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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 07, 2015

Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.

O ator sueco e a sonegação da Globo

Stellan
Stellan
Stellan Skarsgard é um ator sueco.
Aos 63 anos, um dos favoritos do cineasta Lars von Trier, tem uma carreira vitoriosa que lhe trouxe fama e dinheiro. Recentemente, ele concedeu uma entrevista na qual reafirmou seu amor pela Suécia.
“Vivo na Suécia porque o imposto é alto, e assim ninguém passa fome. A saúde é boa e gratuita, assim como as escolas e as universidades”, disse ele. “Você prefere pagar imposto alto?”, lhe perguntaram. “Claro. Se você ganha muito dinheiro, como eu, você tem que pagar taxas maiores. Assim, todo mundo tem a oportunidade de ir para a escola e para a universidade. Todos têm também acesso a uma saúde pública de qualidade.”
Skarsgard nasceu e cresceu numa cultura que valoriza o pagamento de impostos. Por isso a Suécia é tão avançada socialmente. Impostos, como lembrou ele, constroem hospitais, escolas, universidades. Pagam professores e médicos da rede pública, além de tantas outras coisas positivas para qualquer sociedade.
Essa cultura vigora também na Alemanha. Recentemente, o presidente do Bayern foi para a cadeia por sonegar imposto. Quando o caso eclodiu, as autoridades alemãs fizeram questão de puni-lo exemplarmente sob um argumento poderoso: nenhum país funciona quando as pessoas acreditam que podem sonegar impostos impunemente.
Agora, vejamos o Brasil. Há anos, décadas a mídia alimenta uma cultura visceralmente oposta. Imposto, você lê todo dia, é um horror. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo (o que é mentira). Imposto é uma coisa injusta. Bem, a mensagem é: sonegue, se puder. Parabéns, caso consiga.
Não poderia haver coisa mais danosa para os cidadãos do que esta pregação diuturna da mídia. Você os deforma moralmente. Tira-lhes o senso de solidariedade presente em pessoas como o ator sueco citado neste artigo.
Além de tudo, a cultura da sonegação acaba chancelando os truques praticados pelas grandes companhias de mídia para escapar dos impostos. Considere o caso célebre da sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.
Nestes dias, vazou toda a documentação relativa ao caso. Uma amostra já tinha vindo à luz – na internet, naturalmente – algum tempo atrás, num furo do site Cafezinho. Só a cultura da sonegação pode explicar o silêncio sinistro que cerca este escândalo fiscal.
Até aqui, a Globo não  está acontecendo nada. Contei já: quando o Cafezinho publicou os documentos, falei com o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila. Ponderei que era um caso importante, e ele aparentemente concordou porque logo a Folha fez uma reportagem sobre o assunto. Uma e apenas uma. Em seguida, a sonegação da Globo sumiu da Folha para nunca mais retornar.
Se conheço as coisas como funcionam nas redações, um telefonema de um Marinho para um Frias – as famílias são sócias no Valor — pôs fim à cobertura. Volto a Stellan Skarsgard. Em todo país socialmente desenvolvido, pagar impostos é uma coisa sagrada. E sonegá-los é um ato de lesa sociedade, passível de punição exemplar.
O Brasil sofreu uma lavagem cerebral da mídia. Uma das tarefas prementes de uma administração sábia é desfazer essa lavagem. Quando as palavras do ator sueco encontrarem eco no Brasil, seremos uma sociedade desenvolvida.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.deu uma única satisfação à sociedade. Não se desculpou, não se justificou. É como se nada houvesse ocorrido. Também a Receita Federal, até aqui, não disse nada. Mais uma vez, é como se nada houvesse ocorrido no âmbito da receita. Nenhuma autoridade econômica, igualmente, se pronunciou. De novo, é como se nada houvesse ocorrido numa área tão vital para a economia como a arrecadação de tributos.
E a mídia?
Bem, a mídia finge que não

Há 25 anos perdíamos o grande Luís Carlos Prestes

Há 25 anos perdíamos o grande Luís Carlos Prestes. Figura central na luta pela liberdade e da garantia de direitos em nosso país. Do combate às desigualdades e mazelas sociais infiltradas na nação, fora deputado e senador da República, onde se perfilou a Jorge Amado e João Amazonas. Um dos primeiros a erguer a voz pelo socialismo. Sua imagem hoje é simbólica para nossa História, para nossa luta e identidade partidária. A democracia deve muito à Prestes. Todos nós também.
Jandira,
presente!

“Não devemos lutar por uma utopia de que em algum dia teremos uma sociedade melhor, temos que lutar para que as pessoas vivam mais felizes hoje”

Mujica: “A luta de classes é como o sol e como as estrelas. Negá-la é negar a realidade”

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Pregando a união da América Latina e atacando o consumismo, o ex-presidente uruguaio alerta para os novos métodos da direita e faz uma avaliação de seu governo. “Não devemos lutar por uma utopia de que em algum dia teremos uma sociedade melhor, temos que lutar para que as pessoas vivam mais felizes hoje”

Por Igor Carvalho e Vinicius Gomes, de Montevidéu
Após vinte e cinco minutos de viagem até a periferia de Montevidéu, uma pequena rua de terra se revela e corrobora o mito da simplicidade de seu morador mais ilustre. Manuela corre como se tivesse quatro patas, ignorando que uma é inválida. Na frente de um galpão, abastecido com material de construção, há dois grupos.
O primeiro se forma em torno do cineasta sérvio Emir Kusturica. Ele grava um documentário sobre a vida de nosso anfitrião, que se chamará O último herói. O diretor, arredio, reconhecido e premiado em todo mundo, parece um anônimo caminhando pela chácara, sem ser incomodado.
Já o segundo grupo está animado, são funcionários do ex-guerrilheiro de um dos mais importantes movimentos da história da América Latina, o Tupamaros. Um dos homens se afasta da reunião e anuncia: “O presidente já vai receber vocês”.
Ele atrasa vinte minutos em relação ao horário marcado, estava ajudando na obra da escola agrária que será erguida em seu terreno. Vestindo uma calça de agasalho da seleção uruguaia e uma chuteira de futebol de salão, nos convida para sentar na frente de sua casa.
Nos sentamos em um banco feito por internos de um hospital psiquiátrico de Montevidéu, todo ele ornado com tampas de garrafas de refrigerante. O mesmo assento e espaço foi ocupado três dias antes, sob as mesmas condições, pelo rei da Espanha, Juan Carlos, que passou a tarde com o ex-presidente.
No fundo da casa, a última das lendas se confirma. Está lá o automóvel azul, um dos poucos patrimônios do ex-mandatário uruguaio, seu Fusca. Ele defende a propriedade. “Por que eu vou querer andar mais rápido que 80 km/h? É um perigo. Não há impostos [do carro]. Por que andar mais rápido? Se vou morrer do mesmo jeito, que pressa eu tenho?”
mujica-forum4José Alberto Mujica presidiu o Uruguai de 2010 até o último dia 1º de março. Dois dias depois foi empossado como senador. Aos 79 anos, caminha com a tranquilidade de quem saiu do governo com 65% de aprovação e trouxe a mídia do mundo inteiro para dentro do país.
Pelas ruas do Uruguai, já é tratado como um mito. “Ele é maior que o Papa”, diz um entusiasmada garçonete. Para uma jornalista, “toda utopia se torna verdade na boca de Mujica”. Na posse de seu sucessor na presidência uruguaia, Tabaré Vázquez, bandeiras da Colômbia, Argentina e Brasil com os mesmos pedidos, que Mujica “assuma” os países vizinhos. “Estou aqui porque ele nos inspira a querer ter uma vida mais humana, combatendo o capitalismo e ajudando os mais pobres”, afirma a mulher que carrega a bandeira do Chile.
Em entrevista exclusiva à Fórum, Mujica dispara contra o consumismo e mostra como se tornou um dos grandes oradores contemporâneos, com discursos que arrebatam a juventude pelo mundo.
“Quando você vai comprar algo, não paga com dinheiro, paga com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro. Todavia, se tem muito dinheiro, tem que gastar tempo em controlá-lo e [cuidar para] que não te roubem. E, ao final, és um pobre escravo que já não tem tempo para viver”, filosofa o ex-guerrilheiro, que se casou com uma companheira de luta, hoje senadora pelo Uruguai e favorita às eleições municipais de Montevidéu, Lucía Topolansky.
Mujica, que ficou preso por 14 anos durante a ditadura militar uruguaia, empreendeu durante seu governo mudanças profundas no sistema do país. O agora senador conduziu o Uruguai para a esquerda e tornou possível a concretização de pautas históricas relacionadas a direitos civis, como a despenalização do aborto, a regulamentação da produção e venda da maconha, a Lei de Meios e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“Reconhecemos o matrimônio igualitário porque acontece em todo mundo e é estúpido não reconhecê-lo. Tratamos de combater o narcotráfico pela via da regulamentação do mercado, não que estejamos de acordo com o consumo de droga. Porém, pior que a maconha, é o narcotráfico... Esse critério, tratamos de abrigar em todas as políticas, reconhecer a realidade, por mais que não te agrade, porque reconhecê-la é tratar de retirar os efeitos negativos que aquela realidade pode ter. Olhe, isso nem é de esquerda, isso deveria ser o senso comum”, afirma Mujica.
Confira, na íntegra, a entrevista com o líder político uruguaio, que faz parte do "Bora para o Uruguai", projeto que viabilizou a viagem de Fórum ao país com o apoio de leitores da publicação (ver box no fim da entrevista).
Fórum – Ouvimos de uma jornalista, aqui em Montevidéu, que “o que é utópico, na boca de Mujica, parece ser verdade”. O que é a utopia para você?
José Mujica – A utopia é um caminho. É como uma luz no horizonte que nos ajuda a percorrer esse caminho, e eu diria: que caminho longo... Porém, é um caminho a ser feito. Não podemos esquecer dela, mas a vida concreta não é utopia, é luta. Não devemos substituir a luta tendo como consolo ser fiel à utopia, porque, senão, terminamos sendo charlatões.
Fórum – Qual é o papel de Lucía Topolansky em sua vida, como companheira e como personagem política no Uruguai?
Mujica – O que acontece é que o amor tem idade nos seres humanos. Quando se é jovem, é possível que seja uma paixão, quando se está envolvido na luta e ela é muito dramática, o amor também é um refúgio. Na minha idade, o amor é uma luta cotidiana. É difícil viver sozinho. Mas minha companheira também é militante e também está comprometida [com a política], pois, ao contrário haveria dificuldades. É difícil uma vida de um militante se a outra pessoa que compõe sua vida não o acompanha ou não tem compromissos sociais.
Fórum – No mundo inteiro há uma crise de representatividade de figuras e partidos políticos, mas isso não ocorre com a sua figura, que as pessoas querem tão bem. Por que acha que isso acontece?
Mujica – Acho que uma explicação simples é que a república apareceu no mundo para negar o direito divino da monarquia e o direito de sangue da nobreza. A república veio para dizer que, basicamente, todos os homens são iguais. E que, como tal, temos as mesmas possibilidades e os mesmos direitos.
Porém, dentro da república, se repetem algumas ações que são de outra época. Então, a presidência tende a se assemelhar um pouquinho à monarquia: tem o tapete vermelho, tem uma corte, tem um mecanismo que a cerca. E isso é um incentivo para o presidente e a alta hierarquia do Estado viverem – sem se dar conta – de forma diferente de como vive a maioria daqueles que eles lideram. Desta forma, cria-se uma distância. Começam a viver como a minoria, como a minoria privilegiada. E essa distância, no modo de viver, nos costumes e das relações, o povo as nota, o povo as percebe quase que subjetivamente. Começa o descrédito e o “não acreditar” [nas instituições políticas]. Isso é muito perigoso, porque o homem é um animal utópico. No DNA do homem, está inscrita a necessidade de acreditar em algo.
Por que lhes digo isso? Em todas as cidades, em todas as épocas, em algum momento, os homens inventaram alguma religião para crer – e não há utopia maior que a religião. Isso você vai encontrar em todos as partes do mundo e em todas as épocas. Na sociedade moderna, quando as pessoas começam a ser pressionadas pelo mercado e não creem naqueles que as governam, não querem outra coisa a não ser o refúgio individual, com cada um pensando em si próprio e os demais não importando. E esse é o trunfo do egoísmo: a falta de credibilidade acaba por acentuar o egoísmo das pessoas. Perde-se o mínimo sentido de solidariedade e produz-se esse flagelo que é a sociedade moderna, que possui uma riqueza como nunca antes, e mesmo assim, ainda não tem nada para compartilhar.
Creio que privilegiamos demais a ideia de que a troca material determina a mudança do homem e não temos dado o papel devido à cultura e aos costumes nessa batalha. Até podemos ter um pensamento socialista ou socializante, porém, seguimos tendo uma cultura de conduta capitalista, da qual não damos conta. Nesse terreno, a disputa não está estabelecida, então nos movemos em uma sociedade de mercado e aqueles que estão contra isso, estão contra apenas do ponto de vista conceitual, pois suas vidas estão [nesse sistema] como se fosse em uma teia de aranha. Se você tem filhos, mas seus filhos veem que seus amigos ganharam brinquedos novos, isso vai te pressionar.
Fórum – O senhor nos disse agora que "toda pessoa tem que crer em alguma coisa". No que o senhor crê?
Mujica – Eu creio na vida. E, ao crer na vida, creio na necessidade de gastar a maior parte de energia possível para favorecer a vida dos demais. Isso é uma forma utópica de lutar contra a morte. Quero lutar para que os que ficarem tenham um destino melhor do que nós tivemos. Mas, no fundo, provavelmente, o que fazemos traz o desejo de deixarmos algo de nós no destino de nossos irmãos. Quando dizem que eu sou um "presidente pobre", não sou. Sou sóbrio em minha forma de vida, pobre é quem precisa de muito. Esse é pobre. Levo minha vida como na definição de Sêneca.
Fórum – E sobre o culto a sua imagem, o que pensa?
Mujica – Hoje, na sociedade, tudo tende a ser midiático, pelo menos o que é diferente. Isso se difunde porque meu comportamento é distinto em relação ao que fazem os outros, então chama a atenção. Mas isso pode ser muito perigoso, se alguém passa a levar a sério e acredita que pode tirar vantagem disso. Na realidade, isso reflete um problema que está ocorrendo no mundo. Você encontra um tipo raro que se torna presidente, mas vive como vive a parte maior de seu povo. Isso chama a atenção e se torna uma doença. O que deveria chamar a atenção é como vivem os outros, porque isso não é republicano, isso é de sociedade aristocrática.
Fórum – Acredita que a luta de classe é ainda o estruturante do capitalismo?
Mujica – A luta de classes é como o sol e como as estrelas. Negá-la é negar a realidade. As classes sociais estão em toda a parte. Como a encaramos, tem muito a ver em como se segue um filme, como se segue o desenvolvimento da vida. Particularmente, creio que na América [Latina] estamos em uma etapa de liberação. O que significa a "liberação"? Tirar o nosso povo da pobreza e ter sucesso em uma margem da cultura, conhecimento e capacitação. Isso não significa superar as classes sociais, significa preparar o terreno. Não acredito que podemos criar sociedades mais justas a partir de países pobres e massivamente analfabetos – apesar de sabermos escrever, o que digo é com uma cultura muito rudimentar. O que não significa que, se um país for rico e tiver massificado o conhecimento e a cultura por toda uma juventude, vamos construir uma sociedade melhor. Não. Precisa-se de outras coisas.
Posso ser mais claro: as tentativas de se construir países socialistas a partir de países pobres, em minha humilde opinião, demonstraram que são utópicas e impossíveis – mais que utópicas, são quiméricas. Mas isso nós não sabíamos, tivemos que tentar. Por isso, digo que a América Latina está em uma etapa de liberação. Isso significa que temos que apoiar o ingresso da população, incluindo os setores da burguesia, pois precisamos de desenvolvimento, necessitamos de meios materiais. O reforço universitário nós temos que multiplicar por cinco, por dez. Não devemos trancar a economia. Mas não pensemos que só porque a economia pode prosperar, teremos uma sociedade melhor. Enquanto estivermos sendo orientados pelo mercado, estamos perdidos. Pois bem, fizemos nossa parte. O socialismo em um país pequeno como o Uruguai é algo mais que quimérico.
Fórum – E quanto a essa palavra que agora se usa em toda parte: austeridade?
Mujica – Não, não quero mais usar essa palavra. Sou sóbrio. Porque deixar muitas pessoas sem trabalho na Europa é ser austero. Não, austeridade eu não uso mais, porque mata as pessoas de fome, as deixa sem trabalho... Isso não é austeridade. Isso é outra coisa, é miséria. O que é o conceito de sobriedade? É consumir o necessário. É andar sem acúmulos. É ter poucas coisas e não se deixar arrastar pela propaganda de mercado. Para que? Para tentar ter disponível a maior quantidade de tempo para gastar nas coisas que ainda me motivam. Se consumo muito, se fico comprando permanentemente coisas novas, tenho que ganhar muito dinheiro, e para ganhar esse dinheiro estou pagando com meu tempo de vida. Quando você vai comprar algo, não paga com dinheiro, paga com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro.
Ser sóbrio é lutar para aproveitar aquilo que chamamos de liberdade. Você só é livre quando faz coisas que te agradam e te motivam. E não são livres quando tem que trabalhar para fazer frente às necessidades materiais – se você as torna infinitas, é infinito o tempo que terá que trabalhar. Todavia, se tem muito dinheiro, tem que gastar tempo em controlá-lo e [cuidar para] que não te roubem. E, ao final, és um pobre escravo que já não tem tempo para viver. Deve-se gastar tempo para fazer as coisas que se gosta. Para uns pode ser jogar futebol, a outros pode ser ir à praia, ou trabalhar com árvores, namorar... Isso é liberdade, mas para isso tem que se ter tempo.
Parece mentira isso? O capitalismo luta para lhe roubar todo o tempo, e o que rouba é seu tempo de vida. Você tem que melhorar a produtividade, aumentar o rendimento de trabalho, existe a competividade, e por aí vai. Então, o que [o capitalismo] quer é que termine sendo um velho que gastou a vida toda trabalhando e consumindo. E nós não devemos lutar por uma utopia de que em algum dia teremos uma sociedade melhor, temos que lutar para que as pessoas vivam mais felizes hoje, não dentro de 50 anos. Que vivam mais felizes hoje, e para isso tem que ter tempo.
IMG_5267Não digo que as pessoas não tenham que trabalhar, pois quem não trabalha está vivendo às custas de outro que trabalha. O que quero dizer é que a vida não é somente para trabalhar e o que o capitalismo quer é que a vida seja para trabalhar, consumir e tchau. E nós devemos lutar para que a vida seja a mais feliz possível, pois é a única que se tem. Este é um terreno que entra na filosofia e, porque somos de esquerda, não podemos ter a filosofia deles, de que a vida é só para produzir, trabalhar, consumir e se enterrar. Não. Há uma margem para trabalhar, por isso o conceito de sobriedade implica aprender a andar com a bagagem leve. Não me fazem comprar qualquer coisa.
Eu uso um Fusca. Por quê? Por que eu vou querer andar mais rápido que 80 km/h? É um perigo. Não há impostos [do carro]. Por que andar mais rápido? Se vou morrer do mesmo jeito, que pressa eu tenho?
Fórum – Qual o balanço que o senhor faz desses cinco anos na presidência do Uruguai?
Mujica – Fizemos muitas coisas. Porém, hoje, há ainda 0,5% das pessoas na miséria. Isso dito assim, são só números, mas atrás dessas cifras há vidas humanas. Pudemos fazer muitas coisas que avançaram nos direitos sociais, conseguimos ampliar as liberdades. Reconhecemos o matrimônio igualitário, porque acontece em todo mundo e é estúpido não reconhecê-lo. Tratamos de combater o narcotráfico pela via da regulamentação do mercado, não que estejamos de acordo com o consumo de droga. Porém, pior que a maconha é o narcotráfico. A maconha é perigosa se consumida em excesso, por isso é necessário tê-la regularizada e não ter o consumo clandestino.
Vou ser mais claro: se eu tomo dois ou três uísques por dia, não será bom, mas é suportável. Agora, se tomo uma garrafa por dia, vou morrer de coma alcoólico. Esse critério, tratamos de abrigar em todas as políticas, reconhecer a realidade, por mais que não te agrade, porque reconhecê-las é tratar de retirar os efeitos negativos que aquela realidade pode ter. Olhe, isso nem é de esquerda, isso deveria ser o senso comum.
Fórum – O governo uruguaio priorizou as relações com os países da América do Sul. Porque acredita que devemos priorizar essas parcerias aos acordos com Europa e EUA?
Mujica – Nós vivemos muito tempo mirando os EUA e a Europa, sem olhar para nosso continente. O mundo está se confirmando como um sistema de muitas unidades reunidas. A Europa está em crise, mas ainda mantém um bloco forte. A China é um velho Estado multinacional. Os EUA seguem sozinhos, porém, com uma terra prometida quase vazia ao lado, que é o Canadá. Nós, os latino-americanos, se queremos ter algum peso nesse mundo que vem, temos que nos dar conta de que individualmente não vamos a lugar algum – mesmo países grandes como o Brasil, sozinhos, não vão ter sucesso. Por quê? Porque chegamos muito tarde.
Se nós todos [países da América do Sul], para tratar de equilibrar esse mundo, não temos como estabelecer com políticas federais uma aproximação que nos permita desembocar em um desenvolvimento comum, vai ser muito difícil negociar com essas potências. No mundo que está por vir, não há lugar para os fracos. Para que haja menos fracos, não há outro caminho, temos que nos juntar. Nós, juntos, temos muitas possibilidades, muitos recursos, muitas promessas, mas não somos uma realidade. Já passou da hora de pensarmos como continente integrado, de pensarmos como um único país, não podemos nos acomodar. Se não existe vontade política nos governos, jamais vamos construir uma sociedade mais justa. Mas esse é um tema muito complicado. Os governos estão preocupados com quem ganha a próxima eleição e as alianças para que isso seja possível, enquanto no momento de discutir temas em comum somos muito fracos.
Fórum – O senhor entende que há um avanço da direita e uma onda de movimentos golpistas na América do Sul?
Mujica – O que há é uma nova tecnologia que está movendo a direita imperialista no mundo, com uma doutrina que busca, por métodos civis e não violentos, desestabilizar a situação dos governos. Isso tem se aplicado contra qualquer governo que se mostra medianamente progressista. Essa é uma nova forma de luta que a direita tem encontrado, na qual utiliza reivindicações próprias da esquerda tradicional e seus métodos para trocar o governo que não lhe agrada. É um tema difícil.
Fórum – Em 1986, o ex-presidente [Julio] Sanguinetti disse que os tupamaros não tinham futuro político e nem possibilidades eleitorais, que o passado da organização não permitiria uma aceitação popular. Hoje, podemos dizer que ele se equivocou?
Mujica – Temos que perguntar a ele [risos]. Filho, às vezes, nós de esquerda, nos equivocamos também. Ninguém tem a palavra santa, viu? Ninguém. A vida é muito mais complexa do que parece. Havia um sábio da política de sua época que dizia assim: “Na política, não se escreve nada, se fala pouco e se pensa muito”. Verdade. Eu reforçaria, não se escreve nada [risos].
Fórum – O que faria o senhor pegar em armas, hoje?
Mujica – Penso que nada. Hoje, devemos pensar se há guerras justas e injustas. O avanço tecnológico, essa disparada tecnológica no mundo de hoje, em favor da guerra, leva a sacrifícios enormes uma série de pessoas que não tem nada que ver com essa guerra. Há um terror tecnológico, um aparelho que lhe permite matar as pessoas sem sequer conhecê-las, à distância, e ainda lhe dão créditos por heroísmo. Não estou afirmando que não temos que lutar. Há outra forma de luta e temos que nos dar conta. Afirmar isso contra a guerra não é cair em um “pacifismo de pomba branca”, não. Se trata de não perder vidas. Há maneiras distintas de se usar a rebeldia e a inconformidade humana para a luta, sem ser pela via armada, e que são enormemente questionadoras.
Fórum – O que o tempo preso mudou em sua vida e como viu o mundo aqui fora quando saiu?
Mujica – Mudou o mundo, mudou o tempo e, até hoje, há mudanças. Quando saímos da prisão, concluímos que seria pueril continuar com o movimento armado e clandestino, pareceria uma provocação estúpida. Por cima de todas as coisas, vale pouco o que nós pensamos se as pessoas não entendem, porque toda decisão que tomamos na vida política precisa que as pessoas estejam próximas. Se as decisões e caminhos que escolhemos nos afastam das pessoas, estamos fracassados, por mais heroica e romântica que possa parecer nossa luta. Então, decidimos entrar para a legalidade e jogar as regras do jogo. Penso que não nos equivocamos, porque, se estivéssemos errados, não chegaríamos onde hoje chegamos.
Acho que mitigamos muitas das misérias de nossa sociedade, muito tem que ser feito ainda, mas se tivéssemos continuado com nossas convicções, hoje seríamos um grupo de velhos filósofos debatendo no café e falando de histórias do passado. Não podemos viver de história, o ontem serve para pensar que caminho faremos amanhã, mas é amanhã que a vida se joga.
Fórum – Como foi possível realizar uma revolução de costumes no Uruguai, com tantas mudanças profundas?
Mujica – Se olharem para a história do Uruguai, vão ver que somos um povo aberto a mudanças. Em 1914, regularizou-se a prostituição. Muito cedo, se estabeleceu o divórcio por vontade da mulher. O Uruguai é o país mais laico de toda a América Latina. Aqui também se fundou muito cedo uma universidade feminina, que estimulava as famílias para que mandassem suas filhas para estudar. Então, estamos acostumados com mudanças e avanços progressistas.

O projeto "Bora para o Uruguai"

Com esta matéria e outra reportagem que sairá na próxima edição de nossa publicação semanal, Fórum inaugura uma série de projetos jornalísticos que pretende ir a fundo nas realidades de outros lugares e países que não são o foco da mídia tradicional. Nesta primeira experiência, o projeto "Bora para o Uruguai" teve como objetivo investigar o legado de Pepe Mujica que, à frente de um país com pouco mais de três milhões de pessoas, se agigantou perante o mundo com o avanço de pautas progressistas.
Para a viabilização da viagem-reportagem, Fórum contou com o financiamento de seus leitores. Foram arrecadados R$ 5 mil dos R$ 7,5 mil previstos para a concretização do projeto, sendo que o restante não arrecadado foi bancado pela publicação.
Os 93 leitores que participaram da empreitada puderam acompanhar, via Whatsapp, o dia a dia da apuração das reportagens feitas no país, podendo interagir com os repórteres, sugerir e discutir pautas e fazer suas análises a respeito do andamento das matérias. Além disso, ganharam também um ano de assinatura da revista Fórum Digital.

(Fotos por Vinicius Gomes)
*RevistaForum

"Fundamentalismo religioso" CUIDADO BRASIL


"Fundamentalismo religioso" CUIDADO BRASIL
Jovens marcham, batem continência e se dizem ''PRONTOS PARA A BATALHA''
http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,em-culto-da-universal-jovens-marcham-batem-continencia-e-se-dizem-prontos-para-a-batalha,1643082
Alvo de polêmica, "exército" da Igreja Universal atua em Porto Alegre
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/03/alvo-de-polemica-exercito-da-igreja-universal-atua-em-porto-alegre-4711850.html
EXÉRCITO DE CRISTO - DESCE A LETRA
https://www.youtube.com/watch?v=LQwhGvq97l8&feature=youtu.be






O PROTEGIDO



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Ninguém deve ser condenado por antecipação, mas tratamento de Rodrigo Janot a Aécio Neves mostra um lamentável traço seletivo na Lava Jato

Deve-se reconhecer que até agora o procurador geral Rodrigo Janot tem demonstrado uma postura de equilíbrio que contrasta com seus antecessores, responsáveis pela Ação Penal 470.
O PGR Antonio Carlos Fernando — que hoje é advogado do deputado Eduardo Cunha — criou o termo “organização criminosa” para designar 40 acusados. Seu sucessor imediato, Roberto Gurgel, lançou a teoria do domínio do fato, sob medida para atingir o principal alvo político da investigação, José Dirceu, contra quem não havia prova alguma.

Até onde a vista pode alcançar, a atuação de Janot está longe deste patamar.

Mas a exclusão a priori de Aécio Neves da lista de políticos que merecem ser investigados, confirmada pelos principais veículos do país, indica uma lamentável preferência seletiva. Seria absurdo imaginar que apareceram provas robustas para condenar, desde já, o senador de Minas Gerais. Mas chega a ser escandaloso registrar a falta de curiosidade diante de determinados fatos, relatados pelo Estado de S. Paulo. Conta o jornal:

“Em delação premiada, o delator Roberto Yousseff afirmou que Aécio Neves teria recebido dinheiro fruto de propina de Furnas, estatal do setor elétrico, por meio “de sua irmã”, sem citar nomes ou detalhes.” No “termo de colaboração número 20,” registrado no final do ano passado, que tem como tema Furnas e o “recebimento de propina pelo Partido Progressista e pelo PSDB,” Yousseff diz que “cerca de dez vezes” recolheu dinheiro de propina. Numa dessas vezes, prossegue, foi informado que o repasse não seria feito integralmente – faltariam R$ 4 milhões porque “alguém do PSDB” havia coletado essa quantia antes.” O relato do Estadão prossegue: Indagado pelos procuradores, Youssef declarou não ter informação de quem havia retirado parte da comissão, mas afirmou “ter conhecimento” de que o então deputado federal Aécio Neves teria influência sobre a diretoria de Furnas e que o mineiro estaria recebendo o recurso “através de sua irmã”, segundo o texto literal da delação. O delator disse “não saber como teria sido implementado o ‘comissionamento’ de Aécio Neves”.
Como escrevi três parágrafos acima, não se trata de condenar ninguém por antecipação. Como todo cidadão, Aécio tem direito a ser considerado inocente até que se prove o contrário. Mas estamos falando de fatos que deveriam ser melhor esclarecidos, como é obrigação de todo trabalho de investigação que se preze. Antes disso, ninguém pode ser considerado mais suspeito ou mais inocente do que os outros.
Na delação, o doleiro descreve que “de 1994 a 2001 o PSDB era responsável pela diretoria de Furnas”. Yousseff está falando dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Nos bastidores políticos brasileiros, rumores e suspeitas em torno de Furnas alimentam o cotidiano político brasíleiro há décadas. Delator da AP 470, Roberto Jefferson já foi acusado de ter negociado uma lista de propinas com a direção de Furnas, nome a nome, quantia a quantia — logo depois da posse de Lula, no tempo em que fazia parte da base aliada do governo petista. Para dirigentes do PT, a recusa de Lula em avalizar essa negociação é que estaria na origem das denúncias de Jefferson contra seus aliados de véspera.
O nome de Aécio Neves surgiu na Lava Jato em função de um negócio de 2012 com a participação da MO Consultoria, uma das empresas de fachada do doleiro Alberto Yousseff, usada para movimentar o pagamento de propinas. A quantia, no valor de R$ 4,3 milhões, envolvia a venda de ativos da Light, estatal de energia do Rio de Janeiro que é controlada pela Cemig, estatal que é a jóia da Coroa do governo de Minas Gerais. Embora houvesse a suspeita de que os contratos e notas pudessem ser fraudulentos, o juiz Sérgio Moro decidiu excluir o caso da Lava Jato.
Num despacho Sério Moro cita o inquérito referente à Cemig. Diz ele: “trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras”. Conforme o despacho, a investigação não seguiu adiante porque era um “negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobrás.”

Vamos combinar: é um argumento estranho como o mensalão mineiro, aquele caso que, mais antigo do que a AP 470, sequer chegou a conclusão em primeira instância.
Não é a primeira vez que Aécio recebe decisões favoráveis em casos relevantes. Carlos Ayres Britto, ministro do STF que presidiu o julgamento da AP 470 em sua fase inicial, saiu em socorro de Aécio em agosto do ano passado. Naquele momento, quando surgiu a denúncia de que o governo mineiro havia investido R$ 13,9 milhões na construção da pista de um aeroporto na fazenda de um tio de Aécio, Ayres Britto prestou um serviço profissional ao então candidato presidencial do PSDB. Assinou um parecer — avaliado em R$ 65 000 — no qual disse “nada ver de juridicamente inválido” na obra. Carlos Veloso, também ex-ministro do STF, contribuiu com um segundo parecer favorável a Aécio.
Nenhum desses fatos demonstra que o senador do PSDB é culpado de coisa alguma.
Mas desmente a tese, tão cara ao PGR, de que o “pau que bate em Chico é o mesmo que bate em Francisco.”

A decisão de Janot não só poupou Aécio dos constrangimentos de uma investigação. Também lhe deu espaço para partir para o ataque, acusando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de agir como um “militante do PT”, sugerindo que atuar nos bastidores para tentar prejudicá-lo — acusação absurda contra um ministro que frequentemente é acusado de ser republicano demais em suas ralações com a Polícia Federal. O lance seguinte foi o previsível. Em vez de debater uma denúncia contra Aécio, os meios de comunicação passaram a debater seu ataque a Cardozo.
Isso é que é ter “amigos na mídia,” não é mesmo?

A inclusão ou exclusão de determinado político numa relação de suspeitos num inquérito de repercussão pode ser tão decisiva para seu futuro como uma condenação no julgamento final.
Implica em dezenas de “reportagens,” “notinhas,” “fofocas”, numa campanha negativa que, pelo efeito acumulativo, cria uma nova identidade política. Falsos amigos estranham, eleitores não entendem, vizinhos se afastam, a pessoa é vaiada na rua, de repente aparece uma camara de celular que registra tudo e envia para um telejornal — e assim por diante.
Reu na AP 470, na qual acabou inocentado inteiramente, com direito inclusive a um pedido de desculpas no tribunal, Luiz Gushiken viveu um inferno de sete anos desde que foi denunciado. Disposto a lutar até o fim por sua honra, processou veículos que não podiam provar o que escreviam — e chegou a ser humilhado por sentenças que traiam o gosto de fazer média com jornais e jornalistas. Nas salas de aula, seus filhos ouviram sermões patrioteiros de professores que não sabiam do que estavam falando — mas faziam questão de apontar o dedo para adolescentes que não tinham condições de defender-se.

A forma saudável de evitar injustiças desse tipo é contar com meios de comunicação que assumem um comportamento prudente. Só publicam uma denúncia quando o trabalho de apuração está em fase de conclusão e os fatos foram bem investigados, as partes foram ouvidas e as principais dúvidas foram esclarecidas.
Erros acontecem porque estamos falando de uma atividade humana — mas são assumidos e noticiados com mesmo espaço e vigor do que a notícia original. Falsários costumeiros do jornalismos podem ser denunciados, identificados. O direito de resposta faz parte dos usos e costumes da democracia.

O problema é que, para funcionar, essa regra teria de valer para todos. Não pode ser seletiva, o que dificulta operações políticas acobertadas pelo mau jornalismo. Imagine falar nisso onze meses depois de vazamentos da Lava Jato.
Esta é a diferença.
*OterrordoNordeste
CNBB e OAB divulgam Manifesto em Defesa da Democracia e defendem reforma política

Tendo em vista a crise política e institucional vivida atualmente no Brasil e agravada por graves denúncias de corrupção, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançam nesta quarta-feira, 25 de fevereiro, o Manifesto em Defesa da Democracia. Na cerimônia, em Brasília, os presidentes das respectivas entidades – o arcebispo de Aparecida (São Paulo), cardeal Raymundo Damasceno Assis, e o advogado Marcus Vinicius Furtado Coêlho – apresentam o posicionamento das instituições em favor do regime democrático.

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Movimentos se mobilizam em torno do Projeto de Iniciativa Popular pela reforma política.


A iniciativa da CNBB e da OAB em divulgar o manifesto foi motivada pelas "graves dificuldades político-sociais” que ocorrem atualmente no Brasil. O texto pretende reafirmar à população brasileira a importância da ordem constitucional e a normalidade democrática.
Os presidentes das entidades também chamam atenção para os vícios que geram crises nas instituições da democracia, como o financiamento empresarial das campanhas políticas. Neste sentido, o manifesto defende a urgente Reforma Política Democrática para corrigir tais distorções que ameaçam a democracia e cerceiam a participação efetiva do povo nas decisões importantes para o futuro do país.
Eventos da Coalizão pela Reforma Política
A rede de entidades que compõem a Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas participa também nesta quarta-feira, 25, em Brasília, de três eventos importantes para a mobilização em torno do Projeto de Lei de Iniciativa Popular e da defesa do Projeto de Lei (PL) 6316/2013, em tramitação na Câmara dos Deputados.
Houve reunião com as entidades integrantes da Coalizão para discutir as datas do Plano de Mobilização, que compreende ações em todo o país voltadas à conscientização e coleta de assinaturas para o projeto. Também deve ser definida ainda nesta quarta-feira, 25, a data de realização da Semana de Mobilização e Coleta de Assinaturas.
O último momento do dia será um debate com parlamentares, no Plenário 02 da Câmara dos Deputados, sobre o Projeto de Reforma Política Democrática representado pelo PL 6316/2013. O objetivo da ação é ampliar o apoio parlamentar à iniciativa.

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CNBB se engaja na coleta de assinaturas para a reforma política e em defesa da democracia.

Sobre o Projeto
A Coalizão, formada por quase 100 entidades, entre elas a CNBB, a OAB e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), pretende coletar mais de 1,5 milhão de assinaturas para que seja apresentado ao Congresso Nacional um Projeto de Lei de Iniciativa Popular.
A proposta, assim como o PL 6316 – que foi arquivado pela Câmara – altera o financiamento eleitoral, de forma que seja exclusivamente público e de pessoas físicas, afastando assim a influência do poder econômico sobre as candidaturas.
Também é sugerida uma mudança no sistema eleitoral. A eleição para os cargos legislativos seria feita em dois turnos. No primeiro, o eleitor escolheria o programa apresentado pelos partidos políticos. O segundo turno seria o momento em que os eleitores escolheriam os candidatos que colocariam em prática as propostas do primeiro turno.
Outras sugestões da Coalizão com o projeto de reforma política democrática é ampliar e fortalecer a participação da mulher e de grupos sub-representados na política e a regulamentação do artigo 14 da Constituição Federal, que trata das ferramentas de participação popular, como Projeto de Lei de Iniciativa Popular, Plebiscito e Referendo. O objetivo é a coexistência da democracia representativa com a democracia participativa.
Posicionamento
No Plano de Mobilização da Coalizão irá constar o posicionamento contrário ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 352/2013. Resultado de um Grupo de Trabalho destinado a estudar e apresentar no Congresso Nacional propostas referentes à reforma política e à consulta popular sobre o tema, o projeto prevê a "autonomia de organização partidária”. Na hipótese, os partidos escolheriam o modo de financiamento eleitoral: exclusivamente com recursos públicos, exclusivamente com recursos privados ou por uma combinação das duas fontes.
O financiamento com doações de pessoas jurídicas, defendido pela PEC e por outros projetos em análise na Câmara dos Deputados, foi condenado pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte (Estado de Minas Gerais) e representante da CNBB na executiva da Coalizão. "É a porta mais larga para a corrupção. Uma empresa que doa milhões para eleger alguns candidatos não faz isso gratuitamente”, afirmou o bispo.
Adital

Deleite - Legiao Urbana Celebrar a Estpidez Humana