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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, fevereiro 09, 2014
MILITAR ADMITE FARSA NA MORTE DE RUBEM PAIVA DURANTE A TRISTE, NOJENTA E INESQUECÉVEL DITADURA MILITAR
"Fusca incendiado fez parte da montagem para encenar fuga de Rubens Paiva" |
Coronel
reformado diz em depoimento à Comissão da Verdade do Rio que Exército
montou a versão de que ex-deputado foi sequestrado por terroristas
OS PRESOS POLÍTICOS SOB CUSTÓDIA, ANTES DE SEREM ASSASSINADOS NOS PORÕES, ERAM ANTES SUBMETIDOS A TORTURAS BESTIAIS POR AGENTES DO ESTADO. |
Em
depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio, o coronel reformado
Raimundo Ronaldo Campos admitiu que o Exército montou uma farsa para
esconder a morte do ex-deputado Rubens Beirodt Paiva, que aparece na
lista de mortos e desaparecidos do período da ditadura militar desde o
dia 20 de janeiro de 1971.
Segundo o depoimento, divulgado ontem
pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na noite do dia 21 de janeiro daquele
ano Campos e outros dois militares teriam recebido ordens de seus
superiores para atirar na lataria de um Fusca e incendiá-lo em seguida,
no Alto da Boa Vista, no Rio. A montagem era para sustentar a versão
oficial de que, ao ser transportado por militares, o ex-deputado foi
sequestrado por terroristas, que atearam fogo no carro.
Campos
disse saber que se tratava de uma operação para "justificar o
desaparecimento de um prisioneiro". Revelou também ter informações de
que ele já estava morto.
Acusado de manter correspondência com
exilados político, Paiva - que havia sido cassado em 1964 - foi preso em
casa, diante de familiares. Militares da Aeronáutica o levaram e o
entregaram ao Destacamento de Operações de Informações do 1.º Exército
(DOI).
De acordo com a versão oficial, Paiva foi ouvido e em
seguida conduzido de carro para fazer o reconhecimento de uma casa que
funcionaria como aparelho subversivo. No caminho, foi sequestrado. Logo
em seguida os militares se dirigiram à 19.ª Delegacia de Polícia, no
Rio, e registraram a história.
O depoimento do coronel reformado
não é o primeiro que põe em xeque a versão oficial. Em 1986, o
ex-tenente Amílcar Lobo, que foi médico do Exército, disse à PF que
tentou socorrer o prisioneiro - que, após torturas, estava em estado
crítico.
No ano passado, a Comissão Nacional da Verdade divulgou
um documento, encontrado na casa de um ex-comandante do DOI-CODI,
coronel Molina Dias, que confirma a passagem de Paiva pela instituição.
Para
Vera Paiva, filha do ex-deputado, "não há mais dúvida de que meu pai
não é um desaparecido: ele foi assassinado e a cena do crime está
ficando cada vez mais clara". Sobre o depoimento do coronel, comentou:
"A gente agradece. É importante que mais gente faça isso. Interessa à
família e ao Brasil, onde casos de tortura continuam sendo abafados por
essa lógica de não se falar nada."
*militanciaviva
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