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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

o melhor
monumento à corrupção de SP



    O “Neo-Clássico” é uma contribuição da Chuíça à Civilização Ocidental




    “Espigão de luxo é ocupado sem Habite-se”

    “Símbolo de irregularidades, prédio embargado na rua Tucumã ganhou moradores; apartamentos custam R$ 9 milhões”

    “Há luzes acesas à noite”


    “Prefeitura não emitiu documento (o Habite-se) porque recorre de ação para demolir parte do imóvel erguido acima do limite”.


    O prédio tem 30 metros (!!!) acima do permitido (fica na direção de uma das pistas do aeroporto de Congonhas).

    O Villa Europa (assim, mesmo, como se fosse em Milão) foi construído em 1999.

    O condomínio é de R$ 8 mil.

    O prédio fica em frente à Marginal do Rio Pinheiro, que exala um fedor só comparável ao que exala o Rio Tietê, do outro lado da Chuíça (**).

    Uma moradora, que vive em Londres, e o marido, em Miami, passa temporadas ali e disse:

    “90% dos prédios da (avenida) Faria Lima não tem Habite-se. Os prédios na rua Hungria (na Marginal mal-cheirosa) não têm. Nenhum tem. Tá todo mundo morando dentro de prédio sem Habite-se em São Paulo, não sei se você está sabendo.”

    “(A prefeitura) vai ter que destruir a Hungria com Faria Lima inteira”.

    Navalha
    Amigo navegante, trata-se de uma região nobilíssima na Chuíça (**).

    Apartamentos de R$ 9 milhões, já pensou ?

    E tudo sem Habite-se.

    Sem Habite-se !

    Com 30 metros acima do permitido !

    Isso, desde 1999.

    Amigo navegante, quanta gente já botou dinheiro no bolso com o Villa Europa ?

    Quanta gente ficou rica, amigo navegante ?

    Desde 1999  a coisa rola.

    E a grana também !

    Quanta gente !

    O amigo navegante há de pensar que o monumento à corrupção em São Paulo deveria ser o prédio do Tribunal da Justiça do Trabalho, construído pelo Juiz Lalau, nos intervalos entre um telefonema e outro do Eduardo Jorge.

    (O mega-tucano Eduardo Jorge, especialista em sigilo, nessa época trabalhava no Palácio do Planalto, numa sala ao lado do gabinete do Presidente FHC.)

    Não, não é o prédio do Lalau.

    É esse aí, o Villa Europa.

    (Como se sabe, os moradores da Chuíça (**) que o Tropico de Capricórnio corta ao meio e pensam que vivem em Milão.)

    Este ansioso blogueiro já contou do amigo Kai, um alemão maratonista imbatível.

    Kai pousou em Congonhas num dia em que não havia nuvens nem aquela placa de poluição cinzenta que tampa São Paulo.

    Olhou lá para baixo e foi encontrar este ansioso blogueiro numa churrascaria.

    E a primeira coisa que o Kai disse foi: São Paulo é a cidade mais corrupta do mundo.

    Por que Kai ?, perguntei ingenuamente.

    Porque só a corrupção explica uma concentração imobiliária como essa.

    Tanto imóvel sem um árvore.

    O Kai não sabia da história do Villa Europa.

    (Em tempo: o Villa Europa é no estilo “Neo-Clássico”. “Clássico”, qual ? Grego ? Corinthians x Palmeiras ? O “Neo-Clássico” é outra contribuição de São Paulo à Civilização Ocidental. Como a pizza no domingo à noite.)


    Paulo Henrique Amorim

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