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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 26, 2011

"Pra não dizer que não falei das flores", na voz de Zé Ramalho




Pra não dizer que não falei das flores
eu falei dos passarinhos mortos
eu falei do sangue derramado
eu falei da vida desperdiçada
eu falei do choro das mães órfãs
eu falei da dor no pau-de-arara
eu falei da voz silenciada
eu falei da armas apontadas
eu falei das queimaduras e afogamentos
eu falei do sonho interrompido
eu falei do abuso de poder
eu falei das crueldades sem limites
eu falei da arquitetura da tortura
eu falei da ausência de expressão
eu falei das músicas caladas
eu falei da ditadura à exaustão
para que ninguém da violência se esqueça
para que a paz na sociedade prevaleça
e a tirania fascista apodreça
nos quartéis
nas prisões
nos fuzis
nas ruas
no chão

Tânia Marques 21 de fevereiro de 2011

Quais foram as torturas utilizadas na época da ditadura militar no Brasil?

por Roberto Navaro

Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica, com documentos produzidos pelos próprios militares, identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades, que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do período mais duro do regime militar. A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo. O pau comeu solto até 1974, quando o presidente Ernesto Geisel tomou medidas para diminuir a tortura, afastando vários militares da "linha dura" do Exército. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas - muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. [Por favor, querem que eu acredite nesses números?] Mas ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos - incluindo os torturadores - fossem perdoados pela Justiça. :-( [ Perdoados os torturadores???]

Arquitetura da dor

Torturadores abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações:

Cadeira do dragão

Nessa espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques.

Pau-de-arara

É uma das mais antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão. Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques, pancadas e queimaduras com cigarros.

Choques elétricos

As máquinas usadas nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua.

Espancamentos

Vários tipos de agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente

Soro da verdade

O tal soro é o pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é pouco confiável e a droga pode até matar.

Afogamentos

Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento.

Geladeira

Os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida.


*palavraseimagens

Piada do dia

  - Lógica de engenheiro

Um estudante de engenharia estava caminhando no campus de sua faculdade quando viu outro engenheiro subir em uma motocicleta novinha em folha.
- Ei! Como você conseguiu essa moto fantástica? - perguntou o primeiro.
- Bem, ontem eu estava caminhando por aqui, quando uma garota muito gostosa apareceu com esta moto. Ela desceu, tirou toda a roupa e disse: "Pegue o que você quiser".
O primeiro engenheiro balançou a cabeça em sinal de aprovação:
- Boa escolha! Provavelmente as roupas não iriam te servir.

*passeandopelocotidiano

Surge agora no mundo consumidores conscientes que voltam a exigir que seus produtos durem muito.


(Espanha, 53min, 2011)

Documentário produzido pela TVE espanhola que trata da obsolescência programada, uma estratégia que visa fazer com que a vida de um produto tenha sua durabilidade limitada para que sempre o consumidor se veja obrigado a comprar novamente.

O filme abre com um funcionário da emissora descobrindo que sua impressora EPSON havia deixado de funcionar sem motivo aparente e que o custo de consertá-la sairia mais caro do que uma nova.

A Obsolescência Programada começou primeiramente com as lâmpadas, que antes duravam décadas trabalhando ininterruptamente (como a lampada que está acesa há mais de cem anos num posto dos bombeiros dos EUA) mas, depois de uma reunião com o cartel dos fabricantes, passaram a fazê-las para durar apenas 1.000 horas.

Essa prática tem gerado montanhas de resíduos, transformando algumas cidades de países de terceiro mundo em verdadeiros depósitos, sem falar na matéria prima, energia e tempo humnano desperdiçados.

Surge agora no mundo consumidores conscientes que voltam a exigir que seus produtos durem muito.

Download do filme:
Para maior qualidade, ir diretamente ao link do filme (para baixá-lo usar o navegador Firefox com o plugin Download helper).
*documentariodeverdade

O jogo sujo da Globo no Brasileirão


Nesta semana, nova guerra suja foi deflagrada no futebol brasileiro. Após receber uma tunda do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no meio da testa e ter de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a Rede Globo perdeu seus privilégios monopólicos para adquirir os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro nos anos de 2012, 13 e 14.
Dessa forma, a concorrência prevista para o dia 11 de março passou a ter contornos muito mais interessantes, especialmente para os clubes, que finalmente viram uma claríssima brecha para elevarem exponencialmente seus ganhos com as milionárias transmissões televisivas. Isso porque antes a Globo tinha direito de preferência na renovação dos contratos, inclusive com acesso às propostas rivais, o que a fez tomar de vez as rédeas como sócia-proprietária do futebol nacional, em parceria com o todo poderoso Ricardo Teixeira, dono da CBF.
De agora em diante, por conta da determinação do CADE, a emissora terá de fazer aquilo que historicamente não está acostumada: jogar dentro de regras limpas. Obviamente, a medida acendeu as esperanças de outros canais de TV, sempre excluídos, na prática, das negociações. Record, e seu temido saco sem fundo de dinheiro, e Rede TV já declararam intenções de participar. Fora a Band, que já transmite, mas pode se livrar do jugo global, que lhe impõe o que pode ou não exibir. Na TV fechada, ESPN, Bandsports e Telefônica tentarão fazer frente à Sportv – de propriedade da Globo.
E neste ano há a grande novidade de se venderem os direitos de cada mídia separadamente, quando antes todas eram vendidas no mesmo pacote. Agora, TV aberta, fechada, Pay Per View, Celular, Internet e Direitos Internacionais serão negociados separadamente. O lance inicial para a TV aberta é 500 milhões de reais por ano (cifra do atual contrato), sendo que o Clube dos 13 calcula um rendimento total de 4 bilhões de reais ao final do período, na soma de todas as categorias.
A Globo já provou do veneno da emissora de Edir Macedo: perdeu os direitos de Londres 2012, pois neste caso não havia conchavo suficiente para que a Vênus Platinada levasse a parada por inércia. Quem deu mais levou, e pronto. No Brasil, não foi sempre assim que funcionou, devido à enorme subserviência de nossos dirigentes, sempre endividados, além de acomodados e aliados ao poderio global, que já fez diversos favores financeiros para apagar incêndios das agremiações.
No entanto, após anos de cobrança, o Clube dos 13, que reúne os 20 times mais influentes do país e juridicamente tem a prerrogativa de negociar o contrato de TV, após a providencial prensa do CADE decidiu adentrar o século 21 e elaborar uma licitação de verdade – simplesmente dentro das teorias do jogo capitalista. Ou seja, concorrência livre e aberta, quem der mais leva. Afinal, nossos clubes podem ser submissos e corruptos, mas precisam se resolver financeiramente.

Texto do jornalista Gabriel Brito (Correio da Cidadania)

Iraque: Há um apagão virtual sobre a insurreição no Iraque nos meios de comunicação ocidental.



Apoie os protestos dos Iraquianos! 


Enquanto milhões de pessoas em todo o mundo assistiram ao vivo, durante 18 dias, com enorme expectativa, à revolução que derrubou o regime aliado, torturador e amigo dos EUA, liderado por Hosni Mubarak, ninguém prestou atenção nem informou sobre o que estava acontecer no Iraque nem sobre a revolta do seu povo contra um inimigo muito pior.



Enquanto o presidente Obama e a secretária de estado Hillary Clinton são elogiados pelo seu suposto apoio à democracia egípcia, ninguém faz a pergunta-chave que Washington não pode responder: Quando é que os membros desta administração dos EUA e os três anteriores enfrentam julgamento por crimes contra a humanidade, no Iraque?


Apesar da hipocrisia dos EUA, nada vai impedir o colapso dos objectivos geoestratégicos dos EUA na região árabe. Não é pelo confronto directo que isso vai acontecer, nem pela via da ideologia. Os interesses do povo são opostos ao modelo de subdesenvolvimento proposto e policiado por Washington e seus aliados.

O ano das revoluções


Em todo o mundo árabe, 2011 afigura-se que será lembrado como o “ano das revoluções”. No Iraque, devastado por oito anos de ocupação, pilhagem, destruição e morte por parte EUA, os protestos irromperam em Bagdad, Kut, Basra, Kirkuk, Ramadi, Sulaymaniyah e dezenas de outras localidades. Como de costume, as pessoas enfrentaram fogo vivo.


Nós declaramos a nossa solidariedade para com o povo do Iraque em protesto. Nós declaramos a nossa solidariedade para com os mártires da revolução egípcia e tunisina, e todos os mártires de revoltas árabes. São as políticas de Washington que estão a ser derrotadas e as suas alianças estão a cair aos pedaços.


A região é testemunha do despertar da consciência do renascimento árabe, uma onda que gera outras ondas sucessivas, liderada pelas aspirações do jovens árabes. Nenhuma injustiça será poupada a críticas. Nenhuma mentira deixará de ser desmascarada.

Apoie os protestos do povo do Iraque!


Apoio firme ao povo iraquiano na sua luta contra o terrorismo de Estado e a repressão, a corrupção generalizada, o processo político falsificado e seu aparato estatal, a falta generalizada e o colapso dos serviços públicos, a pobreza e o desemprego, as violações sistemáticas dos direitos humanos feitas pelo governo e suas milícias, os contratos ilegais, os tratados e uma constituição imposta sob a ocupação e planos estrangeiros para destruir a economia, a cultura e a unidade iraquianas.


Apoio ao povo iraquiano em luta pela liberdade, democracia, dignidade, unidade e justiça social.


Apoio ao povo iraquiano na sua revolta e solidariedade para com todos os árabes neste alvorecer de uma nova era!


O jogo está acabado! Exigimos que o governo de Maliki parta, sem derramar o sangue de iraquianos inocentes, em 25 de Fevereiro, o “Dia da Ira Pacífica” no Iraque.


Exigimos que os outros estados retirem o apoio a Maliki e não dêem cobertura a um banho de sangue perpetrado pelo governo.

Fonte: Tribunal BRussells 

Tradução de Guadalupe Magalhães

Para ler mais, O Mafarrico
*cappacete

O Sofrimento do Hipócrita

http://2.bp.blogspot.com/-n5poXQqJARo/TWcLznImoYI/AAAAAAAAJ94/AzGD445ISUk/s1600/Victor_hugo_Chifflart.jpgTer mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão. 
Victor Hugo
 
*artedoslivrepensadores

Kassab Surfistinha, O Filme




O Filme acaba de chegar aos cinemas privês da política nacional e já começa a gerar polêmica. A trama mostra como um prefeito sucumbiu à incompetência e resolveu abandonar a cidade que governa. Não satisfeito, ele abandona também o seu partido — de direita classe média tradicional reacionária —, para se jogar na vida fisiológica, lidando com todo tipo de partido barra pesada.

O filme está recebendo ótimas críticas da base aliada, mas a oposição promete censurar a exibição em todas as salas. “Esse filme é pura pornografia e subverte os valores morais da família brasileira”, disse um exaltado parlamentar do DEM. Para apaziguar os ânimos e garantir a governabilidade, um peemedebista retrucou: “vossa excelência não entendeu: trata-se de um pornô família!”.-Foto e texto Jornal da Tarde
*osamigosdopresidentelula
 Deputada Luiza Erundina (PSB-SP)

”Com Kassab no PSB, serei estranha no ninho”

Ex-prefeita ressalta ‘proximidade’ com o PT e admite deixar partido se a cúpula decidir acolher líderes do DEM

Daniel Bramatti – O Estado de S.Paulo

A ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina deixou claro ontem que sairá do PSB se o partido acolher políticos como o prefeito Gilberto Kassab e o vice-governador Guilherme Afif Domingos, ambos de saída do DEM.
Erundina destacou sua proximidade com o PT, partido do qual saiu em 1997, mas disse esperar que a Justiça Eleitoral impeça a concretização de uma eventual manobra de Kassab e da cúpula do PSB – nessa hipótese, estaria assegurada sua permanência na legenda.

Como a senhora vê a possibilidade de Kassab e Afif criarem outro partido para depois migrar para o PSB?

Se essa migração se confirmar, será absolutamente incompatível com a minha opção política pelo PSB. Serei uma estranha no ninho. A convivência, tanto para essas pessoas quanto para mim, será praticamente inviável. Com certeza não terei lugar nesse partido.
A senhora deixará o PSB?
Isso poderá acontecer, mas temos de ver em que termos. Há uma questão legal a ser esclarecida. Se eles vão criar outro partido já com o propósito de se incorporar ao PSB, como é que a Justiça Eleitoral vai interpretar esse mecanismo oportunista? É claramente um artifício para fugir do enquadramento na infidelidade partidária.
A legislação não ameaçaria seu próprio mandato em caso de troca de partido?
Se isso (fusão do PSB com partido criado apenas com esse objetivo) pode ser feito, quem estará sendo infiel? Digamos que um de nós, que não concorde com essa via do partido trampolim, queira sair do PSB. Quem sair poderá alegar que foi o partido quem mudou de rumo. Há possibilidade de você não ser punido por infidelidade se a infidelidade se deu pelo partido no qual você está.
Nos últimos anos, a senhora se reaproximou de líderes do PT. Seu retorno ao partido é uma possibilidade?
Essa proximidade minha com os petistas existe. No fundo, minha prática política e meus compromissos não se alteraram um milímetro em relação ao que fazia como petista. Essa base histórica, essa militância, essa identidade nunca deixou de existir. Tenho muitos eleitores que são filiados ao PT. Nunca tive distanciamento com o partido. Alguns dirigentes é que se distanciaram. Mas há companheiros com quem mantenho relação de confiança, de afinidade na luta política. Durante a campanha de Dilma, na qual me engajei, havia manifestações públicas e coletivas para que eu voltasse ao PT. Mas trocar de partido é muito complexo, é traumático. Quero primeiro acreditar que isso (a migração de líderes do DEM) não se confirmará. É um absurdo um partido que estava crescendo como referência política para a sociedade de repente perder tudo em nome de um projeto de poder a médio e longo prazo. Essa não pode ser a lógica predominante em um partido que se pretende de esquerda, socialista e democrático.
* Luis Favre