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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 07, 2011

O Nordeste, em São Paulo

Os dados da pesquisa Ipea que revelaram que 30% da população adulta da região metropolitana de São Paulo é nascida nas regiões Norte e Nordeste do Brasil deveria servir de alerta contra p pensamento elitista e até racista que se expressa em certa parte dos paulistanos – e sejamos justos, em parte significativa das classes médias brasileiras -  que vê no migrante, no negro, no pobre aquela tal famosa “gente diferenciada” de Higienópolis.
Em lugar de atacar as políticas sociais e os investimentos que, nos últimos anos, vem fazendo minguar e até, em muitos casos, reverter-se o processo migratório em direção às grandes metrópoles do Sudeste, devia era apoiá-las, para que São Paulo (e o Rio, e BH)  sofra menos com o inchaço urbano que a transforma a vida num caos.
Sim, porque estaríamos falando não de quatro milhões de migrantes na Paulicéa, mas de cinco ou seis milhões, porque na última década São Paulo recebeu menos de 50 mil migrantes por ano, um número seis vezes menor que os 300 mil anuais que recebia na década de 70 a 80. É só fazer a conta e ver quantos seriam a mais.
O desenvolvimento do Nordeste  e a elevação da educação, da renda e do padrão de vida dos brasileiros que migraram são mais que um dever humano deste país, mas a redescoberta de que somos um povo só e que não temos diferenças, mas diversidade.
E que ela é uma de nossas maiores riquezas.

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