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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 01, 2013

Por que a Comissão da Verdade não investiga a mídia?



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 Comissão da Verdade terá conduta mais agressiva, escrita por Lucas Ferraz.
A matéria informa que o presidente da Comissão, o advogado José Carlos Dias, promete confrontar acusados de tortura com vítimas.
Essas entrevistas são importantes, sobretudo porque formam material acadêmico de qualidade.
Mas temos que entrevistar os peixes grandes também. As famílias proprietárias dos grupos de comunicação que apoiaram o golpe, por exemplo. Os grandes empreiteiros, os banqueiros. A elite que se estabeleceu durante o regime militar tem que dar seu depoimento.
A Comissão da Verdade tem que buscar a verdade também nesse ponto: o papel dos meios de comunicação na preparação, deflagração e sustentação do golpe. O Brasil tem direito de conhecer as negociatas que rolaram durante o regime entre as empresas de mídia, os milicos e, claro, o Tio Sam…
A Comissão da Verdade poderia investigar, por exemplo, o acordo da Time Life com a Globo, assinado em 1962, antes da TV Globo ser criada, mas que foi fundamental para permitir à Globo assumir um papel de oposição dura, golpista, ao governo.
Todas as empresas de mídia que apoiaram o golpe ganharam muito dinheiro com esse posicionamento. Às custas da pobreza da maioria da população.
A nossa imprensa tem a mácula do chapa-branquismo mais nojento de todos. Na verdade o autêntico chapa-branquismo, a concepção original do termo, que é apoiar um ditador, apoiar a tortura, apoiar a censura, apoiar a subserviência a outro país, apoiar a política de pauperização do povo, apoiar um sistema corrupto, injusto e totalitário. O chapa-branquismo de apoiar a truculência de militares fortemente armados prendendo estudantes, jovens, professores. O chapa-branquismo de trair os valores mais caros que nortearam a nossa luta pela independência e nossas primeiras constituições.
A mídia apoiou a ditadura e nunca pediu desculpas. Deveria ao menos então contribuir com depoimentos à Comissão da Verdade.
*

Ex-titular da Justiça no governo FHC afirma que recorrerá à Polícia Federal para busca de convocados para depor
LUCAS FERRAZ FOLHA DE SÃO PAULO
O advogado e ex-ministro da Justiça do governo FHC José Carlos Dias, 74, assumiu nesta semana a coordenação da Comissão Nacional da Verdade, num momento que não poderia ser mais delicado.
Quase 16 meses após iniciar os trabalhos, o grupo atua há 60 dias com dois integrantes a menos, foi tomado por desconfianças internas e vive sob críticas de grupos de direitos humanos. Dias diz que o pior momento já passou. “A Comissão da Verdade será mais agressiva. Vamos mudar.”
Um dos focos do novo coordenador é o convencimento de que é necessário confrontar os agentes da repressão com o relato das vítimas da ditadura militar (1964-85), conduta que era reclamada pela antecessora dele na coordenação, Rosa Cardoso.
Ele quer evitar situações como a que ocorreu no depoimento, em maio, de Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado do Exército e símbolo das torturas praticada pelos militares, que defendeu a ditadura sem que houvesse espaço para contestação de vítimas da repressão.
Outra novidade é um acordo feito com a Polícia Federal, que usará a força, se for preciso, para buscar os convocados que não aparecem para depor na comissão. “Inclusive em casa”, garantiu.
A comissão tem poderes para convocar testemunhas e obrigá-las a depor, mas tem adotado a prática de convidar as pessoas e só transformar convites em convocações nos casos em que há recusa.
Dias afirmou que vai aprofundar a cooperação com as 21 comissões da verdade de todo país que já têm relações com a comissão nacional.
Como somente a Comissão Nacional da Verdade tem poder para convocar depoimentos, a parceria facilitará o depoimento de outros agentes. Os grupos estaduais e municipais fazem apenas convites.
Nessa linha, dois novos depoimentos foram acertados com a Comissão da Verdade da cidade de São Paulo.
Um será o do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin. Em 1975, quando era deputado estadual da Arena (partido da ditadura) ele fez discursos elogiando o delegado do antigo DOPS Sérgio Fleury e contra o então jornalista Vladimir Herzog, morto após uma sessão de torturas 16 dias depois do discurso.
Outro será o delegado aposentado Laertes Calandra, conhecido à época como capitão Ubirajara. Ele é apontado como torturador por ex-presos políticos. “Mas não vamos tirar coelho da cartola. Não temos como fazer milagres, infelizmente já se passou muito tempo”, concluiu Dias.
Por: Miguel do Rosário
*Tijolaço 

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