Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Um político na lata do lixo da história





As mais recentes revelações do site WikiLeaks mostram uma faceta do ex-senador Heráclito Fortes (foto) que muitos já imaginavam existir. O ex-senador prefere negar, como outros indicados pela WikiLeaks o fizeram. Heráclito não tem coragem de admitir ter sugerido ao então embaixador estadunidense Clifford Sobel que o governo dos Estados Unidos estimulasse a produção de armas no Brasil para conter supostas ameaças de Venezuela, Irã e Rússia, como revelou o site WikiLeaks.
O povo do Piauí julgou este senhor nas urnas, impedindo que ele tivesse mais oito anos de mandato no Senado. Na verdade, o Piauí livrou-se de um político pernicioso aos interesses nacionais. Quando Heráclito Fortes tinha mandato, os meios de comunicação de mercado lhe proporcionavam grandes espaços, sobretudo ao criticar pontos positivos da política externa do governo Lula e o próprio Presidente da República. Portanto, o Brasil consciente agradece ao povo do Piauí por mandar este Heráclito Fortes para o lixo, de onde se espera nunca mais saia.
Tem políticos do Demo e do PSDB que continuam por aí seguindo a mesma linha de Fortes. As revelações do site WikiLeaks mostram também como são promíscuas as relações de alguns políticos brasileiros com diplomatas estadunidenses.
A patota do Heráclito Fortes e adjacências não vai gostar nada da informação segundo a qual o governo da Venezuela anunciou ter ampliado suas reservas petrolíferas para 297 bilhões de barris. Se o fato for mesmo confirmado pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a República Bolivariana da Venezuela se transformará no país com a maior reserva de petróleo do mundo, maior até do que a Arábia Saudita, aliadíssima dos Estados Unidos.
Falando em mundo árabe, a Tunísia está dando um exemplo de como é fundamental a mobilização popular. O povo nas ruas tirou um ditador corrupto, Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu exatamente para a Arábia Saudita, levando ouro e tudo mais para viver nababescamente. 
Na área de imprensa, os jornalistas tunisinos estão fazendo uma revolução que deve servir de exemplo em muitas partes do mundo. Segundo o Le Monde, ao levarem a cabo a “Revolução do Jasmim”, os jornalistas estão assenhoreando-se da linha editorial nas redações, sem, por enquanto, exigir a saída de sua direção. Formam comitês de redação nos meios de comunicação do Estado, nos jornais privados vinculados ao antigo regime e até naqueles do ex-partido no poder, a União Constitucional Democrática, cuja dissolução as massas populares estão a exigir nas ruas. «Somos nós que vamos decidir doravante a linha editorial», garantiu o jornalista Faouzia Mezzi. O jornalista Taukif Ben Brik, ferrenho opositor do regime de Ben Ali, será candidato na eleição presidencial que deverá ocorrer dentro de seis meses.
Os donos do poder na Tunísia querem trocar o seis pelo meia dúzia, ou seja, que permaneça no poder o esquema anterior, apenas com a saída de Ben Ali. O povo e os jornalistas não aceitaram o jogo e almejam um novo país, sem esquemas corruptos e ditatoriais, do tipo que se subordina sem pestanejar aos ditames do mercado financeiro. O povo percebeu a manobra e segue nas ruas exigindo virar a página em definitivo.
Por aqui seguimos sob o impacto da tragédia na região serrana. Um esclarecimento, o que houve na região serrana não foi o evento natural com o maior número de mortos. O maior até agora ocorreu em 1967 na Serra das Araras, quando a encosta desabou matando entre 1.500 e 1700 pessoas, cujos corpos ficaram lá mesmo e não foram encontrados. Como naquele ano o país vivia em plena ditadura, muitas informações foram omitidas, mas não dá para esquecer o fato, como fizeram os jornalões e telejornalões de hoje.
E, para finalizar, vale assinalar que o município de São Lourenço segue sob a influência nefasta da Nestlé, que vem utilizando os poços de água mineral daquela cidade para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões.
Segundo informa a jornalista Carla Klein, para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à  saúde, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente. E a desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais em larga escala as águas minerais naturais, o que pode ter reflexos em outras cidades vizinhas.
Tem mais: como na Europa a campanha contra a Nestlé se intensificou e conta com apoio de Igrejas que denunciam o que acontece em São Lourenço, o próprio presidente da empresa tinha cedido às pressões e prometeu o fim dos trabalhos na cidade mineira. Aí sabem o que fez o governo tucano de Aécio Neves logo após a promessa do chefão da Nestlé? Baixou portaria regulamentando a atividade da empresa em São Lourenço. Ou seja, permitiu que a empresa multinacional continuasse a fazer o que sempre fez na corrida pelo lucro em detrimento da população. E tudo isso acontece sob o silêncio da mídia de mercado, que tem a Nestlé como grande ($$$$) aliada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário