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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, novembro 22, 2011
WATCH OUT, American Citizens!!!
Está tramitando um ato no congresso americano, o "Protect IP Act" que quer controlar o fluxo de informação na Internet... que terá implicações para a liberdade de expressão no mundo inteiro...: (Caio Vassão)
Como o Docverdade é acessado diariamente mais de 2 mil vezes somente nos EUA, esse é nosso recado para que a liberdade da Internet seja preservada nos EUA e no mundo.
Assinem petição no Avaaz.org
Right now, the US Congress is debating a law that would give them the power to censor the world's Internet -- creating a blacklist that could target YouTube, WikiLeaks and even groups like Avaaz!
Under the new law, the US could force Internet providers to block any website on suspicion of violating copyright or trademark legislation, or even failing to sufficiently police their users' activities. And, because so much of the Internet's hosts and hardware are located in the US, their blacklist would clamp down on the free web for all of us.
The vote could happen any day now, but we can help stop this -- champions in Congress want to preserve free speech and tell us that an international outcry would strengthen their hand. Let’s urgently raise our voices from every corner of the world and build an unprecedented global petition calling on US decision makers to reject the bill and stop Internet censorship. Sign now and then forward as widely as possible -- our message will be delivered directly to key members of the US Congress ahead of the crucial vote.
Sign petition here
Agradecimentos ao Partido Pirata Argentino
*DocVerdade
Chávez: "Socialismo, socialismo e mais socialismo"
Vermelho
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse nesta segunda-feira (21) que ficará no poder até 2031, mas não verá o país como espera que ele se torne. No mesmo pronunciamento pediu aos jovens que terminem a tarefa de tornar a nação livre e grande.
"Por mais tempo que eu viva, já tenho certeza de que não verei a Venezuela como a sonho, mas o que me importa. Ela será vista por meus filhos, minhas filhas, meus netos, minhas netas, será vista por vocês, rapazes, e vocês, moças", afirmou Chávez em discurso para centenas de jovens que hoje marcharam em Caracas.
O líder da Revolução Bolivariana recebeu no dia do estudante universitário vários jovens que após terem feito uma passeata pela capital se concentraram no Palácio de Miraflores (sede do governo), onde cantaram e fizeram coro com o líder no hino nacional.
Chávez, que em junho deste ano passou por uma cirurgia para a retirada de um tumor cancerígeno, reiterou que deixará o poder em 2031, para desvirtuar as especulações sobre seu suposto precário estado de saúde.
"Tinha previsto sair em 2021, mas agora como os esquálidos (opositores) estão dizendo que estou morrendo, que já estou pronto para ir para a grelha, que já não aguento mais (...) agora tenho o plano e o proponho, com a ajuda de Deus e a vontade de vocês, de governar aqui de agora até 2031", declarou.
Chávez disse ainda que em seu próximo mandato, de 2013 a 2019, fará um "aprofundamento da revolução socialista".
"Socialismo, socialismo e mais socialismo. Temos que aprofundar a luta e a derrota contra os vícios do passado que ainda persistem entre nós. Os vícios do capitalismo: a violência, a insegurança, a desigualdade, a corrupção, o egoísmo, o individualismo, ainda há muito disso", declarou.
*Cappacete
Policial usando gás pimenta contra estudantes nos EUA é satirizado na internet
De tão impressionante, a cena de um policial na Universidade da Califórnia jogando spray de pimenta diretamente contra um grupo de estudantes acabou virando paródia em sites e redes sociais nos Estados Unidos. Os estudantes da universidade se manifestavam na sexta-feira (18/11) em apoio ao movimento Occupy Wall Street de Nova York, que pede a mudança do atual sistema financeiro.
Imagem mostra policial usando spray contra dezenas de manifestantes
Montagens bem humoradas feitas por internautas mostram o policial caracterizado como a Estátua da Liberdade, em cenas e quadros históricos, como "Guernica", de Pablo Picasso, e até mesmo atravessando a famosa Abbey Road com os Beatles.
Nas sátiras, o policial aparece sempre da mesma forma, com o braço estendido, em direção aos rostos da imagem parodiada, apertando o spray de pimenta.
Policial caracterizado como Estátua da Liberdade
Em quadros históricos...
...como Guernica, de Picasso, por exemplo
Atravessando a rua com Beatles
As imagens do incidente provocaram indignação nos EUA por mostrar os manifestantes imóveis, sentados, tentando proteger o rosto enquanto recebem o jato de gás pimenta. Antes, o policial saca o tubo de gás e demonstra o que estava prestes a fazer.
Outras pessoas em volta da ação gritam para que o policial pare, mas a agressão dura alguns minutos, até que os estudantes começam a ser algemados e arrastados para viaturas. No total, dez pessoas foram presas.
Nas redes sociais, centenas de mensagens de protesto contra a ação policial foram postadas. Linda Katehi, reitora da Universidade da Califórnia, disse que se assustou com as imagens e afirmou que montará um grupo de força-tarefa para investigar o incidente. No entanto, membros da diretoria da própria universidade acusam a reitora de negligência ao permitir a entrada e a ação dos policiais.
Em uma entrevista à imprensa norte-americana domingo (20/11), Katehi afirmou que estará “engajada com os estudantes num diálogo para que o campus volte a ser seguro e calmo”.
Veja o vídeo da agressão abaixo:
Devido à violenta ação do policial, 11 estudantes precisaram ser atendidos no local por paramédicos, enquanto outros dois foram levados para hospitais da região. O policial que aparece como personagem principal do vídeo, John Pike, foi afastado por 30 dias por meio de uma ordem administrativa. Neste período, uma investigação irá apurar o que aconteceu na universidade.
*cappacete
A Chevron está na marca do pênalti
- As melhores práticas internacionais não foram observadas e houve falsidade de informação. Não houve informação on-line e precisa à agência, o que prejudicou o trabalho. A ANP não foi tratada de forma correta pela Chevron – afirmou Haroldo Lima, após reunião comandada pela presidente Dilma Rousseff com a presença dos ministros Edison Lobão (Minas e Energia), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Celso Amorim (Defesa), além de técnicos.
- A empresa atuou em completa violação ao contrato de concessão e à própria legislação brasileira – reforçou Magda Chambriard, diretora da ANP, em relação à omissão de informações ao órgão regulador.(…)
Magda Chambriard considerou “inaceitável” o fato de a empresa ter fornecido imagens editadas à agência.
-Tivemos de ir até o local para fazer as imagens e ter noção do problema real – afirmou.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, também criticou a Chevron pelas informações imprecisas.
- A empresa diz que tem 16 barcos e a gente vai a campo e vê que há três ou quatro – afirma. – Para o governo brasileiro é inaceitável qualquer empresa que forneça qualquer informação que não condiga com a verdade – acrescentou.
Precisa mais?-Tivemos de ir até o local para fazer as imagens e ter noção do problema real – afirmou.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, também criticou a Chevron pelas informações imprecisas.
- A empresa diz que tem 16 barcos e a gente vai a campo e vê que há três ou quatro – afirma. – Para o governo brasileiro é inaceitável qualquer empresa que forneça qualquer informação que não condiga com a verdade – acrescentou.
Multar a Chevron é correto, mas não basta. Até porque ela vai pagar a multa com o dinheiro do nosso próprio petróleo, que sai dali direto para a exportação.
Entre janeiro e julho deste ano, o a Chevron Brasil (?) Upstream Frade Ltda. exportou US$ 802 milhões, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. E vinha exportando cada vez mais, porque só no mês de julho deste ano foram US$ 204 milhões, contra zero do mês de julho de 2010.
segunda-feira, novembro 21, 2011
Antes tarde do que nunca
Sanguessugado do Tijolaço
Era assim o plano dos executivos da Chevron para recolher o petróleo?
O diretor geral da ANP, Haroldo Lima, aparece hoje dizendo que a Chevron-Texaco, além de multada, pode ser impedida de continuar a operar no Brasil, pelo erro grosseiro (e de ganaciosa imprudência) e pela criminosa omissão de informações que prolongou a duração do que já era desastroso.
Muito bom que o responsável pelo órgão fiscalizador tenha, finalmente, adotado uma postura pública firme e severa sobre o assunto. E que a ANP, que está toda hora nos jornais criticando a Petrobras, tenha descoberto que a Chevron não tinha condições nem equipamento para autar em situações de emergência e dependeu de empréstimo de submarinos da estatal brasileira.
Depois de dez dias em que a ANP não deu informações públicas e só muito discreta e vagamente se pronunciou sobre o caso, é muito bom que tenha assumido outra postura.
Diz o sr. Haroldo Lima que “eles mitigaram (isto é, no popular, mentiram) informações importantes sobre o vazamento e esconderam fotos que mostravam a real proporção do acidente”.
Bom, o sr. Lima tem razão. Mas a ANP não as exigiu publicamente. Não requisitou – ou se requisitou não o anunciou e nem reclamou não ter recebido – o diário de perfuração e os relatórios de cimentação do poço.
Nem mesmo a profundidade em que o poço se encontrava veio a público pela ANP, e só ficou sendo conhecida quando Charles Buck, o presidente da Chevron, na noite do dia 18, reconheceu que houve uma elevação súbita de pressão no poço – um “kick” – e que o petróleo subiu pelo vão anular, entre a parede do tudo e a da rocha perfurada abrindo fendas na camada rochosa superficial, por onde o petróleo “brotou”.
A informação do “kick”, na véspera da aparição da mancha de óleo, que tem necessariamente de estar registrada no diário de perfuração e o fato de só haver vedação por cimentação na fase superior do poço são informações que, somadas, já indicariam a origem do vazamento e a necessidade de tamponar a sua parte inferior.
Que diferença de comportamento se comparado ao do delegado Fábio Scliar, da Polícia Federal, que botou a boca no trombone e fez toda a imprensa se mexer e publicar informações sobre o caso!
Aliás, só depois que ele falou a imprensa e até os ambientalistas resolveram atuar.
Porém, antes tarde do que nunca, não é?
O gigantesco e suspeito aparato publicitário contra Belo Monte
A Amazonia Legal envolve nove estados brasileiros que têm problemas econômicos e sociais idênticos. Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão somam 5.217.423 km², ou 61% do território brasileiro. Conhecer a região em que será (?) construída a usina hidrelétrica de Belo Monte é vital para deslindar a gigantesca e multimilionária campanha internacional para que a obra não seja construída.
A população da Amazônia Legal corresponde a pouco mais de 10% dos cerca de 190 milhões de habitantes do Brasil, reunindo cerca de 20 milhões de pessoas, o que dá menos do que a população da grande São Paulo. Nos nove estados da Amazônia legal residem 55,9% da população indígena brasileira, ou seja, cerca de 250 mil pessoas, segundo o Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
Entre os problemas sociais do Pará, sobressaem dois: o primeiro é a propriedade de terras, pois o estado é dominado pelo latifúndio, sendo que 1% das propriedades rurais ocupa mais da metade da extensão territorial do Estado, e o segundo é o alto registro de trabalho escravo.
Na saúde, a malária ainda preocupa por sua alta incidência e a taxa de mortalidade infantil é de 23 para cada mil nascidos vivos – bem acima da taxa nacional, de 19,4. Na Educação, analfabetismo, por exemplo, bate nos 11%, contra média nacional de 9%, sendo que, nos estados do Sul, a taxa cai para pouco mais de 4%.
Melhor nem falar de Saneamento Básico, Transporte, Segurança Pública etc.
A Amazônia Legal, portanto, é a região mais atrasada do Brasil, com índices de qualidade de vida entre os piores. Nesse contexto, o Pará é a região mais sem lei da Amazônia Legal por ser a mais pisoteada pelo latifúndio e pelo trabalho escravo. Por certo todos se lembram da missionária Dorothy Stang, assassinada no Pará a mando de latifundiários que combatem a todo custo a chegada do progresso à região.
Não foi por outra razão que, em abril do ano passado, o ex-presidente Lula defendeu enfaticamente, em audiência pública, a construção de Belo Monte. Segundo disse naquela oportunidade, “Ficamos praticamente 20 anos proibidos totalmente de fazer estudos para a viabilidade da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Não era fazer a hidrelétrica, não. Era a proibição de estudo”, disse.
Segundo Lula, o projeto foi alterado para que o governo pudesse dar todas as garantias ambientais: “Obviamente que o projeto que foi feito foi modificado. O lago [da hidrelétrica] é um terço daquilo que estava previsto anteriormente exatamente para que a gente possa dar todas as garantias ambientais e dizer a qualquer habitante do planeta Terra que ninguém tem mais preocupação de cuidar da Amazônia e de nossos índios do que nós”, declarou.
Lula, naquela oportunidade, também criticou a atuação de ONGs internacionais e seus protestos contra a construção da usina: “Vi nos jornais hoje que tem muitas ONGs vindo de vários cantos do mundo e alugando barco pra ir pra Belém pra poder tentar evitar que façamos a hidrelétrica“, afirmou.
Só para registro, Lula deu tais declarações durante discurso de abertura do 21º Congresso do Aço, em São Paulo. Abaixo, o vídeo com tais declarações.
As ONGs, ambientalistas e integrantes do Ministério Público e do Judiciário também já foram alvo de duras críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por imporem “obstáculos excessivos” à realização de obras necessárias ao país como a construção de Belo Monte. Palavras textuais do ex-presidente: “Que nos obriguem a cumprir à risca a legislação ambiental, mas não paralisem o país. O país tem fome de energia e fome de crescimento“.
Após os primeiros posts que publiquei sobre o assunto Belo Monte, decidi pesquisar mais. Entre outras coisas que me chamaram a atenção, dois ex-presidentes de distintas posições político-ideológicas e partidárias dizendo coisas tão semelhantes me fizeram ficar ainda mais desconfiado desse gigantesco e multimilionário aparato contra uma obra que certamente levaria civilização a uma parte do país que vive no século XIX, se tanto.
São peças publicitárias bem elaboradas, com deslocamentos de equipes de filmagens financiadas por milhares de ONGs estrangeiras, com o apoio de personalidades internacionais como Leonardo Di Caprio, Sigourney Weaver, James Cameron e Arnold Schwarzenegger, entre muitos outros, além, agora, de atores e atrizes da Globo que embarcaram na onda dos famosos internacionais e fizeram a versão tupiniquim do movimento “ambientalista”.
A campanha contra Belo Monte é cara e esmagadora. Vários comentaristas, aqui no blog e em redes sociais, disseram que meus posts recentes sobre o assunto tinham sido as primeiras posições diferentes que haviam visto até então. Contudo, estão enganados. Não faz muito tempo, o jornalista Paulo Henrique Amorim publicou em seu blog relatório que a Agencia Brasileira de Inteligência, a Abin, fez sobre esses movimentos contra a construção da usina.
Quem quiser pode ler o relatório da Abin, publicado por PHA, clicando aqui. Contudo, se o leitor quiser poupar tempo, basta saber que além de elencar as ONGs estrangeiras que atuam na região o que o tal relatório revela – e que desperta desconfiança – é a informação de que governos estrangeiros estão financiando essas ONGs e as campanhas multimilionárias que vêm empreendendo contra uma obra que, a despeito dos danos ambientais, certamente levaria civilização a um Estado que mais lembra o Velho Oeste americano.
O relatório da Abin não levanta nenhuma ilegalidade, por enquanto, mas vídeo recente gravado em resposta ao do Movimento Gota D’Água, com os atores e atrizes da Globo, revela o tamanho dessa onda internacional contra Belo Monte ao citar o número espantoso de mais de 100 mil ONGs envolvidas na campanha, além das incessantes incursões de estrangeiros na região. Abaixo, o vídeo “Quem Manda no Brasil?”.
São mais do que conhecidas as ambições internacionais sobre a Amazônia e as personalidades e governos estrangeiros que relativizam a soberania brasileira sobre o território. Há até um site especializado que oferece informações sobre a cobiça estrangeira e que mostra que a preocupação ambiental de países que destruíram suas reservas naturais nem sempre é o objetivo de campanhas que, repito, podem manter 61% do território brasileiro no século XIX, se tanto. Não se pode negar, claro, que existe muita gente de boa fé militando contra a construção de Belo Monte. Tampouco se nega que a construção dessa obra tem que ser feita sob intensa fiscalização para impedir abusos e violações ambientais e sociais. Contudo, de uma coisa o leitor pode ter certeza: a única forma de garantir a soberania brasileira sobre a Amazônia é levar o desenvolvimento sustentável à região.
O Brasil tem que tomar posse da Amazônia antes que algum aventureiro o faça “em nome da humanidade” enquanto gasta fortunas em peças publicitárias e expedições salvacionistas. Fortunas, aliás, que poderiam resolver os problemas sociais que castigam os exíguos contingentes populacionais daquela região sofrida e esquecida. O desenvolvimento, se vier, acabará com a farra de escravagistas, latinfundiários e seus pistoleiros no Pará
O Brasil tem que tomar posse da Amazônia antes que algum aventureiro o faça “em nome da humanidade” enquanto gasta fortunas em peças publicitárias e expedições salvacionistas. Fortunas, aliás, que poderiam resolver os problemas sociais que castigam os exíguos contingentes populacionais daquela região sofrida e esquecida. O desenvolvimento, se vier, acabará com a farra de escravagistas, latinfundiários e seus pistoleiros no Pará
Lobão vê ‘conluio de ignorância’ contra Belo Monte
LUCIANA COLLET –
SÃO PAULO – O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse hoje que Belo Monte será orgulho nacional e exemplo para o mundo, “não só pelo colosso de moderna engenharia, mas também pelo completo respeito ao meio ambiente”.
Segundo Lobão, que participou na manhã de hoje da abertura do Fórum Exame de Energia, em São Paulo, há um “conluio de ignorância e má-fé” contra a usina. Ele criticou organizações não-governamentais e estrangeiros que contestam a construção de Belo Monte, mas não quis comentar diretamente sobre o Movimento Gota D”Água, que lançou na semana passada uma campanha na internet com uma petição online contra a usina e que já conseguiu cerca de 1 milhão de assinaturas. Faz parte da campanha um vídeo-protesto em que aparecem diversos atores. “Somos um país em que as pessoas falam aquilo que pensam”, disse o ministro.
Lobão também afirmou que o Consórcio Norte Energia, responsável pela obra, prepara um vídeo para esclarecimento da população com informações atualizadas sobre o projeto. Ele ressaltou que os índios “não serão molestados” pela usina, já que o grupo mais próximo está a 31 quilômetros de distância das usinas e que outros grupos estão a 200 quilômetros ou ainda mais distantes.
Durante sua apresentação no evento, Lobão destacou que o Brasil possui 48 quilômetros de rios, com potencial de 260 mil MW, 50% dos quais estão na região amazônica, e o País aproveita atualmente apenas um terço disso. “Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 45% de fontes renováveis, ante 13%. Se considerarmos apenas a energia elétrica, esse porcentual sobe para 86% em 2010″.
*Luis Favre
Marta anuncia apoio a Haddad e diz que estilo de “ir na jugular” a fez desistir das prévias
Marta Suplicy: senadora afirma que se engajará na campanha de Haddad e tentará resgatar marcas de sua gestão
De Brasília
Após conversar durante uma hora e meia com o ministro Fernando Haddad (Educação), em Brasília, a senadora Marta Suplicy anunciou ontem que vai apoiar e se engajar na campanha do candidato escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a Prefeitura de São Paulo, nas eleições municipais do próximo ano.
Marta desistiu porque Haddad é o nome preferido de Lula. Ela não assegura que venceria a prévia contra a dupla Haddad-Lula. “É uma interrogação”, diz. Mas de uma coisa ela se diz absolutamente convencida: a disputa “estralhaçaria” o PT.
Ela defende o instituto das prévias, mas reconhece que a disputa, desta vez, seria diferente da que foi obrigada a disputar em 1998 para sair candidata ao governo do Estado, quando teve como adversário um companheiro, Renato Simões, minoritário no partido. Serviu para ela conhecer o Estado e a militância.
“Eu não sou uma pessoa que faz o debate numa “nice”. Eu vou na jugular”, diz Marta, para explicar sua desistência. “Pra que que eu ia fazer um trabalho para os adversários”? Segundo a senadora, isso seria inevitável numa disputa entre ela, Haddad e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, os pré-candidatos às prévias canceladas do PT.
“Se eu ganhasse, sobraria um partido rachado, com ódio mortal dos apoiadores do Haddad; e se o Haddad ganhasse sobraria uma pessoa também bastante avariada”. A senadora afirma: “Eu não podia fazer isso com o meu partido, porque tem o ‘day after’. O que é que iria acontecer, depois, com ele ou comigo? Aí a gente acabaria com a chance de o PT ir para a prefeitura”.
Em entrevista ontem ao Valor, Marta deixou claro que a campanha de Haddad recorrerá muito ao fato de que o ministro terá mais condições de governar a cidade do que o PSD ou PSDB, por ser um aliado da presidente da República. “Outras cidades importantes, como o Rio de Janeiro, se beneficiaram enormemente com recursos federais, em várias áreas”, diz a senadora, depois de criticar o atual prefeito, Gilberto Kassab, que, segundo a senadora, não quis ou não soube como carrear dinheiro federal para São Paulo.
Na conversa com o ministro, a senadora também combinou o “resgate” das marcas do governo do PT na cidade, ou seja, do governo de Marta (2001-2005), como a retomada do conceito original dos CEUs. “Eu acho que esse legado tem que ser resgatado. Porque a gente tem que mostrar que sabe fazer, tem que mostrar que o outro finge que faz e tem que mostrar o novo”, diz.
Mostrar o que é o novo é o desafio de Haddad, segundo Marta. O dela é “como colocar essas marcas [de seu governo] em outra candidatura [de Haddad]. Mas é um desafio que eu vou me empenhar em fazer”.
Para que isso aconteça, o PT vai precisar de tempo de rádio e de televisão para contar o “passado” e apresentar o “novo” – a administração de Fernando Haddad no Ministério da Educação. Marta está convencida de que PT e PMDB farão uma aliança para a eleição, só não está segura se isso ocorrerá no primeiro ou no segundo turno.
Para a senadora, este é um assunto a ser resolvido pelo vice-presidente, Michel Temer, e o deputado federal Gabriel Chalita, que se filiou ao PMDB na expectativa de ser o candidato a prefeito da sigla, em São Paulo, em 2012. O Valor apurou com outras fontes do PT que Lula, antes de se recolher para tratamento de saúde, trabalhava no sentido de que Chalita fosse indicado candidato a vice na chapa de Haddad. Quando disputou a reeleição, em 2004, Marta dispensou o apoio do PMDB.
A senadora se recusa a falar sobre a eventualidade de compor o ministério da presidente Dilma Rousseff, na reforma prevista para 2012, mas é certo que seu nome faz parte do leque de opções da presidente.
Apesar da “frustração” que sentiu ao deixar a disputa paulistana, Marta é só elogios, quando fala de Dilma, ao modo como ela conseguiu imprimir uma marca própria ao governo e como tem lidado com as sucessivas crises no ministério. “Acho que ela conseguiu uma forma particular, muito dela, de deixar os próprios partidos perceberem quando retirar os seus ministros, e manter a sua base, sem a qual ela não aprova um projeto em quatro anos”.
Entrevista: Marta anuncia apoio a Haddad e critica gestão de Kassab
Por Raymundo Costa | ValorBRASÍLIA – A senadora Marta Suplicy (PT-SP) virou a página. Não nega um certo sentimento de “frustração” por ter renunciado à disputa pela Prefeitura de São Paulo em favor do ministro Fernando Haddad (Educação), um noviço na política apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a ex-prefeita acredita que a manutenção de seu nome nas prévias do PT, que estavam previstas para o dia 27, “estraçalhariam” o partido. “Eu faria uma prévia na jugular. Eu não podia fazer isso com o meu partido, porque tem o ‘day after’”. E o dia seguinte seria o ódio dos partidários de Haddad, se ela vencesse as prévias, ou exatamente o contrário, caso o ministro fosse o vencedor. Marta acertou os termos de seu apoio numa conversa com Haddad, em Brasília, na noite de quarta-feira. Nesta entrevista ao portal Valor, ela fala ainda da possibilidade de aliança com o PMDB e critica acidamente o ex-prefeito José Serra (PSDB) e seu sucessor, Gilberto Kassab (PSD).
Valor – Como a sra. avalia o fato de o PT trocar uma candidata que lidera as pesquisas, em São Paulo, por um nome desconhecido?
Marta – Para mim, ter saído da disputa é página virada. No momento em que se toma uma decisão como eu tomei, o engajamento na campanha do escolhido pelo partido é total. Eu sou uma pessoa absolutamente partidária, sempre me portei assim.
Valor – A sra. vai se engajar na campanha de Fernando Haddad?
Marta – Daqui para frente é um outro momento. O Haddad é o candidato. Ontem conversou comigo e ele é o candidato. Não sobrou ninguém para candidato. [A senadora ri numa referência à “desistência” de todos os candidatos para apoiar o nome indicado por Lula]. E no momento em que eu me comprometi apoiar quem fosse o candidato do partido, ele é o meu candidato e eu vou me engajar para que ele fique mais conhecido para que nós possamos chegar na Prefeitura de São Paulo. O que me interessa agora é ver o PT de volta à prefeitura e levar minha cidade para um outro momento, longe de um governo medíocre que foi o governo Kassab. Serra-Kassab. Foi um governo muito ruim para a cidade de São Paulo.
Valor - Por quê?
Marta – Enquanto o Brasil cresceu enormemente e cidades muito menos poderosas que São Paulo tiveram um benefício muito grande por parte do governo federal, a cidade de São Paulo, por absoluto descaso e falta de interesse do prefeito, não realizou nenhum convênio importante com o governo federal. Outras cidades importantes, como o Rio de Janeiro, se beneficiaram enormemente com recursos federais, em várias áreas. Além disso, a dificuldade do prefeito de gastar os recursos de São Paulo também é bastante incompreensível. Por que um governo que tem a carência que tem na área de saúde, a cidade esburacada, suja e o povo de rua em um número gigantesco, tem R$ 7 bilhões aplicados no mercado financeiro, como ele tem mantido durante sua gestão? É incompreensível. Nenhum governo com tantas carências como tem São Paulo pode deixar superávit e dinheiro parado no banco.
Valor – Por exemplo?
Marta - São Paulo tinha um projeto antigo, da minha gestão, de renda mínima. Esse projeto depois foi transformado no Bolsa Família, com ajuda federal. Só que 150 mil pessoas poderiam estar cadastradas, e a cidade de São Paulo não moveu uma palha. Tem o mesmo número da época em que eu era prefeita (2001-2005). E não é porque a cidade de São Paulo se tornou mais rica. Há uma parte da população de São Paulo extremamente miserável. Poderia estar sendo beneficiada, mas o prefeito Kassab não fez nenhum gesto para incluir o programa Brasil Sem Miséria. O (governador Geraldo) Alckmin está começando a implementar essa parceria de maneira mais forte, que também está vagarosa. A cidade de São Paulo poderia ter feito vários convênios na área da Educação, Justiça. Não houve isso. Esses oitos anos de Serra e Kassab são anos em que o Brasil teve crescimento extraordinário, comparado com a época anterior, da qual eu fui prefeita.
Valor – A sra. quer dizer que foram anos perdidos?
Marta - O que aconteceu nesses oito anos? O Brasil teve enorme crescimento, as receitas começaram a se ampliar, tanto é que o Kassab hoje trabalha com o orçamento três vezes maior do que o que eu trabalhava, R$ 37 bilhões. Desde o começo, ele não tem uma marca na cidade. E nos trabalhamos primeiro com R$ 9 bilhões – depois com R$ 13 bilhões – e deixamos marcas na educação, no transporte público – criamos o bilhete único e acabamos com as máfias – começamos a fazer os corredores de ônibus que a cidade precisava, deixamos 300 quilômetros planejado, e ele fez um quilômetro. Não é que ele fez dois, fez zero. E a desculpa que ele coloca é que tem muito carro. É evidente que tem muito carro, porque tem “boom” econômico e o brasileiro vai comprar carro. Estaria difícil o transporte? Estaria. Mas não nesta dimensão. Nós, sem um tostão, conseguimos deixar marcas na cidade. É que as pessoas esquecem. Nós tiramos o PAS da cidade (programa de Paulo Maluf). A saúde era privada. Ele tirou o SUS, São Paulo não recebia o recurso federal. Fora não receber, era privado e absolutamente corrupto. Nós levamos dois anos para conseguir trazer o SUS de volta para a cidade
Valor - Mas essas são marcas associadas à sua gestão.
Marta – Esse é o grande desafio, como é que nós vamos agora colocar essas marcas em outra candidatura. Mas é um desafio que eu vou me empenhar em fazer.
Valor – O Haddad se comprometeu com essas marcas ou foi apenas uma conversa breve?
Marta – Não, foi uma conversa longa de uma hora e meia sobre a cidade de São Paulo, o que é a experiência de governar a cidade e o que eu considero que vão ser os grandes desafios que a cidade terá de enfrentar e que ele, como candidato e depois como prefeito, vai ter que dar continuidade ou inovar. Insisti muito para ele que, primeiro, é um resgate do bem feito que foi na cidade para a população; do fingir que fez, como o que o PSDB fez com os CEUs – faz propaganda de que nós fizemos 21 e eles fizeram 25, mas esquecem de dizer que os 25 que fizeram foi terreno que nós deixamos comprados e que 21 foram feitos em quatro anos. Eles fizeram 25 em oito. E o conceito, isso é o mais grave, foi mudado. Porque o CEU não é para ser um grande escolão. O CEU é para ser uma janela de oportunidade para quem não tem nenhuma janela de oportunidade na vida, que mora numa favela onde os pais, muitas vezes, nem alfabetizados são. O CEU é isso, tem o esporte e a cultura absolutamente agregados para fazer com aquela criança uma formação holística que ela não teria oportunidade de ter em outro lugar; de aprender a tocar um violino até aprender a tocar numa big-band, hidroginástica para mãe e avó; ioga e teatro do primeiro mundo. Isso era o CEU. Isso tem de ser desmistificado. Porque essa é a diferença nossa com o PSDB. Então, eu coloquei. Eu acho que esse legado tem que ser resgatado. Agora, ninguém ganha a eleição com o passado.
Valor – Mas ajuda?
Marta – Ajuda, porque a gente tem que mostrar que sabe fazer, tem que mostrar que o outro finge que faz e tem que mostrar o novo, e esse é o grande desafio para você. Agora, para o nosso partido é pensar o novo, porque a continuidade você pode facilmente assumir esse compromisso, com todo o nosso empenho.
Valor – A sra. concorda que é preciso uma cara nova na eleição?
Marta – Eu não concordo nem discordo. Para mim, são águas passadas. Acabou. Eu queria ter sido [candidata], achei que teria o reconhecimento da população, que está muito saudosa do governo. Eu ando na rua e vejo, eu pego o avião e vejo. Isso é uma realidade, não tem como negar. Agora, não foi assim? Não foi assim. Quero que o PT volte à prefeitura porque amo a minha cidade? Quero. Vou me esforçar para viabilizar a candidatura petista? Vou.
Valor - A sra. vai efetivamente se engajar na campanha?
Marta - Vou. Eu viro a página. O meu sentimento foi um sentimento de frustração. Agora, eu virei a página. Ele é o candidato, agora tem que trabalhar o candidato. Ele é o prefeito de volta na prefeitura para fazer o que tem que ser feito na minha cidade, porque os outros candidatos não vão fazer o que nós fizemos.
Valor – Então vamos falar pra frente. A sra. foi criticada, em 2004, por não fazer uma aliança com o PMDB. Como vê agora a possibilidade de o deputado Gabriel Chalita ser o vice de Haddad?
Marta – Aquela falta de aliança com o PMDB tem uma história muito complicada, que eu não vou entrar de novo porque é página virada. Acho o PMDB um parceiro muito importante para o PT em São Paulo, seja para o primeiro turno, se for possível. Se não for, no segundo. É muito importante. Principalmente, pela possibilidade de mostrar o que já fizemos, ao dar maior visibilidade ao nosso candidato, que ainda não tem esse conhecimento todo. Então, quanto mais tempo de televisão a gente tiver para poder mostrar o que foi a gestão do Haddad no ministério e as coisas positivas que ele conseguiu realizar, melhor. Porque você vai levar para a população um nome novo, mas um nome que tem uma bagagem. Se não tem esse tempo, como é que vai apresentar um candidato novo?
Valor – E a possibilidade de ser o Chalita?
Marta - O Temer e o Chalita é que vão avaliar. Eu acredito que a aliança vira, ou no primeiro ou no segundo turno. A palavra final é do PMDB.
Valor – A possibilidade de aliança com o PSD é nula mesmo?
Marta – Nunca! A base petista não aceitaria nunca. Não tem hipótese. Zero. Que campanha você vai fazer se põe o Kassab dentro do teu partido? Não tem sentido nenhum. Não tem possibilidade nenhuma.
Valor – Por que a sra. está tão convencida de que o Serra vai ser candidato?
Valor – Pelos motivos óbvios de quem lê nas entrelinhas políticas. Ele tem um script. Está repetindo o roteiro: o seu aparecimento cada vez maior, a defesa da parceria com o PSD, o pedido do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) de adiamento das prévias, tudo faz parte do mesmo quadro. Vai ser de novo PSDB versus PT.
Valor - A “solução paulista” parece que será estendida ao país: o PT, que sempre fez prévias, agora tem outra postura. A sra. acha boa essa opção?
Marta - As prévias são um instrumento bastante interessante. Eu mesma posso dizer, quando disputei as prévias para governador do Estado com o Renato Simões, que tinha poucas chances de ganhar porque eu tinha o apoio majoritário. A mim fizeram muito bem. Porque eu percorri o Estado inteiro conversando com a militância, discutindo e aprendendo. E assim como esses 35 encontros zonais que nós fizemos, e que não eram prévias, tinham outra característica, esse contato com a militância… Eu dou risada quando o PSDB diz ‘nós temos que empolgar a militância’; eles não têm militância, eles vão ter que catar gente para fazer essa prévia. Se fizerem algum dia. O PT, não. O PT tem uma militância aguerrida, que se eu fosse até o final das prévias e tivesse me empenhado realmente, teria… Era um ponto de interrogação o que iria acontecer. Esses contatos mostraram a todo mundo isso.
Valor – Então o que lhe fez desistir?
Marta - Fora o apelo da Dilma e do Lula, também foi que estraçalharia o partido. Eu não sou uma pessoa que faz o debate numa “nice”. Eu vou na jugular. Pra quê que eu ia fazer um trabalho para os adversários. A prévia de que eu participei foi uma coisa de aprendizado. Uma prévia com o Jilmar Tatto (deputado federal), com o Haddad e com o outro (deputado federal Carlos Zaratini) seria uma prévia na jugular. O que sobraria dessa prévia para quem ganhasse? Se eu ganhasse, sobraria um partido rachado, com ódio mortal dos apoiadores do Haddad. E se o Haddad ganhasse, sobraria uma pessoa também bastante avariada. Eu não sou pessoa que faria uma prévia parceira. Eu faria uma prévia na jugular. Eu não podia fazer isso com o meu partido, porque tem o “day after”. O que é que iria acontecer, depois, com ele ou comigo? Aí, a gente acabaria com a chance de o PT ir para a prefeitura. Não teria sentido. Teria sido um bom treino para ele. Mas não era o caso.
Valor - E a imposição desse modelo para todos os Estados?
Marta – Depende da situação. Em São Paulo, certamente não seria um bom caminho [as prévias].
Valor – Que contribuições, a partir de agora, Marta Suplicy pode dar ao partido e ao país?
Marta - A grande contribuição eu acabei de dar. Você quer maior?
Valor – O governo Dilma lhe empolga?
Marta – Acho que ela está indo bem. Era muito difícil suceder o Lula. Acho que ela tem duas vantagens: primeiro de ser mulher e ter as características específicas de personalidade dela, e depois de ter um governo bem arrumado, um governo do qual ela participou de seu plano estratégico de desenvolvimento. Então, ela ser mulher e ter uma personalidade absolutamente diferente do Lula, e ser percebido isto de forma clara desde o primeiro segundo, a diferenciou. Ninguém iria exigir dela as coisas que o Lula faz, que são dele. O carisma, o desempenho. Ela, não. Ela é mulher e tem outro jeito, sim. Então, isso ajudou muito, para ela. A outra questão foi ter participado de todo o planejamento estratégico do governo Lula. Ela sabia a direção que o Brasil tinha que caminhar.
Valor – Essa queda seriada de ministros não prejudica o governo?
Marta – Eu acho que ela está sendo de uma habilidade extraordinária e surpreendendo até os seus adversários. Porque não é fácil você governar do jeito que a eleição do Brasil é, e a constituição do Congresso. Precisa ser trapezista, ter uma habilidade extraordinária para conseguir a aprovação de projetos importantes para o Brasil e, ao mesmo tempo, não pactuar com o que aparece. Ela tem sido extraordinária nessa questão. Acho que ela conseguiu uma forma particular, muito dela, de deixar os próprios partidos perceberem quando retirar os seus ministros, e manter a sua base, sem a qual ela não aprova um projeto em quatro anos.
(Raymundo Costa | Valor)
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