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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 22, 2012

Apolonio de Carvalho: Homenagem aos 100 anos de um libertário

 do Viomundo

 

Da Fundação Perseu Abramo
O Memorial da Resistência de São Paulo, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, apresenta a exposição Apolonio de Carvalho, a trajetória de um libertário. Composta por cerca de 30 painéis com fotos, documentos, cartazes e textos que percorrem a história de Apolonio de Carvalho (1912, Corumbá, Mato Grosso do Sul – Rio de Janeiro, RJ, 2005) desde a sua infância em Corumbá, passando pelos principais acontecimentos políticos e sociais do século 20, como a Insurreição de 1935, a Guerra Civil Espanhola, a Resistência Francesa contra o nazismo, a luta contra a ditadura militar, o exílio, a anistia e a reconstrução democrática no Brasil.
Esta mostra presta uma homenagem aos 100 anos de nascimento deste “internacionalista” cuja trajetória inclui as mais importantes lutas libertárias ocorridas no Brasil e na Europa no século XX, afirma Stela Grisotti, curadora da mostra.
Além dos painéis, o público poderá assistir trechos do documentário Vale a pena sonhar (2003), que traz uma seleção de imagens da Guerra Civil Espanhola e da Resistência Francesa, além de depoimentos de companheiros de luta de Apolonio de Carvalho. A direção do filme é da curadora da exposição, Stela Grisotti e Rudi Böhm.
Apolonio participou, desde a década de 30, das principais lutas políticas do Brasil e do Exterior. Sua trajetória foi marcada pela luta das causas sociais, na consolidação de um projeto democrático e socialista para o Brasil. Serviu o Exército Brasileiro, foi voluntário nas Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola, combatendo o fascismo entre 1937 e 1939, e, na França, foi coronel da Resistência na luta contra o nazismo na 2ª Guerra Mundial.
Nos anos 60, rompeu com o PC brasileiro e ajudou a fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Com a redemocratização, foi um dos primeiros a se filiar ao PT. Faleceu no dia 23 de setembro de 2005, aos 93 anos de idade, vítima de pneumonia.
Concebida originalmente para integrar a programação oficial do Ano do Brasil na França (2005), a exposição foi montada, pela primeira vez no Museu da Resistência e Deportação de Toulouse, cidade no sul da França libertada do domínio nazista sob o comando de Apolonio, em 1949. No Brasil, foi apresentada nas cidades do Rio de Janeiro (2007) e Recife (2008) com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Todos os materiais apresentados fazem parte de um amplo acervo reunido por Stela Grisottie Rudi Böhm para a elaboração do documentário Vale a pena sonhar – lançado há mais de sete anos. O material foi coletado em arquivos da França, da Espanha e do Brasil, além do depoimento do próprio Apolonio ainda em 2002.
Abaixo a programação completa. Renée France de Carvalho, lançando o livro Um vida de lutas, foi a companheira de Apolonio durante a vida inteira.

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