COMÉRCIO EXTERIOR - A ILUSÃO MEXICANA.
A
cada dia surgem novas evidencias e informações que desmontam o mito do
México como paradigma de progresso e modernidade na América Latina, e de
um exemplo e modelo de corte neoliberal para o desenvolvimento de
outros países da região.
Não
bastasse a revelação de que quatro em cada dez mexicanos estão passando
fome, de que não existe sequer seguro desemprego no país, e de que
cerca de 60% da população sobrevive na informalidade, sem direito a vale
alimentação ou aposentadoria, por exemplo, cai agora por terra a
posição do país como grande potência exportadora.
Um
estudo recente, publicado na Revista Paradigmas, editada por um
conjunto de universidades mexicanas, com o título de “quão mexicanas são
as exportações mexicanas”, mostra que, de 1987 a 2011, as exportações
cresceram até chegar a quase um terço do PIB, mas ao mesmo tempo, a
produção per capita, segundo o Banco Mundial, ficou em apenas 2% ao
ano.
A causa
dessa dicotomia, que faz com que as exportações tenham crescido muito
mais do que a produção - e com que persista a pobreza - seria,
justamente, o baixíssimo nível de conteúdo nacional nas exportações
mexicanas.
Usando
dados sobre a relação insumo-produto desenvolvida pelo economista Marcel
Timmer, os autores - mexicanos - do estudo, separaram os cinco setores
de maior vocação exportadora do México, Brasil, Coréia do Sul e China, e
se debruçaram sobre o conteúdo nacional da produção enviada por eles
enviados para o exterior.
A
conclusão, ao final do trabalho, foi a de que, excluídas as atividades
de extração de recursos naturais ou o processamento básico desses
recursos, o maiores setores exportadores da economia mexicana são
justamente aqueles que apresentam menor conteúdo nacional.
Enquanto
no Brasil e na China o conteúdo nacional dos cinco maiores setores
exportadores é de aproximadamente 90%, e na Coréia do Sul é de 80%, no
México ele não passa de 60%.
Por essa
razão, quando as exportações crescem, no México, seu impacto na
utilização de insumos nacionais e no salário da população é mínimo e
muito menor do que ocorre no Brasil e na China.
No
México, existe um divórcio, um forte desacoplamento entre o setor
exportador e o resto da economia, o que faz com que nem os empresários,
nem os trabalhadores locais se beneficiem da “abertura” do país para o
exterior.
Isso
confirma o que qualquer observador com um pouco de bom senso já sabia. O
setor exportador mexicano funciona como um enclave dentro da economia
local. E se beneficia de seus baixos salários e da localização
geográfica das “maquiladoras”, para fazer uma breve parada, a caminho do
mercado dos Estados Unidos.
O
dinheiro não fica no México, já que, ao contrário do Brasil, a maioria
dos setores de maior potencial exportador são de capital estrangeiro, e
os lucros, assim como o suor dos trabalhadores, vão, em sua quase
totalidade, para o exterior.
por Mauro Santayana no Jornal do Brasil