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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 19, 2011

A verdadeira herança maldita


A imprensa traiçoeira, pendurada nas bancas de jornal e na Internet, continua bitolada na inesgotável tarefa de criar factóides, denegrir imagens e vingar-se das seguidas derrotas que lhe foram impostas nas urnas. A expressão do momento é “herança maldita de Lula”! Caberia como uma luva em 2003 – num país arrasado pela recessão, onde desempregados com diploma superior disputavam vagas de gari. Por um ano, o país fora submetido ao racionamento de energia – o que estagnou mais ainda a indústria, gerou mais desemprego e aprofundou nossa derrota moral. Naquela época éramos considerados um país vira-latas na comunidade internacional. Tudo isso fruto de uma política neoliberal levada por um fracassado que não soube usar a nova moeda que recebeu de Rubens Ricupero. Se o país que Dilma recebeu é uma “herança maldita”, FHC entregou a Lula o Apocalipse!

Hoje, qualquer criança sabe o quanto o Brasil mudou para melhor nos últimos 8 anos e não vamos ficar aqui citando números, índices e porcentagens que já estamos cansados de saber e que foram repetidos à exaustão ao longo de 2010. Se houvesse “herança maldita”, Guido Mantega não seria mantido à frente da Fazenda. Nos últimos meses do governo Lula, projetava-se o corte expressivo no orçamento para o próximo mandato. E o presidente frisou várias vezes, em alto e bom som, que os cortes jamais deveriam afetar o PAC nem os programas sociais (para desespero da oposição que ainda sonha com que isso aconteça). A única herança maldita deste país está nas redações que decendem da ditadura.


Sem terem melhor estratégia por onde praticar seu golpismo, jornalistas pequenos, mesquinhos e mexeriqueiros mergulham um mar de alucinações com o qual pretendem infectar a sociedade: herança maldita, divergências entre Lula e Dilma, ciúmes do ex, traição, inflação… Qualquer novela mexicana é mais criativa que este PiG pós-eleições! A conversa mole que os “analistas” e “psicólogos” de araque querem nos vender, beira o ridículo. Jamais irão criar qualquer indisposição entre Lula e Dilma. Menos ainda entre o eleitor e o governo. Imaginar que algum deles irá cair nessa conversa é insultar a inteligência de todos nós. Chegam ao cúmulo da hipocrisia de elogiar Dilma por “enfrentar com firmeza” a tal “herança maldita” deixada por Lula.

O que parecia iminente assim que Dilma tomasse posse, foi adiado: antes de partirem para a baixaria com sua artilharia previsível (incluindo aí “novidades machistas”), inventaram, temporariamente, a Dilma mocinha e o Lula vilão. Assim sendo, ficam para 2013 os capítulos nos quais os jornalistas do PiG – desbravadores da verdade – revelarão ao Brasil a terrível vilã que se escondia sob a máscara da presidenta mocinha. E nos derradeiros capítulos a serem exibidos em 2014, entrará em cena o Chapolim do PSDB para salvar a pátria e tudo acabará em casamento. Na Casa Grande, é claro. Plim Plim! Tirando a turma da Mayara, os 4% cães raivosos e alguns distraídos, quem vai comprar essa lista de asneiras? Os milhões que ascenderam sob Lula? Os milhares do PróUni? Os milhões do Minha Casa? Os milhões do entorno dos PACs?

Se houvessem “divergências” entre Lula e Dilma, não seria o PiG a descobrir através do seu “brilhantismo investigativo e imparcialidade jornalística”. Se houvesse roupa suja, seria lavada em casa. Quando Lula disse que o sucesso de Dilma é seu sucesso e que um eventual fracasso seria seu também, não é ciúmes, inveja, arrogância ou qualquer outro sentimento mesquinho – muito comum, aliás, entre os caciques do PSDB. O que Lula quis dizer na festa de aniversário do PT, é que está otimista em relação ao futuro, que tem plena confiança na presidenta, que existe parceria colaborativa, afinidade com o projeto nacional em andamento…

A oposição, seu líder Serra e sua mídia sabem que no atual quadro político, o PT tem cacife de sobra. Se nada fizerem de maior contundência desde já, Lula seria imbatível caso fosse candidato em 2014. E só entraria nessa briga para salvar o governo na hipótese remota de Dilma chegar enfraquecida na reta final de seu mandato. Em miúdos: o PT já tem dois candidatos para 2014. Como derrotá-los? Desestabilizando o país. Fazendo terrorismo de boataria como a tal “herança maldita” e similares para gerar incertezas na economia, forjar a volta da inflação e desfigurar o projeto de continuidade eleito em Dilma. Agora que tiraram Lula de circulação na mídia, poderão deitar e rolar factóides contra ele sem chances de defesa. De todos os ex-presidentes que tivemos, ele é o que terá menos espaço a partir de agora. Só falta avisar os 80 e lá vai pedrada % que não esquecerão assim fácil do seu governo.

*TERROR DO NORDESTE

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