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quarta-feira, setembro 11, 2013

Lula pede “governança mundial” contra guerra e espionagem



Lula fez uma longa e instigante fala nos Diálogos Capitais, promovidos pela revista Carta Capital.
Nela, Lula falou sobre os programas sociais, sobre a cooperação com os países africanos, mas entrou claramente na necessidade de se formar, no mundo, um sistema multilateral de tomada de decisões, que elimine ou, pelo menos contenha, o caráter hegemônico do poder americano.
Publico, abaixo, o resumo deste trecho feito pela Carta Capital.

“Qual foi o delito que a Dilma cometeu?”

Pietro Locatelli
Em meio a um iminente ataque militar à Síria e a revelação de que os Estados Unidos espionaram autoridades brasileiras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quarta-feira, o estabelecimento de uma governança global para impedir a supremacia de um único país no planeta. Foi um recado ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, feito em sua fala durante o seminário “A democracia, a paz e a justiça social no Brasil e na África”, da série Diálogos Capitais.
“Precisamos levar a sério a discussão da democracia nesse mundo globalizado. Precisamos discutir a sério uma coisa chamada governança global. Pode, por acaso, o senhor Obama e seu sistema de vigilância ficar bisbilhotando a conversa da nossa presidenta?”
E ironizou: “Antes, era preciso ter dinheiro, pegar passaporte, fazer viagem de avião (para conhecer a realidade de outros países). Hoje qualquer sujeito numa sala em Nova York fica sabendo o que você está fazendo, em plena democracia. Cadê a decisão judicial que permite ouvir? Qual foi o delito que a Dilma cometeu? Sabe-se Deus se eles não estão gravando esse debate aqui.”
O ex-presidente repudiou uma possível ação militar contra a Síria. “Fiquei horrorizado com aquela imagem das crianças mortas (no subúrbio de Damasco). Foi uma coisa que eu gostaria de passar pela terra sem ver. Mas quem foi que disse quem fez aquilo?”
Lula citou o falso argumento dos EUA usado para atacar o Iraque em 2003. Lembrou que, na ocasião, não foram encontradas as armas químicas que motivaram a invasão. E questionou a intervenção americana na soberania de outros países. “Onde é que decidiu-se que deveriam invadir a Líbia?”, disse, em referência à ofensiva que tirou Muamar Kadafi do poder.
E foi além: “Os americanos sozinhos inventaram que o ouro não valia mais nada, que o padrão ia ser dólar, e que só eles iam ter a maquininha de fazer dólar. Quando é que o mundo vai discutir uma moeda mundial?”
Lula fez críticas também ao papel da ONU na condução da crise do Oriente Médio. “Eu não sei se o Ban Ki-moon já foi à Síria. Achei engraçado que vi outro dia no jornal: a ONU vai investigar armas químicas. E tinha a foto dos rebeldes. Quem é que dá as armas deles? Eu acho que, pelo bem da Síria, o (Bashar al) Assad estava bem na hora de ir embora. Mas democraticamente, para não acontecer o que aconteceu no Egito.” Foi aplaudido quando disse não haver hoje uma instância em que os governantes tenham o mesmo peso na tomada de decisões e citou a questão palestina como exemplo. “A mesma ONU que criou o Estado de Israel em 1948 não teve coragem de criar um Estado palestino?”
PS. A propósito, acrescento o trechinho com que Lula encerrou sua fala, publicado pelo O Globo:
“O ex-presidente se disse “profundamente assustado” com um discurso contra os partidos e criticou também os defensores da redução da maioridade penal no Brasil.
— Aos 67 anos, depois de participar da formação da democracia, assusta-me profundamente algumas pessoas querendo negar a democracia, os partidos políticos, as entidades. Não é possível ter democracia se negarmos a existência dos partidos políticos— disse Lula, que defendeu os protestos nas ruas: — O povo vai para a rua e é ótimo. Todas as faixas que estão aí a Dilma já carregou.”
Por: Fernando Brito
*Tijolaço 

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