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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Grécia inicia construção de muro para barrar a entrada de imigrantes, a meta é isolar todo o continente europeu




"Fortaleza Europa" vai começar pela Grécia

O governo grego anunciou que vai construir um muro com cerca de 13 quilómetros de extensão e três metros de altura na fronteira com a Turquia para evitar a entrada de “imigrantes ilegais”. As posições da União Europeia são ambíguas sobre este assunto.
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega
Atenas diz que a cooperação com Estados-membros da EU “vai bem” nesta matéria e a Turquia já manifestou o seu incómodo. O modelo invocado pelas autoridades gregas é o muro entre a Califórnia e o México.
O muro de Berlim caiu há mais de 20 anos mas a metodologia não morreu e tem vindo a ser cada vez mais adoptada no mundo. Ao muro da Coreia, ao muro que Marrocos impõe ao Sara Ocidental, ao muro Estados Unidos-México, ao muro da Cisjordânia, ao muro que Israel constrói na fronteira com o Egipto, ao muro erguido entre o Paquistão e o Afeganistão virá juntar-se agora o muro grego na fronteira com a Turquia. Será o segundo a separar zonas de influência dos dois países, contando com o que sobrevive em Chipre.
A chamada “fortaleza Europa” vai começar a ter forma física na zona fronteiriça de Orestidada, segundo as autoridades gregas. De acordo com dados de Atenas e da agência europeia Frontex, cerca de 200 imigrantes “ilegais” entram diariamente na Grécia por aquele ponto de passagem, apesar da presença de tropas no terreno. “É uma realidade dura e temos uma obrigação para com os cidadãos gregos de lidar com ela”, declarou o ministro grego da tutela, Christos Papoutsis, ao apresentar o projecto.
Diz a agência Frontex que nove em cada dez estrangeiros entram na Europa através da fronteira entre a Turquia e a Grécia e que 75 por cento desse movimento se regista na zona de Orestidada ao longo de cerca de 13 quilómetros.
A maioria dos “imigrantes ilegais”, ainda segundo as mesmas fontes, são originários de países como o Afeganistão, o Paquistão, a Somália, alguns do Médio Oriente, como o Iraque, e Norte de África, na sua maioria regiões onde as guerras conduzidas pelos Estados Unidos e a NATO, com envolvimento da União Europeia, não resolveram e têm agravado os problemas sociais, humanitários e políticos.
Ao mesmo tempo existe algum paralelismo entre as situações grega e californiana para lá dos muros: ambas se caracterizam por elevadas dívidas públicas, mais grave do lado norte-americano.
Bruxelas mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega. Apenas Michele Cercone, porta-voz da comissária Cecilia Malstrom, comentou que “vedações e muros já provaram no passado que são medidas de curto prazo” pelo que é “importante que as fronteiras sejam geridas de modo a desencorajar e interromper o tráfico”.
A esta declaração de aceitação do muro, desde que “a curto prazo”, junta-se a declaração grega segundo a qual a cooperação com Estados-membros no âmbito da solução encontrada “vai bem”.
A oposição grega de esquerda considera desde já a medida “desumana e ineficaz”.
Oficialmente, a Turquia afirma que necessita de ter mais informação mas que sendo o problema de âmbito internacional deverá ter uma abordagem internacional. Um autarca turco da região fronteiriça afirmou que o muro não resolverá o problema porque há outros meios de passagem, designadamente o rio Evros – de barco no Inverno e a pé no Verão.
Um diplomata europeu citado pelo jornal britânico Daily Telegraph transportou entretanto o problema da fortificação europeia para outros terrenos de debate que estão sobre a mesa. “É fácil imaginar como uma estrutura permanente sinalizará o campo anti-turco ou dará a impressão de uma fortaleza cristã europeia para manter os islâmicos do lado de fora”, disse. O mesmo diplomata, citado em condição de anonimato por estar em funções oficiais, acrescentou que “construir muros não ajuda neste tempo em que o importante é construir pontes”.
*Cappacete

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