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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 07, 2011

Fatos em foco: roubo do Itaú, STF e Maluf, mensalão paulista, 453 prefeitos mineiros investigados, tortura

Hamilton Octavio de Souza 
Maior prova
A polícia de São Paulo informa que está praticamente esclarecido o grande roubo nos cofres particulares do Banco Itaú, quando dez homens levaram aproximadamente R$ 100 milhões em joias, pedras preciosas e moedas estrangeiras. Alguns dos ladrões foram presos e pouca coisa foi recuperada. O mais curioso mesmo é que apenas 11 dos 142 proprietários de cofres roubados na agência bancária deram queixa na polícia. Por que será?
Rebaixamento
No segundo semestre de 2010, empolgado com o crescimento econômico do ano, o Banco Central divulgou a previsão de que o PIB do Brasil, em 2011, deveria crescer 4,5% em relação ao do ano anterior. No primeiro semestre deste ano o BC trabalhou com a previsão de 4% de crescimento. Agora em setembro baixou para 3,5%. Isso, evidentemente, porque a crise econômica atinge apenas a Europa e os Estados Unidos!
Farsa federal
Mais uma vez o Supremo Tribunal Federal faz onda na mídia em processo contra o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), acusado de desviar quase R$ 900 milhões de obras da Prefeitura de São Paulo, de 1993 a 1996. Tudo indica que o famoso meliante vai escapar mais uma vez de pagar por seus crimes, mesmo porque a prática do STF tem sido a de arquivar ou deixar prescrever os processos contra as elites. É só cortina de fumaça!
Casa assombrada
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo não apenas tenta abafar o escândalo da venda de emendas, denunciado por deputado da base governista. Procura se livrar, também, de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que determinou ao legislativo paulista a divulgação da relação completa de funcionários existentes na Casa. A relutância faz sentido: o número de “fantasmas” concorre com o de trabalhadores efetivos!
Contrassenso
Levantamento do Instituto de Economia Agrícola prevê que a safra da laranja, no Estado de São Paulo, deve saltar das 322 milhões de caixas, em 2010, para 377 milhões de caixas, em 2011. Em compensação, o número de trabalhadores permanentes na lavoura da laranja caiu de 80 mil para 55 mil no mesmo período da colheita. Estima-se que 20 milhões de caixas de laranja não sejam colhidos. Vão apodrecer nos pés!
Vida piorada
De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), estudo recente realizado pela própria empresa que assumiu a construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, 74% da população atingida pela obra teve sua condição de emprego e renda piorada com a desapropriação e o reassentamento. No dia 29 de setembro, várias comunidades de reassentados protestaram em frente ao Ibama, em Porto Velho.
Maioria exemplar
Reportagem do jornal O Tempo, com informações da Procuradoria de Justiça de Combate aos Crimes Cometidos por Agentes Políticos Municipais, revela que 443 prefeitos de Minas Gerais – de um total de 853 prefeitos – são investigados em pelo menos um processo. Os crimes mais comuns cometidos pelos prefeitos são fraude em licitação, desvio de verba, crime ambiental e contratação irregular de servidores. Uma triste amostragem do Brasil!
Luta quilombola
A comunidade de Brejo dos Crioulos, localizada no norte de Minas Gerais, tem 512 famílias e luta pela titularização de suas terras há 12 anos. Eles reivindicam 17 mil hectares que estão nas mãos de grileiros e latifundiários. Os quilombolas conseguiram que o processo passasse pelo Incra, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e, no dia 29 de setembro, a presidenta Dilma assinou a desapropriação da área. Uma grande vitória dos quilombolas. E exemplo para as demais comunidades do Brasil.
Dura realidade
Em visita ao Brasil desde 19 de setembro, o Subcomitê de Prevenção da Tortura da Organização das Nações Unidas tem percorrido estabelecimentos penais de vários estados. Sem alarde e de maneira reservada, o grupo de observadores internacionais está colhendo informações sobre as violações de direitos humanos nas prisões e nos institutos de menores infratores. Vem aí mais um relatório da ONU constrangedor para o Brasil!

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