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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Serra à beira de um ataque de nervos

Emparedado politicamente no PSDB e sem ter como verter seus rancores com Aécio, Alckmin e FHC, José Serra areganha os dentes para o governo e para o PT, em seu artigo, hoje, no Estadão.
Numa linguagem pra lá de agressiva, tenta comparar os episódios da Bahia e do Pinheirinho, o que é, já de plano, uma sandice. Primeiro, não se está invadindo com polícia a casa de quem está lá, quieto. Aliás, não se está invadindo nem mesmo a Assembléia tomada pelos policiais com o Exército. Embora não reflita, certamente, o ânimo da maioria dos policiais, a revelação de que o líder da manifestação – por sinal, alojado no PSDB -  dialogava com outro policial que ia “queimar carretas na BR” mostra a falta de equilíbrio que tomou conta do grupo dirigente do movimento, e nem assim se está ordenando uma invasão brutal como a de Pinheirinho, mesmo com mandados judiciais a cumprir.
Serra compara o movimento dos policiais baianos ao de policiais civis paulistas em seu Governo. Mas, naquela ocasião, o que se fazia senão uma passeata? Tomou-se a Assembléia paulista? Ninguém está pondo em questão o direito de qualquer categoria se manifestar, reivindicar.  E, felizmente, sem o comportamento tucano do “reustaure-se a ordem a qualquer preço”, a ocupação da Assembleia acaba de terminar, sem qualquer agressão ou violência estúpida.
Aí está a diferença, senhor Serra. A prudência, o limite, a falta de quer fazer do “prendo e arrebento” uma ferramenta de marketing político.
Daí, Serra descamba para os aeroportos, dizendo que tudo o que foi feito é o que ele desejava fazer. Ótimo, então porque o senhor não aplaude? Criticar a forma de concessão que preserva o controle público sobre o aeroporto de Viracopos? Como, se é esta a fórmula que, em 2008 (e não 2007, como é dito no artigo) estava em discussão? Não seria bom, também, informar aos seus leitores que houve um longo processo de desapropriação para permitir a expansão do aeroporto, que até 2010 sequer tinha as obras aprovadas pelo Governo de SP, como se vê nesta manifestação de seu auxliar e presidente dos tucanos paulistas, Alberto Goldman (na qual, aliás, ele defende que o “trem bala” fique restrito ao trecho paulista, excluindo o Rio de Janeiro).
Como já disse, pode-se discutir conveniência ou não da administração dos três aeroportos concedidos por grupos privados, mas não se pode mentir sobre fatos. Dizer que a concessão destes aeroportos foi “satanizada” pela candidata que o derrotou não corresponde aos fatos, porque ela o disse claramente na televisão. Podemos até não gostar disso, mas não manipular fatos.
Porque Serra termina seu destampatório dizendo ser  um dos que acredita que  “política também se faz com princípios, programa e coerência”.
E nós vimos, durante a campanha a que “princípios, programa e coerência” está ligado o comportamento de José Serra.
PS. Como sempre, nas manifestações de Serra, sobra para a blogosfera. Seríamos “como aquelas antigas claques de auditório, seguindo disciplinadamente as placas que alternam “aplaudir”, “silenciar” e ‘vaiar’ “. Ele não perdoa a internet por ter feito o “A privataria tucana”vencer o silêncio da grande mídia, que – ela, sim -  segue as plaquinhas a que ele se refere. Ou ele queria que, na internet, só o Reinaldo Azevedo falasse?
*Tijolaço

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