forma como tratam as grávidas na prisão (há relatos de mulheres dando a luz algemadas).
Outra política pública que não considera as especificidades da relação mãe-bebê é a da retirada do filho recém nascido da mulher que usa crack, aliás, a mais demonizada dos estereótipos da mulher que usa drogas. Não há outras formas de tratar as mulheres que usam drogas e tem filhos? São Bernardo do Campo tem histórias muito bem sucedidas de abrigos oferecidos para mulheres usuárias e suas famílias, ao invés da simples punição. É importante lembrar que quando o pai usa álcool ou outras drogas, seu filho não é retirado.
Exemplos de maus tratos em tratamento de drogas tanto para mulheres quanto para população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersex, etc.) é recorrente, sendo esse mais um campo onde estigmas e preconceitos circulam soltos.
Além disso, é o mesmo Estado (hegemonicamente masculino) e a Igreja (hegemonicamente masculina) que baseados em preceitos morais e interesses políticos de controle, criminalizam tanto o uso de drogas quanto o aborto. As duas proibições – que por sinal, em nada inibem a prática dessas condutas – representam uma ingerência indevida do Estado nas decisões da esfera privada das pessoas, legislando sobre seus corpos. O que faremos com nosso próprio corpo quem decide somos nós, e lutaremos até que possamos, sem repressão, estigma, mortes ou encarceramento, escolher com autonomia se interrompemos ou não uma gravidez e se usaremos ou não a substância psicoativa que bem entendermos.
As lutas antiproibicionista e feminista compartilham, já de cara, o combate a um status quo sustentado por interesses de setores políticos, econômicos e por valores morais que estruturam nossa sociedade. Esses setores, já há muito tempo, percebem a relação das lutas que os questionam, não são poucas as vezes em que assistimos atos conservadores unindo as pautas contra a legalização da maconha, do aborto e da união homoafetiva. Assim como o questionamento sobre a proibição das drogas não é tarefa apenas de usuários, as lutas feministas devem atingir todos que buscam uma sociedade igualitária. Engrossamos, portanto, as fileiras das manifestações dessas duas lutas imprescindíveis, e num processo de troca e fortalecimento, avançaremos na busca de outra sociedade.
Participe do bloco feminista da Marcha da Maconha SP. Contato: blocofeministamdm@gmail.com
*coletivodar.org

Imagens de um hipotético romance entre Marylin e Elvis

MARYLIN e ELVIS
“Quando saio do camarim sou Norma Jean”
quotes by Marilyn Monroe     
Os pôsteres abaixo registram um hipotético romance entre Marylin e Elvis, encontram-se à venda pela Internet.
    Legends - Boulevard of Broken Dreams
“Sei que os homens não me vêm, apenas me olham...”
Marilyn Monroe e Elvis Presley ter na mira de vista da cobertura.  (Imagem via last.fm)
O Encontro Íntimo Entre a Diva do Cinema e o Rei do Pop

Marylin e Elvis encontraram-se, secretamente, em um hotel.
O ex-agente de Elvis, Byron Raphael manteve, durante os últimos 50 anos, o segredo sobre o encontro íntimo das duas lendas do cinema e da música mundial.
Byron contou que a agência William Morris tentou unir a estrela do cinema e o astro do rock ‘n’ roll em 1956, mas ela, inicialmente, recusou.
"Ela ficou, aparentemente, envergonhada. Eu acho que ela recusou porque sentiu que era muito notória a jogada publicitária", disse Raphael ao New York DailyPost.
Mas Presley não desistiu e, secretamente, marcou um encontro com Marylin.
"Duas semanas depois, Elvis me chamou e disse: ‘Eu quero que você vá buscar Marilyn’. Era uma noite chuvosa e eu a trouxe para o hotel Beverly Wilshire e subimos para o seu quarto."
"Quando se encontraram, sem dizer uma palavra, começaram a se beijar."
"Eu estava em choque e não sabia o que fazer."
"Então, Marilyn, que era dez anos mais velha, e Elvis, depois de alguns minutos, foram para o quarto e eu não sabia se era para ir embora ou ficar e esperar por eles e meio que adormeci. "
"A acordar fiquei assustado ao vislumbrar, pela abertura da porta, o que ocorria no interior do apartamento e afastei por trás do bar."
"Eles saíram completamente nus. Eu não disse uma palavra e fiquei em silêncio."
Mais tarde, após uma ligação, Elvis solicitou um táxi e Marilyn voltou para casa.
"Poucos dias depois, Elvis me disse que ‘ela é uma boa garota, mas um pouco inacessível para mim', quando eu mencionei Marilyn para ele"
"Eu sabia que esse era o tipo de coisa que poderia arruinar as suas carreiras, mas eu nunca disse uma palavra."
"Eles eram duas das pessoas mais famosas do mundo e Marilyn ainda era casada com Arthur Miller, naquela época."

Frei Betto questiona: O que é Arte?

1/6/2013 12:43
Por Frei Betto - do Rio de Janeir

Arte e Cultura: liberdade
Arte e Cultura: liberdade
Sabemos, hoje, reconhecer uma obra de arte? O que conta mais, a fama do artista ou a qualidade da obra? Quem decide o valor de uma obra, o prestígio alcançado por ela na mídia ou seus atributos estéticos?
O jornal Washington Post decidiu testar gosto e cultura artísticos do público. Levou um violinista para uma estação de metrô da capital dos EUA. Durante 45 minutos, ele tocou Partita para violino no. 2 de Bach; Ave Maria de Schubert; e peças de Manuel Ponce, Massenet e, de novo, Bach.
Eram oito horas de uma manhã fria. Milhares de pessoas circulavam pelo metrô. Quatro minutos após iniciar o concerto subterrâneo, o músico viu cair a seus pés seu primeiro dólar, atirado por uma mulher que não parou. Quem mais lhe deu atenção foi um menino que teria entre três e quatro anos de idade. Porém, a mãe o arrastou, embora ele mantivesse o rosto virado para o violinista enquanto se distanciava.
Durante todo o tempo do concerto improvisado, apenas sete pessoas pararam um instante para escutar. Cerca de vinte jogaram dinheiro sem deter o passo. Ao todo, trinta e dois dólares e dezessete centavos no pote a seus pés. Quando cessou a música, ninguém aplaudiu.
O músico era o estadunidense Joshua Bell que, dois dias antes, havia dado um concerto no Teatro de Boston, lotado de apreciadores que pagaram US$ 100 por um ingresso. Seu violino era um Stradivarius fabricado em 1713 e adquirido por quase US$ 4 milhões. Bell é professor no Massachusetts Institute Technology e na Royal Academy of Music de Londres.
Bell fez, em solo, a trilha sonora dos filmes O violino vermelho, que mereceu o Oscar, e Mulheres de lavanda. Sua primeira gravação, em 2003, pela Sony Classical, foi Romance of the violin, que vendeu 5 milhões de cópias.
Bell é um músico de prestígio internacional. No entanto, nessa sociedade neoliberal hegemonizada pelo paradigma do mercado, ele era um “produto” colocado na prateleira errada. Estava no metrô. Como se o fato de estar em local público tornasse sua música de menos qualidade. Estivesse um músico medíocre no palco do Teatro de Boston com certeza teria sido ovacionado.
Fica uma pergunta: temos prestado atenção na qualidade das coisas? Ou nossas cabeças são feitas pela mídia estimuladora do consumismo, que nos impõe gato por lebre?
Van Gogh jamais vendeu uma tela enquanto viveu, exceto a que seu irmão Theo, que era marchand, comprou na tentativa de ajudá-lo. Sem dinheiro para pagar o médico, o pintor presenteou-o com a tela Rapaz de quepe. O doutor, do alto de seu preconceito elitista, considerou que nada de valor poderia sair dos pincéis de um louco… Aproveitou o quadro para tapar um buraco no galinheiro de sua casa… Há pouco esta tela foi vendida por US$ 15 milhões!
Frei Betto é escritor, autor do romance Aldeia do Silêncio (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
*correiodobrasil