A BIODIVERSIDADE E A ATRAÇÃO HUMANA PELA DESTRUIÇÃO
Há
uma década, o mundo tinha um total de 11 mil espécies ameaçadas de
extinção. A ONU estabeleceu então a meta de reduzir significativamente
esse número. Não deu certo. Desde a Rio 92, o mundo teve uma perda de
biodiversidade de 12%, emitiu 40% mais gases poluentes. Só entre 2000 e
2010, perdemos 13 milhões de hectares de florestas.
Marco Aurélio Weissheimer
Os
filmes-catástrofe trazem uma situação recorrente: em algum momento, um
cientista considerado meio maluco ou alguma outra pessoa (um policial,
jornalista, bombeiro, etc) alerta para um perigo iminente. O alerta
inicial é ignorado e, muitas vezes, rechaçado por argumentos que, na
maioria dos casos, tem uma base econômica. Os fatos se sucedem, as
ameaças tornam-se realidade e aqueles que desprezaram o alerta inicial
muitas vezes acabam vitimados na tela. Na vida real, não são só os
vilões irresponsáveis que morrem. As tragédias abatem-se
democraticamente sobre todos. O cinema não inventou essa lógica do nada,
mas a retirou da vida real, onde ela segue hegemônica. Os crescentes e
repetidos alertas sobre a destruição ambiental no planeta seguem sendo
subjugados por argumentos de natureza econômica.
Todo mundo hoje, em tese, se preocupa com o meio ambiente, desde é claro, que ele não se torne um “entrave” para o desenvolvimento, como se viu, mais uma vez, no recente debate sobre as mudanças no Código Florestal brasileiro. O policial está na beira da praia alertando o prefeito para que mantenha a interdição da mesma porque tem tubarão na área. O prefeito não quer nem saber da ideia, pois a interdição atingiria em cheio o turismo, principal fonte de renda da comunidade. O geólogo pede a evacuação imediata de uma cidade em função da ameaça de um vulcão. Mais uma vez, o turismo ergue-se reivindicando seu espaço. Uma jornalista denuncia o risco de acidente em uma usina nuclear. A bancada ruralista é universal e está sempre pronta a bloquear “alertas catastrofistas” e outras formas de entraves ao desenvolvimento. E assim vamos.
Todo mundo hoje, em tese, se preocupa com o meio ambiente, desde é claro, que ele não se torne um “entrave” para o desenvolvimento, como se viu, mais uma vez, no recente debate sobre as mudanças no Código Florestal brasileiro. O policial está na beira da praia alertando o prefeito para que mantenha a interdição da mesma porque tem tubarão na área. O prefeito não quer nem saber da ideia, pois a interdição atingiria em cheio o turismo, principal fonte de renda da comunidade. O geólogo pede a evacuação imediata de uma cidade em função da ameaça de um vulcão. Mais uma vez, o turismo ergue-se reivindicando seu espaço. Uma jornalista denuncia o risco de acidente em uma usina nuclear. A bancada ruralista é universal e está sempre pronta a bloquear “alertas catastrofistas” e outras formas de entraves ao desenvolvimento. E assim vamos.
Este
22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, foi marcado por novos
alertas sobre a destruição da diversidade biológica no planeta Terra, em
especial nos oceanos, que ganharam atenção especial da ONU este ano.
Algumas das informações mais recentes de órgãos ligados às Nações Unidas
e a centros de pesquisa apontam o seguinte quadro no planeta:Apenas
no século XX, graças à ação humana, sumiram do planeta metade das áreas
pantanosas, 40% das florestas e 30% dos manguezais.
Desde a Rio 92, o mundo teve uma perda de biodiversidade de 12% e emitiu 40% mais gases poluentes. Somente entre os anos de 2000 e 2010, perdemos 13 milhões de hectares de florestas.Cerca da metade das reservas de pescas mundiais estão esgotadas;Um terço dos ecossistemas marítimos mais importantes foi destruído;
O lixo plástico segue matando a vida marinha e criando áreas de águas litorâneas quase sem oxigênio.Há uma década, o mundo tinha um total de 11 mil espécies ameaçadas de extinção. A ONU estabeleceu então a meta de reduzir significativamente esse número. Não deu certo. Ele aumentou.Em 2002, os países signatários do Convênio sobre a Diversidade Biológica acordaram que deveriam obter essa redução no ritmo da perda de biodiversidade em 2010, Ano Internacional da Diversidade Biológica. A avaliação dessa meta foi coordenada pelo Centro de Monitoramento para a Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ela baseou-se em uma série de indicadores, tais como a apropriação de recursos naturais, o número de espécies ameaçadas, a cobertura de áreas protegidas, a extensão de bosques tropicais e manguezais e o estado dos arrecifes de coral.
Os
resultados foram conclusivos: a biodiversidade vem caindo nas últimas
quatro décadas. Caindo significa: extinção de espécies, redução da
extensão de bosques e manguezais e, deterioração de zonas com arrecifes
de coral. Além disso, a avaliação mostrou que ambientes naturais estão
se fragmentando, com destruição de flora e fauna. A Mata Atlântica
brasileira seria um exemplo disso. No passado, o segundo bosque mais
extenso da América do Sul, hoje se conservam aproximadamente 10%, numa
área fragmentada em parcelas diminutas.Desde a Rio 92, o mundo teve uma perda de biodiversidade de 12% e emitiu 40% mais gases poluentes. Somente entre os anos de 2000 e 2010, perdemos 13 milhões de hectares de florestas.Cerca da metade das reservas de pescas mundiais estão esgotadas;Um terço dos ecossistemas marítimos mais importantes foi destruído;
O lixo plástico segue matando a vida marinha e criando áreas de águas litorâneas quase sem oxigênio.Há uma década, o mundo tinha um total de 11 mil espécies ameaçadas de extinção. A ONU estabeleceu então a meta de reduzir significativamente esse número. Não deu certo. Ele aumentou.Em 2002, os países signatários do Convênio sobre a Diversidade Biológica acordaram que deveriam obter essa redução no ritmo da perda de biodiversidade em 2010, Ano Internacional da Diversidade Biológica. A avaliação dessa meta foi coordenada pelo Centro de Monitoramento para a Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Ela baseou-se em uma série de indicadores, tais como a apropriação de recursos naturais, o número de espécies ameaçadas, a cobertura de áreas protegidas, a extensão de bosques tropicais e manguezais e o estado dos arrecifes de coral.
A
situação dos oceanos também é motivo de crescente preocupação. A
Convenção sobre a Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas
lançou hoje (22) o livro “Um oceano: muitos mundos de vida”.
A obra destaca a importância dos oceanos, que cobrem cerca de 70% do
planeta, e alguns dos principais problemas que os afetam hoje, como o
aumento da acidez causado pela poluição, a destruição de reservas
marinhas e a crescente pressão econômica pela exploração de seus
recursos naturais. Ao todo, estão ameaçadas pelo menos 250 mil espécies,
conforme o censo marinho realizado entre 2000 e 2010 por 2.700
cientistas de mais de 80 países.Há
um aparente paradoxo cercando essa profusão de alertas e advertências
sobre o estado ambiental do mundo. Nunca houve tanta informação
disponível e tanta manifestação de
preocupação
com a degradação física do planeta, inclusive por parte das autoridades
governamentais. No entanto, os números da destruição vêm aumentando e a
crise econômica em escala internacional pressiona os países a empurrar
esse debate com a barriga para um futuro incerto. Há vários níveis de
ignorância e incompreensão neste debate. A extinção de uma espécie de
bromélia no interior do Rio Grande do Sul ou de uma espécie de besouro
no leste da Tanzânia são tratadas quase que como excentricidades.
Isoladamente até poderiam ser.
O
“detalhe” é que, em se tratando de vida e ecossistemas, nunca são
acontecimentos isolados, resultando de uma mesma lógica destrutiva
hegemônica em escala planetária.O cientista maluco, a jornalista
sensacionalista e o policial paranoico seguem fazendo seus alertas e
divulgando seus números. O imaginário da humanidade, porém, como vem
antecipando o cinema há algumas décadas, parece ter uma atração
irresistível pela destruição e pela morte
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
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