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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Lula no FSM: ricos trocam neoliberalismo por nacionalismo atrasado




Por Redação, com ABr - de Dacar

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do Fórum Social Mundial uma atitude firme diante da posição dos países ricos em relação à África. Ele foi aplaudido pelos representantes dos movimentos sociais que lotaram o auditório, entre eles muitos brasileiros, ao dizer que acha que “não faz sentido que Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial imponham ajustes que inviabilizem políticas públicas de incentivo à agricultura em países pobres”.

– Penso que o Fórum deveria tomar uma decisão: não é possível que o mundo rico não assuma um compromisso com o Continente Africano, exatamente no momento em que o preço dos alimentos sobe no mundo inteiro. Não pensem que o G-20 tem sensibilidade para o problema da fome. Só fomos chamados para reuniões com os países ricos quando eles entraram em crise e precisavam do nosso apoio – afirmou Lula.

Também foi saudado ao afirmar que é cada vez mais forte a consciência de que fracassou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas pactuadas em 1989 por organismos financeiros multilaterais, como FMI e Banco Mundial, que serviu de base para políticas de estabilização econômica de países em desenvolvimento).

– Quem, com arrogância, nos dava lições, não foi capaz de evitar a crise nos seus próprios países. Felizmente não vigoram mais as teses do Estado mínimo, sem presença reguladora. O mercado já não é mais a panaceia – disse.

Lula completou dizendo que não se pode trocar o neoliberalismo pelo “nacionalismo atrasado, opção da direita norte-americana e europeia, culpando o imigrante pela corrosão social”. Lula participou de uma mesa sobre a peso geopolítico da África, ao lado do presidente de Senegal, Abdoulaye Wade.

– O Brasil não tem pretensão de ditar modelos para ninguém – disse. Mas, segundo ele, o êxito do país “pode ser um estímulo para a construção de um caminho alternativo ao desenvolvimento sustentável e igualidade social”.

Ainda segundo o ex-presidente, “é hora de colocar o desenvolvimento e a democracia no centro da agenda africana”. “É urgente incorporar à cidadania milhões de africanos pobres, o que será importante também na recuperação da economia mundial”. A saída, segundo ele, é produzir alimentos.

– Não há soberania efetiva sem segurança alimentar.

Lula disse que leva ao fórum a mensagem de quem governou o país com a segunda maior comunidade negra do mundo (80 milhões de pessoas), menor apenas que a da Nigéria. Repetiu o pedido de desculpas feito quando da primeira visita ao Senegal, em 2005, por causa do processo de escravidão ocorrido no Brasil até o fim do século 19. “A melhor maneira de reparar é lutar para fazer desse Continente um dos mais prósperos e justos do século 21”.

Na sequência, o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, afirmou ter “profundos desacordos” com os participantes do fórum porque é “um liberal, partidário da economia de mercado, e isso diz tudo”. Entretanto, afirmou, o Fórum Social é importante porque “o mundo espera pela ideia que o salvará do caos”.

Presidente desde 2000, Wade afirmou que o Senegal melhorou muito desde então. “A renda per capita era de menos de U$ 1,5 mil em 1999. Hoje é de U$1,34 mil, duas vezes e meia o limite da pobreza”. O país também é autossuficiente na produção de alimentos.

– A aspiração à mudança é fundamental. E hoje a África está numa encruzilhada. A imagem é de continente pobre, mas é preciso corrigir essa ideia. Ela não é pobre – foi empobrecida – sentenciou o presidente do Senegal.

Wade disse que apoia a proposta de taxação do fluxo de capitais em 20%, o que geraria recursos para combater a pobreza. E defendeu que a África tenha um assento com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). “70% dos temas tratados (no conselho) são relativos à África”, disse o presidente senegalês.

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