“Gilmar Mendes foi leviano e mente”, diz Paulo Lacerda, ex-diretor da PF e Abin
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo
publicada nesta quarta-feira, 30, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Gilmar Mendes lançou acusações contra Paulo Lacerda,
ex-diretor da Policia Federal e da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência):
- Dizem que ele (Lacerda) está assessorando o PT. Tive informação em 2011 que o Lacerda queria me pegar.
Segundo O Estado de S.Paulo,
Gilmar Mendes suspeita que Lacerda estaria divulgando "informações
falsas" para atingi-lo. E, também, que estaria assessorando o
ex-presidente Lula. Terra Magazine ouviu Paulo Lacerda
no início da tarde desta quarta-feira. Feita a ressalva "não sei se ele
disse isso", Paulo Lacerda, habitualmente sereno e cordato, respondeu a
Gilmar Mendes com dureza:
- Se ele falou isso, ele foi leviano e mente.
Lacerda,
que hoje trabalha numa associação de empresas de segurança privada,
conta que não vê Lula há anos, assim como Gilmar Mendes, e rebate as
acusações:
- Estou aposentado, não trabalho com
investigação (…) não trabalho para partido nenhum, não assessoro nem à
CPI nem ao ex-presidente Lula (…) Se as informações que ele diz ter
recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e informações
que o levaram a dizer o que anda dizendo, tá explicado porque ele está
dizendo essas coisas e dessa forma.
Por fim, sobre informação atribuída também ao ministro e publicada no sábado, 26, em O Globo, dando conta que o espião Dadá seria seu homem de confiança, Paulo Lacerda devolve:
-
Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com
ele. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato
disse isso… essa é mais uma informação leviana, irresponsável e
mentirosa.
Terra Magazine: O
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse em entrevista
ao jornal O Estado de S.Paulo: "Lacerda tinha como missão me destruir",
e que o senhor queria "pegá-lo". Disse também que "dizem" que o senhor
estaria assessorando o PT e municiando o presidente Lula com
informações…
Paulo Lacerda: Soube
pelo jornal. O absurdo é tamanho que não sei como ele se permite dizer
aquilo. Se ele disse aquilo, respondo: primeiro, o ministro Gilmar está
totalmente desinformado sobre a minha vida profissional e pessoal. Estou
aposentado da Polícia Federal depois de dois anos e meio de adidância
em Lisboa e trabalho hoje para a Associação de Empresas de Segurança
Privada. Não trabalho com nada, nada de investigação, e quem me conhece e
à minha vida hoje sabe disso. Sabe o que é mais espantoso?
- O quê?
-
É que é com base nesse tipo de informações que o ministro está
recebendo é que se criou essa crise toda. Se as informações que ele diz
ter recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e
informações que o levaram a dizer o que anda dizendo nos últimos dias,
tá explicado porque ele está dizendo essas coisas e dessa forma. Ele, de
novo, mais uma vez, está totalmente mal informado.
- O senhor não presta assessoria à CPI, ao PT ou ao ex-presidente Lula?
-
Não vejo o presidente Lula, assim como o ministro Gilmar Mendes, desde
que deixei o governo. Isso é ridículo. Não assessoro o PT nem a partido
algum e é um delírio supor, achar e dizer que assessoro o ex-presidente
Lula. Basta perguntar aos senadores e deputados da CPI se assessoro à
CPI ou a algum parlamentar. Basta perguntar aos assessores do Lula se
alguém tem algum vestígio de presença minha, de contato meu com ele. Sou
aposentado, até poderia trabalhar para quem me convidasse e eu
quisesse, mas isso não é verdade. É absoluta inverdade. Impressiona e é
preocupante como um ministro do Supremo não se informa antes de dizer
esses absurdos.
- Mas o que exatamente é absurdo?
-
Tudo isso. São informações totalmente tendenciosas. Eu não estou
trabalhando para partido algum, político nenhum. Ele está exaltado, sem
controle, não sei se por conta dessa conversa com o ex-presidente, mas
nada disso é verdade. E isso é muito fácil de checar.
- O senhor e o ministro Gilmar Mendes já tiveram um problema sério…
-
Em setembro de 2008, ele procurou o presidente Lula e acusou a Abin,
que eu dirigia, de ter feito grampos ilegais na Operação Satiagraha.
Aquilo era mentira. Não foi feito grampo algum ilegal por parte da Abin…
aliás, a CPI de agora é uma ótima oportunidade para investigarem aquela
armação. Não existiu grampo algum, mas o ministro Gilmar Mendes foi ao
presidente da República com base em uma informação falsa. Espero que
agora apurem tudo aquilo.
- O que mais o incomoda?
-
Eu não vi o ministro Gilmar Mendes falar isso, eu li no jornal. Não sei
se ele falou, mas se ele falou, foi leviano e mente. Se falou isso o
ministro Gilmar Mendes mentiu. Estou aposentado da área pública, todos
sabem disso. Não teria nenhum impedimento, de ordem alguma, para
trabalhar com investigação, mas não quero, e isso que ele disse, se
disse, não é verdade.
- Alguma vez, depois do
episódio em 2008, do tal grampo cujo áudio nunca apareceu, o ministro
Gilmar e o senhor falaram sobre o episódio? Em algum momento ele
reconheceu não ter ouvido o tal grampo, se desculpou?
-
Não. Repito, não vejo o ministro e o ex-presidente Lula há anos. E não
houve desculpa alguma… e acho que a CPI agora seria ótima oportunidade
para esclarecer isso de uma vez por todas, embora a Polícia Federal já
tenha concluído que não houve grampo algum da Abin…
- Essa CPI de agora, a do Cachoeira, tem alguns personagens comuns com aquele caso, fala-se muito no espião Dadá…
-
A propósito. O ministro Gilmar Mendes teria dito ao jornalista Moreno
que esse cidadão, Dadá, é ou era meu braço direito, meu homem de
confiança. Respondi por escrito, mandei um e-mail para o Moreno, que é
um jornalista… ele recebeu uma informação de um homem público e a
publicou. Por isso enviei a resposta direto para ele e para o jornal O Globo.
- E qual é a resposta?
-
Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com
ele. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato
disse isso…
- Sim, a ressalva está registrada
- Se ele disse isso, essa é mais uma informação leviana, irresponsável e mentirosa.
Foto: Agência Brasil
*GilsonSampaio