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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 07, 2011

Cabo Bruno Covas, o justiceiro do avô

 luisnassif

Começou mal a carreira política de Bruno Covas, neto de Mário Covas, no primeiro cargo em que efetivamente pode exercer seu poder pessoal.
A ação contra o Shopping Center Norte tem toda a característica de um acerto de contas de 27 anos atrás - usando as armas do poder público.
le="margin-top: 1em; margin-right: 0px; margin-bottom: 1em; margin-left: 0px; font-size: 12px; line-height: 1.6em; text-align: justify;">O criador do Shopping Center Norte, Otto Baumgart, surgiu na cena econômica no mesmo período em que Mário Covas foi prefeito. Tinha uma empresa rentável, a Vedacit. Mas ganhou visibilidade na inauguração do Shopping. Na época, em pleno processo de redemocratização, parecia ser dos novos empresários aliados ao novo poder político que surgia. Covas, o "espanhol", costumava se referir a Otto como o "alemão.
O próprio Covas compareceu à inauguração do Shopping, segundo os arquivos digitais da Folha. A fita inaugural foi cortada por dona Lila Covas e por Maria da Glória Baumgart, esposa de Otto.
O rompimento se deu pouco tempo depois. Covas acusou o Shopping de ter se apossado de uma área do município, maior que a que havia sido combinado. Ameaçou fechar não apenas o shopping mas outros empreendimentos da área, como o Supermercado Paes Mendonça. Como a prefeitura havia dado o Habite-se, aventou-se a possibilidade de ter havido corrupção de funcionários. Do lado da prefeitura, o caso foi conduzido pelo Secretário Sampaio Dória e por Celso Matsuda - a quem Covas sempre recorria para missões críticas.
Confira matéria do Estadão da época:


O caso foi parar na Justiça e Baumgart saiu vencedor cinco anos depois, por decisão do STF.
Cabo Bruno entra em cena
É aí que entra em cena Bruno Covas, o Cabo Bruno (lembram-se do Cabo Bruno, o vingador que surgiu anos atrás matando marginais?), vingador do avô.
Independentemente das razões históricas, a ação da Cetesb - dirigida pela Secretaria de Meio Ambiente - foi claramente arbitrária. Fechou o Shopping alegando riscos de explosão. No dia seguinte reabriu alegando que suas recomendações haviam sido atendidas e que nunca houve risco de explosão do metano. Como assim? É impossível que todas as providências tenham sido atendidas em apenas meio dia. Se bastava meio dia para o shopping ser considerado apto a funcionar (se é que algum dia foi inapto) e se não havia risco de explosão do metano, qual a razão para o fechamento e a exposição pública de um risco inexistente?
Quando escrevi o post "O xeque-mate na Cetesb" ficava claro que, ou por iniciativa própria ou por ordem de Bruno Covas, a companhia se colocara em uma sinuca de bico: se não havia risco de explosão, exorbitara em suas atribuições; se havia risco, teria de responder por dois anos de tolerância com o quadro.
Independente da motivação de Mário Covas - e é bem possível que sua ira derivasse do fato da Prefeitura (e não ele pessoalmente) ter sido enganada por Baumgart, é evidente que Bruno Covas extrapolou.
Se nos primeiros meses como Secretário, no primeiro cargo em que empalma poderes pessoais, age assim, o que esperar em cargos maiores?

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