Adilson Amadeu acusa falta de vontade política, má gestão na contração de serviços e aplicação equivocada de recursos como causas dos transtornos causados à população
Ex-presidente da CPI das Enchentes da Câmara dos Vereadores de São Paulo, Adilson Amadeu (PTB) discorda das recentes declarações do secretário de coordenação das subprefeituras do prefeitura e do próprio Gilberto Kassab, que na semana passada disseram que a capital paulista estaria "preparada para enfrentar as enchentes".
Em vários depoimentos, conta o vereador, o prefeito e seus comandados têm falado de "pontos crônicos de alagamento" na cidade. "Crônico não significa sem solução", responde Amadeu. "O que falta é trabalho. É evidente que existem lugares em que são necessárias algumas obras mas, em outros, manutenção e limpeza de galerias e bueiros poderiam, ao menos, reduzir os danos."
Para o parlamentar, parte do problema que penaliza a cidade anualmente está na forma como a prefeitura contrata os serviços. "As empresas responsáveis pela poda de árvores não são as mesmas que fazem a varrição, que não são as que fazem a coleta. As que fazem a limpeza manual, não são as mesmas que fazem a limpeza mecanizada dos bueiros, que também não são que limpam os córregos, nem limpam os piscinões. Na hora de encontrar as falhas, um empurra a culpa para o outro e ninguém é responsabilizado."
Para Amadeu, uma das soluções seria a divisão da cidade em consórcios que se responsabilizariam por todos esses serviços. "Acabaria esse jogo de empurra", diz. "Além de concentrar os serviços, seria mais fácil fazer a fiscalização e a cobrança dos resultados junto às empresas e, assim, provavelmente elas investiriam mais em tecnologia e produtividade, o que não acontece hoje", acrescenta o vereador.
Consideração
Amadeu acusa ainda que o problema da cidade não passa pela falta de verbas. "Em 2010, o prefeito nem usou toda o orçamento previsto (para serviços e obras contra enchentes. Este ano já tem provisionamento, mas falta vontade política para fazer o que precisa ser feito. O que a prefeitura já gastou com estudos, pesquisas e levantamentos dava para ter construídos 20 piscinões", ilustra.
Mas a destinação equivocada das verbas que evitariam o nível de problemas gerados pelas últimas chuvas em São Paulo, aponta o petebista, também é cometida pela administração estadual, que teria reduzido a cerca de 20% o volume de recursos já previstos no Orçamento para a prevenção de enchentes.
O descaso com que Kassab trata o problema dos alagamentos na cidade ficou evidente, na opinião do vereador, quando ele presidiu a CPI das Enchentes, no ano passado. "Eu solicitei ao prefeito que destacasse ao menos um engenheiro, um técnico, que me acompanhasse nos trabalhos. Ele não mandou nenhum, nunca quis saber, ignorou completamente."
O futuro da cidade é sombrio, na avalização de Amadeu. "A água está se infiltrando de um tal jeito pelas ruas, que logo vamos ter verdadeirascrateras se abrindo na pela cidade. Nossas galerias estão todas obstruídas e 'atrasadas' pelo menos 20 anos. Sem vontade de fazer direito e sem fiscalização, vamos ter problemas ainda maiores."
*cappacete
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Kassabs: O da esquerda afunda cada dia mais |
As explicações usuais – excesso de chuva – são, além de cínicas, completamente inúteis. As chuvas são um dado da realidade que não é levado em conta por governantes cuja ênfase são as camadas mais altas da sociedade, a propaganda de sua própria imagem, a escandalosa perpetuação de um modelo urbano predatório e falido, baseado no uso intensivo do automóvel e na impermeabilização do solo em residências, áreas de estacionamento, asfaltamento compulsivo de ruas e avenidas, canalização de rios e córregos e intervenções urbanas semelhantes.
São Paulo, a cidade mais rica do país, é um exemplo notável.
O estado é administrado pelo PSDB desde 1995. E a cidade de São Paulo teve, desde 1993, administrações de direita, com o curto interregno de Marta Suplicy, de 2001 a 2005. Teve Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra e Gilberto Kassab, que governa a cidade desde 2006. Foram mandatos sem compromissos com o povo, durante os quais proliferaram desmandos e irresponsabilidade administrativa.
Por exemplo: entre 2006 e 2009 o prefeito Gilberto Kassab investiu apenas 217 milhões dos 570 milhões previstos para obras contra as enchentes, ao mesmo tempo em que o governo do Estado contingencia (isto é, corta) os recursos destinados ao mesmo fim. Só em 2009 o governo estadual de José Serra gastou mais que isso em publicidade: 287 milhões.
No ano passado, mesmo com o crescimento na arrecadação de impostos da ordem de 835 milhões, a prefeitura gastou com obras anti-enchentes menos do previsto: 430 milhões, contra os 504 milhões que haviam sido orçados.
Nem os criticados e, segundo muitos técnicos, pouco eficientes, piscinões para contenção das águas da chuva, foram entregues nas quantidades prometidas: José Serra havia prometido 134 mas só entregou 43.
Em consequência, São Paulo, como muitas cidades brasileiras, não tem plano de emergência contra inundações. Os técnicos acusam atraso e desatualização no mapeamento das áreas de risco, falta de ações preventivas, descaso com a ocupação de várzeas e com a impermeabilização do solo, e falta de monitoramento com as encostas dos morros. O professor Edílson Pissato, da Faculdade de Geociências da USP, especialista em geologia de engenharia, faz, no portal UOL, uma denúncia clara e grave: não há preparo para as chuvas de verão “por falta de interesse e de uma ação política para atuar e resolver”.
O quadro que ele descreve é o retrato de um desastre político e humano, e não natural. As enchentes vão continuar, diz em relação a São Paulo, porque a forma de ocupação da cidade não mudou, a impermeabilização do solo é crescente, e as várzeas são ocupadas com a construção de avenidas (como as marginais, por exemplo) dentro da área natural (a várzea) de inundação dos rios na cheia, levando as vias públicas praticamente para dentro do leito dos rios. Pissato vê um “um desleixo em relação à prevenção. Os problemas são deixados de lado quando a chuva não é tão forte e aparecem quando vêm os temporais. Mas a chuva forte sempre ocorre, cedo ou tarde”, diz.
O descaso que gera o desastre se traduz na falta de uma política pública para atender à necessidade de moradia das camadas mais pobres e impedir a ocupação de áreas de risco como várzeas e encostas. E revela, pode-se constatar, um conluio da administração pública com a especulação imobiliária que incentiva a ocupação irregular e constrói os cenários do desastre.
Portal Vermelho