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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, maio 06, 2011
Bertold Brecht
"A arte deve optar: pode se transformar no instrumento de alguns, que diante da maioria assumem o papel de deuses e do destino, exigindo uma fé cuja qualidade primeira é permanecer cego. Ou pode aliar-se à grande maioria, transformando-se em arma a serviço do povo."
Bertolt Brecht
Campanha de desarmamento para atenuar a violência
Com garantia de anonimato, campanha do desarmamento é relançada
Cerca de mil armas serão incineradas nesta sexta-feira, em Volta Redonda, no sul do estado do Rio. A ação marcará o lançamento da Campanha do Desarmamento, desenvolvida pelo Ministério da Justiça. Além da queima das armas, haverá a apresentação dos filmes da campanha que serão veiculados pelas redes de TV do país.
O lançamento oficial será no Rio de Janeiro, às 10h, com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. De acordo com Cardozo, a campanha deste ano terá uma série de inovações, como a não obrigatoriedade de identificação do cidadão que entregar a arma.
“O objetivo é arrecadarmos o maior número de armas possível. Aquele que devolver a arma, pode fazê-lo no anonimato, o que elimina a preocupação das pessoas em relação à entrega de armas”, afirmou Cardozo.
Os valores de indenização variam de R$ 100 a R$ 300, dependendo do tipo de armamento. O Ministério da Justiça reservou R$ 10 milhões para o pagamento das indenizações. Igrejas e organizações não governamentais vão funcionar como postos de coleta de armas, além das delegacias de Polícia Civil, dos batalhões de Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros e das unidades das Forças Armadas.
*Agência Brasil
Wilhelm Reich
O grande homem é, pois, aquele que
reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele
que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que
procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões
de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos
seus grandes generais, mas não de si próprio. Que admira as idéias
que não teve, mas nunca as que teve. Que acredita mais
arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita
no que quer que lhe pareça fácil de assimilar.
Wilhelm Reich
*artedoslivrespensadores
União homoafetiva foi aprovada no STF
"Não se separa por um parágrafo o que a vida uniu pelo afeto ."Ayres Britto
Veja os direitos que os homossexuais ganham com a decisão do STF
Com a equiparação de direitos e deveres de casais heterossexuais e homossexuais, aprovada nesta quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a rotina dos casais gays deve passar por alterações, principalmente para incorporar novos direitos civis.
A decisão do STF faz com que a união homoafetiva seja reconhecida como uma entidade familiar e, portanto, regida pelas mesmas regras que se aplicam à união estável dos casais heterossexuais, conforme previsão do Código Civil.(veja a seguir)
O que muda com a decisão do STF hoje | |
Comunhão parcial de bens | Conforme o Código Civil, os parceiros em união homoafetiva, assim como aqueles de união estável, declaram-se em regime de comunhão parcial de bens |
Pensão alimentícia | Assim como nos casos previstos para união estável no Código Civil, os companheiros ganham direito a pedir pensão em caso de separação judicial |
Pensões do INSS | Hoje, o INSS já concede pensão por morte para os companheiros de pessoas falecidas, mas a atitude ganha maior respaldo jurídico com a decisão |
Planos de saúde | As empresas de saúde em geral já aceitam parceiros como dependentes ou em planos familiares, mas agora, se houver negação, a Justiça pode ter posição mais rápida |
Políticas públicas | Os casais homossexuais tendem a ter mais relevância como alvo de políticas públicas e comerciais, embora iniciativas nesse sentido já existam de maneira esparsa |
Imposto de Renda | Por entendimento da Receita Federal, os gays já podem decalrar seus companheiros como dependentes, mas a decisão ganha maior respaldo Jurídico |
Sucessão | Para fins sucessórios, os parceiros ganham os direitos de parceiros heterossexuais em união estável, mas podem incrementar previsões por contrato civil |
Licença-gala | Alguns órgãos públicos já concediam licença de até 9 dias após a união de parceiros, mas a ação deve ser estendida para outros e até para algumas empresas privadas |
Adoção | A lei atual não impede os homossexuais de adotarem, mas dá preferência a casais, logo, com o entendimento, a adoção para os casais homossexuais deve ser facilitada |
*comtextolivre
Supremo está de parabens. Agora falta legalizar o aborto para facilitar a vida da mulher carente
Como a decisão tem efeito vinculante para tribunais de instância inferior, deve afetar futuros julgamentos relativos a direitos e deveres dos casais gays - como herança, pensão em caso de separação, inclusão como dependente na Previdência e a adoção de crianças.
O ministro Celso Mello afirmou que “a decisão rompe paradigmas históricos e culturais e é um passo significativo contra a discriminação”.
O tema começou a ser discutido no STF por conta de duas ações: uma, ajuizada pela Procuradoria Geral da República, pedia que uniões gays fossem reconhecidas como entidade familiar. Outra, feita pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pedia o reconhecimento da união estável para servidores públicos homossexuais do Estado.
Todos os ministros acompanharam o voto do relator, Carlos Ayres Britto, que na noite de quarta-feira declarara que o “conceito constitucional de família ou entidade familiar é aberto e comporta cidadãos do mesmo sexo”.
*Brasilmostraatuacara
Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!
Hoje, 5 de maio de 2011, em homenagem ao aniversário de 193 anos do nascimento de Karl Marx, publicamos aqui o discurso de seu camarada e amigo, Friedrich Engels, proferido no funeral de Marx em março de 1883. Camarada Karl Marx, presente!
Friedrich EngelsEm 14 de março, quando faltavam 15 minutos para as 3 horas da tarde, deixou de pensar o maior pensador da atualidade. Ficou sozinho por escassos dois minutos, e sucedeu de o encontrarmos em sua poltrona dormindo serenamente — dessa vez para sempre.O prejuízo para o proletariado militante da Europa e da América, para a ciência histórica, causado pela perda desse homem, é impossível de avaliar. Logo evidenciará-se a lacuna que a morte desse formidável espírito abriu.Marx descobriu a lei do desenvolvimento da História humana: o simples fato, escondido sobre crescente manto ideológico, de que os homens reclamam antes de tudo comida, bebida, moradia e vestuário, antes de poderem praticar a política, ciência, arte, religião, etc.; que portanto a produção imediata de víveres e com isso o correspondente estágio econômico de um povo ou de uma época constitui o fundamento a parir do qual as instituições políticas, as instituições jurídicas, a arte e mesmo as noções religiosas do povo em questão se desenvolve, na ordem em que elas devem ser explicadas – e não ao contrário como nós até então fazíamos.Isso não é tudo. Marx descobriu também a lei específica que governa o atual modo de produção capitalista e a sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia iluminaram-se subitamente esses problemas, enquanto que todas as investigações passadas, tanto dos economistas burgueses quanto dos críticos socialistas, perderam-se na obscuridade.Duas descobertas tais deviam a uma vida bastar. Já é feliz aquele que faz somente uma delas. Mas em cada área isolada que Marx conduzia pesquisa, e estas pesquisas eram feitas em muitas áreas, nunca superficialmente, em cada área, inclusive na matemática, ele fez descobertas singulares.Tal era o homem de ciência. Mas isso não era nem de perto a metade do homem. A ciência era para Marx um impulso histórico, uma força revolucionária. Por muito que ele podia ficar claramente contente com um novo conhecimento em alguma ciência teórica, cuja utilização prática talvez ainda não se revelasse – um tipo inteiramente diferente de contentamento ele experimentava, quando tratava-se de um conhecimento que exercia imediatamente uma mudança na indústria, e no desenvolvimento histórico em geral. Assim, por exemplo, ele acompanhava meticulosamente os avanços de pesquisa na área da eletricidade e, recentemente, ainda aquelas de Marc Deprez.Pois Marx era antes de tudo revolucionário. Contribuir, de um ou outro modo, com a queda da sociedade capitalista e de suas instituições estatais, contribuir com a emancipação do moderno proletariado, que primeiramente devia tomar consciência de sua posição e de seus anseios, consciência das condições de sua emancipação – essa era sua verdadeira missão em vida. O conflito era seu elemento. E ele combateu com uma paixão, com uma obstinação, com um êxito, como poucos tiveram. Seu trabalho no Rheinische Zeitung (1842), no parisiense Vorwärts (1844), no Brüsseler Deutsche Zeitung (1847), no Neue Rheinische Zeitung (1848-9), no New York Tribune (1852-61) – junto com um grande volume de panfletos de luta, trabalho na organização de Paris, Bruxelas e Londres, e por fim a criação da grande Associação Internacional dos Trabalhadores coroando o conjunto – em verdade, isso tudo era de novo um resultado que deixaria orgulhoso seu criador, ainda que não tivesse feito mais nada.E por isso foi Marx o mais odiado e mais caluniado homem de seu tempo. Governantes, absolutistas ou republicanos, exilavam-no. Burgueses, conservadores ou ultra-democratas, competiam em caluniar-lhe. Ele desvencilhava-se de tudo isso como se fosse uma teia de aranha, ignorava, só respondia quando era máxima a necessidade. E ele faleceu reverenciado, amado, pranteado por milhões de companheiros trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria, em toda parte da Europa e América, até a Califórnia – e eu me atrevo a dizer: ainda que ele tenha tido vários adversários, dificilmente teve algum inimigo pessoal.Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!18 de março de 1883
quinta-feira, maio 05, 2011
Fidel Castro comenta assassinato de Osama Bin Laden
Fidel Castro comenta o assassinato de Osama Bin Laden
"Aqueles que se ocupam desses temas sabem que, em 11 de setembro de 2001, nosso povo se solidarizou com o dos Estados Unidos e deu a modesta cooperação que podíamos oferecer no campo da saúde às vítimas do brutal atentado às Torres Gêmeas de Nova York".
Por Fidel Castro
Oferecemos também de imediato as pistas aéreas de nosso país para os aviões norte-americanos que não tiveram onde aterrissar, dado o caos reinante nas primeiras horas depois daquele golpe.
É conhecida a posição histórica da Revolução Cubana que se opôs sempre às ações que puseram em perigo a vida de civis.
Partidários decididos da luta armada contra a tirania batistiana, éramos, por outro lado, opostos por princípio a todo ato terrorista que conduzisse à morte de pessoas inocentes. Tal conduta, mantida ao longo de mais de meio século, nos dá o direito de expressar um ponto de vista sobre o delicado tema.
No ato público de massas efetuado na Cidade do Esporte expressei naquele dia a convicção de que o terrorismo internacional jamais se resolveria mediante a violência e a guerra.
Bin Laden foi, certamente, durante anos, amigo dos Estados Unidos, que o treinou militarmente, e adversário da URSS e do socialismo, mas qualquer que fossem os atos atribuídos a ele, o assassinato de um ser humano desarmado e acompanhado de familiares constitui um fato repugnante. Aparentemente foi isso que fez o governo da nação mais poderosa de todos os tempos.
O discurso elaborado com esmero por Obama para anunciar a morte de Bin Laden afirma: “…sabemos que as piores imagens são aquelas que foram invisíveis para o mundo. O lugar vazio na mesa. As crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai. Os pais que nunca voltarão a sentir o abraço de um filho. Cerca de 3 mil cidadãos se foram para longe de nós, deixando um enorme buraco em nossos corações”.
Esse parágrafo encerra uma dramática verdade, mas não pode impedir que as pessoas honestas recordem as guerras injustas desencadeadas pelos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, as centenas de milhares de crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai e os pais que nunca voltariam a sentir o abraço de um filho.
Milhões de cidadãos se foram para longe de seus povos no Iraque, Afeganistão, Vietnã, Laos, Cambodja, Cuba e outros muitos países do mundo.
Da mente de centenas de milhões de pessoas não se apagaram tampouco as horríveis imagens de seres humanos que em Guantânamo, território ocupado de Cuba, desfilam silenciosamente submetidos durante meses e inclusive anos a insuportáveis e enlouquecedoras torturas; são pessoas sequestradas e transportadas a prisões secretas com a cumplicidade hipócrita de sociedades supostamente civilizadas.
Obama não tem como ocultar que Osama foi executado na presença de seus filhos e esposas, agora em poder das autoridades do Paquistão, um país muçulmano de quase 200 milhões de habitantes, cujas leis foram violadas, sua dignidade nacional ofendida, e suas tradições religiosas ultrajadas.
Como impedirá agora que as mulheres e os filhos da pessoa executada sem lei nem julgamento expliquem o ocorrido, e as imagens sejam transmitidas ao mundo?
Em 28 de janeiro de 2002, o jornalista da CBS Dan Rather difundiu por meio dessa emissora de televisão que em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, Osama Bin Laden foi submetido a uma hemodiálise do rim em um hospital militar do Paquistão. Não estava em condições de esconder-se nem de proteger-se em cavernas profundas.
Assassiná-lo e enviá-lo às profundezas do mar demonstram medo e insegurança, convertem-no em um personagem muito mais perigoso.
A própria opinião pública dos Estados Unidos, depois da euforia inicial, terminará criticando os métodos que, longe de proteger os cidadãos, terminam multiplicando os sentimentos de ódio e vingança contra eles.
Fidel Castro Ruz
4 de maio de 2011
20 h 34
*Cubadebate
Teologia do Espetáculo
Ratzinger e a teologia do espetáculoEnviado por luisnassifTeologia do espetáculo Matéria publicada na edição 644, que começou a circular na sexta-feira 29. A beatificação a toque de caixa de Karol -Wojtyla, o papa João Paulo II, será celebrada em 1º de maio, meros seis anos após seu falecimento, apesar de muitas resistências dentro da própria Igreja. “Sou contra e prevejo que a história não verá com bons olhos João Paulo, que ignorou a pior crise na Igreja desde a Reforma”, disse o padre Richard McBrien, teólogo da Universidade Notre Dame de Nova York. “A beatificação de João Paulo por seu sucessor soa incestuosa e tem afinidade com o hábito de deificar os próprios ancestrais”, declarou o historiador católico Michael Walsh. Foi política a decisão de não esperar os habituais cinco anos para iniciar o processo, apoiar-se num “milagre” arrancado a fórceps e ignorar as objeções, em especial as fundadas nas obscuras manobras financeiras do Vaticano em sua gestão e a negativa do papa polonês a investigar e punir padres e bispos pedófilos. Principalmente o corrupto padre mexicano Marcial Maciel, líder da Legião de Cristo, que abusou de menores (inclusive dois de seus próprios filhos ilegítimos), mas manteve a boa vontade da Igreja arrecadando rios de dinheiro de milionários mexicanos, boa parte dos quais fluiu para os bolsos da Cúria Romana. O papa polonês protegeu-o até o fim e o próprio Ratzinger teve de esperar subir ao trono papal para discipliná-lo. Outro de seus protegidos foi o arcebispo estadunidense Paul Marcinkus, que João Paulo II promoveu à chefia do Banco do Vaticano e ao terceiro cargo mais importante na Igreja antes que se envolvesse até o pescoço no escândalo da falência do Banco Ambrosiano (do qual já fora diretor), seguido pelo assassinato disfarçado em suicídio do seu presidente, Roberto Calvi, que teria financiado a dissidência polonesa a pedido do papa. Queima de arquivo, que não se sabe se deve ser atribuída à Máfia ou a setores da própria Igreja. Trata-se de santificar não a duvidosa virtude de Karol Wojtyla, mas a virada conservadora que promoveu. João XXIII e Paulo VI haviam conduzido a Igreja à modernização e reaproximação com a sociedade laica e com outras igrejas e religiões-, processo subitamente freado após a morte nunca devidamente esclarecida do efêmero João Paulo I e a eleição do polonês identificado com a luta contra o comunismo. Foram congelados os debates sobre contracepção e o papel da mulher na Igreja. Quando o cardeal de Sevilha, José María Bueno, reuniu-se com ele e insistiu em que sua consciência lhe impunha insistir na questão do celibato e da escassez de sacerdotes, Wojtyla foi brutal: “E minha consciência de papa me impõe expulsar sua eminência de meu escritório”. Joseph Ratzinger, jovem teólogo convidado por João XXIII para participar do Concílio Vaticano II, esteve de início do lado da modernização, apoiando a revisão do celibato e do primado absoluto do papa, que defendia ainda em livros publicados nos anos 70. Elevado a cardeal- por Paulo VI em 1977, não se soube que mudasse de opinião antes de 1981, quando foi escolhido por João Paulo II para chefiar a Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora do velho Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, para comandar a repressão à dissidência. Ratzinger decepcionou seus ex-amigos progressistas e reprimiu a Teologia da Libertação, mas satisfez seu superior e seu círculo e foi recompensado com a sucessão. Fora dos corredores estagnados do Vaticano, porém, os ventos continuaram a soprar. Abriu-se ainda mais o abismo entre uma Igreja cada vez mais conservadora e exigente e a sociedade civil dos países católicos, cada vez mais laica e menos interessada nas opiniões do papa sobre moral e pecado. Até 2005, as falhas morais da Igreja e seu crescente esvaziamento e irrelevância no Ocidente foram até certo ponto mascarados pelo colapso do bloco soviético e o carisma pessoal de Wojtyla. O renascimento da Igreja na Europa Oriental e o entusiasmo gerado pelas visitas de João Paulo II pelo mundo permitiam a seu círculo acreditar que estavam no caminho certo. Com o frio e rígido Ratzinger, as ilusões não se sustentam. Escândalos por muito tempo abafados vieram a público, mostrando que a Igreja não está à altura do que prega – em muitos casos, nem sequer à altura do que a sociedade laica considera decência comum. As tentativas do Vaticano de favorecer partidos conservadores e pressionando contra o uso de preservativos e a legalização do aborto e da união homossexual têm acabado quase sempre em fiascos humilhantes. As viagens e os pronunciamentos de Bento XVI mal atraem- uma fração do interesse e entusiasmo despertado por seu antecessor. O Vaticano é hostil aos exorcismos das igrejas carismáticas populares, mas sente a mesma necessidade de espetacularização. A apressada multiplicação de beatificações e canonizações tenta suprir o déficit de interesse, distribuindo santos a comunidades e grupos de interesse que não os tinham. Paulo VI fez 11 canonizações em 15 anos; João Paulo II estabeleceu um recorde histórico com 113 em 25 anos, inclusive o controvertido fundador da Opus Dei e a canonização coletiva de 25 fanáticos cristeros que lutaram contra o governo laico do México nos anos 1920 e 1930. Bento XVI fez nada menos de 34 nos primeiros seis anos. Na Páscoa, tentou reanimar o interesse dos fiéis, respondendo perguntas na televisão, cuidadosamente escolhidas. Com a beatificação de João Paulo II, pretende despender o que resta de seu capital de carisma e reunir 300 mil fiéis. Mas aos poucos esse espetáculo se banaliza. Não são tempos fáceis para a Igreja Católica. Foi deixada por 50 mil alemães e 53 mil austríacos em 2009 e por 180 mil alemães e 87 mil austríacos no ano seguinte. Não se trata do abandono tácito de quem simplesmente deixa de comparecer às missas, mas de pedido formal de baixa, enviado a autoridades civis de forma a encerrar o pagamento de contribuições à Igreja (1,1% da renda, até o limite de 200 euros anuais) e pesa de fato nos bolsos das paróquias e dioceses. Desde 1990, 1,78 milhão de alemães ormalizaram sua apostasia, mas o salto recente nos números está relacionado aos escândalos de pedofilia: é nas dioceses mais afetadas que o êxodo é maior. Em países onde a filiação formal à Igreja não tem consequências civis, o número dos que saem batendo a porta e exigem o registro formal de sua opção é menor, mas cresce explosivamente. Na Bélgica, foram 66 casos em 2008, 380 em 2009 e 1,7 mil em 2010. Em Portugal, uma comunidade criada no início de 2010 para trocar informações sobre o “desbatismo” no Facebook tem mais de 3 mil participantes, centenas dos quais já cobraram o certificado das paróquias – e, se estas o recusaram, se queixaram ao bispo. Na Argentina, a comunidade Apostasía Colectiva tem mais de 4 mil integrantes. Na Espanha, a Igreja, temerosa das consequências políticas da queda nas estatísticas formais sobre número de fiéis, alegou que seus livros de batismo não são arquivos sujeitos à Lei de Proteção de Dados. Conseguiu que a Suprema Corte e o Tribunal Constitucional a isentassem da obrigação de atender a tais pedidos, no mesmo país no qual outrora fazia da excomunhão a mais terrível das ameaças. Mas os -apóstatas, com ou sem certificados, são milhares. Tentaram organizar uma “procissão ateísta” e uma campanha pelo uso de preservativos na Semana Santa de 2011, proibidos pelo governo de Madri, pressionado por um abaixo— assinado- de 100 mil conservadores. Apesar do renascimento do fundamentalismo e do fanatismo em várias partes do mundo cristão, muçulmano e hindu, desde os anos de Ronald Reagan e João Paulo II, mais espetacularmente nos anos de Bush júnior, as últimas décadas veem crescer atitudes que vão da simples indiferença ante a religião organizada ao ateísmo militante. Em dezembro de 2010, o estudo de um grupo de matemáticos dos Estados Unidos indicou que a religião organizada tende a desaparecer até 2050 em pelo menos nove países: Austrália, Áustria, Canadá, República Tcheca, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça. Mesmo na arquicatólica Polônia, a frequência à Igreja caiu de 60% nos últimos dias do regime comunista para 45% nos dias de hoje. Nos EUA, as pessoas sem religião são o único grupo religioso em crescimento em todos os 50 estados. E mesmo “ter uma religião” pode não significar muita coisa além de um rótulo social para ocasiões como casamentos e funerais. Na Inglaterra e em Gales, 61% dizem que têm uma religião, mas apenas 29% se dizem religiosos. Só 48% dos 53,5% que se dizem cristãos (ou seja, 25,7% dos ingleses) acreditam que Jesus foi de fato o filho de Deus e ressuscitou dos mortos. Uma pesquisa Ipsos de abril de 2011 em 23 países encontrou que, em média, apenas 19% acreditam em céu e inferno (4% na França, 5% na Espanha e Alemanha, 10% no Reino Unido, 12% na Rússia, 15% no México, 21% na Itália, 28% no Brasil, 41% nos EUA). Para outros 23% a existência cessa com a morte, 26% não têm opinião, 2% acreditam no céu mas não no inferno, 7% creem em reencarnação e 23% em alguma vida após a morte que não o céu e inferno cristãos. Na maioria dos países da Europa Ocidental, a crença definida em um Deus ou Ser Supremo varia de 18% (Suécia) a 28% (Espanha), e o ateísmo explícito, de 28% (Espanha) a 39% (França). Só a Itália destoa, com 50% de teístas e 13% de ateus (no Brasil, respectivamente, 84% e 3%). A opção por sistemas de crenças -pessoais “faça você mesmo” ou pela pura e simples irreligiosidade está crescendo, em que pese o fervor de organizações como a Fraternidade Muçulmana, a Opus Dei ou a Westboro Baptist Church. Na maioria dos países ricos e em pelo menos alguns dos “emergentes”, como Rússia, Coreia do Sul, China e Argentina, caminha-se a médio prazo para sociedades nas quais não só a prática religiosa, como também a identificação formal com a religião organizada, será minoritária. Mas também parece bem possível que essas minorias se mostrem mais exaltadas do que a média dos religiosos de hoje. A aposta do Vaticano de Joseph Ratzinger parece ser em uma Igreja capaz de manter influência política (e arrecadar recursos financeiros) por meio de um rebanho pequeno, mas monolítico e militante. Aponta para isso a indiferença para com as defecções de setores liberais e de -esquerda da Igreja – do teólogo Hans Küng ao ex-frade Leonardo Boff – combinada com os esforços extremados para atrair dissidências pequenas, mas ferozmente hostis à modernidade laica. Um exemplo é a Fraternidade São Pio X, do falecido arcebispo Marcel Lefebvre, rompida com o Vaticano desde 1988. Para tentar reincorporar seus 500 sacerdotes e alguns milhares de fiéis, o papa Bento XVI permitiu, em 2007, a celebração da missa tridentina em latim e anulou a excomunhão de seus quatro bispos, incluindo o britânico Richard Williamson, que nega o Holocausto, defende a autenticidade dos Protocolos dos Sábios de Sião e se associa a neonazistas. Nem por isso foi acatado por esses dissidentes, que continuam a ordenar seus próprios sacerdotes e exigir que o Vaticano declare inválidas as missas vernáculas de Paulo VI celebradas desde 1969 e repudie o Concílio Vaticano II e os gestos ecumênicos em relação a outras igrejas e religiões, inclusive o judaísmo. Mais recentemente, Ratzinger abriu as portas a dissidentes tradicionalistas da Igreja Anglicana inconformados com a ordenação de mulheres e bênção a uniões homossexuais dentro de sua igreja, incorporando uns 900 fiéis ao custo de prejudicar o relacionamento do Vaticano com o protestantismo e o arcebispo de Canterbury – e de aceitar algumas dezenas de padres casados e com família, embora exija o celibato dos que se formaram no catolicismo. A Igreja se encolhe e a instituição que moldou a civilização ocidental pouco a pouco se transforma em uma entre muitas seitas reacionárias e intolerantes. http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/teologia-do-espet... Compartilhar: Ops, não foi até 536 e sim 496, como se vê, a regra de se transformar em santos os Papas foi quebrada porque o Papa Anastácio II não era nada santinho. E falando em Papas nada santinhos, a história está cheia, desde Papas depravados, assassinos a um Papa(quer dizer papisa) que pariu uma criança — qui, 05/05/2011 - 10:04 Essas ações do Vaticano e seu mandatário, bem ele, lembram do "silêncio obsequioso" imposto ao pai da teologia da libertação, Leonardo Boff. E deve ser efeito colateral, uma percepção do incômodo de muitos Edir Macedos. Para quem tem como negócio a espiritualidade, mas mantém bancos e um enorme sistema midiático, deve realmente estar preocupado com a concorrência. Outra santidade suspeita é a de PIO XII, o próximo a ser beatificado por Bento XVI "No dia 19 de dezembro de 2009 o Papa Bento XVI proclamou-o "Venerável", ao promulgar o decreto que reconhece as virtudes heróicas do Servo de Deus Pio XII, um importante passo dentro do processo de beatificação que fica aguardando somente a existência de um milagre realizado pela intercessão do Papa Pacelli" (Wiki). (....) Festas para Hitler – O papado de Pio XII começou em março de 1939, ano em que a invasão da Polônia – a catolicíssima Polônia, massacrada sem protestos do Vaticano – deu início à II Guerra Mundial. Enquanto isso, na Alemanha, o núncio em Berlim, arcepisbo Cesare Orsenigo, organizava uma recepção de gala para ...Ver mais — |
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