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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 05, 2010

Mas não vai Mesmo, MESMO





















Se José Serra fosse eleito mas não será


Se José Serra fosse eleito (mas não será), ganharia de presente um país que o PSDB, desacostumado ao êxito, jamais sonharia em construir com esforço e competência próprios – como provou em seus governos municipais, estaduais e federal. Poria as mãos num Brasil reformado, sólido e próspero, com US$ 250 bilhões em caixa e imensas obras de infra-estrutura em andamento que o fariam sentir-se 100 vezes maior que um mero gerenciador do anel viário paulista da famiglia PSDB. Um país com um mercado interno aquecido e com 27 milhões de novos consumidores emancipados nas políticas sociais. Um país que gerou 15 milhões de empregos em 8 anos e um mercado de crédito consignado superando a casa de R$ 1 trilhão.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), teria uma arrecadação de impostos e tributos federais da ordem de R$ 80 bilhões mensais para devolver à sociedade em forma de serviços. Arrecadação ascendente, resultante do excelente desempenho da economia deixado pelo seu antecessor.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), levaria ainda um sentimento popular de patriotismo renovado e esperançoso que – somado ao trunfo catalisador de sediar uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos – o faria sentir-se um imperador romano.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), tudo isso saberiam muito bem capitalizar em benefício próprio o PSDB e a elite conservadora, conduzidos pelo seu novo presidente, especialista mor em se apropriar dos créditos de feitos alheios. Assinariam seus nomes nos eventos esportivos, nas obras do PAC em andamento, no sucesso internacional do país, cobrindo os verdadeiros créditos com a cumplicidade do PIG – sócio incansável, dedicado e afinado às causas de ambos – que cuidaria da tarefa de reescrever a história, reduzindo os mandatos do presidente Lula a uma insignificância extrema.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), teria estatais suculentas, prontas para o mercado das trapaças privatizantes conhecidas no passado pelo codinome “enxugamento do estado” ou “estado mínimo”. Trapaças travestidas de benefícios à máquina administrativa e à “nação”, orquestradas pelos mesmos maestros do período FHC, que executariam a mesma marcha fúnebre durante a sutil diluição do patrimônio brasileiro. Entre elas, é claro, estaria a grande vedete, a peça mais cobiçada a ser levada ao abate num leilão macabro de cartas marcadas: a Petrobrás. Valorizada pelo pré-sal, a empresa seria ofertada na mesma bandeja da negociatas engavetadas desde o primeiro mandato de FHC e para as mesmas multinacionais que há anos salivam em torno deste tesouro brasileiro. Negociata que movimentaria rios de dinheiro, atrairia à surdina dos bastidores os mesmos intermediários comissionados que enriqueceriam da noite para o dia. Tramóia que iria restabelecer o duto de escoamento das riquezas do nosso solo para as mãos dos mesmos banqueiros internacionais, ávidos por capital fresco que venha a socorrê-los na recente crise da qual ainda tentam se recuperar.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), não se faria de rogado: negaria o Mercosul e seus “indiozinhos caboclos”, realinhando suas prioridades financeiras a Wall Street, como nos velhos tempos. Romperia com austeridade quixotesca os laços com os governos populares latino-americanos exigindo a deposição de todos os seus presidentes aos quais acusaria de ditadores golpistas e lideraria suas nações em caravana orgulhosa rumo ao lar da velha, gentil e maternal esfera de influência do Tio Sam.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), se esforçaria em repetir a medíocre e desastrosa gestão frente ao governo de São Paulo sem obter êxito de imediato: a robustez econômica e estrutural deixada pelo seu antecessor levaria dois mandatos para ser totalmente dilapidada, pois, diferentemente de São Paulo, o país não lhe teria sido entregue já estagnado pelo fracasso dos governantes anteriores que “casualmente” pertenciam ao seu próprio partido.

Se José Serra fosse eleito (mas não será), depois de extinguir ou renomear toda a obra de seu antecessor, e quando o país já estivesse devidamente “devolvido” ao século 20, pouco lhe importaria fazer sucessor, compromissado que sempre foi exclusivamente com seu próprio umbigo. Assistiria debochadamente aos caciques furiosos do PSDB/DEM digladiarem-se para ocupar seu trono, sabendo que, depois de todo o estrago feito nas areias estéreis de sua inépcia, a esquerda recuperaria o país para tentar, novamente, reparar os enormes danos deixados pelo seu governo.

Se José Serra fosse eleito (mas não será) – enfim – contrataria algum editor de livros de auto-ajuda para escrever sua última fraude: a biografia de “Um brasileiro vitorioso”. O texto seria tão épico e fantasioso que até ele, em processo de senilidade avançada, acreditaria finalmente que é o autêntico “O Cara”. Título ao qual alguns historiadores da pocilga colocariam uma destacada ressalva: que, em verdade, seu êxito só foi alcançado graças às políticas econômicas e estruturais deixadas pelo antecessor de seu antecessor: o inesquecível visionário Fernando Henrique Cardoso!

Do O que será que me dá Roni Chira

Se não mudarmos o mundo o mesmo se extinguira rápidamente, ou quantos planetas temos pra tanto lixo e desumanidades?






Hegemonias

“Se antes, a Concentração das Potências se fundavam em razões políticas e militares, hoje a chave do consenso é econômica – a defesa pura e simples da estabilidade capitalista como tal”

Márcia Denser*

Nesta última Margem Esquerda, a 14¹ , dois artigos essenciais (fazendo um parêntesis: notadamente hoje quando na mídia hegemônica² já não existe mais nada publicado – em papel ou on-line – nem sofrível nem remotamente importante e muito menos original, isso quando não é mentira, sobretudo se aquele que julga for alguém semelhante a mim, que lê quase TUDO com aquele olhar previamente fatigado, aquele ceticismo apriorístico e horrivelmente blasé³) – de forma que não uso levianamente o adjetivo “essencial”.

No primeiro, Perry Anderson – editor da New Left Review – passa em revista o hegemon capitalista ao longo de cinco séculos, num desses textos simultaneamente abrangentes e concisos. Clareza & poder de síntese, os dons gêmeos dum editor sensível. O mote do ensaio é a crise econômica atual, provocada pelo colapso de setembro de 2008, mas ao contrário da Grande Depressão de 1929, a crise atual foi prevista há muito tempo. Não pela ortodoxia econômica, obviamente que estes foram pegos de calça curta, mas por dois notáveis especialistas de formação marxista – Giovanni Arrighi (falecido em junho de 2009) e Robert Brenner, o último cantando a bola com uma década de antecedência.

Eis alguns elementos presentes nesta abordagem: no fim do século XX, os governos - ao invés de temer as conseqüências dum terremoto sociopolítico mundial, como em 1929, e assim forjar soluções clássicas para evitar o pior - engendraram uma enorme expansão artificial do crédito para safar-se: primeiro, com o gasto deficitário do Estado, depois, com a frenética especulação financeira e fundiária, finalmente, com a inundação de cartões de crédito que literalmente afundou o sistema imobiliário.

Diante de tal Bolha – um desastre de escala desconhecida em 75 anos – os governos do Norte dobraram Ainda Mais as apostas! O mesmo que ministrar doses de veneno num paciente terminal, segundo Anderson: afinal, segundo a lógica capitalista, o único modo realista de sair duma crise é passar por uma verdadeira depressão, destruindo todos os capitais não competitivos, permitindo unicamente a sobrevivência dos mais fortes (darwinismo social aqui tem mágoa!).

Então como ficamos hoje nessa história? Apesar de rigorosamente cíclica, a trajetória do capitalismo jamais se repete de maneira idêntica. A situação pós anos 1970 foi marcada por duas novidades: 1) Os conflitos sociais tempestuosos - lutas dos trabalhadores no Norte e movimentos de libertação nacional no Sul – não floresceram, como no passado, e não foram seguidos, mas precedidos e precipitados na passagem original da expansão material para a financeira nos anos 1970; 2) Ocorreu uma bifurcação sem precedentes entre poder militar e financeiro quando a hegemonia dos Estados Unidos entrou em convulsão, já que ainda retém a predominância global devastadora das forças armadas, mesmo que afundem no status de nação devedora, já que a caixa-registradora do mundo se move para a Ásia do Leste.

A diferença das análises Brenner e Arrighi é que a unidade básica para o primeiro é a firma, enquanto para o segundo é o Estado. A hegemonia, ausente em Brenner e central para Arrighi, entra em termos de Estado como um conceito eminentemente político, regulando tanto as relações entre nações, como entre classes. Para Arrighi, o poder hegemônico é um pré-requisito para o sistema capitalista funcionar normalmente, sem ele, historicamente, o sistema é levado ao caos.

Para a linha de pensamento européia – notadamente alemã –, desenvolvida na primeira metade do século XX, a idéia de hegemonia dentro de um sistema de interestados seria, a princípio, singular: só podia haver um hegemon por vez. Arrighi herdou tal premissa. Em sua narrativa, os primeiros foram os holandeses, depois os ingleses e, por fim, os norte-americanos. Repetindo: qual a situação de hoje? Para Arrighi, a hegemonia ianque, enfraquecida por dívidas externas e danosas aventuras militares, sem esquecer o despontar da China, entrou em crise terminal.

Aliás, atualmente a Hegemonia se define antes como Pentarquia – EUA, Europa, Rússia, China e Japão – os cinco grandes Estados Capitalistas que têm se mantido relativamente estáveis, comparativamente ao passado. Contudo, no Oriente Médio e no Mundo Islâmico – fora do âmbito da Pentarquia – não é a hegemonia que se impõe, mas o império. Exemplos: a violência norte-americana no Iraque, Afeganistão e Paquistão; violência russa na Chechênia; violência chinesa em Xinjang e no Tibet; violência européia nos Bálcãs.

Se antes, a Concertação das Potências se fundavam em razões políticas e militares, hoje a chave do consenso é econômica – a defesa pura e simples da estabilidade capitalista como tal. Citando Wang Hui: “As mais diretas expressões do aparato mercadológico-ideológico são a mídia, a publicidade, o ‘mundo da compra’. Esses mecanismos não são apenas comerciais, mas ideológicos. Seu grande poder se baseia em seu apelo ao ‘senso comum’, necessidades corriqueiras que transformam as pessoas em consumidoras, seguindo de forma voluntária a lógica do mercado em suas vidas cotidianas.” Aqui, o consumismo é identificado com a sustentação da hegemonia global do capital.

Mas o capitalismo, conclui Anderson, é bom não esquecer, mantém em sua base um sistema de produção e é no trabalho, assim como no lazer, que a hegemonia se reproduz cotidianamente, o que Marx chama de “compulsão ao trabalho alienado”, que progressivamente adapta pessoas a relações sociais existentes, matando suas energias e capacidade de imaginar qualquer outra e melhor ordem do mundo.

Pensando nos vilarejos destruídos do Iraque e do Afeganistão, o autor lembra as palavras de Tácito, descrevendo a hegemonia romana: “A destruir, massacrar e usurpar dão o nome de Império; onde criam um deserto, chamam-no de Paz”.

ET. Lá no começo, eu disse que eram dois artigos, e são. O segundo fica para a próxima coluna.

¹ Boitempo, maio/2010.
² É claro que existem exceções, mas todas fora da mídia hegemônica.
³ Por que vocês acham que não leio Miriam Leitão-Eliane Catanhede-Reinaldo Azevedo? Não é só pelas “idéias” deles – elas existem? –, é porque não quero ficar besta!Aliás, eu os cito no rodapé que é para mantê-los bem longe do meu texto!

*A escritora paulistana Márcia
do esquerdopata

Imagens + q 1000 palavras







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do Wilmarx

Idiota quem vai querer???

QUEM VAI QUERER EMBARCAR NA AVENTURA ELEITORAL DESTE IDIOTA?


QUEM CONHECE, REFUGA: NINGUÉM QUER SER VICE DE SERRA

"Definitivamente, não"[Aécio Neves]

"Não há condição alguma" [Sergio Guerra]

"Devo continuar à frente da CNA" [Kátia Abreu]

"Eu não agüento broncas do Serra" [Tasso Jereissati]

(Carta Maior; 04-06)

Acredite se quiser








Quem tem padrinho não morre pagão:Ibope dá 37 a 37%

Acaba de sair o resultado da pesquisa Ibope, agora com o instituto recontratado pela Globo. E é maravilhoso ver como nossos institutos de pesquisa são tão rigorosos e precisos que ele conseguiu selecionar um grupo de 200o pessoas em todo o Brasil que apresentou exatamente o mesmo comportamento que outro grupo de 2000 pessoas selecionadas pelo Datafolha.

Portanto, como seu parceiro paulista, o Ibope aponta um empate total entre Dilma e Serra, nos mesmos 37 por cento de intenção de voto. Uma maravilha! O mundo se quedará boquiaberto com a precisão estatística brasileira, que consegue esta proeza. Já na pesquisa anterior havia harmonia. Dilma, que vinha subindo rapidamente, até reduzir em fevereiro/março para 4% (Datafolha) e 5% (Ibope) a diferença para Serra. Depois, harmonicamente, os dois institutos invertem as curvas e passam a diferença para 9% (Datafolha) e 8% (Ibope).

Agora, como um dueto de nado sincronizado, 37 a 37%. É a perfeição! E nem se preocupam com desculpas, pois o Datafolha atribuiu o crescimento de Dilma ao programa de TV do PT, mas Serra teve um programa igual, exceto pela ilegalidade, no horário do DEM.

Bom, aí está: Serra entra a Copa do Mundo oficialmente repirando por aparelhos, com ajuda da “tchurma”. Já a credibilidade dos institutos de pesquisa , como dizem os médicos, “evoluiu para o óbito”.

Mas, convenhamos, Ibope e Datafolha foram, como dizia aquele tucano privatizador, “no limite da irresponsabilidade” pelo Serra: empate. Foi o que deu pra fazer, né?


do Tijolaço