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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

Bomba! Bomba!: Descoberta a localização do Éden

do Informação Incorrecta
À procura do Paraíso

Prólogo
Querido Leitor, hoje é dia de fiesta!
Em Portugal festeja-se a Revolução dos Cravos.
Em Italia festeja-se o Dia da Libertação.
No mundo festeja-se o segundo aniversário de Informação Incorrecta.
Por isso decidi conceder-me uma prenda. Hoje nada de artigos politico-economico-financeiro-globalista-terrorista-reflexivo-sociais. Só um artigo, comprido, que nada tem a ver com o blog. Amanhã voltaremos com as desgraças do costume.
É a minha prenda. Tenha paciência. E, como consolação, pense que o próximo aniversário do blog será só daqui a 12 meses.
Boa leitura.
O Paraíso Perdido
Proponho ao Leitor uma curta viagem à procura de algo que foi perdido.
Ponha de lado os problemas, que são muitos, conceda-se alguns minutos de descanso e venha comigo: temos que encontrar o Paraíso.
Sério, não estou a brincar. Falo do Paraíso, o verdadeiro, o Éden.
O quê? Não existe? É apenas um mito?
Coitado do Leitor, os problemas são mesmo muitos, não é? Vê-se.
Até poucas décadas atrás era normal acreditar no Paraíso, no Inferno e no Purgatório. Depois tudo mudou: agora o Leitor já não acredita. Acredita na dívida pública, mas não no Paraíso. Grande troca.
Venha comigo, confie: na pior das hipóteses, será um pouco de descontracção.
Pastores, ovelhas e Big Bang
Conhece a Bíblia? Conhece sim, é o livro mais difundido do mundo. Mas fique descansado, não vou tentar converte-lo. Nada de religião aqui, apenas História.
A primeira parte da Bíblia tem um nome, Velho Testamento, acerca do qual não muito se sabe: é um conjunto de escritos que reportam tradições muito antigas, velhas de milhares de anos em alguns casos. E isso é interessante na nossa procura.
O conceito de História como ciência é bastante recente: ao longo de muito tempo os acontecimentos passados eram transmitidos não com livros e imagens mas com a memória e as palavras.
Agora, imagine o Leitor estar num grupo de pastores, no meio do deserto, algumas centenas de anos antes de Cristo. O Leitor é o convidado de honra pois, enquanto pessoa culta (prova: lê Informação Incorrecta), prometeu explicar algumas coisas acerca do passado remoto. São histórias, e os pastores gostam de ouvir histórias.
Então o Leitor levanta-se, aproxima-se da fogueira e começa: "Meus senhores, há muito tempo não havia nada. Depois aconteceu o Big Bang".
"O quê?"
"O Big Bang, a grande explosão"
"Ahhh...e que explodiu se não havia nada?"
"...ok, recomecemos, pode ser? Então, uma vez havia um átomo..."
"Um quê?"
"Um átomo: a coisa mais pequena que é possível observar"
"Ah, uma pulga"
"Não, não uma pulga. Senhores, a matéria toda é feita de átomos, percebem?"
"..."
"...ok, esqueçam o átomo...então, um dia a Terra formou-se...
"E quem a fez?"
"Ninguém, formou-se sozinha"
"Sozinha?"
"Sim, foi a agregação das rochas que havia no espaço"
"Qual espaço?"
"Aquilo" e indica o céu.
"Eu não vejo rocha nenhuma, e tu José?" "Nem eu...certeza que estavam la em cima?"
Ó Leitor, espere um pouco: você tenta explicar a formação do mundo com os conhecimentos actuais? A um grupo de pastores da antiguidade que passam a vida a falar com as ovelhas? Leitor, faça o favor: encontre algo mais simples...
"Tudo bem...No princípio havia o nada. E Deus disse: -Grande seca, todo o dia sozinho, fogo...-. Então criou o mundo"
"Epa, grande história essa! Continue, continue..."
Exacto, Leitor, os meus parabéns: assim a história era transmitida nos tempos antigos: sob forma de mitos, de contos. Em todo o mundo os antigos povos tinham os próprios mitos: eram histórias simples, que qualquer um podia entender sem esforço.
E foi assim também que foi transmitido o Antigo Testamento.
Agora, pensemos nisso: ao longo dos séculos estes contos foram modificados, adaptados, e isso por várias razões, muitas vezes de carácter político ou religioso. Mas eram mitos que tinham algo no fundo, traços de verdade, peças da História original.
O Dilúvio e o sapo australiano
Por exemplo: o Leitor conhece sem dúvida a história de Noé, da arca e do Dilúvio, certo? Esta história não é exclusiva do Antigo Testamento, muitos povos antigos tinham contos iguais, cada um com o seu Noé.
Só para ter uma ideia, o Dilúvio aparecia nas tradições dos povos:
  • da Escandinávia: com Bergelmir e família que fogem num barco enquanto o resto da humanidade morre.
  • da Mesopotâmia: com Utanapishtim que foi ajudado pelo deus Ea na construção dum navio com o qual sobreviveu ao dilóvio
  • da Índia: Manu constrói um barco que acaba na Montanha do Norte. Azarado, Manu salva-se sozinho, mas um ano depois é criada uma mulher.
das Ilhas Andamane: o deus Puluga envia o dilúvio ao qual sobrevivem apenas dois casais com as canoas deles.
  • da Indonésia: o deus Batara-Guru salva a filha com uma montanha no meio do dilúvio provocado pelo serpente Naga-Padoha.
  • da Malásia, duas versões:
versão Jakun , com o deus Pirman que provoca um dilúvio e salva um único casal num barco
versão Temuan, com os deuses que se fartam dos pecados dos homens e com um dilúvio matam todos: só um casal consegue subir a árvore no topo da montanha Gunung Raja e sobreviver
  • da Nova Zelândia: Ruatapu chamou os deuses do mar para afogar os homens, mas Kahutia-te-rangi invocou as baleias que salvaram o desgraçado. Kahutia-te-rangi foi o único a sobreviver ao dilúvio, por isso não é claro como a raça humana foi gerada a seguir...

  • da Polinésia: o deus Ruahato ficou enervado quando dois pescadores perturbaram o sono dele. Ruahato, um tipo calmo, decidiu matar todos o homens, mas os dois pescadores com a famílias foram os únicos sobreviventes, na única pequena ilha que não desapareceu nas águas (tinha sido o mesmo Ruahato a indicar-lhes a ilha, pelo que este deus parece ter ideias um pouco confusas). Existem mitos parecidos em Tahiti e as ilhas Hawai também.
  • da América do Norte: na tradição Mikmak, o deus criador ficou enervado com a violência dos homens, então pensou matar todos com as águas; só um casal sobreviveu numa canoa.
  • Na tradição Caddo, um deus decidiu matar quatro monstros com um dilúvio, coisa que matou todos os homens também: única excepção um casal que, alertado pelo mesmo deus, salvou-se no topo duma enorme cana.
  • Na tradição dos Hopi: o deus Sotuknag fartou-se dos homens pecadores e enviou o dilúvio: só alguns indivíduos sobreviveram ajudados pela Mulher Aranha que conseguiu esconde-los no interior de canoas (pormenor que será a felicidade de quem acredita em Atlântida: os sobreviventes viajaram em direcção norte-leste até alcançar o Quarto Mundo; uma vez chegados, as antigas terras desapareceram para sempre nas águas).
  • da América do Sul: no Código Borgia (Azteca) a era antes da nossa tinha acabado com um dilúvio enviado pela deusa Chalchitlicue.
  • Na mitologia Inca, o deus Viracocha destruiu com um dilúvio os gigantes, tendo havido só dois sobreviventes (que repovoaram a Terra).
  • Na mitologia Maya o dilúvio é enviado pelo deus Huracan.
  • Na mitologia Mapuche (lenda de Trenten Vilu e Caicai Vilu) foi uma luta entre duas serpentes que desencadeou o Dilúvio.
  • Na mitologia Muisca o deus Chibchaún provocou o dilúvio.

E seria possível continuar: há um dilúvio da Antiga Grécia, a lenda de Ziusudra (Suméria), as tradições chinesas (muitas)...mas a melhor versão acho ser a australiana.
De acordo com as tradições dos aborígenes, durante a era dos grandes sonhos um sapo bebeu toda a água do mundo e começou uma grande seca. A única maneira de acabar com a seca era fazer o sapo rir. Tentaram animais de toda a Austrália, mas sem sucesso.
Quando chegou a enguia, o sapo acordou, o corpo gigantesco tremeu e, finalmente soltou uma gargalhada que soou como um trovão. A água explodiu da sua boca e tornou-se uma grande inundação, que preencheu todos os rios e cobriu a terra. Somente as mais altas montanhas eram visíveis, como ilhas no mar.
Muitos homens e animais morreram. Os pelicanos, que na época eram completamente negros, pintaram-se com argila branca e foram de ilha em ilha numa grande canoa para salvar os outros animais. Desde então, o pelicano é preto e branco em memória do grande dilúvio.
Engraçada, não é?
Bom, mas voltemos ao que interessa. Este breve resumo demonstra que o mito do Dilúvio não é só um exclusivo da Bíblia e, provavelmente, estes contos todos escondem um (ou mais) acontecimento que interessou o planeta: pode ter sido a queda dum asteróide no mar (tsunami), o repentino aquecimento dos Polos ou outra coisa ainda. O facto é que os pesquisadores parecem concordar, algo se passou e foi transmitido de forma simples (acerca da zona europeia e médio-oriental é possível procurar no Google: teoria William Ryan e Walter Pitman, Bósforo, inundação do Mar Negro).
Portanto, querido Leitor, veja as coisas desta forma: se isso aconteceu com o Dilúvio, poderia ter acontecido com outros episódios bíblicos? Por exemplo: o Paraíso. Porquê não?
Göbekli Tepe, perto do céu
No artigo Göbekli Tepe: a História reescrita do passado Setembro, falámos das escavações arqueológicas da localidade turca, lembra-se? Não se lembra? Então eu escrevo para quê, para o boneco? Realmente...
Tudo bem, breve resumo: em 1964, uma equipa de arqueólogos turcos e americanos notou uma colina de aspecto anómalo, no topo do monte Göbekli Tepe (em turco: o Monte com a Barriga), perto da fronteira com a Síria. Pensaram: "Ah, sim, deve ser um cemitério bizantino, nada que interesse, vamos beber uma cervejola que está calor".
Acontece.
Trinta anos mais tarde, em 1994, um pastor estava com as suas ovelhas na mesma localidade quando decidiu sentar-se para descansar.
Uma das ovelhas disse ao pastor: "Olha la, não viste onde te sentaste?"
"É uma pedra, vai pastar e não te preocupes, vai..."
"Ó atordoado, não vês que é parte do muro dum templo, uma descoberta que irá revolucionar os conhecimentos arqueológicos de todo o mundo?"
E a ovelha tinha razão. Mais logo o pastor chamou as autoridades que, sob a direcção da ovelha, começaram as escavações.
Göbekli Tepe é de facto um sítio excepcional, que manterá empenhadas gerações de arqueólogos. O que antes era dado como certo, com Göbekli Tepe fica apagado.
Antes pensava-se que naquela altura o Homem vivesse em grutas.
Antes pensava-se que determinados conhecimentos arquitectónicos tivessem surgido 6.000 anos mais tarde.
Antes pensava-se que uma sociedade de caçador-recolectores não tivesse uma estrutura social complexa.
Antes pensava-se que as várias tribos vivessem de forma independente, como nómadas, sempre à procura de territórios de caça, atrás dos animais selvagens.
Göbekli Tepe, simplesmente, demonstra que estas hipóteses estavam erradas, todas. A verdadeira História é completamente diferente.
Pensará o Leitor: "Mas que tudo isso tem a ver com o Paraíso, eh?"
Pergunta legítima, mas tenha calma, agora vou explicar.
Pegamos num mapa e observamos: onde fica Göbekli Tepe? Fica na Turquia, perto da fronteira com a Síria.
"Grande coisa!" diz o Leitor, que evidentemente tem mau feitio. Calma, já disse, observe melhor: Göbekli Tepe fica na parte setentrional do Crescente Fértil, uma zona particularmente importante do ponto de vista histórico pois foi aqui que surgiram (provavelmente) as primeiras civilizações, foi aqui que o Homem descobriu (provavelmente) a agricultura. Foi o começo da sociedade.
"Mas o que são todos aqueles provavelmente, eh?"
Calma, Leitor, calma: lembre que falamos de arqueologia, que é uma ciência. E as teorias científicas valem até a próxima descoberta. Todavia duma coisa estamos certos: o Crescente Fértil era realmente fértil.
E fértil não apenas no sentido de que era fácil de trabalhar pelos agricultores: fértil porque o trigo, por exemplo, crescia de forma espontânea e abundante. Mas não apenas trigo: muito mais do que isso. Era uma região com um clima particularmente propício.
Uma região onde era suficiente estender o braço para recolher. Literalmente.
Os povos que habitavam tal zona deviam só recolher o trigo e armazena-lo: o resto era só complementar a dieta ao longo do resto do ano com a caça, numa região onde os animais selvagens não faltavam e os seres humanos eram ainda poucos.
Havia einkorn (o ancestral do trigo moderno), cevada, linho, grão de bico, ervilhas, lentilhas; ovelhas, vacas, cabras, porcos e cães. Faltava só o iPhone. 
Assim: comida fácil, água, presas abundantes, tudo num clima ameno e com poucas pessoas. Era ou não um Paraíso?
De facto era. Mas as coisas mudaram. E, ao que parece, com uma certa rapidez.
Não sabemos ao certo o que aconteceu. Alguns afirmam que a desflorestação provocada pelo Homem mudou o clima, cúmplice o crescimento demográfico e uma maior procura de recursos. Mas parece uma teoria que, sozinha, não consegue explicar tudo.
Há um natural processo de salinização da região, mas também neste caso não pode ter sido o único factor.
Por fim há razões climatéricas: Göbekli Tepe, por exemplo, surgiu enquanto o gelo da última glaciação começava a recuar na Europa, portanto era uma época de "transição", antes da região assumir o clima actual.
Provavelmente, como muitas vezes acontece, não houve uma única razão, mas um conjunto delas. Entre as quais particular importância pode ter tido o clima, que mudou para sempre o perfil do Crescente Fértil. Ainda hoje a zona é rica, mas depende das regas e da exploração dos rios: a maior parte da área é árida.
Os povos do Crescente Fértil tiveram que mudar o estilo de vida. O que antes era um campo de trigo espontâneo, agora era uma extensão de pedras. Tudo, lembramos, em tempos breves de alguma forma.
Alguns decidiram abandonar o local e procurar outras soluções: e a Europa conheceu uma vaga de imigração.
Outros ficaram na região, perto dos rios, e desenvolveram técnicas de irrigação para preservar as terras.
Mas a lembrança dos bons tempos idos não desapareceu. E tornou-se um mito.
Quatro rios
Lembre o Leitor o Antigo Testamento:
Flumen autem prodibat ex Eden, et irrigabat paradisum: quod inde dividitur in quatuor partes. Nomen uni Phison; hoc est quod circuit totam terram Evilath, ibi est aurum, aurum autem terrae illius optimum; ibi est carbunculus et lapis prasinus. Et nomen secundi fluminis Geon; hoc circuit totam terram Aethiopiae. Et flumen tertium Tigris; hoc est quod vadit contra Assyrios. Et flumen quartum dicitur Euphrates. Et sumpsit Dominus Deus hominem quem fecerat, et posuit eum in paradiso, ut operaretur ibi, et custodiret eum. 
Traduzido:
O paraíso era regado pelo rio que saia do Éden; que a partir daí era dividido em quatro partes. O nome de um é Phison: este é aquele que penetra na terra de Evilath, onde há ouro. [...] E o nome do segundo rio é Giom; que percorre toda a terra da Etiópia. E o terceiro rio, o Tigre, é o que vai entre os Assírios. E o quarto rio é o Eufrates.
Agora pegue o Leitor no mapa. Pegado? Poderia ter evitado, pois o mapa está mais abaixo. E podemos ver como Göbekli Tepe ficque entre o Tigre e o Eufrates, dois dos rios que circundavam o Paraíso. Interessante, não é? Mas há mais.
A Bíblia fala de dois outros rios, o Phison, que corre na terra de Evilath, e o Giom, na Etiópia.
Individuar estes dois rios é complicado, pois estes são os nomes pelos quais o povo hebreu conhecia os cursos de água.
O Phison já foi identificado com muitos rios: o Ganges, o Nilo e outros ainda. Mas a Bíblia é clara neste aspecto: fala de um "rio que saía do Éden; que a partir daí era dividido em quatro partes". Nada de rios que circundam o Éden, mas um rio que, após ter saído, dividia-se em quatro partes.
Isso exclui um curso de água nascido numa zona que não seja o altiplano da Anatólia. O problema, portanto, é agora individuar os actuais nomes do Phison e do Giom.
Quanto ao primeiro rio, uma pesquisa nos livros dos séculos passados podem ajudar.
Giuseppe Cappelletti, historiador italiano que teve a oportunidade de viajar muito na região da Arménia, publicou em 1841 o livro L'Armenia (A Arménia, Firenze, 1841), obra baseada nas experiência pessoais e no estudo dos trabalhos de San Narsete, do historiador arménio do V século Eliseo e do colega deste, sempre do V século, Mosé de Corene.
Cappelletti assim explica que segundo a tradição foi Moses que mudou para os hebraicos os nomes destes dois rios: o Giom (do hebraico Gehon, "correr rapidamente") foi assim ré-baptizado e, na Bíblia, perdeu a denominação original de Arasse (também Arax e Araxes).
Da mesma forma, o termo Phison substituiu o original Zorók (ou Giorók), rio hoje em território turco. Localização, esta, também confirmada na pouco conhecida "Carta de Jerónimo", do séc. XII, onde se fala da Arménia como da região "da qual nascem os rios Fison, Tigre [...]".
Diz o Sagaz Leitor: "Mas não será uma localização arbitrária?".
Muito bem, Leitor, muito bem. Mas não volte a contradizer-me, tá bom?
E lembre que o Monte Ararat, onde posou-se a Arca após o Dilúvio, fica na mesma zona. Interessante este pormenor: segundo a Bíblia, com o Dilúvio Deus escolheu uma "segundo início" pela Humanidade e onde decidiu recomeçar? Na Arménia, onde nascem os quatro rios do Éden. Nada mal como simbologia...
Doutro lado, a Arménia (nome com o qual era conhecida uma ampla zona da Anatólia oriental, maior do que o homónimo Estado moderno) é o lugar onde o mesmo Noé passou boa parte da vida após o cruzeiro.
O Paraíso!
Se aceitarmos as explicações de Cappelletti, temos um quadro interessante: uma região, na actual península da Anatólia, da qual partiam quatro rios Tigre, Eufrate, Phison e Giom. E o nome desta região era Éden.
No mapa, estilizados, os cursos dos rios Eufrate, Tigre, Zorók, Giom, mas a localização de Gobekli Tepe e, no quadrado verde, a possível localização do Paraíso.
Visto, Leitor? Encontrámos o Paraíso. Afinal nem foi assim complicado.
Só como curiosidade: o que há hoje no meio naquela zona? A árvore do Bem e do Mal?

Sensivelmente no meio do quadrado encontramos a cidade de Erzurum, a antiga Arzem romana. A cidade, com mais de 300 mil habitantes, pode ser vista na imagem à direita.
Ok, não será o Paraíso tal como o Leitor o tinha imaginado, mas enfim, é o que há...
"E onde fica a árvore da maçãs?". Ah, pois, a árvore da maçã...olhe, querido Leitor, deve ser aquele à direita, tem mesmo cara de árvore de maçã.
"Mas será mesmo esta a zona do Éden?"
Ninguém pode afirmar isso ao certo. Mas gosto muito da hipótese.
Desta forma, o Paraíso deixa de ser um lugar totalmente inventado e as primeiras linhas da Bíblia passam a descrever a aventura humana no começo da actual civilização: uma terra rica, que sustenta sem problemas as pequenas tribos de caçadores-recolectores. Tudo, óbvio, narrado de forma simples, facilmente compreensível por quem nem sabia ler ou escrever: uma história fascinante para ser contada à volta das fogueiras, nas frias noites do deserto.
Göbekli Tepe faz ainda mais sentido, pois encontrava-se mesmo ai, ao lado do "Éden". Não admira que os habitantes tivessem decidido erigir um templo, afinal eram realmente abençoados.
Claro está, difícil concordar com esta ideia.
O Leitor crente encontrará dificuldade em identificar esta região tão "terrena" com o jardim das maravilhas descrito na Bíblia, enquanto o Leitor não crente continuará a ver na Bíblia um livro de fantasias, sem ligações com a realidade.
Pouco importa: com ou sem Éden, esta foi uma zona realmente e profundamente especial.
Aqui, na parte do Crescente Fértil que confina com o "Paraíso", o Homem aprendeu as primeiras técnicas da agricultura, experimentou a criação, explorou os rudimentos da arquitectura.
Foi uma época fundamental para a nossa espécie.
E mais: uma época que deixou um legado. Fica ainda mais claro que o Homem não pode viver sem tomar em conta quanto a raça humana dependa do ambiente. E quanto este ambiente seja precário: o que um tempo era uma das zonas mais fértil do mundo é hoje uma terra árida, onde os homens têm que trabalhar duramente para alimentar os campos e deles conseguir nutrimento.
Na maçã proibida podemos encontrar a metáfora duma Natureza que nunca deixa de estabelecer qual o nosso rumo.
Para os pastores do deserto tinha sido culpa de Eva; hoje podemos ler nas entrelinhas e perceber que um ciclo tinha chegado ao fim e que o Homem tinha que adaptar-se perante a nova realidade ou morrer.
Afinal, a escolha é sempre nossa.
Ipse dixit.
Fontes: ehm...fontes havia, e muitas: mas fechei os separadores do navegador antes de tomar nota. Acontece. Doutro lado a lista teria sido muito extensa: o assunto aqui tratado é algo que empenhou (e ainda empenha) pesquisadores ao longo dos séculos; o material consultado foi muito e tentei condensa-lo.
Infelizmente cada resumo implica a ocultação de pormenores, com os quais o texto teria assumido proporções...bíblicas! Mesmo assim, se o Leitor estiver interessado, é simples efectuar uma pesquisa com Google e material não faltará.
*GilsonSampaio

A Revolução dos Cravos: “Foi bonita a festa, pá!”


Revolução dos Cravos - 25 de AbrilMúsicas e flores marcaram no 25 de abril de 1974 aquela que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos.
Às 23h do dia 24, o locutor das Emissoras Associadas anunciou a canção “E depois do Adeus”. Era a senha para o décimo Grupo de Comando tomar a RádioClube Portugal (RCP). E a meia-noite e meia, a Rádio Renascença tocou “Grandola, vila morena, terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade”! Era a senha para as demais ações militares que vieram a seguir: ocupação da Central Telefônica, dos ministérios, da Rádio e Televisão Portuguesa (RTP).
Quando o sol já brilhava, os capitães de abril tomaram o Banco de Portugal e logo chegaram ao Quartel do Carmo, onde se refugiara Marcello Caetano, primeiro-ministro que sucedeu o arquifascista general Antônio de Oliveira Salazar. Caía quase meio século (48 anos) de ferrenha ditadura.
Não houve resistência. Os tanques passearam pelas ruas até os pontos estratégicos que deveriam ser ocupados. Até paravam nos sinais vermelhos e o povo, que se aglomerou para apoiar e aplaudir, distribuía flores com os soldados, os famosos cravos que enfeitaram os fuzis e se tornaram símbolo do movimento revolucionário. O 25 de abril não entusiasmou apenas o povo português, mas as forças populares do mundo inteiro. No Brasil, por vivermos ainda uma ditadura militar do mesmo quilate da portuguesa, e pela ligação histórica Brasil-Portugal, ele foi saudado com muito entusiasmo. Chico Buarque, com sua música denunciadora e profética, escreveu: “Sei que estás em festa, pá! Fico contente e enquanto estou ausente, guarda um cravo para mim” (Tanto Mar).
Mas para entendermos o levante vitorioso de abril e os fatos que ocorreram a seguir precisamos recuar bastante no tempo. Paciência, que na história humana nada acontece por acaso.
De dominado a dominador
Portugal formou-se provavelmente na Idade do Bronze (2.000 a.C.- 8.000 a.C.), quando povos de origens diversas, em fluxo migratório, pararam diante do mar na Península Ibérica e se miscigenaram. Depois vieram as invasões, sucessivamente dos romanos, bárbaros e muçulmanos.
Não há uma data que marque a independência do território português e sua constituição enquanto nação soberana. Foi um processo que se deu a partir do século XII. Há historiadores que identificam como momento decisivo as batalhas de 1383/1385, que tiveram ampla participação popular e derrotaram definitivamente os exércitos de Castela (Espanha).
Os portugueses desenvolveram no litoral intensa atividade pesqueira e aprenderam muito bem a arte da navegação. Já em 1415, realizou-se a 1ª expedição ao norte da África, conquistando Ceuta,  porta de entrada para uma região rica em cereais. A busca de novas terras é vista como forma de solucionar os graves problemas econômicos que atingem o país: desorganização da sociedade rural, domínio da burguesia comercial, expansão da economia europeia e de seu mercado consumidor. Para o povo português, representava também a oportunidade de emigrar para conseguir riqueza em outras terras.
Em 1448, as expedições chegaram à Índia, firmando Portugal como potência naval e comercial. Portugal, entretanto ,não investiu os lucros obtidos no desenvolvimento industrial, tornando-se um entreposto comercial da Europa e constituiu-se enquanto império periférico, mantendo uma relação de dependência com o seu principal cliente, a Inglaterra. Quando se consolida a Revolução Francesa e a França passa a disputar com os ingleses a supremacia no continente europeu, Portugal está inteiramente alinhado com a Inglaterra, com quem mantém intenso comércio com base na produção agrícola brasileira.
O declínio do império
Em 1807, as tropas francesas (napoleônicas) invadem Portugal e a Corte se refugiou no Brasil, vivendo o império português a sua 1ª grande crise.
Com a derrota de Napoleão (1814), Portugal passou a ser governado por uma Junta de Governadores que recebia instruções do Rio. A Corte permaneceu no Brasil até 1820 quando se deu a revolução do Porto, que reduziu os poderes do rei, estabelecendo uma monarquia constitucional, e exigiu o retorno do Dom João VI.
A emancipação do Brasil (1822) destruiu os pilares do comércio português. Para compensar as perdas, o império volta-se para suas colônias na África.
Com escassa industrialização e extrema dependência dos mercados externos a crise se agrava a cada dia. Incapaz de solucioná-las, a monarquia abre espaço para a articulação republicana, que unia setores médios (intelectualidade, militares) e setores das massas urbanas.
A república foi proclamada em 5 de outubro de 1910, por meio de um golpe de Estado, desencadeado a partir de um atentado que vitimou o rei, D. Carlos e o príncipe Luís Felipe, herdeiro do trono.
A era republicana começa com a disseminação das greves operárias contra o alto custo de vida e os baixos salários. O novo regime respondeu com uma lei de greve patronal e com repressão ao movimento. A classe operária foi posta à margem da vida republicana, uma vez que sua proclamação fora obra das elites, fazendo apenas circular o governo entre frações das classes dominantes. A primeira república durou até 1926, quando um golpe militar pôs fim à instabilidade política.
Em 1928, o Governo do general Carmona convidou para pôr ordem na economia um professor da Universidade de Coimbra, Antônio Oliveira Salazar. Este acabou assumindo a chefia do Estado. Com a implantação de rigorosa ortodoxia econômica e implacável repressão política, o salazarismo unificou as classes dominantes e impôs uma ditadura de quase meio século (48 anos).
A relação da ditadura salazarista com as Forças Armadas nunca foi tranqüila, especialmente após a Reforma Militar de 1937, que subordinou a instituição militar ao chefe do executivo (Salazar). Várias conjuras militares aconteceram e foram derrotadas nos anos 50 e 60.
No meio popular, a luta se desenvolvia em rigorosa clandestinidade. A repressão dizimou centenas de quadros do Partido Comunista Português (PCP) e de outras organizações de esquerda.
A queda do salazarismo começou na África com a derrocada do que restava do império colonial português. A exploração econômica já não compensava mais os custos sempre crescentes que o Estado português tinha de fazer para enfrentaras guerrilhas de libertação nacional que impunham cada vez mais derrotas ao império, especialmente em Moçambique, Angola, e Guiné-Bissau. Em 24 de setembro de 1973, foi proclamada a independência da Guiné, com o reconhecimento diplomático de 86 países, fato que demonstrou o isolamento da ditadura colonialista portuguesa, a essa altura já condenada pela ONU.
A relação deficitária entre a metrópole e as colônias africanas aguçou a crise econômica interna e a insatisfação popular com o regime e o colonialismo, identificados como responsáveis pelo desemprego, os baixos salários e o esvaziamento do campo. Apesar da ditadura, os trabalhadores não deixaram de lutar e se organizar, criando as comissões clandestinas nos locais de trabalho e intervindo também nos sindicatos oficiais. No seio das Forças Armadas, o descontentamento crescia diante da redução dos gastos, a contabilização de milhares de soldados mortos no continente africano e a certeza que se instalava entre os oficiais de que seria impossível uma vitória militar.
O falecimento de Salazar em 1968, substituído por Marcello Caetano, ex-reitor da Universidade de Lisboa, não alterou o quadro.
A década de 1970 se inicia com o impulso das lutas operárias, especialmente a partir da 1ª metade de 1973. Daí, até abril de 1974, mais de cem mil trabalhadores participaram de greves nos centros industriais, nas grandes, pequenas e médias empresas e nas zonas agrícolas de Alentejo e Ribatejo. Numerosos sindicatos se libertaram de direções pelegas, havia um movimento em ascensão, que preparava um grande ato público para o 1º de maio em Lisboa e outros centros do país, marcando uma jornada de lutas por melhores salários, contra a carestia, mas também por liberdades democráticas,contra as guerras coloniais, por independência e paz. Por seu lado, o governo fascista articulava uma operação preventiva que no dia 30 de abril levaria para a prisão ativistas sindicais e populares. Não teve tempo.
Os capitães de abril
Em 9 de setembro de 1973, numa chácara nos arredores de Évora, nasceu o Movimento dos Capitães ou Movimento das Forças Armadas (MFA), que propunha o fim do colonialismo e a democratização da sociedade portuguesa.
Setores mais conservadores das Forças Armadas planejaram tomar a bandeira dos capitães. Para isso, o general Antônio Spínola lança o livro Portugal e o Futuro em que defende a independência progressiva das colônias e sua união em uma “comunidade lusíada”, com a realização de eleições democráticas.
Os dois grupos acabam se compondo. Isto garantiu, por um lado, a neutralidade do alto oficialato, permitindo uma ação incruenta, mas por outro, exigiu concessões no programa político, como explicou o major Otelo Saraiva de Carvalho: “O General (Spínola) travava o movimento de abril; os oficiais do movimento acertaram o programa com o general porque precisavam dele. Então foram feitas muitas concessões. O programa não saiu como queríamos” (JB, 11/10/74)
Avanços e Recuos
A ação militar vitoriosa de 25 de abril não foi articulada com o movimento de massas, mas incorporou em parte seus anseios. Por isso, foi defendida e apoiada, como relatamos no início, e mais ainda, no Dia do Trabalho. “Foi o maior dos maios. Só possível por causa de abril. Ali estiveram quase um milhão de portugueses, sem contar com as muitas centenas de milhares que estiveram no Porto, Braga, Aveiro, Coimbra, Santarém, Barreiro, Alentejo e outras centenas de localidades… A palavra de ordem era “O povo, unido, jamais será vencido”. As exigências eram o fim da guerra colonial, a restauração das liberdades democráticas e a justiça social”.
O primeiro Governo Provisório, pós-abril, contemplou todas as forças, sendo palco de disputas e contradições, mas tomou medidas importantes: congelamento de preços dos bens de primeira necessidade, instituição do salário mínimo nacional, reconhecimento do direito de greve e associação. Depois de uma tentativa de golpe direitista em 11 de março de 1975, Spínola renunciou à presidência e Vasco Gonçalves assumiu a chefiado Conselho de Ministros.
A esquerda assume o comando da Revolução. O novo governo toma medidas que implicam profundas mudanças econômico-sociais: estatização dos bancos e setores estratégicos da economia como energia, telecomunicações e transporte, além da construção civil, regulamentação do mercado, realização da reforma agrária no Alentejo e no Ribatejo.
O patronato promove sabotagens, desorganiza a atividade econômica, enquanto o Movimento Operário, apesar de não se desmobilizar, reduz o número de greves. Isso ocorre, segundo Álvaro Cunhal, secretário Geral do Partido Comunista Português (PCP), em razão da “elevada consciência política da classe operária e dos demais trabalhadores”.
Enquanto isso, no interior das Forças Armadas, a direita se articula. Um grupo de oficiais elabora o documento dos nove em que condena o radicalismo. Em 2 de setembro de 1975, uma assembleia do MFA define que a presença de Vasco Gonçalves no governo é incompatível com a coesão das Forças Armadas. Vasco é demitido.
Em 25 de novembro de 1975, um grupo de pára-quedistas se subleva, num episódio que nunca foi devidamente esclarecido. Adireita caracterizou-o como insurreição de esquerda para tomar o poder. Mas a esquerda define-o como manobra da direita para justificar a direitização do regime. O fato é que o 25 de novembro marcou a exclusão da esquerda do MFA. Oficiais e soldados considerados radicais foram expulsos, licenciados, presos e transferidos para a reserva.
Em 26 de fevereiro de 1976, eliminado a componente radical da revolução, novo acordo MFA- partidos políticos pôs Portugal na senda da democracia burguesa. Aos poucos, as conquistas da revolução dos Cravos foram eliminadas e o país integrou-se como sócio menor à União Europeia, sob a dependência dos monopólios capitalistas.
A ferrenha censura proibiu a música de Chico Buarque em homenagem à Revolução de Abril em 1974. Quando foi liberada na vigência da “abertura lenta, gradual e segura”, ele teve que refazer a letra que se imortalizou: “já murcharam tua festa, pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto do jardim.”


*Averdade

Lantânio, Agnelli, capisci?





Lantânio não é quem nasce na Lantânia, que aliás não existe.
Lantânio é um metal usado, entre outras aplicações, como catalisador no refino de petróleo.
É uma das chamadas terras-raras,  um grupo de substâncias parecidas, com nomes tão esquisitos quanto o dele: neodímio, cério, praseodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, escândio e lutécio.
Sua exploração exige alto investimento em tecnologia e segurança – pois ele é relativamente tóxico.
Como a China  tem terras-raras em abundância, não se cuidava de investir fortemente em sua produção.
A tonelada de lantânio era comprada a US$ 5 mil.
Só que os chineses se cuidam. E restringiram a exportação de terras raras, preferindo investir em produzir – e exportar – os produtos de alto preço em que elas são utilizadas.
Daí que o preço do lantânio anda beirando agora US$ 50 mil a tonelada. E olhe que caiu com a crise europeia, porque andou bem acima de US$ 100 mil.
E o Brasil – leia-se, a Petrobras – importa cerca de mil toneladas desta substância, sem a qual não há refino de petróleo.
O mercado mundial de lantânio – e seus “primos”, os lantanídios, nome químico das terras-raras, anda na casa de  US$ 5 bilhões anuais.
Estimativas da agência US Geological Survey , dos Estados Unidos, apontam que as reservas brasileiras podem chegar a 3,5 bilhões de toneladas, mas não temos o menor controle sobre elas.
A Anglo American controla a mais promissoras das poucas áreas já conhecidas, em Catalão (GO), onde o minério aparece em condições excepcionais, porque associado a baixos teores de urânio e tório,  que complicam sua extração.
Agora, a Vale e a Petrobras, segundo a agência Reuters,  estão se associando vão entrar firmes na exploração de lantânio – e de outras terras raras que ocorrem associadas a ele .
É fruto de uma parceria que vem sendo trabalhada há um ano pelo Governo Dilma.
Porque desde o Governo Collor, com a extinção da Petromisa, a Petrobras não tem um braço minerador e a Vale, até então, deixava o lantânio “pra lá”. Não valia a pena explorar, se podia ser comprado a preço de banana. Era o tempo do Roger “Fluxo de Caixa” Agnelli, que pensava a empresa com a estratégia de um vendedor de bananas na feira.
Aliás, depois do mico dos “maiores navios do mundo” comprados na China e na Coreia, nem é preciso falar muito deste personagem.
*TIJOLAÇO

terça-feira, abril 24, 2012

Se os tubarões fossem homens... Autor Bertolt Brecht


*Goretti

MPF quer prisão de Ustra e de delegado por sequestro na ditadura

 


Coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi, e delegado da Polícia Civil de São Paulo Dirceu Gravina podem receber pena de dois a oito anos de prisão
Publicado em 24/04/2012, 15:55
Última atualização às 18:04
  
São Paulo – O Ministério Público Federal apresentou denúncia hoje (24) à Justiça Federal em São Paulo contra o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi de 1970 a 1974,  e contra o delegado da Polícia Civil de São Paulo Dirceu Gravina, ainda na ativa, pelo sequestro do bancário Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, em maio de 1971. Se condenados, eles podem receber pena de dois a oito anos de prisão.
A argumentação se baseia em duas decisões de extradição nas quais o Supremo Tribunal Federal (STF) avaliou que o crime de desaparecimento forçado é continuado, ou seja, está vigente até que não se apareça o corpo ou uma prova de assassinato. “Alega-se que provavelmente as vítimas estão mortas. É uma ilação”, afirmou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça durante entrevista coletiva na sede do MPF em São Paulo.
Aluízio, nascido em setembro de 1922 em Pirajuí, no interior de São Paulo, aos 21 anos ingressou no Banco do Brasil. Era advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense e por duas vezes presidiu o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. Também presidiu a Confederação Nacional dos Trabalhadores dos Estabelecimentos de Crédito (Contec) e foi vice-presidente do antigo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT).
Segundo a denúncia, com o golpe de 1964 Aluízio teve os direitos políticos cassados e em maio daquele ano se refugiou na embaixada do México e depois seguiu para Cuba, onde se exilou. Voltou ao Brasil no final de 1970, clandestinamente, e foi visto pelos familiares pela última vez em abril de 1971, aos 49 anos.
Militante da Vanguarda Popular Revolucionária, foi visto no começo de maio daquele ano na sede do Doi-Codi, na rua Tutoia, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Segundo a testemunha Inês Etienne Romeu, presa em 5 de maio, Aluízio acabou detido pelo grupo do delegado Sergio Paranhos Fleury, do DOPS, no dia seguinte. 
O militante foi levado ao prédio onde hoje funciona o 36º Distrito Policial, na época um dos piores centros de repressão. De lá foi levado à chamada "Casa de Petrópolis", no Rio de Janeiro, e trazido de volta ao DOI-Codi. “Ou seja, ele estava sob responsabilidade de Ustra e de Gravina”, disse o procurador Sergio Sulama. “Queria ressaltar a ilegalidade da prisão de Palhano. Nem mesmo os atos institucionais da ditadura, de arbítrio, autorizaram o sequestro de pessoas. A prisão de Palhano jamais foi comunicada a algum parente.” Segundo o testemunho prestado pelo preso político Altino Dantas Júnior ao MPF, Aluízio voltou muito machucado de Petrópolis e mais uma vez foi torturado. Desde então, não foi mais visto.
Trata-se da segunda ação movida pelo Ministério Público Federal no âmbito penal contra agentes da repressão. A primeira foi contra o coronel reformado Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió, pelo desaparecimento de cinco militantes no episódio da Guerrilha do Araguaia. A ação foi rejeitada na mesma semana pela Justiça Federal, que argumentou que não se pode mexer na questão após tantos anos.
Para os procuradores, trata-se do contrário. Já se prevenindo contra eventuais empecilhos que serão apresentados pelo Judiciário, o órgão elencou uma série de argumentos pela validade da ação. O procurador Ivan Cláudio Marx, de Uruguaiana e coordenador do grupo especializado em Justiça de transição, lembrou que o decreto de criação da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, o primeiro reconhecimento oficial das mortes efetuadas pelo Estado brasileiro durante a ditadura, não vale como garantia de que as vítimas tenham, de fato, sido assassinadas. “Mesmo que se entendesse que em 1995 as pessoas foram declaradas mortas, para fins penais não existe a presunção da morte. Precisa haver uma prova do homicídio.”
Para o grupo, o STF, caso em algum momento receba a ação, teria de cair em contradição para negar a procedência do pedido. Nos pedidos de extradição 974 e 1150, sobre militares argentinos que colaboraram com o regime autoritário daquele país (1976-83), os ministros entenderam se tratar de um crime continuado “em relação ao qual não há como assentar-se a prescrição”. “Se o STF mantiver sua posição, vai reconhecer que os denunciados são participantes de um crime permanente”, apontou Sulama.
Outro foco da argumentação é a decisão proferida em dezembro de 2010 pela Corte Interamericana de Direitos Humanos quanto ao caso da Guerrilha do Araguaia. Na ocasião, a entidade, integrante da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou o Brasil por não investigar os crimes cometidos pela ditadura, por não apurar a localização dos corpos das vítimas e por valer-se da Lei de Anistia como obstáculo para a punição dos agentes da repressão. “Não podemos acreditar que o Poder Judiciário vá continuar ignorando a decisão da Corte Interamericana”, afirmou a procuradora Eugênia Gonzaga. “No Brasil existe uma resistência muito grande ao tema. Não é uma resistência técnica nem jurídica.” Na última semana, o Judiciário utilizou pela primeira vez a decisão da Corte Interamericana. O juiz Guilherme Madeira Dezem, do Tribunal de Justiça de São Paulo, citou o caso ao aceitar a alteração da certidão de óbito de um militante morto pelo regime. 
Os procuradores não acreditam que a decisão do Supremo Tribunal Federal, também de 2010, em torno da Lei de Anistia possa ser usada como argumento. Na ocasião, os ministros avaliaram que o dispositivo se tratava de um instrumento acordado entre toda a sociedade para viabilizar a transição à democracia. Portanto, não haveria possibilidade de punição dos torturadores, o que levou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a apresentar recurso, o chamado “embargos de declaração”. “O STF analisa a Lei de Anistia à luz da Constituição. A Corte analisa à luz da Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Não são entendimentos conflitantes”, disse Andrey Borges de Mendonça.
*RedeBrasilatual
nina

Chávez: me sinto feliz nesse processo de tratamento


*Telesur

Charge do Dia


Um Retrato dos Dias Atuais - by Kim

LA Neo Lengua como forma de Control La utilización del lenguaje es una poderosa forma de control humano, a lo largo de este ¿gracioso?


*mundodesconecido




A Igreja Detesta Os Pobres

Paulo Nogueira



A irmã Simone Campbell
Ao lado de quem a Igreja Católica fica, dos ricos ou dos pobres?
Dos ricos, todos sabemos. Desde sempre.
Na Inglaterra medieval, um líder popular conhecido como Longbeard por sua barba enorme angariou mais de 50 000 seguidores em Londres. Ele advogava em defesa dos pobres e desvalidos.
Claro que ele terminou morto. Quem comandou o complô para matá-lo foi a principal autoridade católica da Inglaterra de então – o arcebispo da Cantuária. Longbeard se refugiou numa igreja, na esperança de que ela fosse respeitada. Por ordens do arcebispo, puseram fogo nela. Longbeard foi capturado e esquartejado, ao lado de um grupo de seguidores que não o abandonaram em momento nenhum. Um historiador inglês do passado escreveu as seguintes palavras: “Ele morreu unicamente por defender os pobres e a verdade. Se a causa é determinante para fazer um mártir, ele merece ser considerado um mártir.”
Na Inglaterra contemporânea, os responsáveis pela Catedral de São Paulo pareceram ter ficado com asco quando viram gente pobre montar barracas na frente do templo favorito da realeza, no movimento Ocupe Londres.
Ao longo da história apenas no papado de João 23 a Igreja Católica optou pelos pobres. Num grande romance de Graham Greene, O Cônsul Honorário, ambientado num país da América Latina na época das ditaduras militares, um padre adere à guerrilha. Ele explica a um amigo: “É que eu não conseguiria esperar um novo João 23.”
Vejo agora nos Estados Unidos que freiras progressistas, lideradas pela irmã Simone Campbell, foram objeto de recriminação pública do Vaticano. Elas estariam desafiando tabus como o aborto, segundo o Vaticano.
“Nossa missão é viver o evangelho ao lado daqueles que estão às margens da sociedade”, respondeu Simone quando soube da atitude do Vaticano. “Isso é tudo que fazemos.”
Vale a pena conhecer o site da organização que congrega as freiras progressistas americanas. Elas avisam, por exemplo, que fazem parte dos 99% — a imensa maioria da sociedade que nos últimos 30 anos foi legalmente roubada por legislações que permitiram à microelite do 1% pagar cada vez menos impostos.
Clap, clap, clap para as freiras americanas, e em especial para a irmã Simone.
De pé.
Diário do Centro do Mundo
*MariadaPenhaNeles