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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 27, 2021

MAO TSÉ-TUNG │História

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PM invade ocupação no centro de São Paulo e prende lideranças do movimento de moradia

PM invade ocupação no centro de São Paulo e prende lideranças do movimento de moradia Posted: 26 Feb 2021 11:01 AM PST Isabela Alho e Felipe Fly Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas Fileira de viaturas e motocicletas da PM cercam a Ocupação Mauá. Foto: Reprodução. SÃO PAULO – Na tarde do último sábado (20), 4 viaturas da BAEP, 4 da Força Tática e 11 Rocam chegaram à Rua Mauá, onde se encontra a Ocupação Mauá, na região do centro de São Paulo. Fortemente armados, os policiais invadiram o prédio sem mandado judicial e sem abrir espaço para negociação com as lideranças do movimento que estavam no local. A invasão foi realizada pelo 7º batalhão da PM tem histórico em invadir ocupações urbanas, como fez em 2013, reintegrando violentamente a Ocupação do Espigão. Além de impedir a entrada das lideranças do movimento no prédio, os policiais também proibiram as famílias que estavam no prédio de sair de suas casas. Depois de algum tempo, pressionada, a polícia permitiu a saída de algumas pessoas, mediante revista invasiva e injustificada. A invasão ocorreu sem amparo legal, seja de um mandado expedido previamente ou autorização para o porte de armas ou uso de cães farejadores nas residências das famílias. O quadro se agrava mediante o registro das câmeras internas que mostram um dos policiais entrando com uma mochila cheia, e saindo com ela vazia, logo após deter uma das moradoras que foi levada grávida para a 2ª DP, acusada de porte de entorpecentes. Outra moradora da ocupação relata que: “eles chegaram numa loucura, por volta de 15h e pouco da tarde, eu me apresentei, não deixaram eu entrar e quem estava dentro não podia sair. Foi bem constrangedor, muito desrespeito.” No vídeo da câmera interna da ocupação é possível ver os fuzis da polícia apontados para cima, mirando nas moradias de trabalhadores, crianças, mães e pais de família, ou seja uma ação fascista, violenta e inconstitucional. Liberdade imediata a Adriano, Silmara e Neti Na noite de ontem (25), lideranças das ocupações Mauá e Pena Forte, os companheiros Adriano, Silmara e Neti, foram levados pela polícia civil sob a justificativa de que estariam envolvidos nos casos de furto da região de da Luz (SP), mesmo sem ter nenhuma prova. A prisão destas lideranças da luta por moradia tem por objetivo criminalizar os movimentos e impedir a luta pelos direitos do povo pobre. Apesar disso, a Ocupação Mauá resiste. “Eles tem feito de tudo para criminalizar os movimentos de moradia. Nós lutamos por habitação, é isso que fazemos, há anos. Não vamos nos assustar, seguimos firmes na luta, que é o nosso lugar. Precisamos denunciar nas ruas, com o povo” disse o coordenador da Ocupação, Nelson, ao Jornal A Verdade. Assembleia realizada na Ocupação Mauá em 2017, quando a ocupação passou por outra ameaça por parte da Polícia Militar. Foto: Paulo Pinto/AGPT. Na próxima semana, a Ocupação Mauá comemora 14 anos de existência. Quando a ocupação foi realizada, naquele terreno havia um hotel que já não exercia atividade alguma havia anos e encontrava-se em total situação de abandono. No lugar de um prédio abandonado surgiu a ocupação que abriga mais de 230 famílias, além de atividades culturais e educacionais. As famílias que moram ali cumprem o previsto no ordenamento jurídico, uma vez que conferiram uma função social à propriedade que estava inutilizada. Alinhado à política do Governo Bolsonaro de extinção dos programas habitacionais para a população de baixa renda, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), massacra todos os dias o povo que precisa de moradia. Não podemos permitir que ações inescrupulosas como essas ocorram sem denúncias. Num país em que 7,8 milhões de pessoas se encontram numa situação de déficit habitacional, em que tivemos a pior gestão do mundo com relação à pandemia da COVID-19, é preciso, justo e necessário que defendamos as ocupações de moradia organizadas. Não recuaremos. A cidade é do povo. A terra é do povo. E se estamos em nosso direito, ninguém há de tirá-lo. Todo apoio à Ocupação Mauá! Só o povo salva o povo! Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

PM-SC executa jovem à luz do dia, pelas costas, em meio a crianças e moradores.

 

PM-SC executa jovem à luz do dia, pelas costas, em meio a crianças e moradores.

Posted: 17 Feb 2021 08:10 AM PST

Florianópolis(SC) – No último dia 15/02, a redação do Jornal A Verdade em Santa Catarina, foi chamada para cobrir um ato de protesto em frente ao Morro do Mocotó em Florianópolis, capital do Estado. Mais uma vez, a Polícia Militar do estado de Santa Catarina( PMSC) tirava a vida de um jovem da comunidade. Bruno Adriano de Barcelos, o “Caju”, foi morto com um tiro nas costas na manhã do último sábado, às 08 horas da manhã. O jovem havia completado 26 anos na sexta-feira, um dia antes de ser assassinado.

Por: Redação de Santa Catarina

Segundo conta sua esposa, Jennifer, Caju descia o morro pela manhã, quando foi alvejado com dois tiros, sendo um deles pelas costas. Os moradores que estavam pela região e até mesmo a ambulância do SAMU foi impedida de acessar o local para prestar os devidos socorros, o que acarretou na morte do Jovem. Caju deixou esposa e um filho de seis anos. “O que eu fiquei sabendo foi isso, mataram ele pelas costas, e ele estava desarmado, não tinha arma, não tinha nada, ele estava no morro, ele era tatuado, e falaram que ele era traficante”, conta Jennifer sobre o marido que não era envolvido com tráfico de drogas.

A moradora Elainebeth, de 54 anos, testemunhou a ação e contou sobre as cenas de terror produzidas pela PMSC na morte de Caju: “(A Polícia) já chegou atirando, atirou pelas costas do menino, o policial engatilhou a arma três vezes e eu me meti na frente, com medo dele atirar nos meus netinhos que estavam brincando. Aí eles desceram a escadaria, entraram na casa de um moço, o guri caiu duas casas abaixo da minha, eles pegavam o guri pelos cabelos, levantavam o guri de um lado pro outro dizendo ‘tá morto!’”

À acusação de agressão e execução sumária de Caju se somam as denúncias de omissão de socorro por parte dos policiais. Sobre isso, Elainebeth continua: “Nós ligamos pro SAMU, mas eles disseram que só viriam se a polícia autorizasse, um descaso com a nossa comunidade, pra mim isso é omissão de socorro. Aí nós ligamos para os bombeiros, quando eles chegaram, já fazia mais de uma hora que o guri estava no chão, nos disseram que ele estava morto.”

Florianópolis, cada vez mais se mostra como terra de contradições gigantescas, sendo a famosa “Ilha da magia” para os ricos, e estado de exceção para os pobres, pretos e favelados, onde subindo morro acima, parte da constituição não vale, e as violações não são exceção, mas a regra.

É o que encontramos nos relatos de outras mulheres presentes no ato, como Priscila, de 19 anos, que perdeu o marido também para a Polícia em 26 de Abril de 2020, atingido por um tiro na perna e outro no pescoço. Seu marido foi alvejado enquanto esperava um lanche, foi agredido mesmo após ser baleado, como indicavam marcas em seu rosto durante o velório, e também teve o atendimento médico negado pelos policiais ao impedirem o acesso do SAMU ao local.

Na segunda-feira, durante o ato de protesto, muitos policiais acompanhavam o movimento, ostensivamente armados e não poucas vezes intimidando as mulheres e demais moradores presentes. Se não bastassem todos os abusos relatados, fontes afirmam que sempre após as mobilizações da comunidade, a violência aumenta no morro. “Pode ter certeza que amanhã ou depois eles vão entrar na nossa casa e quebrar tudo!”. São diversos relatos de intimidação, ameaça e perseguição, sobretudo às mulheres, vítimas da violência direta e indireta de quem deveria proteger a comunidade, garantir o direito constitucional à ampla defesa, julgamento justo e presunção da inocência. Preceitos jurídicos fundamentais que parecem não valer nada

As consequências da violência de Estado são diferentes de pessoa para pessoa. Enquanto Jennifer não quis dizer mais nada além de relatar o caso, Dona Elainebeth afirma “Esse ato é para avisar para o povo o que está acontecendo na nossa comunidade, e não vou dizer que são todos os policiais, porque não é! É uma equipe só que entra no morro e barbariza, que já chegam atirando na gente.” E continua, “Eu queria que as pessoas entendessem que nós temos filhos, nós sofremos, eu perdi meu filho a dois anos e sete meses, executado pela polícia, e hoje passando pelos policiais, um deles mexeu comigo – ah, o Wallace não existe mais – ele falou pra mim, mas por que mexe comigo, deixa minha dor! Porque eu não superei ainda”.

Mesmo em meio a todos esse cenário de crimes de guerra, não se vê em Florianópolis manifestação das instituições catarinenses a favor das famílias, da comunidade, não se vê rastro nem cheiro de uma postura mais ativa em defesa dos direitos humanos e contra as absurdas e constantes violações. De tudo isso,  ficam afirmações e questionamentos sobre o lema da Polícia Militar do estado: “Preservar a ordem”, e aqui vemos o quanto injusta, violenta e estruturada ela é, e  “Proteger a vida”, mas a vida de quem?

Enquanto mais um caso explode em Florianópolis, as famílias lidam com o luto ao mesmo tempo em que se agarram à luta. “Pelos nossos direitos” como diz Priscila, e “não vamos parar” como gritavam as mulheres, é a luta de classes que se impõe na cidade. Enquanto as forças de segurança do Estado buscam a manutenção da ordem da violência, do abuso e da execução contra favelados, pretos e pobres, e as políticas de genocídio avançam nas periferias do país, do outro lado mulheres, mães e jovens se organizam para resistir em meio à sangue e lágrimas, até que se faça a justiça e se garanta o direito de viver com dignidade. “Por todos os meios necessários”, como dizia Malcolm X, um novo dia chegará!

Segue link dos vídeos do ato em Florianópolis-SC.

https://drive.google.com/file/d/1KNxLy_KVLjiAv8j4a1BUc356h-L4f383/view?usp=drive_web

https://drive.google.com/file/d/1UpD1NsFzlNQMCCeoZSdIHbvTRAu7OO5S/view?usp=drive_web