Sôbre esperança e mudança
A opinião pública mundial, de fora para dentro, empurrou Barack Obama para além dos negros e latinos norteamericanos que, com o apoio de um parcela da intelectualidade encantada com a perspectiva do novo.
A perspectiva do que Obama poderia representar – e não os atos que praticara ou praticaria – deu a ele o Prêmio Nobel da Paz, antes que retirasse um só soldado ou desarmasse uma única ogiva nuclear.
A crise de 2011 não tem um Obama.
Na verdade, os que protestaram na Europa, como os que protestam em número cada vez maior nos EUA, numa surpreendente sequência de manifestações, têm um grito aflito, não um projeto. Têm muito, muito mais princípios do que fins. Isso talvez seja sua maior carência e sua maior virtude.
Podem não ter uma perspectiva de poder. Mas são dissonantes, e isso é muito depois de tempos de fé na harmonia do capital como música do mundo.
Quando a prosperidade ruiu, em 2008, foi um choque. A nova onda da crise, não, não espanta. Não é um acidente de percurso, é a inviabilidade do “caminho único” do qual, mesmo depois do desastre, não se saiu.
Para nós, pode soar estranho que milhares de pessoas se reúnam nas ruas para pedir mais presença estatal e mais impostos. Mas não pode soar mais estranho isso aqui do que nos EUA.
A ordem e a lógica econômica e política do mundo ou se reformula, ou se reformula.
A esperança de 2008 perdeu-se por não mudá-la. A esperança de 2011 talvez não espere vencer, mas sabe que é preciso mudar.
*Tijolaço
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