Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 13, 2015

Aumentar a arrecadação fazendo justiça social

sábado, setembro 12, 2015

A crise econômica não é brasileira

Editorial do Portal Vermelho



Uma das principais cantilenas da oposição e da mídia monopolista é a de que a crise econômica brasileira é um exceção. Segundo essa ideia, o pior do tombo de 2008 já teria passado e o mundo estaria vivendo os primeiros passos de uma recuperação. O Brasil não desfrutaria das benesses dessa retomada por conta dos supostos erros do governo Dilma, que ao invés de adotar os preceitos impostos pelo grande capital financeiro, teria tentado uma aventura desenvolvimentista. A crise econômica que vivemos seria, portanto, nacional.

Carentes de dados concretos que dessem apoio a essa tese, os oposicionistas apostavam nos magros índices de recuperação das economias do capitalismo central. Estes estariam colhendo os frutos do ajuste liberal. Os dados dos últimos dias, entretanto, colocaram por terra esse frágil argumento.

A subida do dólar e a desaceleração da economia chinesa provocaram um tombo na indústria norte-americana, que teve uma queda em sua atividade pela segunda vez seguida. O economista Joshua Shapiro afirma que os dados sobre a indústria dos EUA “sinalizam um alerta quanto ao crescimento econômico real em geral, especialmente se o esfriamento econômico se mantiver em setembro”. Como o quadro futuro só se agrava e desenha-se um setembro pior do que foi agosto, a pálida recuperação da economia norte-americana parece ter sucumbido.

Dados negativos também surgem na França que, junto com a Alemanha, segundo esperavam esses analistas, puxaria o início de uma recuperação europeia. A indústria francesa também sofreu forte desaceleração e não contribuirá com os números da atividade industrial do bloco europeu.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já reconheceu a situação e avisa que o crescimento econômico mundial previsto anteriormente será mais fraco que o esperado. O FMI afirma claramente que a recuperação nas economias centrais não está se confirmando nos níveis esperados. E há mais, Christine Lagarde, a diretora-gerente do fundo, avisa que os países emergentes precisam estar atentos ao agravamento do contágio da crise internacional.

Diante disso, o Jornal Valor Econômico, na edição dessa quinta-feira (3), afirma melancolicamente: “as ondas de incertezas criadas pela China estão fazendo naufragar também os cenários mais otimistas para a recuperação dos Estados Unidos e da Europa”.

É interessante notar que mesmo países que costumam figurar como exemplares pelos defensores do credo liberal pagam o preço do agravamento da crise em escala global. A economia do Canadá teve uma queda de 0,5% do PIB e está em recessão, a Austrália está prestes a mergulhar no mesmo quadro e a Coreia do Sul, dependente das vendas para a China, acaba de sofrer uma queda de 14,8% em suas exportações.

O Brasil vive uma crise econômica cuja dinâmica é mundial, só não enxergam isso os incautos e os comprometidos com a agenda neoliberal. Se há algo que podemos classificar de especificamente brasileiro é a sanha golpista da oposição e da grande mídia, que têm alimentado uma crise política cujo resultado é o agravamento do quadro econômico.

O país tem todas as condições de sair da crise. Para tanto, um primeiro passo é unir as forças progressistas e democráticas com vistas a enfrentar a direita golpista e neoliberal e sustentar mudanças na política econômica que permitam a retomada do desenvolvimento econômico.

Sem verbas do governo de SP, TV Cultura corta programas e vive seu triste fim

77
Crianças-e-personagens-assistindo-tv-Cultura










A melhor emissora pública de TV do país vive seu triste fim. Após 55 anos no ar, emissora está sem dinheiro, não está recebendo mais verba do governo de Geraldo Alckmin e desmonta canal que foi eleito em 2014, a segunda melhor emissora do mundo
Em um vídeo divulgado na noite de domingo (09), vários ex-apresentadores e produtores da TV Cultura lamentam o fim de uma série programas da emissora. O vídeo é narrado pelo ator Luciano Amaral, o Lucas Silva e Silva do seriado “Mundo da Lua” e Pedro do “Castelo Rá Tim Bum”, que pede ajuda para tirar a Cultura da crise.
Entre os apresentadores que aparecem no protesto estão Sabrina Parlatore (“Vitrine”) e Manuel da Costa Pinto (“Entrelinhas” e “Letra Viva”). São citadas atrações que saíram do ar nos últimos anos, como “Zoom”, “Cocoricó”, “Cartãozinho Verde”, “Mosaicos”, “Programa Novo”, “Pé na Rua”, “Turma da Cultura”, entre outros.
“A melhor emissora pública do Brasil, minha, sua, nossa, de todos os brasileiros, está acabando e precisa de ajuda. Eu quero a TV Cultura Viva, e você?”, pergunta o artista que lidera a ação batizada de #EuQueroaCulturaViva. Luciano Amaral imortalizou Lucas Silva e Silva na série Mundo da Lua, produzida pela TV Cultura nos anos 1990.
O intuito da campanha é chamar a atenção para os problemas que a emissora tem passado nos últimos anos e convocar os telespectadores a participarem de uma petição online . O abaixo-assinado será encaminhado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao atual presidente da emissora pública, Marcos Mendonça, e ao conselho curador do canal.
O texto da petição afirma que “nos últimos anos, a TV e as rádios Cultura estão passando por um processo de desmonte e terceirização da programação , com a degradação de seu caráter público e da sua qualidade”.
O documento diz ainda que esse processo vem acompanhado de demissões em massa e de precarização das relações de trabalho, tanto na TV quanto nas rádios, “com estrangulamento da equipe de jornalismo e radialismo; enfraquecimento da produção própria de conteúdo, inclusive dos infantis; entrega, sem critérios públicos, de horários na programação para meios de comunicação privados; sucateamento da cenografia, da marcenaria, de maquinaria e efeitos, além do setor de transportes”.
No ano passado, a TV Cultura foi eleita a segunda emissora de TV com melhor programação do mundo, de acordo com pesquisa encomendada pela BBC. A emissora pública brasileira ganhou medalha de prata na disputa entre as 66 principais redes de televisão de 14 países, ficando atrás apenas da BBC One.
Confira o manifesto:
Somos brasileiros e brasileiras, somos paulistas, somos de várias gerações que na infância, na adolescência e na idade adulta tivemos a oportunidade de ter acesso a uma programação – de rádios e de televisão pública – orientada pela promoção da cultura nacional e local. Conteúdos que ao longo de décadas foram produzidos por equipes formadas por profissionais (jornalistas, radialistas, artistas, técnicos) que buscavam a excelência. O resultado deste trabalho foi reconhecido nacionalmente e internacionalmente, com muitos prêmios e com uma audiência cativa que consolidaram historicamente as rádios e a TV Cultura de São Paulo como uma alternativa aos meios de comunicação comerciais.
As rádios AM e FM ficaram conhecidas pela excelente programação de música popular brasileira e de música clássica. A televisão criou alguns dos principais programas de debates de temas nacionais, como o Roda Viva e o Opinião Nacional, constituiu núcleos de referência na produção de programas infantis, como o Rá-tim-bum, e na de musicais, como o Fábrica do Som, Ensaio e o Viola, Minha Viola, dando espaço também à difusão de curtas-metragens, com o Zoom. As emissoras se tornaram um patrimônio da população paulista.
Contudo, nos últimos anos, a TV e as rádios Cultura estão passando por um processo de desmonte e terceirização da programação, com a degradação de seu caráter público e da sua qualidade. Vários programas de referência da emissora foram extintos, como Zoom, Grandes Momentos do Esporte, Vitrine, Cocoricó e Bem Brasil. Outros tantos sofreram risco de extinção, como o Manos e Minas e, mais recentemente, há a ameaça de acabar com o Viola Minha Viola, líder de audiência da emissora, e o Provocações. Além disso, o premiado Quintal da Cultura perderá a participação dos artistas e será reestruturado para ser apenas o espaço de veiculação de desenhos animados.
Esse processo vem acompanhado de demissões em massa e de precarização das relações de trabalho, tanto na TV quanto nas rádios, com estrangulamento da equipe de jornalismo e radialismo; enfraquecimento da produção própria de conteúdo, inclusive dos infantis; entrega, sem critérios públicos, de horários na programação para meios de comunicação privados, como a Folha de S.Paulo; sucateamento da cenografia, da marcenaria, de maquinaria e efeitos, além do setor de transportes. O mais recente ataque à estrutura da TV foi a retirada do seu sinal das antenas parabólicas, excluindo 30 milhões de pessoas de acesso ao canal.
Acompanhamos esse processo estarrecidos, mas não passivamente. Vamos lutar para impedir o desmanche da Cultura. Queremos a Cultura Viva, refletindo a diversidade e a pluralidade do povo paulista e brasileiro. Queremos a Cultura Viva, mas queremos que ela seja ainda mais pública, que ouça a sociedade, que espelhe de forma criativa a complexidade e a efervescência cultural do nosso estado e do Brasil.