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Como dizia o amigo biltre: Aécio vice? Neves…
O PSDB erra ao insistir, a ponto de aparentar desespero, na esperança vã de ter Aécio Neves como vice de Serra. O meu amigo especialista em piadinhas biltres, anunciou aqui a negativa de Aécio ao convite, outrora discutida em O Recôncavo.
O PSDB não terá Aécio na vice. O mineiro, mais uma vez, recusou-se a ir para o sacrifício. Aécio, que teve o seu direito às prévias partidárias solenemente negado, deveria enlaçar o seu pescoço na forca, como prova de seu “patriotismo” e submissão à vontade partidária. Em resposta, Aécio Neves classificou de “piada” o que era petulância e acinte.
Agora o candidato a vice na chapa tucana, seja ele quem for, será içado à posição de “Plano B”, por obra e graça dos estrategistas tucanos e o indiscreto desespero em apresentar Aécio Neves como a salvação da lavoura oposicionista.
Se Aécio é a salvação, como acreditam os cardiais tucanos, sem ele, resta o purgatório.
Aécio Neves calcula, e com razão, que não tem nada a ganhar ao aceitar a candidatura à vice, principalmente estando Dilma Rousseff na liderança da corrida e com um teto de crescimento maior.
Aécio expõe o fato de que não confia em Serra. Não é possível existir acordo sem confiança. E não há lugar para dois líderes nacionais no PSDB. “Serra presidente, Aécio na penumbra”, reflete o mineiro. Ademais, a maior preocupação do sobrinho de Tancredo Neves é impulsionar a candidatura de seu candidato ao governo de Minas Gerais. Quem não manda em sua casa, não manda em lugar nenhum.
Graças à desastrada estratégia de “coagir” o ex-governador mineiro a aceitar a vice, o PSDB acabou por não ter vice nenhum. O partido terá, na melhor das hipóteses, um Plano B.
Quem será o Plano B do PSDB?
do Rodrigo Viana
Na história recente, um governante de um grande país fez acusações sem provas a outro país e, com base nelas, tomou medidas que posteriormente se mostraram desastrosas. Esse tipo de conduta de um chefe de Estado pode afundar uma nação, como se verá a seguir.
O governante em questão foi George Walker Bush, que acusou o Iraque de possuir “armas de destruição em massa” e, com base no que não podia provar, declarou guerra ao país, invadiu-o, assassinou centenas de milhares de inocentes e, de quebra, ainda afundou a economia americana e fez os Estados Unidos perderem o respeito do mundo.
Disse bem Dilma Rousseff, sobre a acusação que seu adversário José Serra fez ao governo Evo Morales de que este permitiria o tráfico de “cocaína” para o Brasil: “Estadista não faz acusação sem provas a outro país”.
Após Serra posar todo orgulhoso para fotos ao lado do “exterminador do futuro”, o dublê de ator e atual governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, pode-se ter uma idéia do tipo de relações internacionais que seriam construídas por um eventual governo tucano.
Mas que não se pense que os recentes ataques de Serra ao Mercosul, à Bolívia, à Venezuela e ao Irã são produto de suas convicções. Na verdade, o tucano busca agradar aos países ricos, sobretudo aos Estados Unidos, que, como se sabe, estão amplamente incomodados com o protagonismo brasileiro na cena internacional.
Ao fazer esse agrado às potências do norte – chamar Evo Morales de traficante soa como música à poderosa direita americana –, o candidato tucano calcula que terá o apoio delas para se eleger presidente. Mas resta saber quantos votos os governos do mundo rico têm por aqui…
Não, Serra não é louco, não. Ele sabe que ser o candidato do Primeiro Mundo pode lhe abrir financiamentos ilimitados de campanha, via laranjas dos estrangeiros aqui no Brasil, e que pode produzir um noticiário internacional francamente favorável à sua candidatura, gerando pressão nos agentes econômicos internos.
Ainda assim, em situação análoga a esta que o tucano tenta criar, ele perdeu as eleições de 2002 para Lula mesmo com o megaespeculador internacional George Soros dizendo a famosa frase “Serra ou o caos”, dando a entender que o mundo rico afundaria o Brasil se Lula ganhasse a eleição.
Tenho reportado cenas do script encenado em 2002 e em 2006 que estão sendo reprisadas em 2010, tais como fraude em pesquisas, processos do PSDB contra o instituto Sensus, a velha história de que Serra seria “mais preparado” do que o adversário etc. O tucano tentar se vender ao mundo rico como seu candidato a lhe entregar o Brasil, é só mais uma.
Ao fim do processo eleitoral deste ano, porém, tenho a mais absoluta certeza de que não teremos uma nova doutrina Bush versão Terceiro Mundo convulsionando a América Latina, com Serra comprando brigas com nossos vizinhos e entregando nossa economia aos ianques.
A doutrina Serra, que o próprio encena para as potências sedentas de saquearem o Brasil, é um filme velho e sem audiência. O Brasil está mais maduro, esperto e bem satisfeito com o rumo que tomou há oito anos. Não cairá mais nas vigarices renitentes do PSDB.
do Cidadania
A ‘GUERRA DAS MALVINAS' DE SERRA
O que há de comum entre: a) a ofensiva de Serra contra a Bolívia; b) a 'guerra das Malvinas', iniciada pela ditadura argentina em 1982; c) o 'Plano Cohen' -- falso levante comunista denunciado pelo integralismo em 1937, para justificar o golpe do Estado Novo; d) o 'Pacto ABC', inventado pela UDN em 1954, sobre suposta aliança Vargas-Perón para implantar um cinturão de repúblicas sindicais na AL; e) a 'Carta Brandi', forjada por Carlos Lacerda em 1955 como prova da ‘conspiração de caudilhos' para impor um poder sindical ao país'?
As obviedades dessa campanha são de cansar.
Serra dá o tiro na Bolívia. Aí a Veja aparece com a matéria prontinha, mostrando o perigo boliviano. Daqui a pouco vão ressuscitar os 200 mil guerrilheiros das FARCs que invadirão o Brasil pelo mar.
Agora, o Ruy Fabiano – contratado pela campanha de Serra – levanta a bola na coluna do Noblat, dizendo que graças à falta de ação do Itamarati, esse será uma das peças da campanha.
Onde esse pessoal está com a cabeça? Criaram um mundo circular em que meia dúzia de neocons falam para eles próprios sem se dar conta do entorno. É um autismo assustador. Montam toda uma encenação, articulam aqui e ali, Serra solta o rompante, a Veja repica a matéria, o Fabiano autoelogia o brilhantismo da estratégia do próprio grupo, todos rodopiando no meio do salão escuro, como nas velhas conspirações político-midiáticas, julgando que ninguém está acompanhando o bailado.
E a Internet inteira olhando aquele bailado louco e se indagando: o que deu neles? Montam toda uma encenação, supondo-a esperta, para um tema que só encontra ressonância em eleitores de ultradireita e nos órfãos de Sierra Maestra.
Cada vez que acompanho discussões sobre Cuba, Venezuela, Bolívia, guerra fria, aliás, dá um desânimo danado. São temas não apenas distantes da vida comum, do dia a dia real das pessoas, como da própria realidade política atual do país. É restrito a um mundico de nada na Internet, apenas isso. A importância desse tema é assegurar, no longo prazo, a consolidação de uma integração comercial e física da América Latina, algo que vai muito além das discussões de campanha.
Pode-se criticar pontualmente o Itamarati por uma ou outra atitude – quando, por exemplo, houve a expropriação de empresas brasileiras na Bolívia. Ou pela demora em se avançar na integração continental. Ou pode-se elogiar, sustentando que essa política cautelosa foi importante para garantir a estabilidade política da região, ameaçada pelos arroubos de Chávez e pela inexperiência de Morales.
Mas são discussões específicas, longe de configurar uma doutrina capaz de sensibilizar eleitores.
Em relação ao Mercosul, Serra repete os mesmos discursos dos anos 90, quando questionou o acordo automotivo com a Argentina. Em relação à Bolívia, retrocede ao período da Guerra Fria. Não conseguiu avançar uma análise minimamente diferenciada. É como se tivesse hibernado por 15 anos das discussões nacionais e acordado de repente.
E tudo para garantir o factóide da próxima semana, a próxima chamada de capa de Veja.
Não há a menor preocupação em definir um conjunto articulado de ideias e conceitos. É o que em jornalismo se chama de “o mancheteiro”, o sujeito capaz de extrair um slogan de uma matéria mas incapaz de escrever o artigo de fundo.
O resultado é patético.
Junto à centro-esquerda tornou-se uma caricatura. Quando cruzo com algum antigo militante do PSDB de Montoro e Covas, recebo olhares irônicos, tipo «em que fomos nos meter». Junto aos neocons, sempre será apenas um oportunista que quer embarcar na onda sem nunca ter pertencido ao grupo.
O resultado de tudo isso é o suicídio político de Serra. Terminada a aventura das eleições, haverá uma reconstrução da oposição. E, hoje em dia, sobram dúvidas sobre a viabilidade do PSDB de continuar comandando as oposições. As loucuras desse estilo neocon desvairado, a truculência nos ataques a adversários e a aliados, o uso de jornalistas cúmplices para atacar colegas, não apenas comprometeram a eleição de Serra, mas a própria viabilidade do PSDB como líder da nova oposição.
Será um duro trabalho de reconstrução da imagem do partido.
do Luis Nassif