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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 26, 2011

O jogo sujo da Globo no Brasileirão


Nesta semana, nova guerra suja foi deflagrada no futebol brasileiro. Após receber uma tunda do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no meio da testa e ter de assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a Rede Globo perdeu seus privilégios monopólicos para adquirir os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro nos anos de 2012, 13 e 14.
Dessa forma, a concorrência prevista para o dia 11 de março passou a ter contornos muito mais interessantes, especialmente para os clubes, que finalmente viram uma claríssima brecha para elevarem exponencialmente seus ganhos com as milionárias transmissões televisivas. Isso porque antes a Globo tinha direito de preferência na renovação dos contratos, inclusive com acesso às propostas rivais, o que a fez tomar de vez as rédeas como sócia-proprietária do futebol nacional, em parceria com o todo poderoso Ricardo Teixeira, dono da CBF.
De agora em diante, por conta da determinação do CADE, a emissora terá de fazer aquilo que historicamente não está acostumada: jogar dentro de regras limpas. Obviamente, a medida acendeu as esperanças de outros canais de TV, sempre excluídos, na prática, das negociações. Record, e seu temido saco sem fundo de dinheiro, e Rede TV já declararam intenções de participar. Fora a Band, que já transmite, mas pode se livrar do jugo global, que lhe impõe o que pode ou não exibir. Na TV fechada, ESPN, Bandsports e Telefônica tentarão fazer frente à Sportv – de propriedade da Globo.
E neste ano há a grande novidade de se venderem os direitos de cada mídia separadamente, quando antes todas eram vendidas no mesmo pacote. Agora, TV aberta, fechada, Pay Per View, Celular, Internet e Direitos Internacionais serão negociados separadamente. O lance inicial para a TV aberta é 500 milhões de reais por ano (cifra do atual contrato), sendo que o Clube dos 13 calcula um rendimento total de 4 bilhões de reais ao final do período, na soma de todas as categorias.
A Globo já provou do veneno da emissora de Edir Macedo: perdeu os direitos de Londres 2012, pois neste caso não havia conchavo suficiente para que a Vênus Platinada levasse a parada por inércia. Quem deu mais levou, e pronto. No Brasil, não foi sempre assim que funcionou, devido à enorme subserviência de nossos dirigentes, sempre endividados, além de acomodados e aliados ao poderio global, que já fez diversos favores financeiros para apagar incêndios das agremiações.
No entanto, após anos de cobrança, o Clube dos 13, que reúne os 20 times mais influentes do país e juridicamente tem a prerrogativa de negociar o contrato de TV, após a providencial prensa do CADE decidiu adentrar o século 21 e elaborar uma licitação de verdade – simplesmente dentro das teorias do jogo capitalista. Ou seja, concorrência livre e aberta, quem der mais leva. Afinal, nossos clubes podem ser submissos e corruptos, mas precisam se resolver financeiramente.

Texto do jornalista Gabriel Brito (Correio da Cidadania)

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