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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Justiça de SP quebra sigilos dos tucanos acusados de receber propina da Alstom


A juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Estado de São Paulo, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de 11 pessoas e uma empresa, investigadas sob suspeita de recebimento de propina da multina-cional francesa Alstom em troca de contratos com o Metrô paulista, Eletropaulo e EPTE (Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica).

Os investigados, que não conseguiram provar a origem do seu patrimônio, tiveram a quebra de sigilo decretada a partir de 1997. A medida atinge o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Robson Marinho, chefe da Casa Civil no governo Mario Covas de 1995 e 1997, quando foi indicado pelo então governador para o TCE, e o ex-secretário de Transportes Metropolitanos, Jorge Fagali Neto.

Também foi quebrado o sigilo de Sabino Indelicato e de José Adailton Vieira Pinto. Indelicato, secretário de Obras quando Robson Marinho foi prefeito de São José dos Campos, é dono da Acqualux – que segundo a promotoria recebeu recursos da Alstom por consultorias que não foram prestadas. O contrato seria uma forma de dar uma aparência legal à propina. Vieira Pinto, já morto, teria sido laranja de Marinho.

A Alstom é investigada por suspeita de ter pago propina para ganhar contratos com o governo paulista, assinados durante os governos de Mário Covas e de Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Uma investigação sobre lavagem de dinheiro num banco suíço apontou que a empresa teria pago comissões ilícitas para ganhar negócios públicos em países como Brasil, Argentina e Indonésia.

A Suíça bloqueou contas atribuídas a Marinho e a Fagali Neto, por suspeita de que elas tenham recebido as comissões ilícitas da Alstom. Os promotores suíços Maria Schnebli e Stefan Lenz estão de posse de documentos que mostram a movimentação financeira de Marinho.

As remessas ocorriam por um esquema de lavagem que envolvia empresas de fachada “offshore”. Uma delas, Higgins Finance, era controlada pelo próprio conselheiro do TCE. Para chegar aos políticos brasileiros, o dinheiro era remetido da França para Suíça e Luxemburgo. Depois era enviado ao Uruguai, numa conta controlada por Romeu Pinto Jr. Do Uruguai, voltava à Suíça para contas de Indelicato e Vieira Pinto no Union Bancaire Privé, de Zurique, e no Crédit Lyonnais, de Genebra.
* Hora do Povo

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