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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
terça-feira, agosto 23, 2011
É prematura a notícia
da morte do capitalismo
Saiu no Valor, artigo de Delfim Netto, que espanta os presságios sinistros da Urubulogia (que torce sempre pelo pior – enquanto o Governo for trabalhista):
Ainda não é o fim do capitalismo
O que ameaça a economia é a possibilidade de que a morna resposta do sistema econômico às políticas econômicas descoordenadas e sem eficiência (porque sem credibilidade!), acabará reduzindo o crescimento durante muitos anos, impedindo a solução do problema fiscal criado por elas mesmas. Hoje, o remédio tecnocrático (despesas públicas e juro real negativo) esgotou sua potencialidade. Os balanços do Fed e do BCE estão em limites preocupantes e os Tesouros dos EUA e dos países da CEE estão tão endividados que não se pode esperar deles muita coisa.
Essa visão pessimista da situação da economia mundial estimula alguns ingênuos, persistentes e generosos otimistas a acreditarem (pela décima vez, nos últimos 170 anos) que chegamos, enfim, ao fim do capitalismo e vamos entrar na era do solidarismo, onde o lucro será anátema e os mercados serão sociais.
A história mostra que talvez seja um pouco prematuro declarar tal morte. Capitalismo é o codinome da “economia de mercado”, que foi lentamente construída ao longo da história, por uma seleção quase biológica na procura, pelo homem, de uma organização social que lhe desse, ao mesmo tempo, liberdade individual e eficiência produtiva. Ele nunca é o mesmo e modernamente tem evoluído num jogo dialético entre a escolha democrática nas urnas (onde cada cidadão tem um voto) e o mercado (onde cada um tem tantos votos quanto seja seu patrimônio).
Quando a urna erra, impondo restrições ao mercado que não cabem na contabilidade nacional, o sofrimento do eleitor leva-o a corrigir o poder incumbente; quando o mercado erra e impõe mais sofrimento do que benefícios, o eleitor é levado a corrigi-lo nas urnas.
É a urna, no fundo, que garante o aperfeiçoamento contínuo do processo de busca simultânea da liberdade de iniciativa individual e da eficiência produtiva. É a urna que vai restabelecer a “credibilidade” perdida que impediu o funcionamento da solução tecnocrática. A boa notícia é que, nos próximos 12 meses, teremos eleições livres em 24 países! O capitalismo não vai acabar. Vai dar mais um passo na mesma direção do lento processo civilizatório, como tem feito nos últimos 170 anos…
Para confirmar o que Delfim diz há algum tempo – o problema dos Estados Unidos não é de solvência, mas de liquidez – leia o que está na primeira pág. do Valor impresso desta terça feira: “Bancos têm um US$ 1,6 trilhão de reservas em excesso nos EUA”.
Grana é o que não falta.Os bancos voltarão a emprestar quando voltar a demanda por crédito, especialmente imobiliário.
Quando o consumidor perder o medo do desemprego e as empresas começarem a investir as reservas que elas próprias têm em caixa.
E, como diz o Delfim, isso poderá ocorrer quando o Congresso americano voltar a ser “funcional”, com a derrota eleitoral do Tea Party.
Clique aqui para ler sobre o Tea Party e as semelhanças com o Brasil.
O mesmo "direito de agressão" poderá ser usado para nos tomarem a Amazônia
Via Porfírio Livre
A intervenção estrangeira na Líbia para além da mídia de aluguel e dos perfeitos idiotas
“Que tipo de guerra “popular” foi aquela? O pessoal do serviço secreto trouxe-lhe em bandeja de prata a mais recente pesquisa Rasmussen – segundo a qual, só 20% dos norte-americanos apoiam hoje o escandaloso bombardeio por EUA/OTAN, sobretudo porque aqueles panacas bombardearam civis e mais civis, até crianças. Os europeus – os que contam, gente de verdade, não os burocratas panacas de Bruxelas – estão ainda mais incomodados que os norte-americanos”.
Pepe Escobar, Asia Times Online -20/8/2011
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Imagem da tv Al-Jazira mostra Saif al-Islam, filho de Kadhafi nas ruas de Trípoli. Espelharam aos quatro ventos que ele fora capturado pelos “rebeldes”.
Preste atenção: todo aquele que defende a intervenção estrangeira na Líbia ou está levando grana ou é um perfeito idiota. Todo aquele que diz que Kadhafi enfrenta rebeldes defensores da democracia e da liberdade ou é um perfeito idiota ou leva grana dos grandes interessados na farra do petróleo líbio, o de melhor qualidade do mundo.
Vamos e venhamos: o que está acontecendo lá é uma tremenda trapaça bélica, uma agressão explícita acobertada muito mais pela mentirada midiática de que por qualquer peça jurídica em nome da democracia.
Não estou exagerando: a mídia que embola os cérebros dos cidadãos está cheia de corruptos. Tem muito “jornalista” mais rico do que certos políticos. E tais fortunas não são colhidas só dos seus salários, por maiores que sejam. Desde priscas eras, o “por fora” sempre existiu nas áreas mais influentes das redações.Também não é pra menos. De que vive um veículo de comunicação? Da venda direta aos consumidores, nem pensar. Foi-se o tempo de jornais como o PASQUIM, que se pagava com só nas bancas. Hoje, incrivelmente, até a tv a cabo é uma grande farsa: cobra os tubos dos assinantes, mas está cheia de anúncios. Coisa estapafúrdia que ninguém quer ver.
Outro dia mesmo, pelos telegramas pinçados daquele site demolidor, soube-se dos nomes de alguns jornalistas brasileiros que prestam serviços de informações à Embaixada dos EUA. Um deles, aliás, nem jornalista é e se mandou para a Itália para não ter de dar explicações.Quanto aos perfeitos idiotas, eles são fabricados em séries por faculdades que tratam muito pouco dos mistérios da reportagem em seus currículos, cobram uma grana preta e mandam os garotos sem vocação e sem o mínimo da necessária perspicácia correr atrás. Se forem bonitinhos, podem conseguir uma oportunidade nas televisões e adjacências. Isso alguns: os outros bonitinhos vão tentar a vida em outras praias.Se Kadhafi fica ou será assassinado, a esta altura não é o que se pode comentar. Porque tudo pode estar acontecendo, inclusive uma manipulação sórdida das informações, técnica usada desde o tempo do bumba. Quando as potências estrangeiras começaram a despejar foguetes sobre Trípoli, escandalosas agências de notícia garantiram que o líder líbio havia fugido para a Venezuela. E muito bobalhão acreditou.Pode ser até que agora, depois de 5 meses de bombardeios criminosos despejados por aviões e navios das decadentes potências ocidentais, principalmente França e Inglaterra, as condições de resistência sejam menores.De fato, não é contra beduínos recrutados a peso de ouro que o governo luta: quem está fazendo estragos letais é a aviação estrangeira. E nisso, esses senhores das armas servem-se de uma fraude canalha e cruel: Em 18 de março, o Conselho de Segurança da ONU determinou tão somente, e não mais, fechar o espaço aéreo para impedir os vôos dos aviões líbios.À época, escrevi que aquilo era uma grande mentira. Em horas, os norte-americanos estavam cravando foguetes no coração de Trípoli. Nada, portanto, com a fatídica resolução do conselho, manobrado pelos Estados Unidos. Resolução que, por si, já era uma aberração jurídica ao gosto do vale tudo quando se trata de dar cobertura à pirataria imperialista.Países em que um mandato eletivo sai por uma fortuna, em que quem ganha uma sinecura trata logo de fazer seu pé de meia à custa do erário, se arvoram em símbolos da democracia e ainda se acham no direito de meter o bedelho nos países dos outros, especialmente se esse país dos outros for rico em petróleo e outras riquezas estratégicas.Não mandam tropas nem bancam “rebeldes” em dezenas de países pobres, sob o chicote de ditaduras ferozes, algumas dedicadas ao extermínio de tribos rivais. Nessas regiões, milhares de pessoas morrem de fome todos os dias, enquanto seus tiranos vivem nababescamente, em estreita ligação com os governos da Europa e dos EUA.A Líbia de Kadhafi não está sendo massacrada por ter um regime que permite a recondução do seu líder, algo necessário como elemento de unidade do seu mosaico tribal. Antes do coronel nacionalista, a Líbia era dominada por uma monarquia absoluta, que se impunha igualmente ao fatiamento tribal: lá há 4 habitantes por Km2, isto porque a maior parte do seu território é desértico, situação que Kadhafi está enfrentando com os mais grandiosos projetos de irrigação da face da terra.Todos esses mercenários do computador que trabalham noite dia para fazer a caveira do coronel são incapazes de prever o que acontecerá sem ele. Os variados grupos que estão de olho no poder já brigam entre si desde o primeiro dia dos conflitos. O general que trocou o Ministério do Interior pelo comando dos insurgentes em Benghazi já foi assassinado por eles mesmos. Quem fala hoje pelos rebeldes poderá cair do cavalo amanhã.Se finalmente Obama, Sarkozi e outros menos conhecidos puderem cantar vitória, com certeza os derrotados não serão o coronel Muammar Abu Minyar al-Kadhafi e os resistentes, mas a própria nação Libia, que ficará em petição de miséria e será dividida por gananciosas empresas estrangeiras do ramo, como aconteceu no Iraque.Os “buchas de canhão” que foram recrutados por agentes da CIA instalados em Benghazi não terão como usufruir da mudança, porque o controle será exercido totalmente de fora através de títeres domesticados, como acontece no Afeganistão.Democracia, pretexto para a agressão estrangeira como foi também para a ditadura que derrubou o governo constitucional de João Goulart, será uma palavra mais adequada ao folclore midiático.Todos os esforços de progresso serão castrados e a Líbia será apenas um conglomerado de poços de petróleo, explorados sem leis e sem limites pelas companhias estrangeiras que precisam assaltar nações alheias para tirar suas metrópoles da pindaíba.
Só que ainda é cedo para os neocolonizadores cantarem vitória. Assim como a notícia da prisão dos filhos de Kadhafi não passou de um rotundo blefe, não me surpreenderá se as coisas não estiverem bem assim, como descrevem os jornalistas mercenários e repetem os perfeitos idiotas.
Se a intervenção estrangeira vingar, ninguém por estas bandas poderá chiar no dia que os imperialistas decidirem pôr na agenda a internacionalização da Amazônia.
Vale a pena ler de novo: Kadafi, Berlusconi e o Milan
Publicado em fevereiro/2011
Sanguessugado do Bourdoukan
Berlusconi está mais preocupado com a sorte do presidente da Líbia, Muammar Kadafi do que a acusação de que ele, Berlusconi, transformou a Itália num imenso bordel.
Explica-se: já estavam bem adiantadas as negociações para a compra do Milan pelo filho do Kadafi, Saif AL-Islam.
E só não foram concluídas porque Kadafi achou que seu filho estava sendo enganado pelo capo italiano.
Kadafi considerou muito os dois bilhões de euros que Berlusconi pediu pelo time, já que de acordo com o seu raciocínio, o time não valia tudo isso.
Fez uma contra-oferta de um bilhão e 200 milhões de euros.
Saif Al-Islam, que já estava se preparando para suceder o pai no poder, tinha viagem programada para esta semana a Milão, quando esperava bater o martelo.
Mas a revolta popular acabou jogando areia na negociação.
Vejam que acima escrevi presidente, apesar do Kadafi estar no poder há mais de 42 anos.
E por que não escrevi ditador?
Simples, ser ditador ou presidente ultimamente não tem feito a mínima diferença.
Os Bush, pai e filho, são denominados de presidentes, apesar de terem invadido duas nações soberanas, e transformado a paradisíaca e ocupada Guantánamo centro de tortura de fazer inveja aos israelenses.
E o que dizer dos israelenses?
Ocupam a Palestina, Síria e Líbano e são denominados de democratas.
Ah! miséria humana, teu nome é semântica...
Movimento negro protesta contra programa de TV hipócrita do DEM
O movimento UNEafro Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os) lançou um vídeo em protesto contra o último programa eleitoral do DEM, veinculado na TV aberta neste mês de agosto, que usou da imagem e da boa fé de um jovem negro, morador da periferia de Salvador (BA), para tentar descredibilizar políticas de afirmação social, como as cotas e a bolsa família. Para o movimento, a propaganda é hipócrita e não corresponde à prática e ao histórico racista do DEM.
José Reinaldo: Miriam Leitão faz tremer a ossada do Barão
A mídia brasileira vendida aos monopólios e em absoluto conluio com os agressores imperialistas dos Estados Unidos e União Europeia, que através da Otan estão massacrando o povo líbio, está em ruidosa campanha para “provar” que o Brasil tomou uma posição “decepcionante” ao não reconhecer o Conselho Nacional de Transição da Líbia, acompanhando a posição tomada em maio pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Com a evolução dos acontecimentos dos últimos dias, a campanha passou a ser para que o Brasil reconheça logo o “novo governo” do país norte-africano.
Para isso, mobilizou todo o seu arsenal propagandístico, entrevistou professores de relações internacionais, alguns dos quais, para sua decepção concordaram com a prudência do governo brasileiro. A CBN redistribuiu tarefas e por dois dias livrou o distinto público das diatribes de Miriam Leitão, “analista” sobre política macro-econômica. O que resultou num desastre, pois ao promover a jornalista a comentarista de política externa, fez remexer a ossada do Barão.
Para repetir o mantra de que o Brasil já devia ter reconhecido o “novo” governo da Líbia, porque os Estados Unidos e a União Europeia já o fizeram antes, a moça desancou a instituição fundada pelo velho Rio Branco. “O Brasil tem uma posição completamente equivocada quanto à Líbia e a Síria. Errou cem por cento do tempo”, sentenciou, confundindo o distinto público, que por um átimo foi levado a pensar que escutava uma catedrática do Department of State ou do Foreign Office. Pois com tanta sapiência, não creio que a moça quisesse passar por uma professora do Instituto Rio Branco ou da Fundação Alexandre de Gusmão.
A jornalista do sistema Globo falou barbaridades do Lula, cuja visita como chefe de Estado à Líbia, ela estigmatizou como “horrorosa”. E numa demonstração de que os “princípios editoriais” recentemente anunciados pelos herdeiros do Dr. Marinho não passam de uma farsa, mentiu desabridamente ao dizer que à época Kadafi “já era um pária internacional” . Não era, senhora jornalista. Na verdade tinha deixado de ser, pois então o dirigente líbio privava de amizade com líderes ocidentais como Berlusconi e Sarkozy, este último inclusive um mal-agradecido pois o “ditador” líbio financiou sua campanha eleitoral, como é notório, e o italiano fez com o país norte-africano bilionários negócios.
Durante os pouco mais de cinco minutos que durou a entrevista na CBN, a nova comentarista de política externa das organizações Globo bateu na tecla de que “a cúpula do Itamaraty” foi incapaz de interpretar os fatos e de entender “para onde os ventos sopram”.
E para evidenciar o contraste da orientação da Casa de Rio Branco com a que já adotou em outras épocas, a jornalista recorreu em apoio ao seu argumento à muleta de uma citação de fato histórico. Ela contou aos atentos ouvintes da emissora que na independência de Angola, “em 1974”, o governo militar brasileiro foi o primeiro a reconhecer o “governo comunista” do MPLA. Fosse afirmação feita numa prova de admissão do concurso de formação de diplomatas do Instituto Rio Branco, ela teria sido reprovada. A independência de Angola se deu em novembro de 1975. E o governo do MPLA, embora alinhado com a União Soviética e com muitos comunistas desempenhando nele papel de destaque, não era propriamente um “governo comunista”, mas patriótico, de libertação nacional.
Ouça a coluna de Míriam Leitão na CBN
José Reinaldo é editor do Vermelho
Um basta no PiG
Eu não sei como um ministro que tem o chicote nas mãos permite que o PiG fique inventando notícia com o intuito de prejudicá-lo.Duvido o PiG( Época, Veja, Estadão, Folha, IstoÉ) fazer isso com Hugo Chávez.Bernardo tem mais é que preparar uma lei que controle o PiG, assim como fez Cristina Elisabet Fernández de Kirchner, presidente da Argentina.o PiG tem que ser tratado no chicote.
A VEZ DOS BRICS
A crise dos Estados Unidos e da Europa, a cada dia que passa, evidencia ainda mais, para o observador atento, os acertos alcançados pelo BRICS.
Na gênese do beco sem saída em que se meteram, os estados ocidentais cometeram dois erros fatais:
Permitiram que se instalasse e consolidasse, durante anos, uma situação de irrestrito laissez-faire, limpando o terreno para o surgimento de áreas nebulosas de especulação, como a do subprime e dos derivativos, e deixando que ali medrasse uma estéril e arriscada “economia de papel”, em detrimento da economia real, orientada para a geração de bens e produtos, renda e emprego, e para o atendimento das necessidades também reais, dos seres humanos.
Por outro lado, ao mesmo tempo, os Estados Unidos e a Europa se endividavam até o pescoço, para manter um status-quo historicamente insustentável, tanto do ponto de vista militar, como é o caso, principalmente, dos norte-americanos, quanto do ponto de vista de consumo, conservando artificialmente o padrão de vida – e, em conseqüência, a arrogância – de seus povos, em um patamar muito acima do restante da humanidade.
Enquanto isso, governos como o da Índia e o da China, seguindo o que a Coréia do Sul e o Japão haviam feito anteriormente, coordenavam sinergicamente todos os setores da sociedade para criar - sem a oposição, como acontece no Brasil, da imprensa conservadora e dos “agentes” do mercado - uma miríade de grandes empresas locais, no início com financiamento público e depois com participação privada, para fabricar automóveis, eletroeletrônicos, roupas, softwares e outros bens de consumo.
Fiscalizavam rigorosamente os bancos. E investiam na economia real, incorporando, nesse processo, pela criação de empregos e a melhoria das condições de educação e capacitação, dezenas de milhões de cidadãos ao mercado de consumo.
Na Rússia, na Índia e na China, o primeiro objetivo da sociedade é o fortalecimento do poder nacional e não de um ou de outro determinado grupo de interesse. É por isso que, nesses países, o Estado não se sente constrangido, como aqui, em mobilizar e induzir os agentes econômicos para a conquista do desenvolvimento.
Mas os BRICS não ficaram por aí. Enquanto a Europa e os Estados Unidos imprimiam bilhões de dólares em títulos sem lastro, Rússia, Índia, China, e o Brasil, que a partir de 2003, também adotou essa estratégia, economizavam parcimoniosamente os recursos obtidos com as exportações, liquidavam, praticamente, suas dívidas com o exterior, e aumentavam suas reservas internacionais, a ponto de elas triplicarem, hoje, as do G-7, emprestando, pela primeira vez na história, dinheiro para o FMI e para as grandes nações ocidentais.
Hoje, China e Brasil estão entre os quatro maiores credores dos Estados Unidos, e são seguidos de perto, nesse quesito, pelos russos e pelos indianos.
Se tiverem noção do excepcional momento histórico que estão vivendo, os países do BRIC aproveitarão a crise do Ocidente, para consolidar definitivamente, com a participação da África do Sul, recém admitida no Grupo, uma aliança estratégica global que está predestinada a mudar o panorama geopolítico do mundo no século XXI.
Para isso, no entanto, essas nações deverão aprofundar a sua percepção de que o que mais as une é a sua condição de ex-escravos, que assistem, agora, em uma posição cada vez mais forte, ao crepúsculo de seus antigos senhores.
Senhores que nunca vão jogar limpo, ou se empenhar, verdadeiramente, em fortalecer suas ex-colônias para mudar um equilíbrio de forças que os beneficiou, e muito, nos últimos séculos.
Por essa razão, é incompreensível, por exemplo, que o Brasil continue buscando fechar acordos na área de defesa com o Ocidente, quando poderia estar desenvolvendo, no âmbito do BRICS - no qual Rússia e China possuem uma inegável expertise - e mesmo a Índia e a África do Sul já têm muito a oferecer nessa área - toda uma nova geração de armamentos, capaz de assegurar nossa presença no Atlântico e a defesa efetiva de nossos recursos naturais, incluindo o pré-sal e a biodiversidade amazônica.
Rússia e índia estão desenvolvendo conjuntamente o novo Sukhoi T-50, caça-bombardeio de quinta geração. A índia já compra aviões-radar da Embraer. O novo bombardeio invisível chinês é baseado em tecnologia russa. O Brasil e a China já lançam satélites binacionais de sensoreamento remoto. Já desenvolvemos mísseis ligeiros em cooperação com a África do Sul.
Por que continuar – e isso foi um erro do Governo Lula induzido pelo então Ministro da Defesa, Nelson Jobim - comprando tecnologia obsoleta francesa ou norte-americana – os aviões que nos oferecem têm mais de 20 anos de desenvolvimento – quando podemos entrar direto no futuro desenhando um avião do zero com os nossos sócios do BRICS ?
Além disso – o caso líbio está aí para nos mostrar isso – temos que nos fortalecer ao militarmente ao máximo, como os outros BRIC, e até mesmo alterar a Constituição, se for preciso.
A OTAN e os Estados Unidos acham que podem interferir onde quiser.
Mas nunca fariam com a China, a Índia ou a Rússia o que fizeram com Kadhafi. Uma coisa é atacar um país pequeno e sem armas nucleares. Outra, muito diferente, é atacar três dos maiores países do mundo, que contam com armamento moderno e arsenais atômicos à disposição de suas Forças Armadas.
É preciso convergir não apenas do ponto de vista da aproximação comercial e de defesa com o BRICS, mas também com relação à condução da nossa economia.
O Brasil nunca será de fato um BRIC, se, no lugar de dar atenção aos reais interesses da nação, continuarmos tomando decisões que afetam toda a sociedade com base na opinião de meia dúzia de “analistas” ouvidos todas as semanas pelo Boletim Focus, do Banco Central, empenhados, como raposas no galinheiro, em manter gordas para o mercado financeiro, de onde tiram seu generoso sustento, as saborosas galinhas da SELIC.
O Brasil precisa de menos economistas, que cresceram sob a falsa premissa da existência do “livre” mercado, e de mais estrategistas, prontos para estabelecer um projeto nacional – que nos falta mais do que tudo – para a era do capitalismo de estado do século XXI, na qual os países abandonarão, de vez, a máscara de uma livre concorrência que na verdade nunca existiu, para assumirem aguerridamente suas posições na franca e feroz disputa das grandes nações, pelos mercados e fontes de matérias-primas de todo o mundo.
Para muitos, no entanto, está cada vez mais claro que parte da elite brasileira quer que o Brasil continue no andar de baixo e não participe dessa batalha, ou prefere que o país suba ao ringue de olhos vendados, com correntes nos pés e de mãos amarradas.
Não podem ser vistas de outra maneira as furibundas críticas ao BNDES, por exemplo, quando nosso maior banco de fomento tenta fortalecer grandes empresas brasileiras para que elas não sejam engolidas por suas concorrentes estrangeiras, ou para que movam, compreensivelmente seus peões para ocupar posições no intrincado tabuleiro de xadrez dos mercados internacionais.
Compreende-se que o Financial Times, The Economist ou o Wall Street Journal ataquem a política industrial brasileira, afinal, esse é o papel deles, de amplificar o velho discurso ocidental e anglo-saxão do “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”.
Mas é impossível ficar indiferente quando essas posições são radicalmente defendidas dentro do nosso próprio país, quando estamos cansados de saber que sem apoio público e juros subsidiados de seus governos, empresas de países especializados em salgar bacalhau e azeitonas não teriam se assenhoreado – inclusive com financiamento, pasmem, do próprio BNDES - de segmentos estratégicos de nossa economia durante a tragédia da desnacionalização promovida pelo neoliberalismo dos anos 1990.
Quer dizer, o BNDES pode financiar a compra de empresas brasileiras por estrangeiros. Mas na hora de financiar a compra de empresas estrangeiras por brasileiros, a diretoria do Banco tem que ir ao Congresso se explicar.
O mesmo esforço, ou tendência, para manter as nossas empresas relativamente pequenas e impedir a criação de grandes players brasileiros para a disputa dos mercados internacionais pode ser visto também na atuação das agências “reguladoras” e nos órgãos de fiscalização da concorrência.
A quem interessa, por exemplo, que o Brasil não possa contar com uma empresa do porte do que seria a Brasil Foods sem a intervenção do CADE, em um mundo que é amplamente dominado, no mercado de alimentação, por gigantescos grupos europeus e norte-americanos, como a Nestlé, a Pepsico, a Kraft Foods ou a Danone ?
Por que temos que perder o último grande grupo brasileiro no mercado varejista de alimentos, e entregar definitivamente uma área estratégica, do ponto de vista do combate à inflação, para multinacionais estrangeiras?
Por que não ter uma forte posição em um grupo varejista de porte mundial para colocar, finalmente, nossos produtos nas gôndolas de supermercados estrangeiros?
Ou vamos continuar condenados a vender café em grão quando a Alemanha, sem ter sequer um pé plantado, é a maior exportadora de café solúvel do mundo?
Mas o Brasil não está amarrado apenas pela contínua manipulação da opinião pública com histórias da carochinha sobre cavalos com chifres, mulas sem cabeça, livre concorrência e livre mercado, em um planeta no qual a China caminha para se transformar na maior economia do mundo, justamente por nunca ter dado ouvidos a esse tipo de balela.
Em decorrência desse discurso, estamos impedidos de entrar nessa briga de cachorro grande com um mínimo de perspectiva de enfrentá-la, ou em igualdade de condições com os outros BRICS, por outra forte e poderosa algema: a contínua sangria de nossos recursos, da qual já falamos aqui antes, derivada da estúpida insistência em manter as taxas de juros nos mais altos patamares do mundo.
Nos últimos 12 meses, o Brasil seqüestrou dos impostos pagos pela sociedade 210 bilhões de reais para o pagamento de juros, que estão em mais de 12% ao ano, quando os juros de nossos sócios do BRIC, Rússia, Índia e China estão entre os mais baixos do mundo.
De tudo o que foi recebido dos governos anteriores, os juros da taxa SELIC, que estavam em mais de 24% no final do governo FHC, são o componente mais letal e corrosivo. Eles representam a pílula de veneno dentro do copo de vinagre. Um vírus dentro do sistema operacional nacional. Um câncer que drena a energia e os recursos da sociedade brasileira. Uma auto-imposta e masoquista desvantagem que nos impede de crescer como poderíamos, em um momento no qual sócios do BRIC como a China, que estão livres dessa amarra, estão cada vez mais fortes.
Se quiser, o Governo Dilma Roussef, se não houver outras razões, já tem como garantir o seu lugar na história, libertando nossa gente da escravidão dos juros, que seqüestra boa parte da renda de milhões de famílias brasileiras, e fazendo com que essas centenas de bilhões de reais que desaparecerem pelo ralo todos os anos se transformem em mais consumo, em mais empregos, em mais produtos.
O Brasil não pode continuar a ser refém do “mercado” e dos prepostos que com ele colaboram, em jornais e emissoras de televisão, no permanente logro e manipulação da opinião pública.
Não se pode falar em desoneração da Folha de Salários, quando o maior ônus que as empresas enfrentam, e o maior componente do Custo Brasil está justamente nos juros que transferem boa parte dos ganhos obtidos pelo setor produtivo para o mercado financeiro.
Poderíamos começar revertendo as expectativas, tão falsas como incorretas, do “mercado”, deixando, simplesmente, de emitir o Boletim Focus do Banco Central. O “mercado” precisa saber o que a autoridade monetária está decidindo e não o contrário.
Mesmo com cortes automáticos mensais de 0,5% na taxa de juros da taxa SELIC, ainda assim levaríamos 20 meses para chegar a um patamar civilizado de juros ao final do atual governo. Um tempo precioso na corrida que disputamos com as grandes nações. E ninguém poderia ser acusado de ser imprevisível ou de não dar tempo às instituições financeiras para se adaptarem.
Essa é a vez dos BRICS. O Brasil pode crescer junto com eles, e com eles mudar o planeta no Século XXI.
Ou continuar vivendo no anacrônico mundo de faz-de-conta que nos foi impingido, do ponto de vista econômico, pela Europa e os Estados Unidos no Século XX, perdendo, mais uma vez, o bonde da história.
Mauro Santayna no seu blog.
Otan e a cobiça pelo petróleo da Líbia
Por Altamiro Borges
A mídia colonizada está em festa. A vinheta do Jornal das Dez, da Globo News, comemora “o fim da era Kadafi”. Merval Pereira, que mais parece um porta-voz do império, ataca o “ditador líbio” e, de quebra, a política externa do atual governo. O colunista da TV Globo preferia quando o chanceler de FHC tirava os sapatinhos nos aeroportos dos EUA e prometia apoio à invasão do Iraque.
Na imprensa mundial, a queda de Kadafi também parece próxima. Os “rebeldes” – a mídia evita realçar os bombardeios da Otan – já teriam ocupado parte de Trípoli. Barack Obama, o embusteiro que prometeu reduzir a ação belicista dos EUA, encurtou suas férias para comemorar o desfecho do ataque. “O regime de Kadafi está acabado e futuro da Líbia pertence ao povo”. Que povo?
Capitalistas estão excitados
Na Europa em frangalhos, o francês Nicolas Sarkozy e o britânico David Cameron anunciam uma reunião em Paris para discutir a agenda da “reconstrução” do país devastado. Cerca de 20 bilhões de euros do governo líbio, congelados em bancos da Inglaterra e Alemanha, seriam liberados para as obras, que teriam a participação das poderosas empreiteiras francesas e britânicas.
O mundo capitalista em crise está excitado. As bolsas de valores dos EUA e da Europa subiram, com seus pregões sendo puxados pelas ações das empresas de petróleo e gás. Segundo o Estadão, o clima de entusiasmo também atiça os rentistas brasileiros. “Os investidores estão otimistas quanto à possibilidade do fim dos conflitos da Líbia, que interromperam as exportações de petróleo”.
As reviravoltas de Kadafi
Com aponta Saul Leblon, da Carta Maior, o mundo capitalista pouco se importa com os 1.700 líbios mortos nas primeiras horas de combate em Trípoli. A tal “intervenção humanitária” da Otan, repetida milhões de vezes pela mídia, é conversa para enganar os trouxas. O que está em jogo na Líbia são suas riquezas, principalmente o petróleo. Kadafi virou um estorvo. Por isso, ele deve cair!
Kadafi já foi considerado vilão, aliado do bloco soviético e inimigo do “livre mercado” e da “democracia liberal” – principalmente quando estatizou o petróleo do país. Depois, acuado com o fim da URSS, ele renegou o seu passado nacionalista, virou amigo das potências imperialistas, tirou fotos com os “líderes ocidentais” e assinou estranhos contratos com as multinacionais.
“Rebeldes” sem povo
A recente revolta no mundo árabe, que derrubou vários carrascos aliados das nações imperialistas – que nunca foram rotulados de ditadores pela mídia colonizada – mudou a geopolítica da região e abalou os interesses das corporações. Era preciso derrubar, também, Kadafi. Afinal, ele nunca foi visto com bons olhos pela burguesia internacional.
Mas, diferentemente das outras nações árabes, onde multidões ocuparam as ruas na luta por democracia, na Líbia não ocorreram protestos massivos. A única forma de derrubar Kadafi, o vilão que virou amigo e, depois, virou novamente ditador, era fomentar os “rebeldes”, armá-los e, principalmente, ajudá-los com os bombardeios da Otan. Do contrário, os “rebeldes” seriam derrotados.
O petróleo é o “troféu” das guerras
Na tragédia da Líbia, não há santos. O que está em jogo, é bom enfatizar, é o petróleo. Como apontou Michel Chossudovsky, num excelente estudo sobre o país, “a Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais do dobro daquelas dos EUA... O petróleo é o ‘troféu’ das guerras conduzidas pelos EUA-Otan”.
“A ‘Operação Líbia’ faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e Ásia Central, que consiste em ganhar controle sobre mais de 60% das reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos”. Com 46,5 mil milhões de barris de reservas provadas (dez vezes as do Egito), a Líbia é a maior economia petrolífera do continente africano.
Privatizar a indústria petrolífera
Para Chossudovsky, a “ação humanitária” da Otan na Líbia serve “aos mesmos interesses corporativos” da invasão do Iraque, em 2003. “O objetivo é tomar posse das reservas de petróleo, desestatizar a National Oil Corporation (NOC) e, finalmente, privatizar a indústria petrolífera do país, transferindo o controle e a propriedade da riqueza petrolífera para mãos estrangeiras”.
A estatal NOC está classificada entre as 25 maiores 100 companhias de petróleo do mundo. “O petróleo líbio é uma mina de ouro para os gigantes petrolíferos anglo-americanos. Embora o valor de mercado do petróleo bruto esteja atualmente pouco acima dos 100 dólares por barril, o custo do petróleo líbio é extremamente baixo”.
China e os objetivos geopolíticos
Além disto, a operação militar da Otan tem objetivos geopolíticos que pouco aparecem nos noticiários da mídia imperial. “Onze por cento das exportações de petróleo líbias são canalizadas para a China... A presença chinesa na África do Norte é considerada por Washington como uma intrusão... A campanha militar contra a Líbia pretende excluir a China desta região”.
Estas razões é que explicam a violência dos bombardeios da aliança militar dos países capitalistas – a Otan. Como alerta o escritor Michael Collon, o resto é pura manipulação midiática. “O problema é eles falam em ‘guerra humanitária’ e que gente de esquerda se deixa enganar. Seria melhor que lessem o que pensam os verdadeiros líderes dos EUA ao invés de olharem e assistirem a TV?”.
A “ingenuidade” dos cúmplices
“Escutem, a propósito dos bombardeios contra o Iraque, o célebre Alan Greenspan, durante muito tempo diretor da Reserva Federal dos EUA. Ele escreveu em suas memórias: ‘Sinto-me triste quando vejo que é politicamente incorreto reconhecer o que todo mundo sabe: a guerra no Iraque foi exclusivamente pelo petróleo’”. Collon critica a “ingenuidade” de certos setores da esquerda, que não aprenderam “nada sobre as falsidades humanitárias transmitidas pela mídia nas guerras precedentes”.
E cita o discurso de Obama para justificar os ataques à Líbia: “Conscientes dos riscos e das despesas da atividade militar, somos reticentes ao empregar a força para resolver os numerosos desafios do mundo. Mas quando os nossos interesses e valores estão em jogo, temos a responsabilidade de agir. Vistos os custos e riscos da intervenção, temos que calcular nossos interesses ante a necessidade de uma ação. A América tem um grande interesse estratégico em impedir que Kadafi derrote a oposição’”.
Grileiro da Cutrale e laranjas da mídia
Por Altamiro Borges
A mídia ruralista voltou a babar seu ódio contra o MST, que ontem ocupou novamente as terras griladas pela empresa Cutrale em Iaras, no interior de São Paulo. Na TV, âncoras e comentaristas criticaram a “invasão” e repetiram as cenas da destruição dos pés de laranja... em setembro de 2009. Apesar do Incra reafirmar que a área pertence a União, a mídia insiste em satanizar os sem-terra.
A ocupação da Cutrale faz parte da jornada de luta pela reforma agrária – que inclui um acampamento de 4 mil pessoas em Brasília e várias ações nos estados. A mídia nada fala das reivindicações do MST ou da absurda concentração fundiária no país. Prefere defender a “vítima” Cutrale – neste sentido, a ocupação serviu para noticiar, mesmo que de forma pejorativa, a luta pela reforma agrária.
A omissão criminosa
Nos momentos de confronto, a mídia hegemônica sempre toma partido. Ela fica ao lado dos poderosos, neste caso os barões do agronegócio, contra os trabalhadores. Ela até chega a ocultar denúncias que fez em períodos de maior calmaria. O caso da Cutrale é emblemático. As redações da imprensa conhecem bem as irregularidades desta empresa, mas preferem o silêncio criminoso.
Em maio de 2003, por exemplo, a revista Veja – talvez em mais uma ação mercenária - fez uma longa reportagem sobre a Cutrale. Ela revelou que a empresa é uma das mais ricas do mundo e que construiu o seu império de maneira predatória e ilegal. “O brasileiro José Luís Cutrale e sua família detêm 30% do mercado global de suco de laranja, quase a mesma participação da Opep no petróleo”.
Exploração, sonegação e remessa ilegal
Ainda segundo a revista, “o principal segredo do negócio consiste em adquirir a fruta a preço baixo – a preço de banana, brincam os fornecedores –, esmagá-lo pelo menor custo possível e vender o suco a um valor elevado”. Em 2001, o governo FHC chegou a investigar a altíssima lucratividade da Cutrale (nos anos 1980, ela teve taxas de retorno na ordem de 70%, um fenômeno raro).
“Uma autoridade da Receita Federal relatou a Veja que a estratégica para elevar a lucratividade do grupo passa por contabilizar parte dos resultados por intermédio de uma empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Com isso, informa a autoridade da Receita, a Cutrale conseguiria pagar menos impostos no Brasil”.
“Agressividade gerencial”
Em síntese, a revista Veja criticou a “agressividade gerencial da família Cutrale”, que já virou “uma lenda no interior paulista. Os plantadores de laranja no Brasil têm poucas opções para escoar a produção. Há apenas cinco grandes compradores da fruta e Cutrale é o maior deles. Por essa razão, acabam mantendo com o rei da laranja uma relação que mistura temor e dependência”.
“Por um lado, eles precisam que ele compre a produção. Por outro, assustam-se com alguns métodos adotados pela Cutrale para convencê-los a negociar as laranjas por um preço mais baixo”. Vários produtores relataram à revista a brutal pressão para baixar preços ou mesmo para adquirir suas fazendas, inclusive com sobrevôos ameaçadores de helicóptero e outros métodos terroristas.
Uma coleção de processos na Justiça
A bombástica reportagem simplesmente foi arquivada, assim como também foram esquecidos os inúmeros processos na Justiça contra a Cutrale por desrespeito aos direitos trabalhistas, crimes ambientais e pressão contra os lavradores. Somente de 1994 a 2003, a empresa foi alvo de cinco ações no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por formação de cartel.
Para criminalizar a jornada nacional de luta pela reforma agrária, a mídia omite os crimes da Cutrale. A empresa vira uma santa; o MST é o demônio. A mídia “privada” sequer esclarece que as terras em Iaras não pertencem legalmente à Cutrale. Elas compõem o lote do Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares pertencentes à União. Ou seja, elas foram griladas – roubadas!
Laranjas ou vendidos da mídia
Em 2007, a Justiça Federal cedeu a totalidade do imóvel ao Incra. Mas a empresa permanece na área com base em ações judiciais protelatórias. Desde que grilou as terras e passou a monopolizar a produção, milhares de pequenos e médios agricultores foram à falência e 280 mil hectares de pés de laranja foram destruídos. Mas a mídia só repete as cenas do trator em setembro de 2009.
Diante da riquíssima família Cutrale, com uma fortuna avaliada em US$ 5 bilhões, os colunistas da mídia são realmente laranjas! Já alguns pegam "carona" e se vendem!
* Miro
A mídia ruralista voltou a babar seu ódio contra o MST, que ontem ocupou novamente as terras griladas pela empresa Cutrale em Iaras, no interior de São Paulo. Na TV, âncoras e comentaristas criticaram a “invasão” e repetiram as cenas da destruição dos pés de laranja... em setembro de 2009. Apesar do Incra reafirmar que a área pertence a União, a mídia insiste em satanizar os sem-terra.
A ocupação da Cutrale faz parte da jornada de luta pela reforma agrária – que inclui um acampamento de 4 mil pessoas em Brasília e várias ações nos estados. A mídia nada fala das reivindicações do MST ou da absurda concentração fundiária no país. Prefere defender a “vítima” Cutrale – neste sentido, a ocupação serviu para noticiar, mesmo que de forma pejorativa, a luta pela reforma agrária.
A omissão criminosa
Nos momentos de confronto, a mídia hegemônica sempre toma partido. Ela fica ao lado dos poderosos, neste caso os barões do agronegócio, contra os trabalhadores. Ela até chega a ocultar denúncias que fez em períodos de maior calmaria. O caso da Cutrale é emblemático. As redações da imprensa conhecem bem as irregularidades desta empresa, mas preferem o silêncio criminoso.
Em maio de 2003, por exemplo, a revista Veja – talvez em mais uma ação mercenária - fez uma longa reportagem sobre a Cutrale. Ela revelou que a empresa é uma das mais ricas do mundo e que construiu o seu império de maneira predatória e ilegal. “O brasileiro José Luís Cutrale e sua família detêm 30% do mercado global de suco de laranja, quase a mesma participação da Opep no petróleo”.
Exploração, sonegação e remessa ilegal
Ainda segundo a revista, “o principal segredo do negócio consiste em adquirir a fruta a preço baixo – a preço de banana, brincam os fornecedores –, esmagá-lo pelo menor custo possível e vender o suco a um valor elevado”. Em 2001, o governo FHC chegou a investigar a altíssima lucratividade da Cutrale (nos anos 1980, ela teve taxas de retorno na ordem de 70%, um fenômeno raro).
“Uma autoridade da Receita Federal relatou a Veja que a estratégica para elevar a lucratividade do grupo passa por contabilizar parte dos resultados por intermédio de uma empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Com isso, informa a autoridade da Receita, a Cutrale conseguiria pagar menos impostos no Brasil”.
“Agressividade gerencial”
Em síntese, a revista Veja criticou a “agressividade gerencial da família Cutrale”, que já virou “uma lenda no interior paulista. Os plantadores de laranja no Brasil têm poucas opções para escoar a produção. Há apenas cinco grandes compradores da fruta e Cutrale é o maior deles. Por essa razão, acabam mantendo com o rei da laranja uma relação que mistura temor e dependência”.
“Por um lado, eles precisam que ele compre a produção. Por outro, assustam-se com alguns métodos adotados pela Cutrale para convencê-los a negociar as laranjas por um preço mais baixo”. Vários produtores relataram à revista a brutal pressão para baixar preços ou mesmo para adquirir suas fazendas, inclusive com sobrevôos ameaçadores de helicóptero e outros métodos terroristas.
Uma coleção de processos na Justiça
A bombástica reportagem simplesmente foi arquivada, assim como também foram esquecidos os inúmeros processos na Justiça contra a Cutrale por desrespeito aos direitos trabalhistas, crimes ambientais e pressão contra os lavradores. Somente de 1994 a 2003, a empresa foi alvo de cinco ações no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por formação de cartel.
Para criminalizar a jornada nacional de luta pela reforma agrária, a mídia omite os crimes da Cutrale. A empresa vira uma santa; o MST é o demônio. A mídia “privada” sequer esclarece que as terras em Iaras não pertencem legalmente à Cutrale. Elas compõem o lote do Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares pertencentes à União. Ou seja, elas foram griladas – roubadas!
Laranjas ou vendidos da mídia
Em 2007, a Justiça Federal cedeu a totalidade do imóvel ao Incra. Mas a empresa permanece na área com base em ações judiciais protelatórias. Desde que grilou as terras e passou a monopolizar a produção, milhares de pequenos e médios agricultores foram à falência e 280 mil hectares de pés de laranja foram destruídos. Mas a mídia só repete as cenas do trator em setembro de 2009.
Diante da riquíssima família Cutrale, com uma fortuna avaliada em US$ 5 bilhões, os colunistas da mídia são realmente laranjas! Já alguns pegam "carona" e se vendem!
segunda-feira, agosto 22, 2011
Japão, um país estranho
“Japan, the Strange Country” é um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Kenishi Tanaka, estudante japonês de design. Começou sua pesquisa no final de 2009 e finalizou o seu trabalho em 2010. O vídeo fala sobre as peculiaridades do arquipélago, curiosidades e fatos estranhos divididos em: caráter, Tokyo, comida, tecnologia, água, sushi, amor e suicídio.
Esta versão foi legendada pelo o programa Urbano, do MultiShow e foi exibido em 18.08.2010.
*comtextolivre
A "guerra ao terror", 10 anos depois
Por Emir Sader
“Os EUA, como o mundo sabe, nunca começam uma guerra”, dizia John Kennedy em 1963. Vinte anos depois, Ronald Reagan reiterava: “A politica de defesa dos EUA está baseada numa única premissa: os EUA nunca começam um enfrentamento. Nós nunca seremos um agressor.”
A reação aos atentados de setembro de 2001 fizeram com que os EUA mudassem formalmente sua doutrina. Richard Armitage, Secretário de Estado naquele momento, anunciou o que mudava: “A História começa hoje. Decretava-se o fim da doutrina da contenção, enunciada quando os EUA anunciavam o começo da “guerra fria”, recém terminados os armistícios da Segunda Guerra. O Secretario de Defesa, Donald Rumsfeld dizia: “a melhor, e em alguns casos, a única defesa, é uma boa ofensiva”. Indo mais longe na sua nova doutrina de guerra, os EUA passaram a reivindicar o direito ao ataque preventivo, alegando o caráter da guerra informal, contra um inimigo sem território definido.
No marco de um mundo unipolar, com o triunfo absoluto na “guerra fria” e a desaparição da outra super-potência, a Pax Americana já reinava uma década antes. A primeira guerra do Iraque, a guerra da Iugoslávia e outras ações militares – como a fracassada na Somália - prenunciavam que a inquestionável superioridade militar norteamericana reordenaria o mundo conforme seus desígnios.
Dez anos depois, os EUA demonstram que não estão em condições de desenvolver duas guerras simultaneamente, mesmo com uma brutal superioridade militar, contra países virtualmente ocupados. Tanto no Iraque quanto no Afeganistão, a retirada das tropas não dá garantias de controle militar da situação, mesmo ainda com a presença dos EUA, fazendo prever novos adiamentos da retirada do Iraque.
O mundo sob hegemonia imperial norteamericana não é um mundo mais seguro do que antes. A superioridade militar não é garantia de ordem política, como já indicava o velho preceito: Se pode fazer tudo com as baionetas, menos sentar em cima. Essa ilusão tiveram os Estados Unidos. Acreditavam que poderiam envolver o mundo inteiro na sua lógica de represálias contra “o terror” e que a ideologia de militarização dos conflitos seria hegemônica, a ponto de permitir um tranquilo bloco político de apoio.
Se isso se deu no impacto imediato das ações, ainda em 2001, com a invasão do Afeganistão - mesmo sem provas alguma de que dali tinham sido articuladas as ações nos EUA -, a coalizão não resistiu à invasão do Iraque, sem provas e sem a aprovação do Conselho de Segurança. Mas o enfraquecimento das alianças foi efetivamente se dando conforme a guerra se prolongava e os desgastes – financeiros e de baixas – foram se avolumando, incluindo Abu Graieb e Guantanamo.
A estratégia da “guerra ao terror” teve seus ganhos, serviu de álibi para que os EUA consolidassem sua liderança no mundo, ao privilegiar a esfera em que é mais forte – a militar. Mas chegam aos 10 anos desgastados militarmente, enfraquecidos na sua capacidade de liderança política e fragilizados economicamente.
Um balanço duro para quem se erigia como senhor do mundo há uma década. A hegemonia norteamericana entrou em crise, sem que apareça outra força que possa substituí-la. O que se pode vislumbrar no horizonte é um mundo multipolar, que possibilite resolver os conflitos não pelo predomínio militar, mas pelas negociações politicas, em que a “guerra ao terror” possa ser substituída pelo terror à guerra.
A reação aos atentados de setembro de 2001 fizeram com que os EUA mudassem formalmente sua doutrina. Richard Armitage, Secretário de Estado naquele momento, anunciou o que mudava: “A História começa hoje. Decretava-se o fim da doutrina da contenção, enunciada quando os EUA anunciavam o começo da “guerra fria”, recém terminados os armistícios da Segunda Guerra. O Secretario de Defesa, Donald Rumsfeld dizia: “a melhor, e em alguns casos, a única defesa, é uma boa ofensiva”. Indo mais longe na sua nova doutrina de guerra, os EUA passaram a reivindicar o direito ao ataque preventivo, alegando o caráter da guerra informal, contra um inimigo sem território definido.
No marco de um mundo unipolar, com o triunfo absoluto na “guerra fria” e a desaparição da outra super-potência, a Pax Americana já reinava uma década antes. A primeira guerra do Iraque, a guerra da Iugoslávia e outras ações militares – como a fracassada na Somália - prenunciavam que a inquestionável superioridade militar norteamericana reordenaria o mundo conforme seus desígnios.
Dez anos depois, os EUA demonstram que não estão em condições de desenvolver duas guerras simultaneamente, mesmo com uma brutal superioridade militar, contra países virtualmente ocupados. Tanto no Iraque quanto no Afeganistão, a retirada das tropas não dá garantias de controle militar da situação, mesmo ainda com a presença dos EUA, fazendo prever novos adiamentos da retirada do Iraque.
O mundo sob hegemonia imperial norteamericana não é um mundo mais seguro do que antes. A superioridade militar não é garantia de ordem política, como já indicava o velho preceito: Se pode fazer tudo com as baionetas, menos sentar em cima. Essa ilusão tiveram os Estados Unidos. Acreditavam que poderiam envolver o mundo inteiro na sua lógica de represálias contra “o terror” e que a ideologia de militarização dos conflitos seria hegemônica, a ponto de permitir um tranquilo bloco político de apoio.
Se isso se deu no impacto imediato das ações, ainda em 2001, com a invasão do Afeganistão - mesmo sem provas alguma de que dali tinham sido articuladas as ações nos EUA -, a coalizão não resistiu à invasão do Iraque, sem provas e sem a aprovação do Conselho de Segurança. Mas o enfraquecimento das alianças foi efetivamente se dando conforme a guerra se prolongava e os desgastes – financeiros e de baixas – foram se avolumando, incluindo Abu Graieb e Guantanamo.
A estratégia da “guerra ao terror” teve seus ganhos, serviu de álibi para que os EUA consolidassem sua liderança no mundo, ao privilegiar a esfera em que é mais forte – a militar. Mas chegam aos 10 anos desgastados militarmente, enfraquecidos na sua capacidade de liderança política e fragilizados economicamente.
Um balanço duro para quem se erigia como senhor do mundo há uma década. A hegemonia norteamericana entrou em crise, sem que apareça outra força que possa substituí-la. O que se pode vislumbrar no horizonte é um mundo multipolar, que possibilite resolver os conflitos não pelo predomínio militar, mas pelas negociações politicas, em que a “guerra ao terror” possa ser substituída pelo terror à guerra.
*umpoucodetudodetudoumpouco
Venezuelanos raspam a cabeça em homenagem a Hugo Chávez
Presidente perdeu os cabelos devido ao tratamento de um câncer.
Em solidariedade ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que passa por tratamento para se recuperar de um câncer, venezuelanos rasparam a cabeça. Neste domingo (21) eles participaram junto com Chávez de um culto ecumênico em Caracas.
Em Caracas, vários moradores prestaram homenagem ao presidente raspando a cabeça. Houve até mutirão para cortar o cabelo.
Cidadãos da República Dominicana também aderiram à homenagem ao presidente venezuelano. Eles participaram do culto ecumênico em Caracas (Fotos: Jorge Silva/Reuters)
Em solidariedade ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que passa por tratamento para se recuperar de um câncer, venezuelanos rasparam a cabeça. Neste domingo (21) eles participaram junto com Chávez de um culto ecumênico em Caracas.
Em Caracas, vários moradores prestaram homenagem ao presidente raspando a cabeça. Houve até mutirão para cortar o cabelo.
Cidadãos da República Dominicana também aderiram à homenagem ao presidente venezuelano. Eles participaram do culto ecumênico em Caracas (Fotos: Jorge Silva/Reuters)
*Esquerdopata
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